Pippi ainda mora na Casa Villekulla

Documentos relacionados
Capítulo 1 A PORTA ARRANHADA

1ª Edição. Ana Gonçalves. Cândida Santos. Ilustração de. Vítor Silva

Ah, que maravilha! disse a mãe, quando eu lhe mostrei o recado que trouxe da escola. Um museu num castelo histórico! Vai ser interessante.

Que Grande Abóbora Mimi! Valerie Thomas e Korky Paul

Era uma vez uma menina que se chamava Alice. uma tarde de Verão, depois do almoço, Alice adormeceu e teve um sonho muito estranho.

Claro que diziam isto em voz baixa, mas ela ouvia-os e ficava muito triste.

Chorão, o Urso. Capitulo 1

Cristóbal nasceu num aquário. O mundo dele resumia-se a um pouco de água entre as quatro paredes de vidro. Isso, alguma areia, algas, pedras de divers

O sapo estava sentado à beira do rio. Sentia-se esquisito. Não sabia se estava contente ou se estava triste

de peluche preferido, mas a minha mãe deu lhe vida através da magia com a varinha dela. Ela consegue fazer magia e encantamentos porque é uma fada!

Um passinho outro passinho

Todos os domingos à tarde, depois do culto da manhã na igreja, o pastor e seu filho de 11 anos saíam pela cidade e entregavam folhetos evangelísticos.

a) Onde estava o peixinho quando foi pescado? R.: b) Quem pescou o peixinho? R.: c) Onde morava o peixinho? R.:

SEGUE-ME! ESTOU CONTIGO NO JEJUM!

OS XULINGOS ERAM PEQUENOS SERES, FEITOS DE MADEIRA. TODA ESSA GENTE DE MADEIRA TINHA SIDO FEITA POR UM CARPINTEIRO CHAMADO ELI. A OFICINA ONDE ELE

O D I Á R I O D E A DÃ O

Versão COMPLETA. O Ribeiro que queria Sorrir. PLIP004 Ana Cristina Luz. Ilustração: Margarida Oliveira

Capítulo 1. O jardim no inverno

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

Autora: Sophia de Mello Breyner Andresen. Ilustrador: Júlio Resende. Nome: Data:

Carlota pintava de pintinhas os sonhos que tinha ao acordar. Todas as manhãs, à sua mãe dizia: só mais um bocadinho, que estou a sonhar. A mãe saía.

Unidade Portugal. Ribeirão Preto, de de AVALIAÇÃO DO CONTEÚDO DO GRUPO IV 2 o BIMESTRE. João e o pé de feijão

Palavras que se acumulam / Histórias de fadas e princesas O REI SAPO

Escrita e ilustrada pelos alunos da Escola Básica do Primeiro Ciclo da Benquerença Ano Lectivo 2008/2009

Bando das Cavernas. Ruby: Como a sua melhor qualidade é o bom senso, é ela quem, na maioria dos casos, põe ordem no bando.

O melhor amigo Interpretação de Texto para 4º e 5º Ano

Colégio Santa Dorotéia

Juro lealdade à bandeira dos Estados Unidos da... autch! No terceiro ano, as pessoas adoram dar beliscões. Era o Zezinho-Nelinho-Betinho.

Novas amigas MICHELLE MISRA

2º 3 º ciclos

Você agiu bem, meu marido

3º Ano EF LÍNGUA PORTUGUESA MATEMÁTICA. Avaliação NAME. Caderno do aluno 3º ANO. 1 semestre. Escola: Aluno: Turma:

Exercício Extra 19 A COISA

FICHA DE TRABALHO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Generosidade. Sempre que ajudares alguém, procura passar despercebido. Quanto menos te evidenciares, mais a tua ajuda terá valor.

Era Domingo, dia de passeio! Estava eu e as minhas filhas no

Extintos! Capítulo 1 Extintos! Capítulo 1 7

1. OUÇAM A PRIMAVERA!

Constrói a tua história!

Piadas com Dez Mil Anos

O Menino NÃO. Era uma vez um menino, NÃO, eram muitas vezes um menino que dizia NÃO. NÃO acreditam, então vejam:

O princípio das férias

Que Nevão! Teresa Dangerfield

Conto de fadas produzido coletivamente pelos alunos do 2º ano A, da EMEB Prof.ª Maria Aparecida Tomazini, sob orientação da prof.

DISCIPLINA: Português DATA DA REALIZAÇÃO: 21/10/2013

2ª FEIRA 19 de novembro

Parte Um Minha_Vida_Agora.indd 7 Minha_Vida_Agora.indd 7 11/06/ :19:05 11/06/ :19:05

Finalmente chegou a hora, meu pai era que nos levava todos os dias de bicicleta. --- Vocês não podem chegar atrasado no primeiro dia de aula.

Guerra Junqueiro. Três Contos de Guerra Junqueiro

Os Perigos da Floresta

A paixoneta do ovo Juvenal

um monstro veio a ` escola! Atividade para ensinar regras e expectativas durante os primeiros dias de aulas Ideia retirada do site:

A LOIRA DO CEMITÉRIO. Por JULIANO FIGUEIREDO DA SILVA

ndice Um Convite Especial 9 O Baile da Primavera 25 O Feiti o Malvado 37 Voando nas Alturas! 55 Ca a às Abelhas das Bolhas! 65

Lucyana Mutarelli. O Livro 3 em 1

1 von :36

Os meus segundos melhores amigos são a Zoe e o Oliver. Nós andamos todos na mesma escola. É uma escola normal para crianças humanas. Eu adoro-a!

Exercício Extra 27. As três laranjas mágicas

A volta às aulas do Pequeno Nicolau

Versão RECONTO. O Principezinho. PLIP003 De Antoine De Saint Exupéry

Num bonito dia de inverno, um grupo de crianças brincava no recreio da sua escola,

CENTRO EDUCACIONAL SIGMA

Capítulo 1. A Nova Disciplina

FÉRIAS

ANEXO 03 O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO

QUE AZAR! Quem não acredita em azar, misticismos ou superstições não conhece a sensação excitante e divertida de prever situações.

A rapariga e o homem da lua

Seminário de Crianças e Intermediários - Março/2018 Tema: Certamente Cedo Venho Lista de louvores a serem cantados:

INSTITUTO DOS PUPILOS DO EXÉRCITO - CONCURSO DE ADMISSÃO - ANO LETIVO DE 2016/2017 2ª FASE

Capítulo Especial 01 - O Livro dos Ditadores

Era uma vez uma menina que se chamava Mafalda e que um dia foi. comprar uma roupa nova. Ela escolheu uma saia verde, uma camisola amarela,

O coração de um pastor

O segredo do rio. Turma 4 3º/4º anos EB1/JI da Póvoa de Lanhoso. Trabalho realizado no âmbito do PNL. (Plano Nacional de Leitura)

FREDERICK WARNE. Primeira edição em Frederick Warne & Co., Impressão: William Clowes Limited

Bloco de Recuperação Paralela DISCIPLINA: Língua Portuguesa

COLÉGIO NOSSA SENHORA DE SION. Leia o texto abaixo para realizar as lições de Língua Portuguesa da semana. A FADA QUE TINHA IDEIAS

Capítulo 1. Sobre um barco de cortiça e um vulcão

- Professora Sofia Almeida - A princesa baixinha

HISTÓRIAS DA AJUDARIS 16. Agrupamento de Escolas de Sampaio

Era uma vez uma menina que alegremente carregava sua lanterna pelas ruas.

A Ressurreição de Jesus

365Historias 14. Saber quando parar!

A Cuca. Brincando de folclore. Cuca. COLÉGIO NOSSA SENHORA DE SION

DATA: / / 2013 III ETAPA AVALIAÇÃO ESPECIAL DE EDUCAÇÃO RELIGIOSA 4.º ANO/EF ALUNO(A): N.º: TURMA: PROFESSOR(A): VALOR: 10,0 MÉDIA: 6,0 RESULTADO: %

Missal correspondente ao dia 29/01/2018 (adaptado) para leitura em celular.

A lenda do homem. ignorante. Samara Caroline dos Santos Torres

Adeilson Salles. Ilustrações de L. Bandeira. belinha_e_lagarta_bernadete.indd 3 18/10/ :32:55

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os

1º DE ABRIL UM ROTEIRO DE ANE KELLY PEREIRA, JOYCE DE OLIVEIRA, LUANA MOREIRA E KELEN CRISTINA ARAÚJO.

OS AMIGOS E O URSO. 01- Qual o título da história? R.: 02- O que apareceu enquanto os dois amigos caminhavam? R.:

Anexo I - Modelo de Pólya para a resolução de um problema. 1

Puc-SP. Trabalho StoryBoard

Um ato de amor sonhador ao mundo

Sugestões para o estudo em casa 2º ano

FICHA 2 QUE ROUPAS DEVEMOS USAR? 60:00. Resultados pretendidos de aprendizagem. Questão-Problema. Materiais. Pré - Escolar 1.º Ano 2.

À Andrea e à Heller, super heroínas para mim K. D. Ao meu pai, que transmitiu o que sabia K. G. C.

Caderno 1 GRUPO I. Prova Modelo de Português. Ouve atentamente a gravação e segue as instruções que te são dadas.

A v a mæe

2ª-feira da 4ª Semana Tempo Comum 1ª Leitura 2Sm 15, ;16,5-13a

COLÉGIO NOSSA SENHORA DE SION. Lições de Matemática e de Ciências 3º ano. Semana de 11 a 15 de março.

Transcrição:

1 Pippi ainda mora na Casa Villekulla A pequena cidade tinha um aspeto muito arranjado e acolhedor, com as suas calçadas e as suas casinhas térreas circundadas por pequenos jardins. Todos os que a visitavam achavam que se tratava de uma cidade muito tranquila e sossegada para se viver. Porém, não havia muitos locais de especial interesse para um visitante apenas um ou dois, ou seja, um museu de arte popular e um túmulo muito antigo; nada mais. Ah, não! Havia mais uma coisa. Os habitantes dessa pequena cidade tinham afixado bonitos letreiros que assinalavam o caminho para quem quisesse ver as vistas. Um deles dizia, em letras garrafais Para o Museu de Arte Popular, e por baixo havia uma seta com a indicação do caminho. Outro letreiro dizia: Para o Túmulo Antigo. Mas havia ainda um outro letreiro. Dizia:

Fora afixado recentemente porque as pessoas estavam sempre a perguntar o caminho para a Casa Villekulla aliás, perguntavam no com muito mais frequência do que para o Museu de Arte Popular ou o Túmulo Antigo. Um belo dia de verão, um senhor apareceu na pequena cidade no seu carro. Morava numa cidade muito maior; por essa razão, metera na cabeça que era melhor e mais importante do que os habitantes da cidade pequena. É claro que havia outro motivo, o facto de ter um carro grande e lustroso, além de ele próprio ter um ar muito imponente, com os seus sapatos muitíssimo bem engraxados e um enorme anel de ouro no dedo. Não admirava, portanto, que se achasse extremamente importante e superior. Apitou bem alto ao atravessar as ruas da pequena cidade, para garantir que as pessoas se apercebiam da sua presença. Quando o elegante cavalheiro avistou os letreiros, riu se com desdém. Para o Museu de Arte Popular. Com a breca! exclamou para os seus botões. Para o Túmulo Antigo. Caramba, que interessante! troçou. Mas que disparate será este? interrogou se, assim que avistou o terceiro letreiro. Para a Casa Villekulla. Que nome! Pensou por uns instantes. Uma casa normal jamais poderia ser uma atração turística como um museu de arte popular ou um túmulo antigo. O letreiro devia ter sido afixado por outro motivo qualquer, pensou ele. Por fim, chegou à conclusão de que a casa estaria à venda e que o letreiro fora afixado para indicar o caminho aos possíveis compradores. Há algum tempo que o elegante cavalheiro tencionava comprar casa numa cidade pequena, onde a vida seria mais tranquila do que na cidade grande. É claro, não iria morar nela a maior parte do tempo, apenas viria de vez em quando, sempre que lhe apetecesse descansar. Além do mais, numa cidade pequena seria ainda mais percetível 8

o quão especialmente elegante e importante era o cavalheiro. Decidiu ir dar uma vista de olhos à Casa Villekulla, de imediato. Bastar lhe ia seguir a direção na qual a seta estava apontada. A estrada conduziu o aos arredores da pequena cidade, antes de ele encontrar o que procurava. Aí, num portão de quinta decrépito, estava escrito a lápis vermelho: Do outro lado do portão ele viu um jardim demasiado desenvolvido, com árvores velhas cobertas de musgo, relvados por cortar e muitas flores que cresciam completamente à vontade delas. Ao fundo do jardim havia uma casa mas, caramba, que casa aquela! Parecia prestes a desabar. O elegante cavalheiro olhou a fixamente e, de repente, arquejou. Havia um cavalo no alpendre. O elegante cavalheiro não estava acostumado a ver cavalos em alpendres. Por isso é que arquejara. Nos degraus do alpendre, sob a luz brilhante do Sol, estavam sentadas três crianças pequenas. A do meio era uma rapariga com muitas sardas no rosto e duas tranças ruivas espetadas para fora. Uma menina muito pequena, de caracóis louros e com um vestido de algodão aos quadrados azuis, estava sentada ao lado dela, e, do outro lado, estava um menino com o cabelo muito penteado. Havia um macaco empoleirado no ombro da rapariga ruiva. 9

O elegante cavalheiro julgou que se tinha enganado na casa. Com certeza ninguém estaria à espera de vender uma casa tão decrépita. Ouçam lá, meninos gritou ele, este casebre miserável é mesmo a Casa Villekulla? A rapariga do meio, a do cabelo ruivo, pôs se de pé e avançou na direção do portão. Os outros dois seguiram na devagar. Responde me, sim? insistiu o elegante cavalheiro, irritado, enquanto a rapariga se aproximava. Deixe me pensar retorquiu a rapariga ruiva, franzindo o sobrolho numa expressão pensativa. Será o Museu de Arte Popular? Não! E o Túmulo Antigo? Não! Então já sei! gritou ela. É a Casa Villekulla! Responde me com maneiras disse lhe o elegante cavalheiro, saindo do carro. Decidira espreitar a casa mais de perto, já que ali estava. É certo que poderia deitá la abaixo e construir uma casa nova murmurou ele para os seus botões. Oh, sim, podemos começar de imediato respondeu lhe a rapariga ruiva, arrancando rapidamente duas tábuas da parede lateral da casa. O elegante cavalheiro não lhe deu ouvidos. As crianças não lhe interessavam, e, além do mais, agora tinha em que pensar. O jardim, apesar do estado negligenciado em que se encontrava, tinha um ar muito agradável e convidativo à luz do Sol. Com uma casa nova, a relva cortada, os caminhos de acesso desimpedidos e belas flores plantadas, então, sim, até um elegante cavalheiro poderia ali morar. O elegante cavalheiro decidiu adquirir a Casa Villekulla. Olhou em redor para ver que outros melhoramentos poderiam ser levados a cabo. As velhas árvores cobertas de musgo teriam de ser arrancadas, claro. Fitou o carvalho nodoso e grosso com uma expressão carrancuda. Os ramos estendiam se por cima do telhado da Casa Villekulla. 10

Vou ter de deitar aquilo abaixo disse, com firmeza. A menina bonita com o vestido azul aos quadrados deu um grito. Ouviste isto, Pippi? perguntou ela, numa voz assustada. A rapariga ruiva não lhe prestou atenção, continuando a jogar à macaca no carreiro do jardim. É isso mesmo. Vou mandar cortar aquele carvalho velho e podre disse o elegante cavalheiro para os seus botões. A menina de azul fitou o com uma expressão de súplica. Oh, não faça isso, por favor disse lhe ela. É uma árvore tão boa para se trepar. E está oca. Conseguimos sentar nos dentro dela. Que disparate respondeu lhe o elegante cavalheiro. Eu não trepo árvores. Isso devia ser mais do que óbvio. O menino com o cabelo penteado aproximou se também. Exibia uma expressão preocupada. Mas suplicou ele lá dentro cresce sumo de gengibre. E chocolate também; às quintas feiras. Ouçam lá, meninos, parece me que estiveram aqui demasiado tempo a apanhar sol nessas cabeças respondeu lhes o elegante cavalheiro. Mas eu não tenho nada que ver com isso. Vou comprar esta propriedade. Podem dizer me onde posso encontrar o proprietário? A menina do vestido azul aos quadrados desatou a chorar, e o menino correu para junto da rapariga ruiva, que continuava a jogar à macaca. Pippi disse lhe ele, não ouves o que ele está a dizer? Porque é que não fazes alguma coisa? Fazer alguma coisa? retorquiu a rapariga ruiva. Estou aqui a saltar que nem uma desalmada, e apareces tu a dizer me para fazer alguma coisa. Experimenta lá tu, para veres como é. Ela aproximou se do elegante cavalheiro. 11