Atividade antifúngica de Lippia sidoides e Lippia gracilis

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1 Atividade antifúngica de Lippia sidoides e Lippia gracilis na inibição do crescimento de Rhizoctonia solani Viviane Maria da Silva 1 ; Rejane Rodrigues da Costa e Carvalho 1 ; Maria Geane Fontes 1 ; Emmanuelle Rodrigues Araújo 1 ; Antônio Alves Pimenta Neto 1 ; Arie Fitzgerald Blank 2 ; Delson Laranjeira 1 ¹Universidade Federal Rural de Pernambuco Departamento de Agronomia Programa de Pós- Graduação em Fitopatologia. CEP , Recife, PE, vmsilva.fito@gmail.com; rejanercosta@yahoo.com.br; manucg@gmail.com; geane_fontes@yahoo.com; pimenta_dm@yahoo.com.br; delson@depa.ufrpe.br; 2 Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Fitotecnia, CEP , Aracaju, SE, arie.blak@gmail.com RESUMO Rhizoctonia solani é um fitopatógeno habitante do solo que causa grandes perdas em diversas culturas de importância econômica. Possui uma ampla gama de plantas hospedeiras e o seu inóculo sobrevive no solo através de estruturas de resistência associadas a matéria orgânica denominadas escleródios. O tombamento de plântulas é uma das doenças causada por R. solani. O tratamento de sementes com fungicidas tem sido a principal medida adotada para minimizar os efeitos negativos dessa doença. No entanto, o uso de pesticidas na agricultura tem causado diversos problemas ambientais. Devido a preocupação da sociedade com o impacto ambiental causado pelo uso indiscriminado de pesticidas na agricultura a busca por medidas alternativas de controle é necessária. Algumas espécies do gênero Lippia têm sido caracterizadas pela presença de óleos essenciais, com atividade antimicrobiana. O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito dos óleos essenciais de L. sidoides e L. gracilis em diferentes concentrações, na inibição do crescimento micelial de R. solani. Para avaliar o efeito dos óleos essenciais de L. sidoides e L. gracilis no crescimento do fungo, concentrações de 0,02; 0,04; 0,06; 0,08; 0,1; 0,3; 0,5; 0,7 e 0,9 µl ml -1 de cada óleo foram distribuídas em meio de cultura BDA fundente antes da repicagem do fungo. Os resultados deste trabalho indicaram que houve inibição total do crescimento micelial do fitopatógeno nas diferentes concentrações dos óleos essenciais testadas. PALAVRAS-CHAVE: Lippia sidoides, L. gracilis, fitopatógeno e óleos essenciais. ABSTRACT Antifungal activity of Lippia sidoides and Lippia gracilis in inhibition the growth of Rhizoctonia solani Rhizoctonia solani is an inhabitant of the soil pathogen that causes major losses in many economically important crops. It has a broad range of host plants and their inoculum survive in the soil through resistance structures associated with the organic material known as sclerotia. Damping off of seedlings is a disease caused by R. solani. Seed treatment with fungicides has been the main measure taken to minimize the negative effects of this disease. However, the use of pesticides in agriculture has caused environmental problems. Due to public concern about the environmental impact caused by the indiscriminate use of pesticides in agriculture the search for alternative measures of control is required. Some species of the genus Lippia have been characterized by the presence of essential oils with antimicrobial activity. This study aimed to evaluate the effect of essential oils of L. sidoides and L. gracilis in different concentrations, Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2135

2 inhibition of mycelial growth of R. solani. To evaluate the effect of essential oils from L. sidoides and L. gracilis fungal growth in concentrations of 0.02, 0.04, 0.06, 0.08, 0.1, 0.3, 0.5, 0.7 and 0.9 µl ml -1 of each oil were distributed in PDA culture medium flux before transplanting the fungus. These results indicated that there was total inhibition of mycelial growth of the pathogen in different concentrations of essential oils tested. Keywords: Alecrim-pimenta, Alecrim-de-tabuleiro, pathogen and essential oils. Rhizoctonia solani é um importante fitopatógeno habitante do solo que causa perdas em diversas culturas de importância econômica, inclusive de hortaliças (Faltin, et al., 2004). R. solani possui uma ampla gama de plantas hospedeiras. Alguns isolados são específicos para uma cultura, enquanto outros atacam várias espécies. O inóculo sobrevive no solo com escleródio ou como micélio associado a matéria orgânica ou plantas perenes (Bianchini, et al., 2005). O tombamento de plântulas é uma das doenças causada por R. solani (Lewis & Lumsden, 2001). Como esse patógeno comumente ataca tecidos vegetais jovens, ele causa o tombamento de plântulas na pré e pós-emergência (Lucon et al., 2009). Dentre as principais formas de controle recomendadas para o tombamento, o tratamento de sementes com fungicidas tem sido a principal medida adotada para minimizar os efeitos negativos dessa doença (Goular, 2008). No entanto, o uso de pesticidas na agricultura tem causado diversos problemas de ordem ambiental, como a contaminação dos alimentos, do solo, da água e dos animais, desequilíbrio biológico e seleção de microrganismos resistentes (Morandi & Bettiol, 2009; Bettiol & Ghini, 2001). Devido a preocupação da sociedade com o impacto ambiental causado pelo uso indiscriminado de pesticidas na agricultura a busca por medidas alternativas de controle é necessária. A atividade antimicrobiana de plantas medicinais utilizando-as como extratos e óleos essenciais tem sido frequentemente citada na literatura. Os resultados alcançados nessa linha de pesquisa têm-se mostrado promissores para uma utilização prática no controle de fitopatógenos em diversas culturas (Franco & Bettiol, 2000). Algumas espécies do gênero Lippia têm sido caracterizadas pela presença de óleos essenciais, com atividade antimicrobiana (Albuquerque et al., 2006). Lippia sidoides Cham (Verbenaceae) é uma planta arbustiva do Nordeste do Brasil, encontrada principalmente nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte, popularmente conhecida como alecrim-pimenta. No óleo essencial de L. sidoides encontram-se vários princípios químicos diferentes, tais como Timol e Carvacrol. A associação destes compostos promove ao óleo essencial ação Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2136

3 antimicrobiana, bactericida, fungicida, moluscicida e larvicida (Nunes et al., 2005; Souza, et al., 2011). L. gracilis Schauer nativa do Nordeste brasileiro, também tem sido destacada devido a presença de altos teores de Timol e Carvacrol (Matos et al., 1999). Esta espécie apresenta propriedades medicinais e destaca-se por apresentar altos teores de monoterpenos (Albuquerque et al., 2006). O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência dos óleos essenciais de L. sidoides e L. gracilis em diferentes concentrações, na inibição do crescimento micelial de R. solani. MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi realizado no Laboratório de Fungos de Solo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). O isolado de R. solani foi obtido da coleção de culturas de Fungos Fitopatogênicos "Prof. Maria Menezes" (CMM), pertencente a UFRPE. Obtenção do óleo essencial de L. sidoides e L. gracilis Os óleos foram extraídos de plantas de L. sidoides e L. gracilis, obtidas do Banco de Germoplasma da Universidade Federal de Sergipe (UFS). As folhas foram secas em estufa de secagem com ar forçado até massa constante. Posteriormente foi adicionado 1L de água destilada em 100g das folhas previamente secas, de onde o óleo essencial foi extraído pelo método de hidrodestilação com destilador tipo Clevenger (GUENTHER, 1972), acoplado a um balão de vidro (3L), durante 160 minutos. Cada óleo essencial foi retirado com o auxílio de uma micropipeta e acondicionado em frascos de vidro âmbar envolto com papel alumínio, mantendo-o sobre refrigeração. Atividade antifúngica dos óleos essenciais Foram utilizadas as concentrações de 0,02; 0,04; 0,06; 0,08; 0,1; 0,3; 0,5; 0,7 e 0,9 µl ml -1 dos óleos essenciais de L. sidoides e L. gracilis em meio de cultura BDA (Batatadextrose-ágar). A testemunha consistiu do disco do fungo cultivado em meio BDA. Para cada tratamento foram empregadas três repetições. Desta forma, o óleo essencial das plantas foi primeiramente adicionado ao meio BDA fundente com temperatura máxima de 45ºC, e em seguida vertido em placas de Petri de 9 cm de diâmetro. Cada placa foi inoculada, no centro, com um disco de 5mm de diâmetro, contendo micélios da cultura do patógeno. As placas foram incubadas à temperatura de 28ºC sob fotoperíodo de 12h. As avaliações foram realizadas diariamente, através de medições do diâmetro das colônias em dois eixos ortogonais (média das duas medições diametricamente opostas), Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2137

4 iniciando-se 24 h após o preparo das placas e sempre no mesmo horário, até que um dos tratamentos atingisse o diâmetro total da placa de Petri. Foram realizadas avaliações durante um período de três dias, calculando-se a porcentagem de inibição do crescimento do fungo dos tratamentos em relação à testemunha, utilizando-se a fórmula: PIC = (diâmetro da testemunha diâmetro do tratamento) x 100 diâmetro da testemunha RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados observados mostraram que os óleos essenciais de L. sidoides e L. gracilis inibiram em 100% o crescimento micelial do fungo em todas as concentrações testadas (Tabela 1). Esses resultados podem ter sido influenciados pela presença de vários compostos com ação antimicrobiana. Segundo Matos et al., (1999) algumas espécies do gênero Lippia são caracterizadas pela presença de óleos essenciais com atividades microbianas devido a presença de compostos como Timol e Carvacrol. O timol tem sido reconhecido como um composto ativo relacionado com propriedades antifúngica e antibacteriana do óleo essencial de L. sidoides (Matos & Oliveira, 1988). A ação da atividade microbiana dos óleos essências também pode está relacionada pela inativação de algumas enzimas, incluindo aquelas envolvidas na produção de energia e síntese de componentes estruturais (Lambert et al. 2001). Os óleos essências de Lippia spp. apresentam altos efeitos sobre vários microorganismos (Bassole et al., 2002). REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE CC; CAMARA TR; MARIANO RLM.; WILLADINO L; MARCELINO JÚNIOR C; ULISSES C Antimicrobial Action of the Essential Oil of Lippia gracilis Schauer. Brazilian Archives of Biology and Technology 49: BASSOLE HN; OVATTARD AS; NEBLE R; OVATTARA CAT; KABORE ZI; TRAORE SA Chemical composition and antibacterial activities of the essential oils of Lippia chevalieri and Lippia Multiflora from Burkina Faso. Phytochemistry 62: BETTIOL W; GHINI R Proteção de plantas em sistemas agrícolas alternativos. In: MICHEREFF SJ; BARROS R. (Eds). Proteção de plantas na agricultura sustentável. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco. p Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2138

5 BIANCHINI A; MARINGONI AC; CARNEIRO SMTPG Doenças do feijoeiro (Phaseolus vulgares). In: KIMATI H; AMORIM L; REZENDE JAM; BERGAMIN FILHO A; CAMARGO LEA. (Eds). Manual de Fitopatologia: Doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, v. 2, p FALTIN F; LOTTMANN J; GROSCH R; BERG G Strategy to select and assess antagonistic bacteria for biological control of Rhizoctonia solani Kühn. Canadian Journal of Microbiology 50: FRANCO DA; BETTIOL W Controle de Penicillium digitatum em pós-colheita de citros com produtos alternativos. Fitopatologia Brasileira 25: GOULAR ACP Efeito do tratamento de sementes de algodoeiro com fungicidas no controle do tombamento de plântulas causado por Rhizoctonia solani, sob condições de casa de vegetação. Tropical Plant Pathology 33: GUENTHER E. The essential oils. Malabar: Krieger, 1972: LAMBERT RJW; SJANDAMIS PN; COOTE PJ; NYCHAS GJE A study of the minimum inhibitory concentration and mode of action of oregano essential oil, thymol and carvacrol. Journal of Applied Microbiology 91: LEWIS JA; LUMSDEN RD Biocontrol of damping-off of greenhouse-grown crops caused by Rhizoctonia solani with a formulation of Trichoderma spp. Crop Protection Guilford 20: LUCON CMM; KOIKE CM; ISHIKAWA AI; PATRÍCIO FRA; HARAKAVA R Bioprospecção de isolados de Trichoderma spp. para o controle de Rhizoctonia solani na produção de mudas de pepino. Pesquisa agropecuária brasileira 44: MATOS FJA; MACHADO MIL; CRAVEIRO AA; ALENCAR JW; SILVA MGV Medicinal plants Northeast Brazil containing Thymol and Carvacrol-Lippia sidoides Cham. and L. gracillis H. B. K (Verbenaceae). Journal of Essential Oil Research 11: MATOS FJA; OLIVEIRA F Lippia sidoides Cham. Farmacognosia, química e farmacologia. Revista Brasileira de Farmacologia 79: MORANDI MAB; BETTIOL W Controle biológico de doenças de plantas no Brasil. In: BETTIOL W; MORANDI MAB. (Eds). Biocontrole de doenças de plantas: Uso e Pespectivas. Jaguariúna: Embrapa meio ambiente, p NUNES RS; LIRA AM; XIMENES E; SILVA JA; SANTANA DP Caracterização da Lippia sidoides Cham (Verbenaceae) como matéria-prima vegetal para uso em produtos farmacêuticos. Scientia Plena 1: SOUZA WMA; RAMOS RA; SILVA ICB; ALVES LC; COELHO MCOCC; MAIA MBS Atividade in vitro do extrato hidroalcoólico de Lippia sidoides Cham Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2139

6 sobre larvas de terceiro estádio de nematódeos gastrintestinais (família trichostrongylidae) de caprinos. Arquivo do Instituto Biológico 78: Tabela 1. Porcentagem de inibição do crescimento micelial (PIC) de Rhizoctonia solani, sob diferentes concentrações do óleo de Lippia sidoides e L. gracilis. Óleos Essenciais Concentração (µl ml -1 ) PIC Lippia sidoides 0, Lippia sidoides 0, Lippia sidoides 0, Lippia sidoides 0, Lippia sidoides 0,1 100 Lippia sidoides 0,3 100 Lippia sidoides 0,5 100 Lippia sidoides 0,7 100 Lippia sidoides 0,9 100 Lippia gracilis 0, Lippia gracilis 0, Lippia gracilis 0, Lippia gracilis 0, Lippia gracilis 0,1 100 Lippia gracilis 0,3 100 Lippia gracilis 0,5 100 Lippia gracilis 0,7 100 Lippia gracilis 0,9 100 Testemunha (BDA) 0,0 0 Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2140