Intervenção psicomotora na escola: um diálogo entre a Educação Física e o Atendimento Educacional Especializado (AEE)

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE CLÍNICA E ESCOLAR Projeto de Trabalho Intervenção psicomotora na escola: um diálogo entre a Educação Física e o Atendimento Educacional Especializado (AEE) Fabyana Soares de Oliveira Natal/RN 2018

Fabyana Soares de Oliveira Intervenção psicomotora na escola: um diálogo entre a Educação Física e o Atendimento Educacional Especializado (AEE) Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Especialização em Psicomotricidade Clínica e Escolar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Especialista. Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto de Mattos Ferreira Natal/RN 2018

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde CCS Oliveira, Fabyana Soares de. Intervenção psicomotora na escola: um diálogo entre a Educação Física e o Atendimento Educacional Especializado (AEE) / Fabyana Soares de Oliveira. - 2018. 14f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Especialização em Psicomotricidade Clínica e Escolar) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Educação Física. Natal, RN, 2018. Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto de Mattos Ferreira. 1. Psicomotricidade - TCC. 2. Intervenção psicomotora - TCC. 3. Educação Física Escolar - TCC. 4. Alunos com deficiência - TCC. 5. AEE - TCC. I. Ferreira, Carlos Alberto de Mattos. II. Título. Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263

RESUMO As experiências vividas são fundamentais para o desenvolvimento de cada indivíduo. É por meio da exploração, das experiências vividas que o indivíduo estabelece relações entre si e com o mundo externo, construindo assim, as descobertas que contribuem na aprendizagem do ser corpo e do corpo em sua totalidade, com a materialização por meio das ações e do movimento. Porém, quando tratamos de crianças com deficiência, que muitas vezes não são estimuladas o suficiente para que possam ter autonomia, no qual necessitam de intervenções que contribuam no seu desenvolvimento. Percebemos então, que estabelecer o diálogo entre a Educação Física e o Atendimento Educacional Especializado (AEE) no âmbito escolar, com a utilização da psicomotricidade como metodologia, pode ser uma possibilidade de intervenção a contribuir para o desenvolvimento integral das crianças com deficiência, em busca de que os educandos adquiram autonomia em sua vida social. Diante do exposto, objetivase por meio deste projeto, analisar as possibilidades de intervenções psicomotoras com alunos com deficiência a fim de contribuir de forma significativa no processo de ensino e aprendizagem e na apropriação das experiências através do movimento. Então, por acreditar nas potencialidades dos alunos com deficiência, a execução desse projeto tem a finalidade de contribuir para o desenvolvimento psicomotor desses educandos. Palavras-chave: Intervenção psicomotora, Escola, Educação Física, AEE, Alunos com deficiência.

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO... 6 2. JUSTIFICATIVA... 8 3. REFERENCIAL TEÓRICO... 9 5. OBJETIVOS... 12 6. METODOLOGIA... 12 8. REFERÊNCIAS... 13

Intervenção psicomotora na escola: um diálogo entre a Educação Física e o Atendimento Educacional Especializado (AEE) 1. Introdução Pensando nas possibilidades de vivências ao longo da vida, as experiências vividas são fundamentais para o desenvolvimento de cada indivíduo. Para isto, é necessário que desde criança nosso corpo seja estimulado através das relações entre mundo interior e exterior. Diante dos significados estabelecidos por meio da experiência vivida, conforme Mazo e Goellner (1991, p.43), de modo que Lemos (1979) atesta: A aprendizagem do aluno se fundamenta na exploração e na descoberta de si mesmo, e, do mundo exterior: é vivenciando situações, descobrindo-se, movimentando seu corpo, comparando-se com outras crianças, manipulando objetos, fazendo experiências, que a criança percebe e constrói conceitos, organiza seu esquema corporal, estabelece suas relações do tempo e espaço, desenvolve sua coordenação visomotora, discrimina auditivamente. Assim o aluno vai desenvolvendo suas áreas sensórias-motoras, que são indispensáveis para aprendizagem da leitura e escrita. De conformidade com Fonseca e Mendes (1987, p. 209) podemos destacar também que: [...] é pela ação prática e concreta que se forma a (in)forma a consciência da criança. A consciência reflete a sua história com o mundo exterior. São as múltiplas relações e correlações com o meio exterior (materializadas sob a forma de ação e movimento) que constituem (e são) as sensações e as percepções com as quais (e pelas quais) a consciência se organiza e auto-regula. Desta maneira, é por meio da exploração, das experiências vividas que o indivíduo estabelece relações entre si e com o mundo externo, construindo assim, as descobertas que contribuem na aprendizagem do ser corpo e do corpo em sua totalidade, com a materialização por meio das ações e do movimento. 6

As experiências são de suma importância para o desenvolvimento, porém quando tratamos de crianças com deficiência, que precisam de uma maior estimulação, mas muitas vezes não são estimuladas por serem mais frágeis e por não acreditarmos (enquanto sociedade) na capacidade desses educandos, com isso, a psicomotricidade é uma possibilidade de intervenção que pode explorar de maneira significativa o desenvolvimento a partir do movimento. Estudos apontam que a linguagem que envolve a psicomotricidade antes de tudo passa pelo desenvolvimento humano e ambiental e deve ser aproveitada a todo instante no que diz respeito a construção do conhecimento (FREITAS; ISRAEL, 2008, p. 1034). Dessa maneira, por meio da psicomotricidade é possível que o educador desenvolva um trabalho pedagógico, possibilitando novas construções e habilidades que contribua na inclusão social de cada educando. Mendonça (2012, p. 13) em seu estudo intitulado A psicomotricidade aliada ao atendimento especializado e com crianças com múltiplas deficiências: um estudo de caso destaca que: Podemos verificar que a Psicomotricidade é de grande importância na vida de uma criança. É através dela que podemos formar um ser global em que esteja presente a motricidade, cognição e afetividade [...]. O AEE é um suporte imprescindível para o ajustamento, a interação e a condução da aprendizagem da criança com múltiplas deficiências. Aliando estas duas concepções, um maior desenvolvimento integral deste aluno com certeza irá acontecer [...]. Percebemos então, que estabelecer o diálogo entre a Educação Física e o Atendimento Educacional Especializado (AEE), com a utilização da psicomotricidade como metodologia, pode contribuir para o desenvolvimento integral das crianças com deficiência, em busca de que os educandos adquiram autonomia em sua vida social. Junior e Rodrigues (2016, p. 9) enfatizam: [...] a necessidade de construção de projetos que privilegiem e promovam uma prática pedagógica que interligue o constante 7

movimento entre a realidade dessas crianças com deficiência motora, problemas mentais e desvios comportamentais, e o desenvolvimento de soluções que contribuam para que elas tenham autonomia, independências e a potencialidade de suas capacidades psicomotoras. Sendo assim, acreditamos que o presente estudo possibilitará por meio do projeto a interdisciplinaridade entre a Educação Física e o AEE a fim de que as crianças com deficiência explorem capacidades psicomotoras e potencialidades através da ação e do movimento. 2. Justificativa O interesse em desenvolver o presente projeto surgiu em decorrência de diálogos estabelecidos entre a gestão e as professoras de Educação Física da escola, juntamente com a coordenação de Educação Física da Secretaria de Educação do Município de Ceará-Mirim. Desta maneira, em busca da realização de projetos (não substituem as aulas de Educação Física, sendo mais uma possibilidade de intervenção a ser realizada com os educandos) que contribuam ainda mais para o desenvolvimento dos nossos alunos, surgiu a possibilidade de desenvolver um trabalho em parceria com o Atendimento Educacional Especializado (AEE). Com a intenção de estabelecer conexões entre o aprendizado do Curso de Especialização em Psicomotricidade Clínica e Escolar com o meu campo de trabalho, que é a escola, surgiu então o interesse pelo desenvolvimento de intervenções psicomotoras com alunos que apresentam deficiência, em busca de contribuir ainda mais para a formação desses educandos, enquanto sujeitos de uma sociedade. Além disso, outro aspecto que contribuiu para a escrita deste projeto se deu a partir das inquietações surgidas no espaço escolar diante dos alunos com deficiência, por perceber que eles não possuem a mesma visibilidade que os demais alunos e são vistos, na maioria das vezes, apenas como especial, que não são capazes de realizar as aulas de Educação Física juntamente com os demais integrantes da turma, havendo a necessidade da minha intervenção para 8

que participe do processo de ensino e aprendizagem. Então, por acreditar nas potencialidades dos alunos com deficiência, a execução desse projeto tem a finalidade de contribuir para o desenvolvimento psicomotor desses educandos. 3. Referencial teórico De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade: Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização (SBP, 2011). Deste modo, o trabalho desenvolvido por meio da concepção psicomotora considera o corpo como um todo, sem dicotomização de corpo e mente, no qual estabelece o conhecimento de maneira integral entre o movimento, a afetividade e o intelectual, além de considerar também as experiências vividas, o corpo em movimento, em conexão com o eu e com o mundo. Com base em Guillarmé (1983, p. 8), [...] a psicomotricidade elabora-se a partir de práticas que repercutem sobre o mundo que nos circunda e que este, por sua vez, fornece uma orientação e um significado aos comportamentos motores do indivíduo [...]. Desta forma, percebemos que a prática a partir da psicomotricidade desenvolve seus significados através da relação do indivíduo com o mundo. Ainda acrescentando, Fonseca e Mendes (1987, p. 211) destacam que: [...] por meio da história psicomotora da criança, não só estabelecem ligações ativas com os adultos socializados, mas também com os objetos por ele fabricados e produzidos (e ambos através do movimento). Daqui que a relação com os adultos e com os objetos permita à criança surgir como um sujeito na seguinte base: só porque se diferencia do objeto pode vir a manipulá-lo e a transformá-lo. É fácil, portanto, percebermos (e admitirmos) nesta perspectiva, que pelo movimento e pela sua história a criança vai edificando a sua experiência social, que lhe permitirá impor-se como sujeito e como 9

personalidade... tendendo para uma socialização crescente e progressiva. Além disso, os autores (1987, p. 210) ainda acrescentam que O desenvolvimento da criança é ativamente guiado pela experiência social, isto é, a criança evolui através da interação com o adulto socializado. Percebemos que a relação entre adulto socializado (sendo o professor no âmbito escolar) e a criança, considerando a história e especificidade de cada educando, permite que eles construam sua personalidade através das experiências pelo movimento, contribuindo para construção de novos sujeitos sociais. Fonseca e Mendes enfatizam em relação às inexistências de estimulações necessárias para o desenvolvimento da criança, destacando: A ausência de tais manipulações e as privações sensoriais, como carência de experiências, desempenham o papel de grandes obstáculos ao desenvolvimento perceptivo e cognitivo e impedem, como é óbvio, as possibilidades da criança se apropriar da experiência dos adultos. (FONSECA; MENDES, 1987, p. 246) Fonseca e Mendes (1987, p. 278-279) ainda ressaltam que: Inúmeros fatores sociais, como a falta de estimulação precoce, problemas de higiene, deficientes condições de experiência motora e psicomotora, condições de privação sensorial, a inexistência de experiência lúdica, desajustamentos emocionais, envolvimento simbólico pobre, reduzida interação linguística com o adulto, deficiente nutrição, ambientes habitacionais catastróficos, inadequado envolvimento afetivo, etc., podem impedir tal desenvolvimento e originar um problema de inadaptação social que começa a sofisticarse a partir da entrada para a escola primária. De acordo com o que foi destacado acima, podemos citar as crianças com deficiência que, em muitas vezes, não são estimuladas o suficiente para que possam ter autonomia e os diversos fatores sociais sinalizados interferem no desenvolvimento dessas crianças. Considerando o espaço escolar que possui carências em relação à prática inclusiva e, muitas vezes não possibilita que os alunos com deficiência vivenciem e se apropriem das diversas experiências 10

juntamente com os outros alunos, o que acaba segregando-os como se não fizessem parte da turma ou não fossem capaz de realizar um trabalho com os demais colegas. Diante disto, em busca de quebrar as barreiras existentes no âmbito escolar frente às pessoas com deficiência, surge o trabalho desenvolvido pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) que: [...] tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. (BRASIL, 2009, p.1) O AEE desenvolve estratégias para quebrar as barreiras de aprendizagem dos alunos com deficiência, em busca da participação efetiva enquanto sujeitos de uma sociedade, contudo, em relação a linguagem por meio do movimento, este atendimento pouco explora. Considerando a linguagem por meio do movimento, enquanto componente curricular da escola, a disciplina de Educação Física está pautada atualmente pela cultura de movimento, com a inserção de todos os alunos no processo de ensino e aprendizagem, possibilitando durante o fazer pedagógico a formação crítica, reflexiva e com autonomia (DARIDO, 2011). Diante disso, temos a possibilidade de investir na interdisciplinaridade dessas áreas de saber: a Educação Física, a Psicomotricidade e o Atendimento Educacional Especializado, em busca de ampliar o repertório de experiências desses alunos, com o planejamento de ações que possibilite o conhecimento através do movimento, valorizando as especificidades de cada educando, a fim de que adquiram autonomia e contribuam na construção do indivíduo enquanto sujeito social. 11

4. Objetivo Diante do exposto, objetiva-se por meio deste projeto, analisar as possibilidades de intervenções psicomotoras com alunos com deficiência, a fim de contribuir de forma significativa no processo de ensino e aprendizagem e na apropriação das experiências através do movimento. De forma específica busca-se: estruturar as especificidades de cada aluno; estabelecer a interdisciplinaridade entre a Educação Física e o AEE; desenvolver possibilidades de intervenção psicomotora que contribua nos fatores sociais e no leque de experiência vivida por esse corpo. 5. Metodologia O projeto será desenvolvido na rede municipal de ensino do município de Ceará-Mirim\RN, em uma escola do ensino fundamental dos anos iniciais, com alunos com deficiência que estão matriculados na referente escola. Pauta-se como proposta de intervenção a ser desenvolvido em parceria entre a Educação Física e o Atendimento Educacional Especializado (AEE). As intervenções serão realizadas durante uma vez por semana, desenvolvendo assim, três (3) sessões com duração de quarenta e cinco (50) minutos cada, podendo ser o atendimento individual ou em grupo. As sessões psicomotoras serão oferecidas nos dois turnos (matutino e vespertino), para poder intervir com um maior número de alunos. O planejamento das ações será sistematizado a partir da estimulação psicomotora, destacando a corrente da educação psicomotora desenvolvida por Jean Le Boulch (1983) que visa desenvolver as potencialidades dos indivíduos por meio do movimento humano como possibilidade pedagógica, proporcionando uma melhora na aprendizagem dos educandos e na relação com o meio. Para o desenvolvimento qualitativo da pesquisa será adotado como instrumento de coleta de dados a aplicação de entrevista, avaliação do 12

desenvolvimento psicomotor das crianças, o diário de campo e registros fotográficos: Será aplicada a entrevista semiestruturada com os pais e os participantes do projeto, com questões a respeito dos dados cadastrais, histórico da deficiência, o que o educando mais gosta de brincar e fazer nos horários que não está na escola, etc. Outro instrumento a ser utilizado será a realização de uma avaliação psicomotora com as crianças participantes, antes de iniciar as intervenções psicomotoras, durante e ao fim do projeto ou da participação daquela criança no mesmo, como meio de observação dos progressos (ou não) no processo de desenvolvimento. Utilizaremos o diário de campo, destacando registros diários sobre o desenvolvimento das intervenções, como o comportamento, o desenvolvimento do aluno nas atividades que serão realizadas, dentre outros. Como também os registros fotográficos como forma de registrar aspectos importantes durante as intervenções psicomotoras. 6. Referências BRASIL. Diretrizes Operacionais do Atendimento Educacional Especializada na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília, 2009. Acesso em: maio de 2018. FONSECA, V., MENDES, V. Escola quem és tu?. Porto Alegre : Artes Médicas, 1987. FREITAS, A. S.; ISRAEL, V. L. A psicomotricidade no desenvolvimento do esquema corporal na aprendizagem de pessoas com deficiência. 2008. (Apresentação de Trabalho/Congresso). Acesso em: março de 2018. JUNIOR, L. V. S; RODRIGUES, K, C. A Psicomotricidade na Educação Especial. In: III Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão da UEG, Goiás, 2016. Acesso em: março de 2018. LE BOULCH, J. A educação pelo movimento: a psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. 13

MAZO, J. S.; GOELLNER, S. V. Algumas considerações relacionadas com a psicomotricidade no contexto da educação física escolar. Revista Kinesis, Santa Maria, vol. 8, n.2, p. 29-48, 1991. Acesso em: março de 2018. MENDONÇA, A. A. S.. A Psicomotricidade aliada ao Atendimento Educacional Especializado e crianças com múltiplas deficiências. In: v seminário nacional de educação especial e iv encontro de pesquisadores em educação especial e inclusão escolar, 2012, uberlândia - MG. V congresso nacional de educação especial, iv encontro nacional de pesquisadores em educação especial e inclusão escolar, 2012. Acesso em: março de 2018. GUILLARMÉ, J. J.; Educação e reeducação psicomotoras. Trad. Por Arlene Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. A Psicomotricidade: definição. Disponível em: <www.psi-comotricidade.com.br/apsicomotricidade.htm>. Acesso em: abril de 2018. 14