CURRÍCULO, IDENTIDADE E DIFERENÇA: A PARTIR DE UM ESTUDO DE CASO



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Transcrição:

CURRÍCULO, IDENTIDADE E DIFERENÇA: A PARTIR DE UM ESTUDO DE CASO Brucce Sanderson Prado de Freitas 1, Élida Gonçalves Santos 1 e Rodolph Delfino Sartin 1 1 Graduandos em Ciências Biológicas - Licenciatura - UFG E-mail: bruccesanderson@gmail.com Este trabalho foi proposto e orientado pela profª DRª Mariana Cunha Pereira como parte constituinte das atividades propostas na disciplina Cultura, Currículo e Avaliação, ministrada à graduação em Ciências Biológicas modalidade Licenciatura da Universidade Federal de Goiás. Nos primeiros encontros da disciplina foram indicados e discutidos textos sobre cultura. Na medida em que informados pelas leituras apresentadas sobre cultura, através de LARAIA (2001) e de aulas expositivas, foi possível compreender o quanto este tema é importante na discussão de currículo. Passamos a entender que, na relação de ensinoaprendizagem e no Projeto Político Pedagógico, este conceito pode desmistificar os comportamentos etnocêntricos tão comuns nas relações sociais. A cultura é, segundo Laraia, um modo de vida. Esse conceito de cultura nos ajudou a perceber que as ações e reações que o Homem realiza no mundo na relação Homem Natureza Homem Sociedade, são mediadas por construções culturais. O que isso quer dizer? Que nem todas as ações e reações são resultantes das condições climáticas ou dos aspectos biológicos, e que tem sim um forte componente cultural. Além disso, esse comportamento cultural se modifica de sociedade para sociedade. Foi possível observarmos isto, quando discutimos em sala um fragmento de um artigo jornalístico, que foi trazido pela professora, sobre um costume espanhol que é a Ciesta costume de dormir após o almoço. Realizamos um grande debate na sala de aula falando dos diferentes costumes que existem no Brasil e que por fim fazem nossas escolas tão plurais. Todo esse olhar sobre a cultura é pertinente para mostrar porque os diferentes alunos, com os quais vamos trabalhar na sala de aula, refletem um pouco dessa diversidade e, portanto, nos propõe a tarefa de pensarmos em diferentes currículos para atender a essa diversidade que se impõe à escola. Seguindo a discussão, partimos para o estudo de currículo e suas relações com a identidade e a diferença. Após essas aulas, a critério dos alunos, a turma foi dividida em grupos com a finalidade de facilitar o desenvolvimento dos trabalhos em campo, os quais foram realizados em colégios da rede pública de ensino. Cada equipe escolheu um dos eixos temáticos pré-determinados na disciplina, a partir da leitura do texto de ARROYO (2007).

Ali, o autor ao discutir sobre as inúmeras indagações que podem ser feitas ao currículo diante das novas identidades profissionais que surgem no mundo, nos sugere alguns pontos de reflexão, sobre os quais criamos os temas para realização deste trabalho de pesquisa. São eles: A Identidade do Professor como um Trabalhador da Educação; O Trabalho docente e a organização escolar; O trabalho docente e o Mal Estar docente; e A Identidade dos Educandos: Jovens e Adultos. Porém, deixando livre aos alunos que recriassem seus recortes a partir destes eixos. Para a realização deste, escolhemos o eixo temático: A Identidade dos Educandos sob o ponto de vista do educador. Esta atividade foi efetuada a partir de uma pesquisa de campo, por meio de estudo de caso. Para ANDRÉ (1984), o estudo de caso não é um pacote metodológico padronizado, isto é, não é um método específico de pesquisa, mas uma forma particular de estudo. Escolhemos trabalhar com o estudo de caso por ele nos permitir fazer generalizações naturalísticas e coletar uma riqueza de dados brutos favorecendo a possibilidade de interpretações múltiplas (André, 1984). Buscamos relatar com exatidão as respostas dadas pelos profissionais nas entrevistas. Nesse sentindo, identificamos uma escola da rede municipal de ensino para aplicar entrevistas com o propósito de obter dados referentes à escola, ao currículo e as relações de ensino-aprendizagem, com o propósito analisar como os docentes lidam com a pluralidade que se verifica no ambiente escolar. Tais dados foram adquiridos por meio das visitas de campo com a aplicação de entrevistas de cunho sociológico realizadas com: a diretora, a coordenadora, a secretária e professores da escola. Após o trabalho em campo os dados foram organizados e analisados. O roteiro de entrevista utilizado está em anexo. A escola municipal estudada localiza-se na região sudoeste da cidade de Goiânia-GO e possui em média 740 alunos que são divididos em dois turnos, matutino e vespertino, distribuídos do 1º ao 6º ano. A escola conta em seu quadro de educadores com: 34 professores todos com curso superior, sendo que 10 destes possuem pós-graduação; duas coordenadoras gerais ambas com curso superior e uma com pós-graduação; duas coordenadoras pedagógicas com curso superior; um secretário geral, com ensino médio completo; uma secretária com curso superior completo; duas auxiliares de secretaria, uma com curso superior completo e outra com curso superior incompleto e, diretora, que possui pós-graduação. Os alunos são oriundos de vários bairros da região. Não será divulgado o nome da escola por solicitação da direção. Assim o foco do estudo é discutir como a identidade dos educandos é abordada em sala de aula.

Tendo em vista que, a diversidade existe no meio escolar, a identidade do educando é um importante eixo de estudo no currículo escolar. Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar como os professores de uma escola da rede municipal de ensino, da cidade de Goiânia, lidam com a identidade dos educandos em meio à diversidade cultural presente no ambiente escolar. Os educadores e a visão sobre a diferença Mediante os resultados das entrevistas, verifica-se que os professores enxergam que os casos de agressão e discriminação ocorrentes no interior da escola, por parte dos alunos, surgem a partir das relações sociais que eles estabelecem entre si. Para alguns professores, estes conflitos ocorrem, na maioria das vezes, devido à educação que os alunos recebem em casa e a falta de estrutura familiar. Já outra professora, justifica que estas situações acontecem porque os alunos estão na idade de se auto-afirmar, à conquista de um espaço. Como os educadores abordam estas situações de conflito? Estariam à diversidade cultural e a diferença relacionadas com esses casos? Mas de que diferença os professores estão falando? Por que ela reflete de forma tão acentuada no ambiente escolar? A escola deve ser concebida como um espaço ecológico de cruzamento de culturas (PÉREZ GÓMEZ, 1998). Nela é que se realizam as primeiras relações sociais fora do vínculo familiar. Quando a criança se encontra no meio familiar, ela está habituada a uma série de significados, regras, costumes, ações, pensamentos e atitudes que são próprios da cultura familiar em que ela se encontra. È claro que existem ali algumas diferenças entre as pessoas, mas, estas são partes que determinam a cultura da família. Temos então que: Quando um grupo compartilha uma cultura, compartilha um conjunto de significados, construídos, ensinados e aprendidos nas práticas de utilização de linguagem. A palavra cultura implica, portanto, o conjunto das práticas por meio das quais significados são produzidos e compartilhados (Moreira e Candau, 2007). Há, portanto, uma diversidade cultural no meio escolar que exerce, sobretudo nos educandos, um confronto de significados. Esta diferença levaria os alunos a querer defender suas verdades no grupo. Nesse contexto, os conflitos são ocasionados porque as ideias, as ações e as regras são controvérsias a aquilo que a criança conhece. A escola é o local onde são criados e aprendidos novos significados. Naturalmente, é de se esperar que os educandos tenham certa dificuldade de lidar com essas novas relações sociais que a escola propicia, o que não justificaria, entretanto, a agressão e a discriminação. Existe uma série de outros

fatores que contribuem para que estes casos aconteçam, segundo os entrevistados naquela realidade: roubo na escola; pichação por torcida organizada; e desestruturação familiar. Para alguns dos professores entrevistados, a descriminação e a agressão vêm de conceitos formados em casa, não surge na sala de aula, só se desenvolve, podendo aí ser apenas corrigida. Para eles, é normal que alguns dos alunos tenham tal tipo de comportamento devido à desestruturação familiar, de onde ele veio ou por causa da idade. Quando situações de conflito ocorrem nessa escola o educador chama o aluno para o dialogo e depois, se precisar, é realizado uma conversa com a família, como afirma a diretora. Para as coordenadoras as crianças se comportam das mais variadas formas, dentro das mais variadas situações e que diante da realidade de cada aluno há um comportamento específico, O que aparece nas falas das professoras, coordenadoras e diretoras é uma interpretação do comportamento dos alunos quanto a sua origem social interrelacionada a cultura local. Os professores entrevistados alegam que desde o início do ano conversam com os educandos e estipulam algumas regras para um bom convívio em sala de aula. Tudo o que foi mencionado, são partes de eixos constituintes do currículo em que a escola está situada, o que inclui também os contrastes culturais entre os alunos. Como foi constatado, a diferença cultural dos alunos é um importante ponto a ser levado em consideração, afinal o currículo seria feito para eles e a partir da realidade deles. É o que será discutido a seguir. O currículo escolar como produtor e reprodutor da cultura O currículo escolar se estrutura muito nitidamente na organização e execução das ações pedagógicas, podendo estas se apresentar de forma ampla ou em pequenas abordagens. O mais importante na efetivação do currículo é como ele reflete nas maneiras de transferir o conhecimento, como esse conhecimento é gerado a partir do ambiente escolar e das interações sociais estabelecidas nele e qual é o vínculo histórico-crítico que ele mantém com a sociedade. Tudo aquilo que se fundamenta com o propósito de melhorar as práticas educativas pode estar associado ao currículo. Portanto, estão envolvidos no currículo, práticas como a organização dos conteúdos a serem transmitidos aos alunos, a construção de planos pedagógicos pelos educadores, a forma como se avalia o desenvolvimento dos educandos, a interação professor/aluno, assim como de aluno/aluno e professor/professor com fins educativos, e a conceituação de toda e qualquer atuação de ensino, o uso das novas tecnologias da educação.

Vale registrar também, a relação entre currículo e cultura, entendendo que em um ambiente educativo, invariavelmente se desenvolvem distintas culturas, as quais atuam de forma acentuada na determinação do currículo. O currículo que por sinal, busca trabalhar o significado de cultura e a sua atuação no meio social, em particular, no campo escolar. O currículo reestrutura e direciona a atuação da cultura no interior da escola. Moreira e Candau citando SILVA (1999b) afirmam que:...o currículo é o espaço em que se concentram e se desdobram as lutas em torno de diferentes significados sobre o social e sobre o político. É por meio do currículo que certos grupos sociais, especialmente o dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto social, sua verdade. O currículo representa, assim, um conjunto de práticas que propiciam a produção, a circulação e o consumo de significados no espaço social e que contribuem, intensamente, para construção de identidades sociais e culturais (SILVA apud MOREIRA e CANDAU, 2007, pg. 28). Como já visto, pode-se afirmar que a pluralidade escolar deve ser trabalhada de forma especial no currículo e é um fator de indiscutível relevância. Por exemplo, quando indagados sobre qual o método é adotado para a avaliação, os professores responderam que os educandos são avaliados continuamente. Uma professora entrevistada explica que a avaliação é diária, constante, onde o aluno é avaliado o percentual e não numericamente. Nesta forma de avaliar, há um esforço no sentido de querer mudar a relação de avaliação, pensando que este pode dar conta de respeitar as diferenças entre os alunos. Olhando por esta perspectiva, ver-se que há um esforço no sentido de tentar entender a diversidade, e esta aparece como sinônimo de diferenças. A professora ainda afirma que, alguns professores tentam burlar o sistema, por não concordarem com esta metodologia, já que ela é mais trabalhosa. Assim, acaba por surgir uma padronização na avaliação e quem não consegue se adequar é tido como um mau aluno. O que prejudica o educando, durante o processo de construção dos conhecimentos, pois ele pode possuir uma ótica diferente a respeito de um determinado ensinamento, por causa do seu conjunto de significados, ou seja, devido a sua cultura. Para MOREIRA E CANDAU (2003, p.161): a escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais confortável a homogeneização e a padronização. No entanto, abrir espaços para a diversidade, a diferença e para o cruzamento de culturas constitui um grande desafio que está chamado a enfrentar.

O currículo é o palco onde confrontos ocorrem. Em meio essas tensões é que se produz e reproduz a cultura, em que as diferenças se chocam criando identidades sociais e políticas. Na escola existe a possibilidade de criar aberturas que permitam a agressão, discriminação e inferiorizarão de alguns grupos sociais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de grande efeito no processo de construção da identidade do estudante (MOREIRA e CANDAU, 2007). A formação da identidade dentro do currículo escolar Mesmo que a escola entrevistada, na visão dos professores, seja de uma forma geral tranquila, foram encontrados relatos de alguns casos de agressão e discriminação. Segundo eles são casos isolados e não se enquadram nos padrões da escola, ou até mesmo, como já dito no início do texto, é normal da idade. Nestes casos são criados identidades que estereotipam o aluno por parte dos educadores. O que é identidade? A quem cabe o poder de determinar a identidade de cada pessoa? Como o currículo, diferença e identidade dos educandos se relacionam? Em uma perspectiva mais abrangente e contemporânea, o currículo tem uma redefinição refletida no posicionamento dos trabalhadores da educação, bem como na estrutura da identidade dos educandos. Esta nova abordagem se explica muito pelo desenvolvimento do ideal de educação, considerando as várias identidades em um único ambiente escolar, tanto de docentes que se habilitam a trabalhar com questões sociais, culturais e pedagógicas, quanto na forma de adquirir conhecimentos pelos discentes. Nos dizeres de ARROYO (2007), vem crescendo as sensibilidades para com o currículo das escolas, porque percebemos que a organização curricular afeta a organização de nosso trabalho e do trabalho dos educandos, o que se justifica por estar cada vez mais evidente a construção da identidade profissional a partir da identidade dos trabalhadores atuantes na educação, o que consolida o fato de que a escola se reflete de maneira efetiva na sociedade como um todo. Dependendo da forma em que o currículo é trabalhado no aprendizado do aluno, de como o conhecimento é ensinado, existirá docentes com maior ou menor prestígio, acentuando ainda mais a presença de uma hierarquia social. Isto leva ao raciocínio de que o currículo é um fator estruturante no trabalho na escola, o qual é condicionado pela organização escolar, ou seja, um fator esta correlacionado com o outro,

incorporando uma conexão de dependência. Para que um seja efetivamente trabalhado deve existir um retorno no nível de outro. Mas toda essa redefinição na estrutura da educação, envolve além do currículo outros aspectos importantes. Segundo ARROYO (2007), ao mesmo tempo em que os educadores têm novas sensibilidades sobre si mesmas e sobre suas identidades, mudanças significativas vem acontecendo nas identidades dos educandos. Estas mudanças podem ser entendidas como vindas de outros alunos, são crianças, adolescentes, jovens ou adultos que vão para o ambiente escolar com uma nova perspectiva de aprendizado, tendo um posicionamento parcialmente definido, tanto social quanto cultural, e apresentando uma personalidade edificada em diferentes realidades, o que leva a rever com que atenção estão sendo vistos os educandos, e, sobretudo o currículo. ARROYO (2007) considera que, o ordenamento curricular termina reproduzindo e legitimando a visão que, como docentes ou gestores, temos dos educando, das categorias e das hierarquias em que os classificamos, sendo assim, o currículo de uma forma geral reconstrói todos os envolvidos na ação educativa, tanto docentes, quanto discentes, modificando a estrutura de vida e a projeção das identidades na escola, que muitas vezes classificam qual aluno é melhor, pior, inteligente, lento, problemático, etc. O currículo acaba por direcionar muitas vezes a vida dos alunos mesmo fora da escola, condicionando-os ao fracasso ou ao sucesso profissional. Neste aspecto, se reconhece a amplitude da atuação dos educandos sobre o currículo, assim como do currículo sobre os educandos. Poderia se admitir que uma vez que esse currículo é o responsável pela criação de categorias entre os alunos, isto pode se traduzir em mudanças e reinvenções de suas identidades. Segundo S. Hall et al, diferença e identidade podem ser considerados dois conceitos inseparáveis, segundo ele, mutuamente determinados. A diferença natural entre membros de uma sociedade é que os caracteriza como indivíduos e não mais como constituintes de um conjunto qualquer. Porém, a identidade os caracteriza como sujeitos de um determinado grupo. Do modo como organizamos o currículo das escolas em nossas sociedades, é inevitável que para além do uso de hierarquias e caracterizações este também crie o aluno ideal. Porém, esse processo de identificação feita uns em relação a outros se dá a partir da hierarquização, o que sem dúvida pressupõe a inferiorizarão. (Cf. Stuat Hall, 2000). Discussões que envolvem o meio escolar devem levar em consideração questionamentos sobre o currículo. MOREIRA e CANDAU (2007) entendem currículo

como as experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais, e que contribuem para a construção das identidades de nossos/as estudantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS No currículo que estamos estudando na rede municipal de Goiânia, de acordo com as entrevistas que realizamos há, ainda, muito que se fazer para que professores compreendam que o currículo é um todo, que a necessidade de relação entre as disciplina é apenas um primeiro e pequeno passo para que comecemos a construir o currículo democrático. Os professores já conseguem pensar currículo para além da grade das disciplinas, pensam currículo como formas de ensinar que devem ser mais atualizadas (com uso de tecnologia), mas, ainda não se organizaram para aprender a serem menos dependentes do quadro e giz. Currículo nesse sentido aparece associado apenas à metodologia. O currículo contribui para a formação da identidade do educando, ainda que ele seja oculto, pois ele se expressa nas relações sociais que ocorrem dentro da escola, integrando ou separando os alunos por cor, etnia, idade, condição social, sexualidade ou credo religioso. Portanto, estudar currículo na perspectiva de estudos críticos é falar de cultura, identidades e diferenças em uma mesma sociedade ou grupo social. REFERÊNCIAS ANDRÉ, M.E.D.A. (1984). Estudo de caso: seu potencial na educação. Cadernos de Pesquisa. 49: 51-54. ARROYO, M. G. (2007). Educandos e educadores: seus direitos e o currículo. Indagações sobre currículo Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, p. 17-52. HALL, S.; WOODWARD, K.. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, T. T. (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 73-102. LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

MOREIRA, A. F. B.; CANDAU, V. M. (2007). Currículo, conhecimento e cultura. Indagações sobre o currículo. In: BEAUCHAMP, J.; PAGEL, S. D.; NASCIMENTO,A.R. (Org.). Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, p.17-48. PÉREZ GÓMEZ, A. I. La cultura escolar em la sociedad neoliberal. Madrid: Morata, 1998.

ANEXO Entrevista de cunho sociológico realizada com os educadores da escola. Quantos alunos possuem a escola? Quais turnos atende? Que nível atende? Quantos professores a escola possui? A Escola possui Projeto Político Pedagógico? Desde quando? Sua escola é pichada? Já ocorreu algum fato referente a isto? Já presenciou (ou ouviu) algum fato de violência no interior da escola? Que cursos de oito anos pra cá os professores foram chamados a fazer, por iniciativa da Secretaria ou Subsecretaria do Estado/Município MEC, ou outra entidade? Como é sua interação com os alunos? Como são celebradas as datas comemorativas na escola? Qual tipo de atividade que você desenvolve? Qual é a sua preocupação a partir do momento em que você entra no colégio? Qual é o método de avaliação que você aplica aos seus alunos? De forma geral qual é o comportamento dos alunos? Além das aulas você desenvolve alguma atividade com os alunos? Você já presenciou ou ouviu algum tipo de discriminação dentro da escola? Qual? Qual a sua atitude mediante as situações de conflito, inclusão e exclusão, entre outros?