Região Autónoma dos Açores Governo dos Açores Consulta pública sobre alterações às Orientações para o exame dos auxílios estatais no setor das pescas e da aquicultura, a fim de incluir uma secção «Auxílios para a renovação das frotas de pesca nas regiões ultraperiféricas» setembro 2018 1
1. Introdução A Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu, ao Comité das Regiões e ao Banco Europeu de Investimento relativa a Uma parceria estratégica reforçada e renovada com as regiões ultraperiféricas da UE (COM (2017) 623 final) prevê, em matéria de economia azul, a adoção por parte da Comissão de diversas ações, entra as quais, a seguinte: examinar a possibilidade de permitir auxílios estatais para a construção de novos navios nas regiões ultraperiféricas, alterando as orientações em matéria de auxílios estatais para o setor das pescas, com base numa avaliação das necessidades justificadas, e cuja concessão deverá estar sujeita a condições suscetíveis de garantir a sustentabilidade da pesca. Em 2018, está prevista uma avaliação do regulamento de minimis específico no setor das pescas, que se aplica igualmente às regiões ultraperiféricas A Comunicação, agora colocada em consulta pública, constitui um dos passos necessários à concretização daquela ação. O artigo 349º do TFUE permite a adoção de medidas específicas para as RUP. Estas medidas podem incluir a política de pescas, auxílios de estado e condições de acesso aos fundos estruturais. De facto, a especificidade da atividade de pesca e da frota de pesca das RUP justifica a adoção de medidas específicas para estas regiões, sem comprometer os objetivos comuns, totalmente partilhados pelas RUP, de garantir um equilíbrio sustentável entre a capacidade de pesca e as possibilidades de pesca. Em particular, justifica-se plenamente que sejam permitidos auxílios estatais para a aquisição de novos navios de pesca nas RUP por forma a contribuir para a melhoria das condições de segurança e de trabalho de uma frota de pesca envelhecida, obsoleta e sujeita a condições de desgaste particulares. A realidade específica do setor das pescas das RUP, e, em particular, das suas frotas de pesca, bem como a premente necessidade de aquelas serem alvo de medidas específicas, é amplamente reconhecida por diversas instituições da UE. Sobre a matéria, reproduzem-se extratos das seguintes resoluções /pareceres: 2
Resolução do Parlamento Europeu sobre a gestão das frotas de pesca nas regiões ultraperiféricas (27/04/2017) 1. Considera que a pesca sustentável, utilizando artes tradicionais, constitui a base da prosperidade das comunidades costeiras e contribui para a segurança alimentar nas RUP; insiste, neste contexto, na necessidade de garantir o contributo da pesca local para o objetivo de segurança alimentar das populações locais, uma vez que neste momento, nas RUP, essa segurança depende excessivamente das importações; 2. Recorda que a PCP e o FEAMP, concebidos para enfrentar os problemas e os desafios da Europa continental, respondem de forma limitada às especificidades das pescas nas RUP, não podem ser aplicados de maneira uniforme aos problemas e às especificidades das pescas nestas regiões e devem ser dotadas de um determinado grau de flexibilidade e pragmatismo ou, alternativamente, ser objeto de derrogações; apela, por conseguinte, à elaboração e aplicação de uma estratégia para cada bacia marítima regional, adaptada à situação específica de cada uma das regiões ultraperiféricas; 3. Sublinha a presença, no seio das RUP, de uma grande variedade de pequenas comunidades fortemente dependentes da pesca tradicional, costeira e artesanal, para as quais a pesca constitui frequentemente o único meio de subsistência; 4. Recorda que os recursos biológicos marinhos em torno das RUP devem ser especialmente protegidos e que a pesca deve ser objeto de particular atenção; sublinha, consequentemente, que só os navios de pesca registados em portos das RUP devem ser autorizados a pescar nas águas das RUP; 8. Observa que, devido às dificuldades climáticas específicas das RUP, os pescadores destas regiões se veem confrontados com o envelhecimento precoce dos seus navios, o que cria problemas à sua segurança e eficácia e proporciona condições de trabalho menos atrativas do que os navios modernos; 10. Observa que as frotas de pesca costeira das regiões ultraperiféricas estão geralmente envelhecidas, o que provoca dificuldades de segurança a bordo; 15. Relembra que, nas RUP, os pequenos barcos de pesca representam a grande maioria dos navios registados; sublinha que, em determinadas RUP, a idade dos pequenos navios ultrapassa, em média, os 40 anos, o que coloca verdadeiros problemas de segurança; 3
21. Insta a Comissão a facilitar uma abordagem holística e adaptada, quando apresentar propostas de atos legislativos relativos ao custo dos investimentos relacionados com a higiene, a saúde e a segurança, bem como com as condições de trabalho; 38. Defende que a futura PCP deve avaliar de forma completa as especificidades das RUP e permitir-lhes realizar o forte potencial económico, social e ambiental proporcionado pelo desenvolvimento sustentável e racional do setor das pescas das RUP; salienta, neste contexto, a necessidade de rever a base de segmentação da frota a fim de garantir uma avaliação objetiva do equilíbrio entre as possibilidades de pesca e a capacidade de pesca da frota artesanal das RUP, que utiliza artes de pesca altamente seletivas fomentando a melhoria das características técnicas da frota com um défice de potência propulsora e/ou estabilidade que possa afetar negativamente a segurança dos seus tripulantes em condições meteorológicas adversas, segundo os critérios científicos objetivos da arquitetura naval, sem conduzir a uma intensificação das atividades insustentáveis de pesca; 40. Solicita à Comissão, a fim de permitir a sobrevivência do setor das pescas nas RUP, e em conformidade com os princípios de um tratamento diferenciado das pequenas ilhas e dos territórios mencionado no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14, que introduza medidas de apoio baseadas no artigo 349.º do TFUE, de modo a permitir o financiamento (a nível nacional ou da UE) dos navios de pesca artesanal e tradicional das RUP que desembarquem as suas capturas nos portos das RUP e contribuam para o desenvolvimento sustentável local, no intuito de aumentar a segurança humana, em consonância com as normas de higiene europeias, lutar contra a pesca INN e alcançar um nível superior de eficiência ambiental; observa que esta renovação da frota de pesca deve respeitar os limites máximos de capacidade autorizados, cingir-se à substituição de um navio antigo por um novo, permitir uma pesca sustentável e alcançar o objetivo de rendimento máximo sustentável (MSY); 44. Observa que a renovação e a modernização das frotas artesanais de pequena escala das RUP, que utilizam artes de pesca extremamente seletivas, podem melhorar a segurança dos tripulantes em condições meteorológicas adversas, desde que tal seja efetuado segundo critérios científicos objetivos da arquitetura naval e não crie um desequilíbrio entre as possibilidades de pesca e a capacidade de pesca; 4
Parecer do Comité das Regiões Europeu - Rumo à plena implementação da Estratégia Europeia renovada para as regiões ultraperiféricas (31/01/2018): 44. acolhe favoravelmente a proposta da Comissão de explorar a possibilidade de concessão de auxílios estatais à construção de novos navios nas RUP, respeitando a sustentabilidade dos recursos, e considera essencial adotar medidas de apoio para permitir o financiamento de embarcações de pesca artesanal e tradicional nas RUP, em consonância com a resolução do PE de 27 de abril de 2017; 45. observa que o sector da pesca e da aquicultura tem um elevado potencial de crescimento e de emprego nas RUP e não recebe apoio suficiente. Além disso, a gestão local neste setor tem um impacto positivo direto na sustentabilidade dos recursos; Parecer do Comité das Regiões Europeu - Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e da Pesca (FEAMP) para além de 2020: investimento nas comunidades costeiras europeias (16/05/2018): 24 reitera o apelo geral para apoiar e incentivar a renovação da frota de pesca, a 1fim de evitar perdas causadas pelo envelhecimento, uma vez que a idade média de um navio de pesca na UE é de 22,6 anos. Esta renovação deve ser promovida sem aumentar o esforço de pesca e centrar-se na melhoria da segurança (por exemplo, segurança contra incêndios) e nas condições de trabalho e de vida a bordo dos navios; 48. apela a um papel mais importante e a uma maior autonomia das regiões na definição dos objetivos e das despesas. Embora o FEAMP seja atualmente gerido a nível dos Estados-Membros, existem exemplos de sucesso em que foi subdelegado para as autoridades regionais competentes em alguns Estados-Membros. O novo regulamento relativo ao FEAMP deve explicitamente incentivá-lo. Salienta a natureza unânime deste convite e a experiência positiva adquirida em relação à gestão do FEAMP em muitas regiões. Considera que a procura de adaptação é particularmente relevante para as regiões ultraperiféricas, para as quais as condições de aplicação do FEAMP em termos de elegibilidade, taxas de cofinanciamento e níveis de ajuda também devem ser revistas e melhoradas; Além disso, o apoio a título dos planos de compensação para cobrir os custos adicionais 5
dos produtos da pesca e da aquicultura nas regiões ultraperiféricas deve ser reforçado, tendo em conta os seus objectivos e especificidades, e as regras de execução associadas devem ser semelhantes às aplicáveis a apoios semelhantes concedidos. setor agrícola; 2. Apreciação da Proposta de Alteração O Governo dos Açores considera muito positiva a apresentação pela Comissão Europeia da proposta de alteração em consulta, a qual vem permitir dar início ao processo de concretização de uma ação fundamental para o setor das pescas das RUP prevista na Comunicação Uma parceria estratégica reforçada e renovada com as regiões ultraperiféricas da UE no âmbito da economia azul. Contudo, entende que a proposta de alteração é insuficiente, em particular em dois aspetos: As alterações propostas aos pontos 9 e 35 das atuais orientações, em conjugação com as disposições da proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho relativo ao FEAMP (COM (2018) 390 final de 12.6.2018) indicam a exclusão do cofinanciamento do FEAMP dos investimentos na renovação da frota de pesca das RUP. O Governo dos Açores considera não existir nenhuma razão objetiva que justifique que os apoios à aquisição de novos navios de pesca nas RUP não possam ser cofinanciados pelo FEAMP. Em conformidade já apresentou, junto das instituições nacionais e comunitárias adequadas, propostas de alteração à proposta de Regulamento do FEAMP atualmente em discussão; As taxas de intensidade máxima da ajuda constantes no ponto 114f revelam-se manifestamente insuficientes para garantir a renovação da frota das RUP, tendo em atenção que o principal objetivo do auxílio é promover a melhoria das condições de segurança e de trabalho a bordo nas embarcações de pesca daquelas regiões. Entende o Governo dos Açores que o novo auxílio consagrado no ponto 5.6a é equiparável a um auxílio de natureza compensatória (como, aliás, decorre das alterações propostas aos pontos 38, 42, 44, 52 e 62), e, como tal, deverá prever, no mínimo, uma taxa de intensidade máxima da ajuda de 85%, equivalente à prevista na proposta de Regulamento do FEAMP para as operações localizadas nas RUP. Entende ainda o Governo dos Açores que a consideração de taxas de intensidade máxima da ajuda diferenciadas de acordo com o comprimento fora a fora das 6
embarcações está desajustada à realidade específica das pescarias nas RUP. Salienta-se que, no caso particular da frota de pesca dos Açores, os navios com um comprimento fora a fora superior a 24 metros (apenas 4% do número de navios de pesca licenciados) são quase exclusivamente os navios atuneiros que utilizam a arte de pesca de salto e vara (19 navios, como uma idade média de 23 anos e que operam nos Açores e Madeira durante 6 meses por ano), pescaria tradicional caracterizada pela sua seletividade e sustentabilidade. 7