RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NO BRASIL: NOVOS DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO DE ADMINISTRADORES 1



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(Publicada no D.O.U em 30/07/2009)

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Transcrição:

I - Introdução RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NO BRASIL: NOVOS DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO DE ADMINISTRADORES 1 José Carlos Barbieri 2 Armindo dos Santos de Sousa Teodósio 3 A fala de Bourdieu (2000), quando de sua conferência para empresários na Europa em 2000, Senhores do mundo, vocês têm domínio do seu domínio? (p.3). serve também para abrir o presente artigo, na medida em que traduz os desafios daqueles que se voltam a pensar os caminhos da Educação Ambiental (EA) nos cursos que se voltam a formação de profissionais. O trabalho pretende discutir algumas questões pertinentes à implementação da EA em cursos de graduação de Administração e a sua convivência com a disciplina de Gestão Ambiental nos cursos de graduação em Administração do Brasil. Inicialmente, serão apresentadas as principais questões relativas à EA que foram sendo desenvolvidas nos anos 1.970 e que passaram a formar a base conceitual de muitos programas adotados em diversos locais no mundo todo, inclusive no Brasil. Como se verá, a evolução do pensamento sobre EA associada aos conceitos de desenvolvimento sustentável gerou uma EA de caráter socioambiental, baseada numa visão holística do meio ambiente e da sociedade. A seguir são discutidas as tendências recentes do ensino universitário no país e o cenário no qual se inserem várias propostas de modernização das estratégias didático-pedagógicas em cursos de Administração. Depois serão apresentados os principais desafios para implantação da Educação Ambiental em Administração e algumas propostas para avanço da formação consciência ambiental dos estudantes e docentes na área. Por fim, o texto discute os avanços e os limites decorrentes da simples introdução da disciplina Gestão Ambiental nos currículos em Administração. Ainda que represente um avanço, novos esforços são demandados àqueles que pretendem avançar na efetiva Educação Ambiental de Administradores. II A longa e tortuosa trajetória da Educação Ambiental As origens da EA, como qualquer assunto, podem suscitar diferentes opiniões e, portanto, diferentes periodizações. Datas e eventos não faltam para assinalar o nascimento da EA. No entanto, aqui neste trabalho a EA será considerada a partir do pós-guerra, cuja evolução será marcada inicialmente pelos trabalhos da UNESCO, órgão da ONU que deu início ao debate em torno de uma EA de caráter sócio-ambiental, baseada numa visão holística do meio ambiente e da sociedade. Mas como diz Palmer (1.998), embora as palavras educação e meio ambiente parecem que não ter sido empregadas em conjunto antes de meados da década de 1.960, a evolução da EA incorporou influências significativas de alguns grandes pensadores, escritores e educadores dos séculos XVII e XIX. Há dúvidas quanto à primeira vez que a expressão educação ambiental foi empregada. Disinger (1.983) sugere que a primeira vez se deu numa Conferência 1 BARBIERI, J. C.; TEODÓSIO, A. S. S. Responsabilidade Ambiental no Brasil: novos desafios para a formação de administradores. In: Anales de la Asamblea Annual del CLADEA. Santiago de Chile: Consejo Latinoamericano de Escuelas de Administración, 20-22 de octubre de 2005, pp. 1-21. 2 jcbarbieri@fgvsp.br. 3 teodosio@pobox.com; www.teodosio.xpg.com.br; www.armindoteodosio.blogspot.com.

da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) em 1.948 (pg. 5). A EA tem nessas duas organizações uma grande fonte de fundamentação de práticas e de divulgação e não é exagero considerá-las como as madrinhas dessa temática em nível internacional. Melhor dito, essa temática já nasce, ou renasce se forem considerados outros períodos, dentro de uma abordagem global, decorrente da percepção de que os problemas ambientais são problemas globais. Muito do que hoje se sabe e pratica em termos de EA, tais como conceitos, objetivos, diretrizes, metodologias e outras questões concernentes à EA, foram concebidas ou desenvolvidas em diversas conferências internacionais, regionais e nacionais sobre meio ambiente, muitas delas tendo a UNESCO como promotora ou apoiadora. Um marco fundamental para a EA foi a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, em 1.972. Das recomendações do plano de ação proposto nesta Conferência, uma delas referia-se à implementação da EA de caráter interdisciplinar, com o objetivo de preparar o ser humano para viver em harmonia com o meio ambiente (Resolução 96). Para implementar essa resolução, a UNESCO e o PNUMA realizaram o Seminário Internacional sobre Educação Ambiental em 1.975, na qual foi aprovada a Carta de Belgrado. Ela estabelece que a meta básica da ação ambiental é melhorar todas as relações ecológicas, incluindo as relações do ser humano entre si e com os demais elementos da Natureza, bem como desenvolver uma população mundial consciente e preocupada com o meio ambiente e com os problemas associados a ele. Constituiriam atributos centrais o conhecimento, a motivação, a atitude, a capacidade e o compromisso para atuar individual e coletivamente na busca de soluções para os problemas atuais e para a prevenção de novos problemas. O público em geral, o principal alvo da educação ambiental, é constituído das seguintes categorias básicas: todo os integrantes da educação formal (alunos e professores, da pré- escola ao ensino superior e ao treinamento profissional) e os da educação não-formal (jovens e adultos, individualmente considerados ou em grupos, de todas os segmentos da sociedade, trabalhadores, administradores, profissionais liberais etc). Os objetivos da EA conforme a Carta são os seguintes: 1. conscientização: contribuir para que indivíduos e grupos adquiram consciência e sensibilidade em relação ao meio ambiente como um todo e quanto aos problemas relacionados a ele; 2. conhecimento: propiciar uma compreensão básica sobre o meio ambiente, principalmente quanto às influências do ser humano e de suas atividades; 3. atitudes: propiciar a aquisição de valores e motivação para induzir uma participação ativa na proteção ao meio ambiente e na resolução dos problemas ambientais; 4. habilidades: proporcionar condições para que os indivíduos e grupos sociais adquiram as habilidades necessárias a essa participação ativa; 5. capacidade de avaliação: estimular a avaliação das providências efetivamente tomadas em relação ao meio ambiente e aos programas de educação ambiental; 6. participação: contribuir para que os indivíduos e grupos desenvolvam o senso de responsabilidade e de urgência com respeito às questões ambientais. Para atingir esses objetivos, a Carta de Belgrado recomenda que os programas de EA devem considerar as seguintes diretrizes: 1- considerar o meio ambiente na sua totalidade, isto é, o ambiente natural e o construído pelo ser humano, envolvendo questões políticas, culturais, econômicas, tecnológicas, estéticas etc; 2 - considerar a EA como um processo contínuo, tanto dentro como fora da escola; 3 - conter uma abordagem interdisciplinar; 4 -enfatizar a participação ativa na prevenção e solução de problemas ambientais; 5 - considerar as questões ambientais tanto do ponto de vista global como local; 6 - considerar as questões atuais e as futuras; 7 - analisar os processos de desenvolvimento e crescimento do

ponto de vista ambiental; e 8 - promover a cooperação em diferentes níveis, internacional, nacional, regional e local. Fica evidente que a EA é um projeto educacional amplo, que pretende conscientizar, mobilizar e instrumentalizar as pessoas e grupos para agir em consonância com um novo modo de conceber a sua relação com o meio ambiente e a sociedade. Não se incorre em erro se denominá-la de educação socioambiental. Posteriormente, na Conferência Intergovernamental sobre EA realizada em Tbilisi, em 1.977, os objetivos e diretrizes acima foram ratificados e, com base neles, foram enunciados 41 recomendações contemplando todos os grupos sociais. As Recomendações N o 10 e 11 foram feitas especialmente para os grupos sociais específicos cujas atividades profissionais incidem sobre a qualidade do meio ambiente. A primeira recomenda que a formação de economistas, administradores de empresas, arquitetos, planejadores, administradores florestais, engenheiros e outros cujas atividades repercutem de maneira importante, direta ou indiretamente, no meio ambiente, compreenda um programa comum interdisciplinar de estudos ambientais vinculados tanto ao ambiente natural como ao urbano e que estejam relacionados com sua profissão. Para esses profissionais a Resolução N o 11 recomenda que a EA se baseie em pelo menos dois aspectos: (1) programas aprofundados de formação complementar e de formação prática ou programas de formação permanente que lhes permitam estabelecer relações mais adequadas sobre uma base interdisciplinar, cuja metodologia exigirá estudos mais aprofundados, assim como o estabelecimento de mecanismos institucionais adequados; e (2) programas pós-universitários destinados a um pessoal já especializado em algumas disciplinas. O método de formação eficaz é o que adota um enfoque pluridisciplinar, centralizados na solução dos problemas e no sistema de equipes multidisciplinares integradas, permitindo a formação de especialistas, que havendo adquirido uma formação interdisciplinar, acrescentarão às suas próprias capacidades a aptidão para atuar como membros de equipes multidisciplinares. Na América Latina foram realizadas diversas conferências e reuniões técnicas em praticamente todas as capitais e grandes cidades, contribuindo para conferir especificidade à EA nessa região. Por exemplo, num seminário realizado em Buenos Aires em 1.988 recomendou-se que a EA integre a política ambiental do país e leve em conta o contexto de subdesenvolvimento da região latino-americana. A EA está presente em diversas áreas programas da Agenda 21, um dos principais documentos aprovados na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1.992. Além disso, ela dedica o Capítulo 36 à promoção do ensino, da conscientização pública e do treinamento, cujos princípios básicos são as recomendações da Conferência de Tbilisi de 1.977. Uma das áreas programas desse capítulo trata da reorientação do ensino formal e informal para o desenvolvimento sustentável, com o objetivo de modificar a atitude das pessoas e conferir consciência ambiental, ética, valores, técnicas e comportamentos em consonância com as exigências de um novo padrão de responsabilidade sócioambiental. Em relação aos cursos de nível superior, a Agenda 21 recomenda que sejam oferecidos cursos de natureza interdisciplinar a todos os estudantes, tratando das questões ambientais em seus diversos aspectos e relacionados com os processos de desenvolvimento. A promoção do treinamento é a terceira área programa dirigida para profissionais, no sentido de preencher lacunas nos seus conhecimentos e habilidades, ao mesmo tempo em que reforçam ou ampliam a sua conscientização em relação aos temas dos seus programas de aprendizado. O aumento da consciência pública, outra área programa, volta-se para sensibilizar os diferentes públicos quanto aos problemas e desafios do desenvolvimento sustentável, objetivando ampliar a participação e fomentar o senso de

responsabilidade. Recomenda-se, entre outras providências, que as associações profissionais revisem seus códigos de ética e conduta para incluir um compromisso mais forte com as dimensões ambientais e sociais do desenvolvimento. Em 1.992 no Rio de Janeiro, com o Forum das ONGs foi elaborado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, a EA foi entendida como um processo de aprendizado permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida e que contribua para a formação de uma sociedade justa e ecologicamente equilibrada. Esse Tratado é de adesão aberta a qualquer cidadão de qualquer lugar. Os princípios de EA, segundo esse Tratado, estão transcritos na íntegra no Quadro 1. Percebe-se nesse Tratado um aprofundamento da abordagem sócio-ambiental, por exemplo, a recomendação de que a EA deve ter como base o pensamento crítico e inovador. E que ela não é neutra, mas ideológica e, portanto, um ato político. Durante a Conferência do Rio de 1.992, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) realizou um workshop do qual resultou a Carta Brasileira para a Educação Ambiental, que adota os princípios e recomendações da Carta de Belgrado, de Tbilizi, da Agenda 21 e outras reuniões das quais as principais foram aqui citadas. A Carta Brasileira recomenda que o MEC, em conjunto com as instituições de ensino superior, defina metas para a inserção articulada da dimensão ambiental nos currículos a fim de estabelecer um marco fundamental para implantar a educação ambiental no nível de ensino superior. A Declaração de Brasília para a Educação Ambiental, aprovada em 1.997, elaborada durante a I Conferência Nacional de Educação Ambiental, reafirma os princípios e recomendações comentados. Com isso, a EA passou a ser entendida como um instrumento para promover o desenvolvimento sustentável. De acordo com essa Declaração, a existência de diferentes conceitos de desenvolvimento sustentável decorrentes de diferentes visões por parte dos segmentos da sociedade constitui um dos problemas para a EA. A estes se acrescenta o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, que privilegia os aspectos econômicos; o descumprimento das recomendações da Agenda 21 por parte dos diferentes níveis de governo; e a falta de articulação entre as ações de governo e da sociedade civil. O ensino tecnicista e fragmentado foi identificado como um dos problemas que dificultam a consecução de uma EA com os conceitos apresentados anteriormente. Todos os eventos comentados criaram as bases conceituais da EA como instrumento para se alcançar um novo tipo de desenvolvimento que passou a ser denominado de desenvolvimento sustentável. Pode-se verificar que a EA dispõe de um referencial conceitual que deve ser internalizado nas práticas educacionais de cada país, região ou localidade. A trajetória do ensino superior em cada realidade nacional, com seus modelos e pressupostos hegemônicos em cada período, somados às transformações contemporâneas da inserção da universidade na sociedade contemporânea, compõem um cenário que traz decisivos desdobramentos para as experiências de incorporação da EA nos currículos de graduação. III No olho do furacão : desafios do ensino universitário em Administração no Brasil A trajetória do ensino universitário brasileiro é marcada por importantes transformações nos últimos anos, decorrentes de uma gama variada de fenômenos e tendências, alguns deles com ressonância internacional. Dentre eles se destacam a crise da hegemonia da universidade perante a sociedade (Santos, 1999), pressões para a universalização do acesso em países em desenvolvimento e,

notadamente no caso brasileiro, novas regras de regulação do ensino superior. No campo da Administração, observa-se uma significativa expansão do número de cursos e vagas, sobretudo através de instituições privadas de ensino. Todas essas transformações têm gerado grandes debates. Posições se polarizam entre aqueles que enxergam nos novos caminhos do ensino universitário brasileiro um descaminho do verdadeiro sentido dos valores acadêmicos, a excelência no ensino e pesquisa, e aqueles que consideram esse momento frutífero para que a academia repense seu modus operandi, de forma a tornar-se menos burocratizada, mais aberta ao mundo da vida e efetiva em seu papel como espaço de formação profissional avançada. Na esfera da Administração, esses embates encontram maior reverberação. Com um currículo tradicionalmente marcado pela presença de disciplinas originárias de diferentes campos do conhecimento, a formação em Administração se caracteriza pelo encontro, nem sempre convergente, de variadas tradições de narrativa científica sobre os fenômenos a que se dedica a investigar e operar como profissão. Grupos que se consideram mais vinculados à tradição acadêmica enxergam com desconfiança pesquisadores e professores com laços mais estreitos com outros campos, sobretudo o empresarial. Esses últimos, por sua vez, denunciam o insulamento dos academicistas em seu próprio universo. A própria proximidade da Administração com o campo empresarial é oriunda de seu campo profissional, erigindo uma dinâmica que nem sempre resulta em pluralidade e avanço na construção do conhecimento administrativo. As conexões entre essas duas esferas de produção do conhecimento administrativo (o campo acadêmico e o empresarial) caracterizam-se, não raras as vezes, por concepções esteriotipadas, que resultam nas resistências recíprocas. De um lado, é comum encontrar relatos vindos do campo empresarial que apontam a dificuldade das universidades contemporâneas em acompanhar o ritmo frenético do desenvolvimento tecnológico e da produção de conhecimento. Por sua vez, no campo acadêmico constrói-se uma percepção de que as atividades empresariais são marcadas pela superficialidade e reprodução de modismos gerenciais (Nohria & Eccles, 1998; Mazza, 1998). Os debates em torno da política governamental para o ensino universitário também são caracterizados por controvérsias, que ainda não se esgotaram. Exemplo claro disso é o momento atual, marcado pela discussão da reforma universitária. Críticas às políticas empreendidas somam-se a posicionamentos favoráveis à necessidade de modernização do ensino universitário no país. De um lado, são enumerados argumentos a favor da ampliação do número de vagas nos cursos superiores e da necessidade de expansão do ensino universitário no país. De outro, não é raro encontrar um discurso por parte de professores, alunos e gestores universitários de que a qualidade tem se reduzido significativamente. Para os saudosistas e/ou pessimistas, o momento é de grande ameaça ao ensino universitário brasileiro. No entanto, é preciso destacar que essas mesmas ameaças também podem representar a possibilidade de uma modernização mais decisiva da formação de profissionais, em direção a um diálogo mais frutífero entre academia, campo empresarial e sociedade. Como consequência, a formação profissional, sobretudo em Administração, poderia dar respostas mais precisas a problemas de várias esferas da vida em sociedade, com destaque para os desafios ambientais. Para Durand (2003), o campo científico da Administração encontra concorrentes com outras formas de divulgação do conhecimento administrativo. Livros, artigos acadêmicos e em periódicos de ampla circulação, palestras, treinamentos, consultorias e uma infinidade de formas de difusão do conhecimento contrapõem o saber dos acadêmicos ao dos gerentes, dos professores ao dos consultores, dos alunos ou dos iniciados no trabalho em organizações.

Essa ambiência, no campo de conhecimento da Administração, marcado pela interação mais incisiva entre academia, meio-empresarial e sociedade, tem um rebatimento ainda mais profundo nas estratégias didático-pedagógicas que se propõem a incorporar variáveis de responsabilidade social e cidadania em seus eixos de ação, tal qual é a Educação Ambiental. Vários autores destacam a insipiência e os descaminhos da produção de conhecimento em Administração. Modismos impulsionados por uma verdadeira Indústria de Teorias Adminsitrativas (Micklethwait & Wooldridge, 1998), são reverberados por palestras, consultorias e, principalmente, por um literatura administrativa de baixa consistência teórico-conceitual. A Educação Ambiental corre o risco de se transformar em um mero modismo, dado ao caráter de unanimidade que carrega em si o discurso em defesa do meio-ambiente. Prova disso é que que raramente alguém externalisa uma posição contrária à defesa do meio-ambiente, ainda que não altere significativamente sua postura diante dos desafios da crise ambiental. Muitas vezes, essas ameaças externas ao campo acadêmico da Administração reforçam insulamentos do meio universitário, desqualificando e aumentando o preconceito quanto ao conhecimento que é produzido fora do ambiente acadêmico. Nohria & Eccles (1998) argumentam que o conhecimento administrativo não se produz e reproduz apenas no campo científico. Particularmente na área de Administração, dada sua proximidade com as esferas empresarial e social, diferentes formas de produção e sistematização do conhecimento gerencial se manifestam. Para os autores, opera-se um embate entre acadêmicos e gestores de organização, cada qual dos grupos reproduzindo esteriótipos e visões pré-concebidas sobre o modus operandi da construção do saber nos outros campos. Para os homens de negócio, o conhecimento produzido pelas escolas de Administração primaria pelo rigorismo teórico disciplinar, tornandose pouco relevante para o equacionamento de problemas práticos, que exigem uma visão interdisciplinar da realidade. Fica evidente a importância e os desafios da Educação Ambiental nesse cenário. Para Mazza (1998), jornais acadêmicos e pesquisas científicas compõem os chamados canais de divulgação do que se denominaria conhecimento disciplinar. O autor desenvolve uma taxanomia do conhecimento administrativo, envolvendo além do saber típico do campo científico, a opinião informada, o conhecimento prático e o folclore geral. Cada qual deles com seus produtores, propagadores, canais de irradiação e dinâmicas de legitimação próprios. O campo científico da Administração teria maior permeabilidade com relação aos campos econômico e cultural (mídia), ora produzindo ou incorporando conhecimento originário da prática ou mesmo dos mitos do imaginário social, ora engendrando o saber formal típico. Importante destacar que, assim como Norhia e Eccles (1998), o conhecimento administrativo é entendido por Mazza (1998) como uma manifestação multifacetada e heterogênea, operando por diferentes canais de legitimação nos campos científico, econômico e político. Acadêmicos, gerentes, consultores, palestristas e homens de mídia se tornam atores relevantes nesse encontro e embate de racionalidades e saberes. Essas são considerações relevantes para se estabelecer uma plataforma de saída para a incorporação da Educação Ambiental em Administração, que com isso, exigiria também um repensar dos modelos pedagógicos vigentes. Freire (1969), cuja obra adquire assume centralidade nos debates contemporâneos sobre os processos de ensino-aprendizagem, já destacava a relevância do conhecimento tácito e intuitivo para a formação dos indivíduos. Tentando trilhar os caminhos abertos por essa perspectiva, muitas propostas de

modernização das práticas de ensino-aprendizagem se multiplicam no ambiente universitário brasileiro (Teixeira et al, 1995). Essas tentativas nas escolas de Administração, nem sempre resultam em processos de maior interação e diálogo entre os saberes formais e tácito, que compõem o conhecimento administrativo. Ao mesmo tempo em que as constatações de Freire (1969) conseguem arrebanhar a adesão de parte significativa do corpo discente, muitos deles mais no nível do discurso do que na prática cotidiana de trabalho. Propostas concretas de superação de modelos didáticos e de investigação científica, insulados na perspectiva do conhecimento acadêmico formal, nem sempre se mostram bem sucedidas. Como se não bastassem as dificuldades enfrentadas pela própria transformação das abordagens de ensino-aprendizagem, que foram reforçadas ao longo de anos por diferentes grupos sociais, dentro e fora do campo acadêmico, observa-se também a proliferação de inúmeras propostas marcadas muito mais pela conveniência mercadológica do que pela profundidade conceitual e pela consistência operacional (Alcapadipani & Bresler, 2002). O resultado dessa combinação de fenômenos e tendências é, não raras as vezes, a construção de um discurso de resistência à inovação institucional ou ao repensar das práticas didático-pedagógicas nos cursos de graduação. Tais iniciativas de modernização adquirem a aura de desvirtuamento do único caminho consistente de construção do conhecimento: as práticas tradicionais de ensinoaprendizagem. Com isso, novas névoas se erguem, impedindo uma reflexão mais precisa da própria natureza da produção do conhecimento científico em Administração. Muitas dessas resistências não chegam a ser explicitadas devido a fatores internos à própria dinâmica de poder das instituições. No entanto, na interação entre os atores acadêmicos as resistências se manifestam. (Teixeira et al, 1998) Dentro das propostas de renovação dos processos de ensino-aprendizagem, assumem status referencial aquelas concepções voltadas ao resgate do conhecimento tácito e de suas interações com o conhecimento formal (Patton, 1990). É importante destacar que o conhecimento pode se organizar a partir de diferentes formas e magnitudes. Além disso, diferentes tipos e métodos de investigação e de ensino possuem relevância, desde os estritamente vinculados à pesquisa básica até os originários das necessidades de intervenção na realidade social e organizacional. Essa perspectiva, pode servir para romper os rituais do campo acadêmico, que muitas das vezes, implicam em um olhar, no mínimo, desconfiado em relação ao que é produzido fora de seu campo. A proposta da Educação Ambiental, por carregar em si o cerne da interação da universidade com os problemas sócio-ambientais contemporâneos que a cercam, se estruturaria a partir do diálogo entre saberes tácitos e formais, tradicionais e inovadores, calcados na tradição cultural e na modernização social. Para Durand (2003), um dos desafios das Ciências Sociais, lembrando aqui que a Administração insere-se no rol das chamadas Ciências Sociais Aplicadas, é desvelar as barreiras, sejam elas legais, institucionais, e principalmente, mentais e sensoriais, ou melhor, subjetivas, que estabelecem o que é dito e não dito, pensado e não pensado no ambiente do ensino, pesquisa e extensão universitários. A Educação Ambiental exige, pela natureza de sua proposta, uma revisão daquilo que deliberadamente e não-deliberadamente se transformou em barreira ao desenvolvimento da consciência ambiental na graduação em Administração. Dessa forma, cabe refletir sobre o que é ensinado e pesquisado e o que não é ensinado e pesquisado dentro dos cursos de graduação em Administração. Isso ganha maior magnitude quando se constata que a própria Administração caracteriza-se por um lugar mais próximo da fronteira entres as esferas acadêmica,

empresarial e social. Se em determinado momento esses campos dialogam, em outros, em dinâmicas próprias para legitimação dentro de suas arenas, excluem e hierarquizam saberes e possibilidades de interação mais efetivas. Agendas e temáticas de ensino e pesquisa refletem o complexo processo de interação entre essas esferas. Durand (2003, p. 3) sintetiza: a ciência é uma força de censura ao próprio conhecimento, e ela só avança conhecendo esse lado perverso e se precavendo contra suas armadilhas. Assim, faz parte da ciência a observação desse, por assim dizer, impulso à cegueira e seus condicionantes na mente do indivíduo ou nas representações do grupo social. A Educação Ambiental traz novos desafios relativos à revisão de estratégias, práticas e posturas por parte de docentes, discentes e gestores de cursos de graduação em Administração. III - Notícias do Front: A Educação Ambiental em Administração Tornar efetiva a Educação Ambiental (EA) nos cursos superiores constitui um imperativo que acolheu os reclamos da sociedade. Uma das questões problemáticas da EA concerne à necessidade de torná-la parte da formação de profissionais de nível superior, dentre eles, os administradores. Vale lembrar que grande parte desses problemas decorre da maneira como os empresários e administradores exercem as suas atividades. As empresas são parte desses problemas ambientais, seja pela utilização de recursos do meio ambiente para produzir bens e serviços, seja pelos resíduos que elas geram direta ou indiretamente. Mais do que isso, elas adquiriram uma enorme capacidade para induzir comportamentos, modificar hábitos de consumo, despertar necessidades latentes e criar desejos, em outras palavras, capacidade de impor modos de vida, influenciando corações e mentes de um modo avassalador. Por isso, talvez nenhum curso de formação profissional tenha tanta necessidade e urgência em incluir a EA do que os de Administração de Empresa. A maioria dos programas de EA dos cursos superiores não passa de atividades isoladas por ocasião do dia do meio ambiente ou programas de coleta seletiva de lixo gerados nas dependências da escola. No âmbito dos cursos de Administração o quadro não é diferente. O atendimento às normas legais que vem crescendo desde meados da década de 1970 pouco repercute nos cursos superiores da área, pois eram, e ainda continuam sendo considerados por muitos como problemas típicos da área de produção, a serem resolvidos por engenheiros. Essa postura de alheamento por parte dos cursos de Administração se explica em parte por uma legislação que crescia enfatizando o controle da poluição cujas soluções típicas são as tecnologias de fim do processo (end-of-pipe), isto é, as que captam e tratam os poluentes antes que sejam lançados no meio ambiente. Outra explicação está no modo característico de pensar a Administração como uma atividade que deve produzir efeito exclusivo à empresa. Tal alheamento não se justifica, pois não faltaram estudos apontando para a necessidade urgente de incluir o meio ambiente em todas as decisões empresariais, como também não faltaram exemplos bem sucedidos de empresas que conseguiram romper com o dilema meio ambiente-empresa. A lentidão em trazer para dentro dos cursos de Administração as questões ambientais se deve em muito à dificuldade de mudar o comportamento típico de empresários e administradores, que sempre enxergam as oportunidades e investimentos na melhoria das práticas ambientais como gastos ou custos. Houve, no entanto, um crescimento do interesse pelo tema em decorrência da elaboração das normas da série ISO 14.000 desde 1.996 e dos problemas relacionados com as barreiras técnicas ao comércio, conforme se depreende pelo crescente número de artigos em revistas e reuniões técnicas ligadas à gestão empresarial. Porém, não se pode dizer que está se praticando a EA apenas por que em algum momento do curso fala-se da ISO 14.000, das leis ambientais, da escassez de recursos, do dia em que se comemora o meio ambiente, etc. A

Resolução N o 1 de 02/02/2004, que institui as diretrizes curriculares nacionais do Curso de Graduação em Administração, não falam em EA, mas ela está subtendida, na medida em que sua inclusão foi estabelecida a partir de uma lei ordinária, que regulamenta um ditame constitucional. A EA de acordo com a legislação atual e as considerações acordadas nas conferências citadas impõe desafios, que não são poucos, para a sua inclusão nesses cursos, por razões diversas conforme serão comentadas a seguir. IV Para além do lugar comum: os desafios da Educação Ambiental Um desafio básico refere-se ao próprio entendimento sobre meio ambiente. A primeira diretriz da Carta de Belgrado recomenda que os programas de EA devem considerar o meio ambiente na sua totalidade, isto é, o ambiente natural e o construído pelo ser humano, envolvendo questões políticas, culturais, econômicas, tecnológicas, estéticas, dentre outras. Uma abordagem que considere o meio ambiente como uma totalidade seria o desejável e é assim que a legislação brasileira entende a EA. Para isso é necessário superar o entendimento de meio ambiente apenas como a circunvizinhança da organização. Outro desafio está na biologização da Educação Ambiental. A EA típica tem nas ciências biológicas um dos seus grandes mananciais de conteúdos. Isso se deve ao fato de que um dos aspectos mais degradados do meio ambiente são os próprios seres vivos e dentre estes, os humanos. Deve-se também ao desenvolvimento da Ecologia, uma disciplina científica que nasce nas ciências biológicas. Mesmo com o aporte das ciências sociais de um modo integrado, como é típico da Ecologia, EA influenciada por ela continua enfatizando os aspectos bióticos do meio ambiente. A Ecologia é tratada dentro do ensino fundamental e médio, nesta última como unidade de ensino da Biologia, de modo que não é preciso repeti-la. Num curso de Administração essa visão deve ser considerada como uma base já tratada nos diferentes níveis da educação fundamental, notadamente no ensino médio, para daí enfatizar uma abordagem socioambiental, tendo a empresa e suas atividades como elementos centrais da EA. Uma questão fundamental na elaboração de programas de EA refere-se à relação entre o ser humano e a natureza. Por ser essa uma relação essencial para humanos e não-humanos de todos os tempos e lugares, há uma diversidade de entendimentos sobre essa relação e, pode-se até dizer que cada ser humano tem o seu próprio entendimento. Essa diversidade se expressa na complexidade do que se denomina de movimento ambientalista ou ecologista. Vincent (1.995; p. 217) entende o ecologismo como uma ideologia. O movimento ecológico apresenta duas tendências gerais: o antropocentrismo leve e a ecologia ortodoxa. Para a primeira, o ser humano é o único critério do que é importante e do que pode importar. A natureza apresenta um caráter instrumental, ou seja, só possue valor para os humanos ou na medida em que estes lhe confiram valor. A natureza sem os humanos não tem valor. Para a ecologia ortodoxa o valor primordial não é o ser humano, mas a ecosfera como um todo. A ecosfera possui valor intrínseco, que independe dos humanos, e que, portanto, não pode ser usada instrumentalmente para fins humanos. Entre esses dois extremos Vincent (1.995) mostra uma categoria geral intermediária, que se caracteriza por não aceitar o antropocentrismo ou o ecocentrismo. Um dos aspectos mais problemáticos a ser tratado pela EA nos cursos de administração é o debate antropocentrismo versus ecocentrismo ou biocentrismo. Esse debate não é novo, já existia desde a Antiguidade Clássica. Haeckel (1926), o criador da palavra ecologia, foi um crítico incansável do antropocentrismo,

considerado por ele como um poderoso e vasto complexo de noções errôneas que tendem a colocar os humanos em oposição com todo o resto da natureza. Os antropocêntricos radicais, e mesmo os antropocêntricos leves, conforme a classificação de Vincent, entendem que a natureza só tem valor enquanto instrumento dos seres humanos e que estes possuem direitos absolutos sobre ela. A preocupação com o meio ambiente, caso haja, se dá na medida em que este se torna um problema para os humanos. Esse entendimento, que é totalmente incompatível com a EA, continua orientando com muita freqüência as atividades empresariais, embora nem sempre verbalizado e quase sempre negado. No outro extremo estão as propostas ecocêntricas ortodoxas, nas quais todos os seres vivos possuem os mesmos direitos. Tais propostas dificilmente seriam aceitas no ambiente das escolas de Administração, pois elas contestam com veemência as posturas antropocêntricas, que fazem parte do modo de ser dos administradores de um modo geral. Contestam também as posturas que buscam incorporar as questões ambientais no cotidiano das organizações, por entender que se tratam de medidas reformistas, que objetivam legitimar as organizações diante da crescente conscientização a respeito dos problemas ambientais. A EA, conforme os conceitos e objetivos apresentados, não se identifica com nenhum desses extremos. A EA conforme a legislação brasileira faz parte do mesmo movimento em prol do desenvolvimento sustentável. O próprio entendimento do significado da palavra sustentável faz parte do debate entre as diferentes correntes ambientalistas. Para uns essa palavra denota os limites da ação humana em função da capacidade de suporte limitada do planeta; para outros, ela escamoteia a questão do crescimento econômico, que sob a ótica empresarial significa crescimento permanente e, conseqüentemente, pressão constante sobre o meio ambiente, seja pelo aumento da extração de recursos naturais, seja pelo aumento da quantidade de poluentes resultantes dos processos de produção, distribuição e consumo, seja pela natureza perdulária própria do sistema capitalismo, que se move incessantemente destruindo ativos para se renovar, dentro do que veio a ser denominado de destruição criadora, para usar a expressão de Schumpeter. Assim, para os ambientalistas mais ortodoxos a apropriação do conceito de desenvolvimento sustentável por parte do setor empresarial seria uma espécie de licença para continuar degradando o meio ambiente. Essa crítica tem fundamento, pois crescer indefinidamente é uma espécie de dogma no ambiente empresarial. Portanto, essa crítica não deve ser rechaçada ou estigmatizada como sendo uma paranóia de ecologistas radicais. A busca de um novo padrão de desenvolvimento passa necessariamente por uma concepção de crescimento baseado em necessidades reais, respeito ao meio ambiente e inclusão social. Atender esses três requisitos ao mesmo tempo faria com que uma organização se tornasse sustentável. Eis aí uma espécie de arquétipo de todos os desafios para implementar a EA num curso de Administração. Por exemplo, como implementá-la sem contestar o consumismo, um tipo de comportamento insustentável largamente cultivado ou implicitamente aceito em determinadas disciplinas que compõem a formação em Administração? O próprio ceticismo em relação ao movimento ambientalista é outro ponto problemático a ser considerado. É comum ouvir de empresários, dirigentes, professores, alunos e egressos que o ambientalismo é algo postiço à realidade brasileira, um modismo importado dos países ricos. Essa crítica é duplamente injusta. Primeiro, não leva em conta os pensadores preocupados com o meio ambiente desde a época colonial, como muito bem coloca Pádua (2.002). José Bonifácio, Joaquim Nabuco, André Rebouças, Alberto Torres, Euclides da Cunha são alguns dentre os muitos críticos do modo como o meio ambiente vinha sendo

utilizado. No mínimo estes críticos deveriam ser considerados como precursores do ambientalismo socioambiental brasileiro. Quando na década de 1970 o movimento ambientalista se fortalece no mundo desenvolvido, por aqui esse assunto não era novo e seu desenvolvimento se dera levando em consideração uma realidade própria. Só não foi tão ruidoso quanto foi por lá porque aqui se vivia numa ditadura. Segunda injustiça: os que criticam o ambientalismo como modismo ou preocupação importada aceitam de bom grado a importação de conceitos, práticas, modelos e modos de pensar e agir dos países ricos. Pior ainda, a celeridade com que as novidades vindas desses países são adotadas tornou-se um indicador de qualidade para muitos dos cursos de graduação. V Por uma agenda de trabalho multi, inter e/ou transdisciplinar Uma outra classe de desafio para a EA concerne à necessidade de superar um ensino centrado em disciplinas. Pela Lei 9.795/1999 a EA deve se basear numa abordagem inter, multi e transdisciplinar, continuada e centrada em problemas específicos, tanto globais quanto locais, a partir de uma visão integrada das questões socioambientais. Disciplina pode ser entendida como um conjunto de conhecimentos organizados para efeito de estudo ou aprendizado ou um conjunto de conhecimentos de uma área de conhecimento, organizado em torno de conteúdos e métodos próprios para efeito de aprendizagem e pesquisa. Multidisciplinaridade é uma reunião de disciplinas sem que cada uma perca a sua identidade própria, seus métodos, teorias e pressupostos. Para Coimbra (2.000), nessa perspectiva um mesmo tema ou objeto é estudado sob o enfoque de diversas disciplinas, sem que, com isso, se forme um diálogo entre elas. A multidisciplinaridade pode ocorrer sem que se estabeleça um nexo entre os seus agentes, pois cada disciplina continua vendo e tratando o seu objeto com seus próprios critérios, sem se preocupar com qualquer outro (p. 57). Diz-se, por exemplo, que uma equipe é multidisciplinar quando cada profissional detém conhecimentos em áreas específicas. Cada membro da equipe contribui com o conhecimento e a prática próprias da sua área de conhecimento e aprende com as demais áreas, porém sem abandonar a sua. Outro exemplo, zoneamento ambiental e licenciamento ambiental, ambos temas específicos do Direito Ambiental, podem ser estudados junto com localização industrial, um tema que integra, sob óticas diferentes, disciplinas de Economia e de Administração da Produção, as duas primeiras fazendo parte dos conteúdos de formação básica e a última, de formação profissional. A interdisciplinaridade requer mais que uma reunião de disciplinas justapostas. Requer a interação entre disciplinas com vistas a buscar conexões entre elas, ou seja, uma disciplina transfere às outras seus objetos, métodos, conteúdos e visão de mundo. Conforme Coimbra (2000), interdisciplinaridade consiste num tema, objeto ou abordagem em que duas ou mais disciplinas intencionalmente estabelecem nexos e vínculos entre si para alcançar um conhecimento mais abrangente, ao mesmo tempo diversificado e unificado (p.58; grifo do autor). A transdisciplinaridade é uma estratégia que busca teorias e métodos comuns às disciplinas num nível mais elevado de integração. Essa perspectiva dá um passo além no tratamento teórico de um tema ou objeto, como se fora um salto de qualidade, conforme palavras do autor acima. Este autor cita Santomé (1.998), que estabelece uma hierarquia entre estas três perspectivas educacionais, segundo o grau de integração entre as disciplinas envolvidas: a multidisciplinaridade é o nível inferior de integração, a inter, o intermediário e a transdisciplinaridade a etapa superior de integração (p. 59). Percebe-se, portanto, o

tamanho do desafio, uma vez que sequer a perspectiva multidisciplinar é fácil de ser implantada. Em grande parte isso se deve a própria maneira como o curso de Administração foi regulamentado na década de 1.960, uma regulamentação que seguiu a forma de estruturação básica das empresas naquela época, uma estrutura centrada em funções (Finanças, Marketing, Produção, Recursos Humanos,...). As abordagens de administração baseadas em processos, que são interdisciplinares e foram popularizadas nas últimas décadas do século passado, ainda não chegaram aos programas de graduação, salvo honrosas exceções. Uma outra questão presente na Legislação brasileira é que a EA deve ser implantada por meio da transversalidade, ou seja, como um conjunto de temas que devem ser integrados nas diversas matérias, que são oferecidas pelo curso. Como diz Perez (1.995), os eixos transversais constituem uma das inovações teóricas mais importantes no âmbito da teoria curricular moderna. O conceito de transversalidade dentro de um currículo refere-se a um tipo de ensino que deve estar presente na educação obrigatória, não como unidade didática isolada, mas como eixos fundamentais dos objetivos, conteúdos e princípios para salvaguardar as interconexões entre matérias clássicas, acrescentando novidades próprias de contextos sociais dinâmicos, que mudam e evoluem ao longo do tempo (p. 159). Um eixo transversal é um tema que permite articular os conteúdos e objetivos das disciplinas em torno de si. Para a inclusão da EA em todos os níveis e modalidades de ensino, o Decreto 4.281/2.002, que regulamenta a Lei 9.795/1999, recomenda como referência os Parâmetros e as Diretrizes Curriculares Nacionais, observando a integração da EA às disciplinas de modo transversal, contínuo e permanente e a adequação dos programas já vigentes de formação continuada de educadores (Art. 5º). O MEC, ao elaborar os Parâmetros Curriculares Nacionais para a educação fundamental, estabeleceu os seguintes temas transversais: ética, saúde, orientação sexual, pluralidade cultural e meio ambiente (MEC 2.000). Mais uma lei veio reforçar a inclusão desses temas nos cursos de graduação em Administração. A Lei 10.861 de 14/04/2004, que institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. A EA deve ser tratada com outros temas transversais relacionados, tais como globalização, trabalho, saúde, ética, inclusão social e responsabilidade social, todos eles compreendidos no conceito de sustentabilidade dos processos de desenvolvimento, nos quais as organizações de um modo geral, e as empresas em especial, desempenham um papel fundamental. Como mostrado nas seções anteriores, a EA enquanto um eixo transversal não deve ser uma disciplina específica nos cursos de graduação. A rigor essa disciplina só deveria ser oferecida nos cursos de pós-graduação stricto e lato sensu e nos cursos de educação continuada. Esse é o entendimento correto, que foi longamente maturado em milhares de reuniões de especialistas e consubstanciado em centenas de conferências. Porém, nos cursos de graduação em Administração há que se considerar os desafios apresentados anteriormente, principalmente no que concerne ao tratamento pedagógico da EA. Diante dessas dificuldades e da urgente necessidade de começar a tratar os problemas ambientais, em muitos cursos de graduação se oferece uma disciplina geralmente denominada de Gestão Ambiental ou Gestão Ambiental Empresarial. Pelos conteúdos oferecidos por diferentes instituições de ensino, essa disciplina tem se apresentado dentro da perspectiva multidisciplinar, recolhendo contribuições de disciplinas específicas, como Economia do Desenvolvimento, Economia do Meio Ambiente, Economia Ecológica, Direito Ambiental, Administração da Produção, Suprimentos, Marketing, Relações Internacionais, Comportamento Organizacional, Estratégia Empresarial, Contabilidade, dentre outras. Essa disciplina procura apresentar e discutir conceitos,

propostas e instrumentos de gestão que incluam o meio ambiente em diferentes níveis decisórios da organização para responder a uma diversidade de demandas com respeito aos problemas ambientais, levando em conta os objetivos das organizações. A expectativa é que no futuro não seja mais necessário oferecer disciplinas específicas de gestão ambiental, na medida em que as questões contempladas no seu conteúdo programático estarão sendo tratadas segundo abordagens multi, inter e transdisciplinar. A idéia básica é que, primeiramente, essas questões penetrem por capilaridade nas disciplinas básicas, instrumentais e de formação profissional dos cursos de Administração. Depois, que novas propostas pedagógicas sejam criadas contemplando as perspectivas inter e transdisciplinar. O objetivo último é formar cidadãos que no exercício da administração sejam capazes de considerar o meio ambiente e a sociedade em todas as suas decisões e como algo tão inerente ao seu papel profissional. Isto é, que as considerações sobre o meio ambiente e a sociedade fluam naturalmente da mesma forma com que hoje ocorre com custo, produtividade, qualidade e outras questões relevantes para a Administração. Enquanto isso ainda está distante por diversos motivos, alguns esboçados nesse trabalho, é necessário fazer alguma coisa e essa disciplina serve como ponto de partida. Ela se faz necessária pelos seguintes motivos. Primeiro, as questões socioambientais são muito complexas, pois envolvem elementos do meio ambiente físico, biológicos e sociais em interações variadas e não-lineares, que são tratados de modo incompleto, quando são, nas diferentes disciplinas que compõem os cursos de graduação de Administração. Segundo, as respostas a essas questões envolvem uma diversidade de tecnologias de controle, de remediação e de prevenção, bem como uma diversidade de instrumentos de gestão, que ainda não estão suficientemente bem posicionados nas disciplinas típicas dos cursos de graduação ou que carecem de um tratamento adequado devido à ausência de integração entre as disciplinas. Uma terceira razão que aconselha o oferecimento da disciplina Gestão Ambiental é a própria complexidade da legislação, que requer muita atenção dos administradores, sendo que sempre é possível dar ênfase a esse aspecto nas disciplinas jurídicas. Um quarto motivo a recomendá-la já no curso de graduação é a necessidade de desenvolver nos futuros administradores a capacidade de interlocução com membros das mais diferentes correntes ambientalistas, agentes governamentais, acionistas, funcionários e outros grupos. Todos esses motivos irão perdendo sentido na medida em que as questões ambientais de fato venham a ser tratadas transversalmente. Porém, enquanto isso não ocorre, uma disciplina específica nos cursos de graduação pode, ainda que imperfeitamente, cumprir os objetivos da EA, dentre eles desenvolvendo o senso de responsabilidade e de urgência dos futuros administradores com respeito às questões socioambientais. O errado é contentar-se com essa disciplina ou se acomodar em relação àqueles desafios apontados na seção anterior, principalmente no que diz respeito à implementação da transversalidade. Pior ainda é considerar tal disciplina como substituto da EA. Elas não se confundem: aquela é uma disciplina transitória; esta, uma proposta educacional ampla para mudar a relação dos humanos com o meio ambiente. A EA como concebe a atual legislação pode levar muito tempo, uma vez que depende da adesão dos atuais docentes e administradores das instituições de ensino. Os novos certamente serão mais receptivos, pois já vem se tornando freqüente a inclusão da Gestão Ambiental nos níveis de pós-graduação e nos cursos de educação continuada. Esperar pela substituição gradativa dos docentes e dirigentes de ensino para implantar a EA não é a melhor opção. Mas sim, intensificar as iniciativas de EA, enquanto se aborda questões ambientais específicas em disciplina específica de caráter provisório.

VII Considerações Finais A EA tem uma longa trajetória, na qual foi incorporando contribuições das mais diversas e de modo participativo, refletindo um grande anseio da sociedade. A relação meio ambiente-desenvolvimento é o cerne das ações de EA em torno da qual se desenvolvem todas as demais atividades. Para um curso de Administração, que forma profissionais cujas decisões são geradoras de impactos significativos sobre o meio ambiente físico, biológico e social, a EA deve propor um distanciamento tanto da postura tradicional de fechar os olhos aos problemas socioambientais, ou atender apenas às exigências legais quando inevitáveis, quanto do ambientalismo extremado que inviabiliza as atividades produtivas. Em termos de gestão empresarial, esse distanciamento implica numa prática que trilha o espinhoso caminho do meio, na medida em que a eficiência econômica deve ser considerada simultaneamente com respeito ao meio ambiente e a equidade social, sem cair nos extremos mencionados. Dentre as questões problemáticas estão as abordagens multi, inter e transdisciplinar, que apresentam um desenvolvimento muito lento no âmbito das disciplinas, que suportam os cursos de Administração em virtude de uma abordagem reducionista. É mais fácil saber o que não é EA. Apresentar tópicos ambientais com pouca integração com outros assuntos e unidades de ensino pouco contribuem para alcançar os objetivos da EA. Ciclos de palestras também contribuem pouco, pois se elas não estiverem articuladas com os conteúdos das disciplinas, o mais provável é que os assuntos tratados caiam rapidamente no esquecimento. Disciplinas específicas sobre gestão ambiental, embora não sejam aceitas pela atual legislação, podem e devem ser oferecidas, pois assim como quem tem fome tem pressa, conforme palavras atribuídas ao Betinho, o meio ambiente também precisa de pressa. À medida que a EA for sendo implantada como um tema transversal, as disciplinas específicas vão perdendo a razão de ser. O que a EA se propõe precisa de todas as disciplinas do curso de graduação, pois se trata de um projeto educacional abrangente relacionado com a necessidade de promover o desenvolvimento sustentável. O momento atual é mais do que oportuno para avançar na implementação da EA, pois em 2005 começa o Decênio das Nações Unidas para Educação, um ambicioso programa global instituído pela Assembléia Geral da ONU em 2.002. Os cursos de Administração não podem estar ausentes desse esforço coletivo global. Só o futuro poderá dizer se essas mudanças nas estratégias de ensino em Administração serão profundas e duradouras ou se tornarão mais uma reação adaptativa às normas de regulação estatal da graduação no país. Essas são questões prementes para agendas futuras de pesquisa no campo da Administração. A partir dessas novas frentes de investigação, poder-se-á compreender melhor se as palavras de Leopardo, o decadente príncipe de Salina da obra de Lampedusa (1999), terão uma conotação de cinismo ou traduzirão a dimensão efetiva da incorporação da Educação Ambiental nos cursos de graduação em Administração: é preciso mudar se quisermos que tudo siga como está. VIII - Referências Bibliográficas Alcapadipani, R. et al McDonaldização do Ensino. In: Carta Capital, 2002, p 45-48. BRASIL. Lei 9.795 de 27 de abril de 1.999. Brasília, DF, DOU de 02/09/1981. BRASIL. Lei 4.771 de 15 de setembro de 1.965.Brasília, DF, DOU de 05/01/1967.

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