CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 Definir estética sempre foi um grande desafio para a humanidade. Na verdade, a definição de algo absolutamente mutável e dinâmico, sujeito a interpretações subjetivas e influenciado por aspectos temporais, culturais, psicológicos e socioeconômicos é tarefa inalcançável. O conceito de belo varia consideravelmente em função da época e da cultura de uma sociedade, bem como dos hábitos e idade dos indivíduos. O que hoje se considera belo e agradável aos nossos olhos pode não ser dentro de algumas gerações. O padrão de beleza nos últimos cem anos sofreu considerável alteração, na proporção direta em que a velocidade de comunicação se tornou cada vez mais rápida e os padrões comportamentais cada vez mais imediatistas. À medida que o acesso à informação se tornou mais fácil e a tecnologia das mídias audiovisual e impressa foi ocupando cada vez mais o tempo/espaço das pessoas e das sociedades organizadas como a indústria do cinema, da moda e tendências comportamentais, da música e esportes, a internet e telefonia móvel, mobilizando bilhões e bilhões de dólares anuais em todo o mundo, mais os indivíduos se tornaram cidadãos do mundo; e essa conectividade intensa influenciou e continua a interferir no padrão de estética mais atual e vigente. Artistas, modelos, esportistas e políticos tornam-se instrumentos desse contexto e acabam por ser, deliberadamente ou não, formadores de padrões de estética e beleza (Figura 1). 1 A 20
OUNIVERSODASRESTAURAÇÕES ESTÉTICASCERÂMICAS 1 B 1 C 1 D 21
CAPÍTULO 1 A Odontologia também participa ativamente desse processo. Nas primeiras décadas do século XX, quando a Odontologia se tornou uma ciência organizada e reconhecida, vários autores, em especial os anatomistas e os protesistas, estudaram a possibilidade de restauração da dentição não apenas sob o ponto de vista funcional, mas também sob o aspecto estético. Muitos trabalhos contribuíram para estabelecer padronizações relativas sobre morfologia, cor, tamanho e disposição espacial e posicional dos dentes. Devido às limitações técnico-científicas da época, os cirurgiões-dentistas tinham poucas opções restauradoras, restringindo as possibilidades clínicas às próteses totais e removíveis. Deste modo, os clínicos trabalhavam com desdentados totais ou de grandes segmentos de arcos dentários, diferentemente dos clínicos modernos, que têm como desafios restaurar dentes naturais. Ao restaurarmos grandes segmentos de arcos dentários, geralmente observamos grandes alterações negativas no volume ósseo, reabsorções do osso alveolar, advindas das perdas dentárias e que são restabelecidas pelas bases acrílicas das próteses. Em decorrência, as reabilitações protéticas realizadas nessas condições apresentam maior facilidade na recomposição estética, pois a emergência dos dentes na interface com a gengiva está totalmente sob controle e preestabelecida na fase de montagem dos dentes artificiais e ceroplastia. Além disso, outros aspectos estéticos importantes, como o tamanho, a forma e a disposição espacial dos dentes, estão totalmente ao alcance e domínio do cirurgião-dentista. Porém, não podemos desprezar o quanto as próteses total e parcial removíveis contribuíram para que, nos dias atuais, vários princípios estéticos que norteiam sua confecção sejam ainda aplicados e vigentes nas reabilitações protéticas em dentes naturais, bem como nas próteses sobre implantes (Figura 2). 22
OUNIVERSODASRESTAURAÇÕES ESTÉTICASCERÂMICAS FIGURA 2 A-G Prótese total: as fases de montagem dos dentes e a ceroplastia permitem que todas as variáveis estéticas estejam sob o domínio do técnico e do cirurgião-dentista. 23
CAPÍTULO 1 A atividade clínica dos cirurgiões-dentistas reabilitadores atuais é aplicada fundamentalmente em pacientes com dentes naturais parcialmente mutilados, embora o restabelecimento de espaços desdentados parciais e totais seja uma realidade ainda existente, em especial em países em desenvolvimento e de terceiro mundo. As possibilidades clínicas restauradoras de que dispomos atualmente são fantásticas: procedimentos minimamente invasivos, como as técnicas de remodelação cosmética e os fragmentos cerâmicos; procedimentos pouco invasivos, como as restaurações diretas de resina composta; procedimentos relativamente invasivos e totalmente invasivos, como as facetas laminadas e inlays/onlays (de cerâmica e resina composta indireta) e as coroas totais metalocerâmicas e cerâmicas puras (livres de metal), respectivamente (Quadro 1, figuras 3 a 6). MINIMAMENTE INVASIVO Remodelação cosmética Fragmentos cerâmicos POUCO INVASIVO Resinas compostas diretas RELATIVAMENTE INVASIVO Facetas laminadas Inlays/Onlays INVASIVO Coroas metalocerâmicas Coroas cerâmicas puras QUADRO 1 Procedimentos restauradores atuais. FIGURA 3 A-D Procedimento minimamente invasivo: fechamento de diastema com fragmentos cerâmicos. Situação clínica inicial (A,B); modelo de estudo (C); modelo de enceramento diagnóstico (D). 24
OUNIVERSODASRESTAURAÇÕES ESTÉTICASCERÂMICAS FIGURA 3 E-J modelo de trabalho troquelizado (E); fragmentos em cerâmica feldspática finalizados (F-H); situação clínica final (I,J). Note-se que nenhum tipo de desgaste dentário foi efetuado para a realização do caso. 25
CAPÍTULO 1 FIGURA 4 A-F Procedimento relativamente invasivo: faceta laminada em cerâmica. Situação clínica inicial (A,B); modelo de estudo (C); modelo de enceramento diagnóstico. Note-se que o elemento a ser restaurado será ligeiramente vestibularizado (D,E); dente preparado. Note-se a elevada saturação do substrato dentário (F). 26
OUNIVERSODASRESTAURAÇÕES ESTÉTICASCERÂMICAS FIGURA 4 G-K Faceta provisória confeccionada diretamente na boca empregando um dente de estoque (G,H); faceta laminada de cerâmica feldspática no modelo de trabalho (I); caso clínico finalizado (J,K). 27
CAPÍTULO 1 FIGURA 5 A-E Procedimento relativamente invasivo: Onlay de cerâmica em sistema IPS e.max Press. Preparo dentário (A); modelo de trabalho troquelizado (B); onlay finalizada (C,D); situação clínica final (E). Note-se que parte das cúspides distais não foi englobada no preparo, permanecendo sem proteção cuspídea, caracterizando o preparo conservador que as restaurações adesivas permitem. FIGURA 6 A-D Procedimento invasivo: coroa cerâmica pura em sistema IPS Empress II. Situação clínica inicial (A,B); dente preparado com retenção intrarradicular; núcleo indireto de cerâmica (C); modelo de trabalho antes da troquelização. Note-se a qualidade de afastamento gengival obtida pela técnica do casquete de resina acrílica (D). 28
OUNIVERSODASRESTAURAÇÕES ESTÉTICASCERÂMICAS FIGURA 6 E-K Modelo de trabalho troquelizado e infraestrutura ou coping em sistema IPS Empress II, no modelo e na boca (E-G); coroa cerâmica finalizada, no modelo e na boca (H,I); finalização do caso e sorriso do paciente (J,K). Note-se a texturização da coroa e do dente natural (elemento 2.1). 29
CAPÍTULO 1 Quando o clínico atual se depara com a necessidade de repor dentes ausentes em espaços protéticos de pequena e média extensão, as possibilidades restauradoras vigentes permitem a instalação de implantes osseointegráveis, quando as condições são favoráveis, ou o emprego de próteses fixas, que podem ser livres de base metálica ou metalocerâmicas (Figuras 7 a 13). FIGURA 7 A-G Prótese parcial fixa metal free anterior em sistema Procera. Situação clínica inicial (A-C); preparo dentário, coroa total e aplicação de pinos intrarradiculares diretos de fibra de vidro nos elementos 1.2 e 2.2 (D,E); enxerto gengival livre e área doadora no palato (F,G). 30
OUNIVERSODASRESTAURAÇÕES ESTÉTICASCERÂMICAS FIGURA 7 H-U Reembasamento da prótese parcial fixa provisória objetivando condicionar a gengiva enxertada para a criação de papilas gengivais (H-M); gengiva cicatrizada e condicionada. Note-se o contorno e a arquitetura gengival obtida (N); prótese parcial fixa de cerâmica pura finalizada no modelo (O,P); finais em boca e sorriso do paciente (Q-U). Note-se a formação de papilas interdentais e a excelente qualidade estética atingida. 31
CAPÍTULO 1 FIGURA 8 A-F Prótese parcial fixa e coroa unitária metalocerâmica em dentes anteriores. Preparos dentários finalizados para prótese parcial fixa (1.1, 2.2) e coroa unitária (1.2) metalocerâmica (A,B); prova clínica da infraestrutura (C); caso finalizado e sorriso do paciente. Note-se que no terço cervical dos dentes pilares o nível de opacidade é alto, devido à dificuldade de se mascarar o fundo escuro do metal (D-F). FIGURA 9 A,B Coroa metalocerâmica sobre implante e coroas metalocerâmicas em dentes posteriores. FIGURA 10 A,B Prótese parcial fixa metalocerâmica de quatro elementos posteriores. 32
OUNIVERSODASRESTAURAÇÕES ESTÉTICASCERÂMICAS FIGURA 11 A-N Prótese parcial fixa metal free posterior. Fratura radicular do elemento 1.4 em função de núcleo metálico fundido com comprimento insuficiente e coroa metalocerâmica (A,B); preparos dentários dos elementos 1.3 e 1.5 finalizados, após exodontia e condicionamento gengival com a prótese parcial fixa provisória (C,D); modelo de trabalho e infraestrutura em sistema IPS e.max Press. Note-se que a troquelização foi feita em bloco, e não individualizada para cada elemento, com o objetivo de minimizar distorções (E-H); prova clínica da infraestrutura (I); prótese parcial fixa de cerâmica pura finalizada (J-L); após cimentação com cimento resinoso. Note-se a excelente resposta biológica do tecido gengival (M,N). 33
CAPÍTULO 1 FIGURA 12 A-E Prótese metalocerâmica anterior sobre implante. Situação clínica inicial mostrando ausência do elemento 1.1. Instalou-se um implante em substituição ao elemento perdido (A); moldagem individualizada do abutment cônico após período de osseointegração e condicionamento gengival com a coroa provisória (B); modelo de trabalho com gengiva artificial. Note-se a reprodução do contorno gengival obtido com a moldagem individualizada (C); coroa metalocerâmica parafusada em posição após finalização do caso (D,E). 34
OUNIVERSODASRESTAURAÇÕES ESTÉTICASCERÂMICAS FIGURA 13 A,B Prótese sobre implante metal free anterior. Ausência do elemento 1.1 (A); instalação de implante osseointegrável em substituição ao elemento perdido (B). 35