COMPATIBILIDADE DE PRODUTOS ALTERNATIVOS COM Metarhizium anisopliae (METSCH.) SOROKIN Claudia Aparecida Guginski 1*, Michele Potrich 2 [orientadora], Daiane Luckmann 3, Everton Ricardi Lozano da Silva 2 1 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Nível Mestradoda Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Pato Branco, Paraná. Aluna do I Curso de Especialização em Controle Biológico da Universidade Tecnológica Federa do Paraná Câmpus Dois Vizinhos. E-mail: claudiaguginski@gmail.com 2 Professores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Dois Vizinhos, Paraná. 3 Alunas do Programa de Pós-Graduação em Nível Mestrado, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Pato Branco, Paraná. E-mail: daianeluck@yahoo.com.br *Autor para correspondência Resumo: O uso de produtos químicos ou alternativos pode conferir incompatibilidade com fungos entomopatogênicos e, assim, inibir o desenvolvimento e reprodução desses patógenos, quando aplicados associados, ou na ocorrência natural no ambiente. Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar a compatibilidade do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae (Metsch,) Sorokin com produtos alternativos utilizados na agricultura orgânica. O delineamento experimental foi inteiramente casualizados com 5 repetições. Os produtos alternativos comerciais utilizados foram Orobor, Baicao e Topneem nas concentrações recomendada pelo fabricante (CR), na metade (½CR) e no dobro (2CR) desta, para a cultura do tomate. Os parâmetros biológicos avaliados foram germinação, Unidades Formadoras de Colônia (UFC) e crescimento vegetativo. Observou-se que os produtos testados inibiram a germinação de conídios, no entanto não afetaram negativamente os parâmetros formação de colônias e o diâmetro das mesmas. Palavras-chave: controle alternativo, seletividade, fungo entomopatogênico Introdução O atual modelo de produção agrícola desenvolveu-se com a revolução verde, a partir da qual a agricultura passou a ter outro enfoque e, este modelo, possibilitou a intensificação da utilização de práticas como: adubação química, utilização demasiada da prática de monocultura, cultivo intensivo do solo, utilização de maquinários movidos a combustíveis fósseis e também a utilização indiscriminada de agrotóxicos para controle de patógenos e pragas. Essas substâncias químicas usadas no controle de insetos são tóxicas ao homem, aos animais e ao meio ambiente, além de diminuírem o controle de pragas por inimigos naturais (ALVES, 1998). Diante disso, buscouse mitigar o problema com a utilização do manejo integrado de pragas (MIP), surgido na década de 1970. Um dos métodos amplamente utilizados nesse manejo é o uso de fungos entomopatogênicos. Em agroecossistemas os fungos representam cerca de 80% das doenças que ocorrem naturalmente em insetos, ocupando um lugar de relevada importância na manutenção do equilíbrio ecológico. Dentre estes, o fungo Metarhizium anisopliae (Metsch,) Sorokin destaca-se por ser patogênico a um grande número de espécies de insetos, podendo ocorrer naturalmente em mais de 300 espécies (ALVES, 1998). Pode ser encontrado com facilidade devido ao fato de ser vastamente distribuído na natureza, e com eficácia comprovada em diversos trabalhos, como no controle das cigarrinhas da folha em cana-de-açúcar e cigarrinha das pastagens, cupim de montículo em pastagens e pragas de grãos armazenados. Nesse contexto, também os produtos naturais apresentam-se como uma técnica vantajosa de controle alternativo, considerando-se que são obtidos de recursos renováveis e são rapidamente degradáveis, não contaminando o ambiente e possuindo baixo custo, tornando-se acessíveis aos pequenos produtores. 17 e 18 de Outubro de 2011 41
Entretanto, faz-se necessário conhecer os possíveis efeitos e interações provocados pela utilização conjunta de produtos alternativos e agentes de controle biológico, como a diminuição da germinação e esporulação dos fungos entomopatogênicos. Com isso, o objetivo desse trabalho foi avaliar a compatibilidade do fungo entomopatogênico M. anisopliae com produtos alternativos. Material e Métodos O trabalho foi realizado no Laboratório de Controlo Biológico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Dois Vizinhos. Foi utilizado o fungo entomopatogênico M. anisopliae e os produtos comerciais Top neem, Orobor e Baicao escolhidos por serem usados na agricultura como inseticidas, fertilizantes e/ou fungicidas. Os produtos foram avaliados nas concentrações recomendada pelo fabricante (CR), na metade (½CR) e no dobro desta (2CR), para a cultura do tomate. A aplicação dos dois agentes de controle, concomitantemente, aproxima as condições de laboratório ao que ocorre no campo, simulando a aplicação de um produto que atinge o fungo de ocorrência natural no ambiente, ou que tenha acabado de ser pulverizado. Os parâmetros biológicos testados foram germinação, Unidades Formadoras de Colônia (UFC) e crescimento vegetativo. Para a germinação utilizou-se o meio Batata-Ágar-Dextrose (BDA) contendo antibiótico estreptomicina. O meio de cultura foi vertido sobre uma lâmina de microscopia, de 7,5 cm x 2,5 cm, colocada no interior de uma placade petri de polietileno, sendo cinco lâminas para cada tratamento. Depois de solidificado o meio de cultura, foi inoculado em sua superfície 100 µl da suspensão do fungo contendo 1,0 10 6 conídios/ml, utilizando-se um pipetador automático e espalhado sobre o meio de cultura com o auxílio de uma alça de Drygalski. Em seguida, foi feita a pulverização dos produtos nas diferentes concentrações através aerógrafo Pneumatic Sagyma acoplado a um compressor de ar da marca Fanem, sob pressão constante de 1,2 Kgf.cm -1, sendo aplicados 250 µl dos produtos alternativos em cada repetição. As placas foram mantidas por 16 h em 26ºC ± 1ºC, 70 ± 10% e 12 h de fotofase em câmara climatizada tipo B.O.D. e, após este período, foi feita a contagem do número de conídios germinados e não-germinados através de microscópio óptico, com aumento de 400 vezes. A testemunha constou da inoculação da suspensão do fungo seguida pela aplicação de água destilada. Para avaliação do crescimento vegetativo, o fungo foi inoculado em dois pontos em cada placa de petri com meio de cultura BDA, em cinco repetições. Após 48 horas foi realizada a pulverização dos produtos alternativos e as placas foram novamente incubadas em câmara climatizada a 26 ± 2ºC, 12 h de fotofase e U.R. de 75 ± 10%, durante sete dias. A testemunha consistiu em inocular o fungo em meio de cultura seguido de pulverização de água destilada esterilizada + Tween 80 (0,01%). A avaliação consistiu em fazer duas medidas perpendiculares em cada colônia. O crescimento das UFC foi avaliado inoculando-se 100 µl da suspensão do fungo (1,0 10 3 con./ml) em BDA, sendo cinco placas de Petri por tratamento. Em seguida, o produto foi pulverizado e as placas permaneceram em câmara climatizada conforme descrito anteriormente. Após sete dias quantificou-se as UFCs. Para todos os parâmetros, os dados foram analisados quanto a variância pelo teste Kruskal Wallis, não paramétrico, com 5% de significância no programa Bioestat 5.0 (AYRES et al., 2007). 17 e 18 de Outubro de 2011 42
Resultados e Discussão Verificou-se que não houve diferença significativa entre os produtos, nas diferentes concentrações, em relação a testemunha para o diâmetro de colônias de M. anisopliae, como pode ser observado na tabela 1. Em trabalho semelhante, avaliando-se o efeito de produtos alternativos sobre o isolado de M. anisopliae (Unioeste 22), Formentini et al. (2009) observaram redução significativa em todos os produtos testados, sendo que para Dalneem só houve redução na CR e 2CR. No teste de viabilidade, verificou-se que para todos os produtos, na CR e na 2CR a germinação dos conídios foi reduzida, diferindo significativamente da testemunha e, na ½ CR nenhum produto reduziu a germinação (Tabela 2). Resultados semelhantes foram observados por Hirose et al (2001) onde os biofertilizantes testados inibiram a germinação de M.anisopliae isolado CB38, exceto Supermagro. Com referência a avaliação de unidades formadoras de colônias não observou-se diferença significativa entre os produtos, nas diferentes concentrações avaliadas (Tabela 3). Estes resultados diferem dos observados por Formentini et al (2009) que observaram diferenças significativas para os diferentes produtos testados em relação as UFC. De maneira à variação observada entre os trabalhos pode ser explicada devido a grande variabilidade genética existente entre os diferentes trabalhos os isolados, bem como pela composição, formulação e concentração dos produtos avaliados. Nesse sentido, os testes de compatibilidade devem ser realizados para cada produto, isolado, conforme cultura a serem utilizados, bem como avaliações a campo para a confirmação dos resultados obtidos em laboratório. Conclusão Os produtos Baicao, Orobor e Topneem, inibiram a germinação de conídios, no entanto não afetaram negativamente os parâmetros formação de colônias e o diâmetro das mesmas, assim, não apresentaram compatibilidade com o M.anisopliae em todos os parâmetros avaliados. Referências ALVES, Sérgio Batista. Controle microbiano de insetos. 2ª. ed. Piracicaba, FEALQ, p.1163. 1998. AYRES, Manuel, et al. BioEstat: aplicação estatística nas áreas das ciências bio-médicas. Belém, 2007. FORMENTINI, Marina Andressa; MAMPRIM, Ana Paula; MARTINELO, Leonardo; RODRIGUES, Elisângela; MARCHESE, Luiz Paulo Calixto; THOMAZONI, Dhyego; ALVES, Luis Francisco Angeli. Efeito In Vitro de Produtos Fitossanitários Alternativos Sobre Metarhizium anisopliae. Revista Brasileira De Agroecologia. Vol. 4 No. 2, nov. 2009. HIROSE Edson; NEVES Pedro M. O. J.; ZEQUI João A. C.; MARTINS Luís H.; PERALTA Cristiane H. and MOINO Jr Alcides. Effect of Biofertilizers and Neem Oil on the Entomopathogenic Fungi Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. and Metarhizium anisopliae (Metsch.) Sorok. Brazilian Archives of Biology and Technology. Vol. 44, N. 4 : pp. 419-423, December, 2001 17 e 18 de Outubro de 2011 43
Tabela 1. Média ( ± EP) do crescimento vegetativo de Metarhizium anisopliae, pulverizados com produtos alternativos em diferentes concentrações. Temp. 26 ± 2ºC, 12 h de fotofase e U.R. de 75 ± 10%. Tratamentos Concentração Diâmetro de colônias Orobor 1/2 CR 2,7± 0,14 a Orobor CR 2,7± 0,13 a Orobor 2 CR 2,6± 0,07 a p 0,159 Baicao 1/2 CR 2,9 ± 0,12 a Baicao CR 3,0 ± 0,14 a Baicao 2 CR 2,2 ± 0,37 a p 0,145 Topneem 1/2 CR 2,5 ± 0,23 a Topneem CR 2,9 ± 0,09 a Topneem 2 CR 2,7 ± 0,18 a p 0,185 Médias seguidas pela mesma letra na coluna, para cada produto testado, não diferem entre si pelo teste de 1 Concentrações dos produtos: ½CR = Metade da concentração recomendada; CR = Concentração recomendada; Tabela 2. Média (± EP) da viabilidade de conídios de Metarhizium anisopliae, pulverizados com produtos alternativos em diferentes concentrações. Temp. 26 ± 2ºC, 12 h de fotofase e U.R. de 75 ± 10%. Tratamentos Concentração Porcentagem de conídios germinados Orobor 1/2 CR 68,6± 3,14 ab Orobor CR 26± 5,24 c Orobor 2 CR 61,0± 0,07 bc p 0,004 Baicao 1/2 CR 84,5 ± 0,70 ab Baicao CR 84 ± 0,62 b Baicao 2 CR 80,7 ± 0,37 b p 0,017 Topneem 1/2 CR 85,1 ± 1,57 ab Topneem CR 88,2 ± 3,03 bc Topneem 2 CR 67,5 ± 1,86 c p 0,004 Médias (± EP) seguidas pela mesma letra na coluna, para cada produto testado, não diferem entre si pelo teste de Concentrações dos produtos: ½CR = Metade da concentração recomendada; CR = Concentração recomendada; 17 e 18 de Outubro de 2011 44
Tabela 3. Média (± EP) das Unidades Formadoras de Colônia (UFC) de Metarhizium anisopliae, pulverizados com produtos alternativos em diferentes concentrações. Temp. 26 ± 2ºC, 12 h de fotofase e U.R. de 75 ± 10%. Tratamentos Concentração Unidades formadoras de colônias Orobor 1/2 CR 216,2± 29,46 a Orobor CR 192± 9,25 a Orobor 2CR 162± 11,72 a p 0,193 Baicao 1/2 CR 184 ± 20,54 a Baicao CR 187 ± 15,47 a Baicao 2CR 200,8 ± 11,56 a p 0,775 Topneem 1/2 CR 178 ± 8,43 a Topneem CR 211,8 ± 16,08 a Topneem 2CR 194 ± 16,66 a p 0,340 Médias seguidas pela mesma letra na coluna, para cada produto testado, não diferem entre si pelo teste de 1 Concentrações dos produtos: ½CR = Metade da concentração recomendada; CR = Concentração recomendada; 17 e 18 de Outubro de 2011 45