Atividade antifúngica de óleos essenciais na inibição do crescimento de Rhizoctonia solani Viviane Maria da Silva 1 ; Rejane Rodrigues da Costa e Carvalho 1 ; Emmanuelle Rodrigues Araújo 1 ; Maria Geane Fontes 1 ; Wilson José da Silva Júnior 1 ; Arie Fitzgerald Blank 2 ; Delson Laranjeira 1 ¹Universidade Federal Rural de Pernambuco Departamento de Agronomia Programa de Pós- Graduação em Fitopatologia. CEP 52171-900, Recife, PE, vmsilva.fito@gmail.com; rejanercosta@yahoo.com.br; manucg@gmail.com; geane_fontes@yahoo.com; wilson_jsjunior@hotmail.com; delson@depa.ufrpe.br; 2 Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Fitotecnia, CEP 37200-000, Aracaju, SE, arie.blak@gmail.com RESUMO Rhizoctonia solani é um fungo fitopatogênico que ocorre mundialmente causando doenças em diversas plantas cultivadas. O gênero Rhizoctonia possui uma ampla gama de plantas hospedeiras, porém pode viver saprofiticamente na matéria orgânica do solo através de estruturas de sobrevivência. O tombamento de plântulas é uma doença causada por R. solani. O controle da doença envolve medidas que visam diminuir o inóculo do patógeno, tais como o uso de sementes sadias, rotação de culturas, tratamento térmico, biológico ou químico de sementes. No entanto, o uso de fungicidas, devido a problemas ambientais, tem levado a procura por métodos alternativos de controle como o uso de óleos essenciais. O presente estudo teve como objetivo avaliar a atividade antifúngica dos óleos essenciais de Cymbopogon nardus (citronela); Foeniculum vulgar (erva-doce) e Piper aduncum (pimenta-de-macaco) em diferentes concentrações, na inibição do crescimento micelial de R. solani. Para avaliar a atividade dos óleos essenciais de citronela, erva-doce e pimenta-de-macaco no crescimento do fungo, concentrações de 0,1; 0,3; 0,5; 0,7 e 0,9 µl ml -1 de cada óleo foram distribuídas em meio de cultura BDA fundente antes da repicagem do fungo. Os óleos essenciais de F. vulgare e C. nardus controlaram o fitopatógeno in vitro à partir da concentração de 0,5 µl ml-1. Entretanto, dentre os três óleos essenciais utilizados, o óleo de P. aduncum foi responsável pelo melhor resultado, controlando o fitopatógeno em todas as concentrações utilizadas. PALAVRAS-CHAVE: Cymbopogon nardus, Foeniculum vulgare, Piper aduncum e fungo. ABSTRACT Rhizoctonia solani is a plant pathogenic fungus that occurs worldwide causing diseases in many crops. The genus Rhizoctonia has a wide range of host plants, but can live as saprophytes in soil organic matter through survival structures. Damping-off of seedlings is a disease caused by R. solani. Disease control involves measures to reduce the inoculum of the pathogen, such as the use of healthy seeds, crop rotation, thermal treatment, biological and chemical seed. However, the use of fungicides, due to environmental problems has led to demand for alternative control methods such as the use of essential oils. The present study aimed to evaluate the antifungal activity of essential oils of Cymbopogon nardus (citronela), Foeniculum vulgare (erva-doce) and Piper aduncum (pimenta-de-macaco) in different concentrations, inhibition of mycelial growth of R. solani. To assess the activity of essential oils of citronella, fennel and Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2141
pepper overalls on fungal growth, concentrations of 0.1, 0.3, 0.5, 0.7 and 0.9 µl ml -1 each oil were distributed in PDA culture medium flux before transplanting the fungus. The essential oils of F. vulgare and C. nardus controlled the pathogen in vitro at concentrations up to 0.5 µl ml -1. However, among the three essential oils, oil of P. aduncum was responsible for the best result, controlling the pathogen at all concentrations used. Keywords: Cymbopogon nardus, Foeniculum vulgare, Piper aduncum and fungus. Rhizoctonia solani é um fungo fitopatogênico, habitante do solo que possui uma ampla gama de plantas hospedeiras (Bianchini, et al., 2005). Porém, pode viver saprofiticamente na matéria orgânica do solo através de estruturas de sobrevivência (Faltin, et al., 2004). O tombamento de plântulas é uma doença causada por R. solani que afeta os tecidos jovens, ainda dependentes ou recém liberados das reservas nutricionais na semente. O controle da doença envolve medidas que visam diminuir o inóculo do patógeno, promover o desenvolvimento da plântula e evitar a ocorrência de condições ambientais que favoreça a atuação do patógeno. O uso de sementes sadias, rotação de culturas, tratamento térmico, biológico ou químico de sementes são medidas utilizadas (Bedendo, 2011). No entanto, A restrição ao uso de fungicidas, devido à contaminação ambiental, efeitos residuais, espectro de ação e resistência do patógeno, tem levado a procura por métodos alternativos de controle tais como, uso de biofungicidas, extratos vegetais e óleos essenciais (Bastos & Albuquerque, 2004). Óleos essenciais e extratos obtidos de plantas aromáticas são fontes ricas em compostos biologicamente ativos contra o crescimento de microrganismos (Aguiar et al., 2008). A erva-doce (Foeniculum vulgare Mill.) pertence à família Apiaceae é também conhecida popularmente como funcho e anis-doce. É uma erva aromática, nativa da Europa e amplamente cultivada em todo o Brasil (Lorenzi & Matos, 2008). O capim citronela (Cymbopogon nardus L.) é uma planta medicinal e aromática amplamente utilizada, cujo óleo essencial apresenta atividade repelente a insetos, fungicida e bactericida (Perine et al., 2011). A eficiência dos óleos de C. nardus, C. citratus e Eucalyptus citriodora no controle in vitro dos fungos tem sido relatada (Alves et al., 2003). As espécies do gênero Piper (Piperaceae) são amplamente aplicadas na medicina popular em função das propriedades microbianas exibidas por seus constituintes. A espécie (Piper aduncum L.) também conhecida como pimenta-de-macaco é uma excelente produtora de óleo essencial (Maia et al., 1998). O óleo essencial de P. aduncum tem Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2142
promovido ação eficaz no controle de fitopatógenos (Bastos & Albuquerque, 2004). O presente estudo teve como objetivo avaliar a atividade antifúngica dos óleos essenciais de C. nardus (citronela); F. vulgare (erva-doce) e P. aduncum (pimenta-de-macaco) em diferentes concentrações, na inibição do crescimento micelial de R. solani. MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi realizado no Laboratório de Fungos de Solo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). O isolado de R. solani foi obtido da coleção de culturas de Fungos Fitopatogênicos "Prof. Maria Menezes" (CMM), pertencente a UFRPE. Atividade antifúngica dos óleos essenciais Foram utilizadas as concentrações de 0,1; 0,3; 0,5; 0,7 e 0,9 µl ml -1 dos óleos essenciais de citronela, erva-doce e pimenta de macaco em meio de cultura BDA (Batata-dextrose-ágar). A testemunha consistiu do disco do fungo cultivado em meio BDA. Para cada tratamento foram empregadas três repetições. Desta forma, o óleo essencial das plantas foi primeiramente adicionado ao meio BDA fundente com temperatura máxima de 45ºC, e em seguida vertido em placas de Petri de 9cm de diâmetro. Cada placa foi inoculada, no centro, com um disco de 5mm de diâmetro, contendo micélios da cultura do patógeno. As placas foram incubadas à temperatura de 28ºC sob fotoperíodo de 12h. As avaliações foram realizadas diariamente, através de medições do diâmetro das colônias em dois eixos ortogonais (média das duas medições diametricamente opostas), iniciando-se 24 h após o preparo das placas e sempre no mesmo horário, até que um dos tratamentos atingisse o diâmetro total da placa de Petri. Foram realizadas avaliações durante um período de três dias, calculando-se a porcentagem de inibição do crescimento do fungo dos tratamentos em relação à testemunha, utilizando-se a fórmula: PIC = (diâmetro da testemunha diâmetro do tratamento) x 100 diâmetro da testemunha RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os resultados observados, os óleos essenciais de F. vulgare e C. nardus controlaram o fitopatógeno in vitro à partir da concentração de 0,5 µl ml-1. Entretanto, dentre os três óleos essenciais utilizados, o óleo de P. aduncum foi responsável pelo melhor resultado, controlando o fitopatógeno em todas as concentrações utilizadas Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2143
(Tabela 1). De acordo com Rozwalka et al. (2008), a maioria das plantas aromáticas e medicinais utilizadas na forma de extratos aquosos, decoctos e óleos essenciais apresenta compostos biologicamente ativos, com efeito fungitóxico. Segundo os autores, o óleo essencial de funcho (erva-doce) teve efeito na inibição do crescimento micelial do fungo Glomerella cingulata. Os efeitos dos óleos essenciais de erva-doce, citronela e pimenta-de-macaco sobre o desenvolvimento de fungos fitopatogênicos in vitro tem sido avaliados. Segundo Neto et al. (2012), o óleo essencial de citronela apresentou efeito inibitório sobre a incidência de fungos fitopatogênicos. Para Bastos & Albuquerque (2004), o óleo de P. aduncum inibiu, em 100%, o crescimento micelial e a germinação dos conídios de Colletotrichum musae nas concentrações acima de 100 µg/ml. REFERÊNCIAS AGUIAR JS; COSTA MCCD; NASCIMENTO, SC. SENA KXFR. 2008. Atividade antimicrobiana de Lippia alba (Mill.) N. E. Brown (Verbenaceae). Revista Brasileira de Farmacognosia 18: 436-440. ALVES ESSB; PUPO MS; MARQUES SS; VILCHES TTB; SANTOS RB; VENTURA JÁ; FERNANDO PMA. 2003. Avaliação de óleos essenciais na inibição do crescimento de fungos de fruteiras tropicais. Fitopatologia Brasileira 28 (Supl.):343. BASTOS CN; ALBUQUERQUE PSB. 2004. Efeito do óleo de Piper aduncum no controle em pós-colheita de Colletotrichum musae em banana. Fitopatologia Brasileira 29:555-557. BEDENDO IP. 2011. Damping-off. In: AMORIM L; RESENDE JAM; BERGAMIN FILHO A. (Eds). Manual de Fitopatologia: Princípios e conceitos. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, v. 1, p. 820-828. BIANCHINI A; MARINGONI AC; CARNEIRO SMTPG. 2005. Doenças do feijoeiro (Phaseolus vulgares). In: KIMATI H; AMORIM L; REZENDE JAM; BERGAMIN FILHO A; CAMARGO LEA. (Eds). Manual de Fitopatologia: Doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, v. 2, p. 333-349. FALTIN F; LOTTMANN J; GROSCH R; BERG G. 2004. Strategy to select and assess antagonistic bacteria for biological control of Rhizoctonia solani Kühn. Canadian Journal of Microbiology 50: 811-820. LORENZI H; MATOS FJA. 2008. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2144
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