PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA E DISTRIBUIÇÃO DAS REGIÕES FITOECOLÓGICAS EM TRANSECTAS NO ESTADO DO PARANÁ Aparecido Ribeiro de Andrade Mestrado em Geografia PGE/UEM. apaandrade@ibest.com.br Margarida Peres Fachini Docente do Deptº de Geografia DGE/UEM Jonas Teixeira Nery Docente do Deptº de Física - DFI/UEM. jonanery@dfi.uem.br ABSTRACT This paper s main purpose is to study the correlation between the rainfall transects and the Paraná State vegetation between 1958 and 1992. The rainfall data here used was gathered by ANEEL (National Agency of Water and Electrical Energy). The phytoecological distribution occurrence in the transected areas was described through the area vegetation characterization. Statistical parameters like mean, standard deviation and others were used to analyze said rainfall transects. Key words: precipitation, transects, variability INTRODUÇÃO A precipitação pluviométrica representa uma variável de grande relevância nos estudos climatológicos, dentro de diversas áreas da ciência, pois oferece subsídios, dentre outros, na compreensão da distribuição espacial das formações vegetais. O estudo da fitoecologia constitui problemas ecológicos vinculados às oscilações climáticas pretéritas, eventos ocorridos principalmente no Quaternário recente e da dinâmica atual do clima. Bigarella (1974) afirma que a cobertura vegetal exerce papel regulador no tocante ao controle da erosão. Nas áreas desflorestadas, o fluxo das águas na superfície aumenta, com inundações severas e os processos erosivos acentuam-se. No que se refere à infiltração, esta se torna expressiva e em vertentes íngremes, propiciando condições para o deslizamento de barreiras. Esse autor ressalta também a importância da manutenção da cobertura vegetal, para que não ocorra alteração na dinâmica do ciclo hidrológico, considerando as regiões fitoecológicas, ou seja a formação primária de cada região. Com relação às regiões fitoecológicas, cujo termo designa ao sistema natural de cobertura vegetal proposto por IBGE (1992), de acordo com Maack (1968) o revestimento vegetal de uma determinada região pode ser considerada como a expressão do clima quanto à latitude, a altitude e conseqüentemente à natureza do solo. Ainda segundo esse autor, o Estado do Paraná registra uma distribuição pluviométrica satisfatória em quase todos os meses do ano, contribuindo para que haja ocorrência de florestas, na maior parte de seu território, a despeito de áreas menores compostas por savana, campo e vegetação hidrófilas. Da ação conjunta dos fatores geográficos, climáticos, biológicos e do solo, resultantes dessas interações, ocorre o quadro da vegetação. O Estado do Paraná, essencialmente uma região de planalto, é parte integrante do planalto Meridional do Brasil. Predominam relevos de planaltos, crescentes em altitudes no sentido noroeste-sudeste (da Carra do Rio Paraná à Serra do Mar Fachada Atlântica), subdivide-se em três compartimentos em 3º, 2º e 1º planaltos, respectivamente. Além de tais fatores estáticos, segundo Monteiro (1969); Nimer (1977), o Estado possui dinâmica de circulação atmosférica complexa, como a oceânica que predomina na região leste; as massas polares atuantes de junho a agosto e, principalmente as massas equatorial continental e tropical continental que determinam o regime de precipitação pluviométrica no período de setembro a março em todo o seu território. Porém, cabe ressaltar que sua porção norte é cortada pelo Trópico de Capricórnio, sendo portanto uma região de confluência de energia significativa, decorrente à circulação atmosférica e da atuação de diferentes massas de ar. Considerando à diversidade climática para a análise dos aspectos da cobertura vegetal, foram utilizados estudos pioneiros de Maack (1968); IBGE (1992, 1993); Veloso et al. (1991), resultando a seguinte ocorrência fitoecológica: Floresta Onbrófila Densa (FOD) e ecossistemas associados (mangue, restinga e vegetação de altitude); Floresta Ombrófila Mista (FOM) e ecossistemas associados (campos limpos, campos cerrados, vegetação rupestre e vegetação de várzea); Floresta Estacional Semidecidual (FESD). De acordo com a classificação das regiões fitoecológicas, o termo Floresta Ombrófila Densa, criado por Ellemberg & Mueller-Dombois (1965/6) apud IBGE (1992), substitui o termo pluvial para ombrófila, ambos com o mesmo significado amigo das chuvas ou vegetação típica de regiões úmidas. 1253
Com relação à Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária), de acordo com IBGE (1992) esse tipo de vegetação ocorre no Planalto Meridional brasileiro (área atual de seu clímax climático), entretanto, essa floresta apresenta disjunções florísticas em refúgios situados, por exemplo nas serras do Mar e da Mantiqueira. Ainda de acordo com IBGE (1992), a Floresta Estacional Semidecidual (Floresta Tropical Subcaducifólia), cujo conceito ecológico para esse tipo de vegetação está condicionado pela dupla estacionalidade climática, uma tropical com época de intensas chuvas de verão, seguida por estiagem acentuada e outra subtropical, sem período seco, mas com seca fisiológica provocada pelas baixas temperaturas médias de 15ºC, no inverno. O objetivo do presente estudo pretende demonstrar através de transectas o comportamento pluviométrico e a distribuição das regiões fitoecológicas do Estado do Paraná. MATERIAL E MÉTODOS O período estudado foi de 1958 a 1992. Com base nestas séries, fez-se a análise através de parâmetros estatísticos, tais como: amplitude, média, desvio padrão e correlação, utilizando o software Excel. Também foi utilizado o software Surfer para a elaboração do mapa da região com sua localização e distribuição dos postos pluviométricos (Figura 1). O software Statistica também foi utilizado, principalmente para a confecção dos gráficos de comportamento interanual da precipitação pluviométrica em algumas das séries estudadas, buscando a confirmação da distribuição espacial da precipitação. Buscou-se uma análise estatística da precipitação pluviométrica do Estado através de transectas, possibilitando agrupar um maior número de estações dentro de uma mesma longitude (Figura 1). T1 T2 T3 T4 T5 T6-23. 3 31 1 8 9 T7-24. 13 32 12 15 14 T8-25. -26. 2 29 19 21 35 34 33 22 27 7 6 4 26 3 11 1 36 24 25 2 23 16 5 37 1817 28 T9 T1 Escala Aproximada 1:4.2. -54. -53. -52. -51. -5. -49. Figura 1 - Mapa de Localização das e as transectas traçadas (T1 = Transecta 1; T2 = Transecta 2; T3 = Transecta 3; T4...). Os dados foram cedidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), resultando num total de 37 séries pluviométricas (Tabela 1), com o mínimo de dados faltantes no período de 1958-1992. Para efeito de correlação entre pluviometria, altimetria e distribuição das regiões fitoecológicas foram elaborados perfis topográficos, considerando T7, T8 e T9, no sentido leste-oeste, cortando a porção norte, central e centro-sul do Estado do Paraná. 1254
A partir da seqüência definida para as transectas foi possível realizar um levantamento fitoecológico, buscando relacionar a ocorrência vegetal à distribuição da chuva, o que foi feito através de amplo levantamento bibliográfico e a análise de alguns mapas de distribuição da vegetação do Estado do Paraná. nº Estação Latitude Longitude Média Anual (mm) Altitude (m) 1 Jataizinho -23,25-5,98 1382,94 34 2 Quitandinha -25,95-49,38 1437,97 81 3 S. Mateus do Sul -25,87-5,38 142,54 76 4 Mallet -25,93-5,68 152,9 75 5 Antonina -25,23-48,75 2339,49 8 6 União da Vitória -26,23-51,7 1586,3 736 7 Jangada (G. Carneiro) -26,37-51,25 1711,4 8 8 Santa Mariana -23,1-5,45 121,66 34 9 Andira -23,8-5,28 1247,91 375 1 Ponta Grossa -25,25-5,15 1527,29 79 11 Prudentópolis -25,2-5,27 157,3 69 12 Itaipu -24,5-54,33 156,6 15 13 Guairá -24,7-54,25 149,77 218 14 Adrianópolis -24,65-49, 993,97 18 15 Cerro Azul -24,75-49,33 194,43 4 16 Campina Grande -25,17-48,88 1367,43 75 17 Morretes -25,47-48,83 1962,57 8 18 Véu de Noiva -25,43-48,9 3651,4 68 19 Foz do Iguaçu (Salto Cataratas) -25,68-54,43 1696,57 152 2 Foz do Iguaçu (P. Nacional) -25,28-54,48 1584,83 1 21 Campo Novo -25,47-52,9 1831,8 55 22 Santa Clara (Guarapuava) -25,63-51,97 1748,3 74 23 Curitiba -25,43-49,27 1428,83 929 24 S. Bento (Lapa) -25,93-49,78 148,77 75 25 Rio Negro -26,1-49,8 1432,57 77 26 Teixeira Soares -25,45-5,58 1568,13 893 27 Guarapuava -25,45-51,45 1716,69 95 28 Us. Guaricana (S.J. Pinhais) -25,73-49, 2354,86 75 29 Itaipu (F. Iguaçu) -25,55-54,58 145,74 1 3 P. Paraíso do Norte (Rondon) -23,32-52,67 132,3 25 31 Londrina -23,32-51,15 1598,74 566 32 Ivaiporã -24,25-51,65 1698,3 65 33 Us. Cavernoso (Cantagalo) -25,47-52,2 1761,46 56 34 Ponte do Vitorino (P. Branco) -26,5-52,8 1893,14 55 35 Águas do Vere (S. Jorge Oeste) -25,77-52,93 1867,54 39 36 Vila Velha (Ponta Grossa) -25,22-5,2 1449,9 88 37 Piraquara -25,45-49,3 1359,2 9 Tabela 2 Relação das Pluviométricas estudadas. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS As análises referentes à pluviosidade encontram-se representadas em 1 transectas, porém as mais representativas foram T7, T8 e T9, com relação a altimetria, distribuição heterogênea dos domínios fitoecológicos e da homogeneidade de precipitação pluviométrica. 1255
Com relação transecta 7, abrangendo a porção norte e noroeste do Paraná, está sob o domínio da Floresta Estacional Semidecidual, porém com alguns encraves de Araucária em altitude (Figuras 3 e 4). Transecta 7 (Região Norte) Média 36 3 24 18 12 6 Andira Santa Mariana Jataizinho Londrina P. Paraíso do Norte (Rondon) Figura 3 - Transecta 7 (Região Norte) Corte de Leste para Oeste com variabilidade da Média de Precipitação (mm) Transecta 7 (Região Norte) Altitude 1 75 5 25 Andira Santa Mariana Jataizinho Londrina P. Paraíso do Norte (Rondon) Figura 4 - Transecta 7 (Região Norte) Corte de Leste para Oeste com variabilidade da Altitude (m) das estações coletoras de dados. A transecta 8 sentido leste-oeste, abrange desde as proximidades do rio Itararé, até a calha do rio Paraná, insere-se sob o domínio da Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária), Campos Gerais e a Floresta Estacional Semidecidual (Figura 5 e 6). Transecta 8 (Região Centro-Norte) Média 36 3 24 18 12 6 Adrianópolis Cerro Azul Ivaiporã Guaíra Itaipu Figura 5 - Transecta 8 (Região Centro-Norte) Corte de Leste para Oeste com variabilidade da média de precipitação (mm). 1256
Transecta 8 (Região Centro-Norte) Altitude 1 75 5 25 Adrianópolis Cerro Azul Ivaiporã Guaíra Itaipu Figura 6 - Transecta 8 (Região Centro-Norte) Corte de Leste para Oeste com variabilidade da Altitude (m) das estações coletoras de dados. Entretanto a transecta 9, para o presente estudo demonstrou ser a mais representativa, cortando no sentido leste-oeste, abrange diferentes domínios fitoecológicos, região litorânea, com formações pioneiras e fluviomarinhas, a Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), Campos Gerais, Floresta Ombrófila Mista, com áreas de campos cerrados, seguida pela Floresta Estacional Semidecidual (Figuras 7 e 8). Transecta 9 (Região Centro-Sul) Média 36 3 24 18 12 6 Morretes Véu de Noiva Piraquara Curitiba Teixeira Soares Guarapuava Santa Clara Us. Cavernoso Campo Novo Foz do Iguaçu Foz do Iguaçu (P. Itaipu (F. Iguaçu) (Guarapuava) (Cantagalo) (Salto Cataratas) Nacional) Figura 7 - Transecta 9 (Região Centro-Sul) Corte de Leste para Oeste com variabilidade da média de Precipitação (mm). Transecta 9 (Região Centro-Sul) Altitude 1 75 5 25 Morretes Piraquara Teixeira Soares Santa Clara (Guarapuava) Campo Novo Foz do Iguaçu (P. Nacional) Figura 8 - Transecta 9 (Região Centro-Sul) Corte de Leste para Oeste com variabilidade da Altitude (m) das estações coletoras de dados. Com relação às transectas transversais (sentido norte-sul) evidencia características de transição que o Paraná ocupa entre as regiões tropical e subtropical. Os resultados preliminares demonstraram que a topografia do Estado intimamente ligada com a variação pluviométrica, bem como, os diferentes mosaicos de paisagem vegetal, pois em regiões de mesma latitude, altitude e condições climáticas, registram-se médias pluviométricas e distribuição fitoecológicas semelhantes. Porém, a região da Serra do Mar, a leste, sofre influências de massas oceânicas e da orografia, bem como o setor centro-oeste, que é naturalmente o eixo preferencial das entradas de frentes frias, o que condiciona índices pluviométricos locais. 1257
CONCLUSÃO O Estado do Paraná possui uma dinâmica pluviométrica bem caracterizada pela sua orografia, isto se torna muito evidente quando se analisam algumas transectas traçadas, principalmente a 6 e 9. Entretanto, a circulação atmosférica também influencia a precipitação principalmente nas regiões oeste e noroeste do Estado, a primeira com uma expressiva concentração pluviométrica, enquanto que a segunda com um menor índice de ocorrência de chuva. Ao se analisar a distribuição fitoecológica do Paraná, nota-se uma relação bem marcada com a altitude e a variabilidade pluviométrica, pois da mesma forma que a orografia influencia a ocorrência de chuva também delimita ocorrência de espécies vegetais através da área estudada. Vale destacar principalmente, a existência de uma área de vegetação atlântica preservada no decorrer da serra do mar, o que provoca uma taxa evapotranspiração elevada que naturalmente influencia chuvas locais, além da própria barreira natural que a serra forma, impedindo que as massas oceânicas penetrem no interior do Estado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIGARELLA, J. J. Segurança ambiental uma questão de consciência... e muitas vezes de segurança nacional. Curso da ADESG. Curitiba e Ponta Grossa. 1974. ELLEMBERG, H.: MUELLER-DOMBOIS, D. A. Tentative physiognomic-ecological classification of plant formations of the earth. Separata de Ber. Geobot. Inst. ETH, Zurich. 1965/66. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Rio de Janeiro. 92p. (Séries Manuais Técnicos em Geociências, n. 1). 1992.. (Ministério do Planejamento e Orçamento). Mapa da Vegetação do Brasil. Rio de Janeiro. Escala 1:5.., 1993. MAACK, R. Geografia Física do Estado do Paraná. J. Olympio, Secretaria da Cultura e do Esporte do Governo do Paraná, 45p. 1968. MONTEIRO, C. A. F. A Frente Polar Atlântica e as chuvas de inverno na fachada sul-oriental do Brasil. IG. USP. São Paulo (Série Teses e Monografias), 32p. 1969. NIMER, E. Clima. In: Geografia do Brasil. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Vol. 3, Rio de Janeiro, p. 51-89, 1977. VELOSO, H. P.; RANGEL FILHO, A. L. R.; LIMA, J. C. A. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro, IBGE, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, 1991. 124p. 1258