FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PROVA ESCRITA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I - TURMA



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Transcrição:

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PROVA ESCRITA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I - TURMA REGENTE: PROF. DOUTOR MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA 04-0-205 DURAÇÃO DA PROVA: 2H00 Alison, residente em Augusta nos E.U.A., é uma jovem que decidiu passar as férias de Natal na Europa. Chegada a Portugal dia 29 de dezembro, aluga um carro e segue em direção ao Algarve. Pelo caminho faz uma série de paragens. Em Vila Nova de Milfontes, conhece Benito, um simpático luso-italiano, domiciliado em Bolonha (Itália) também ele de férias na região. Dia 3, enquanto passeavam junto à praia, Alison disse a Benito que aquela era a sua primeira viagem para lá das fronteiras do Estado de Montana e que nunca vira o mar. A deixa lembrou Benito de uma tabuleta que tinha visto, uns dias antes, a anunciar passeios de barco pela costa. Naquele momento, pareceu-lhe um programa excelente. Sem grande dificuldade, os dois turistas encontram Carlos, autor da tabuleta, que nessa ocasião terminava de almoçar no interior do seu barco. O bem-falante Benito fez quanto pôde para convencer Carlos a zarpar nessa tarde, mas nenhum argumento sensibilizou o interlocutor, que tinha já outros planos para o final do dia 3. Em desespero de causa, Benito fez uma oferta irrecusável: propôs-se pagar 2.500 por um passeio até ao pôr-dosol. Fez-se o negócio e durante as 5 horas seguintes Alison e Benito percorreram a costa alentejana. No regresso a Vila Nova de Milfontes Benito entregou a Carlos, como combinado, um cheque no valor de 2.500. Infelizmente, sem cobertura. Nestas circunstâncias, aconselhado por um amigo jurista, Carlos intenta contra Alison e Benito uma ação declarativa de condenação na secção cível da instância central do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa requerendo a sua condenação no pagamento dos 2.500 acordados com Benito. Contestando, Alison confirma ter estado dia 3 na embarcação com Benito e Carlos, mas recusa que seja uma parte legítima nesta ação. Benito, por seu turno, alega que Carlos é casado com Daniela desde 965, em comunhão de bens, não podendo a presente causa ser decidida sem a sua presença.. O Tribunal onde foi intentada a ação era competente para conhecer do pedido de Carlos? (5 v.) 2. É procedente a exceção de ilegitimidade invocada por Alison? (,5 v.) 3. Tendo que apreciar a exceção invocada por Benito como decidiria? (2 v.) 4. Admitindo que Benito lograva demonstrar ter celebrado um contrato com a sociedade comercial Carlos & Daniela passeios turísticos Lda. e não com Carlos, qual seria o desfecho expectável desta ação? (,5 v.) 5. Carlos litiga por si enquanto Alison e Benito estão patrocinados por advogado. a. Nesta ação era o patrocínio judiciário obrigatório? (,5 v.) b. A opção das partes põe em causa o princípio da igualdade de armas? (,5 v.) 6. No decorrer da ação, vem a saber-se que a prodigalidade de Benito vinha de longe. Três anos

antes, o Tribunal de Setúbal tinha já decretado a inabilitação de Benito com este mesmo fundamento. a. Em que circunstâncias deve Benito ser representado pelo seu curador? (2,5v.) b. Sendo esta representação exigível, quais as consequências da não apresentação de contestação por parte do curador? (2 v.) 7. O tio Estêvão é o curador de Benito. Poderá Carlos provocar a intervenção principal deste familiar endinheirado se com essa intervenção puder garantir a satisfação do seu crédito? (2,5 v.)

. O Tribunal onde foi intentada a ação era competente para conhecer do pedido de Carlos? (5 v.) - O conflito é plurilocalizado, - desta forma, é necessário determinar se o tribunal em que a ação foi proposta é internacionalmente competente. - Havendo mais do que uma lei potencialmente aplicável ao caso (Regulamento 25/202 e CPC) começamos por verificar se se aplica o Reg., uma vez que o art. 8.º da CRP consagra o primado do Direito da UE (princípio que encontra igualmente expressão no art. 59.º CPC). - O âmbito material do Reg. está preenchido, porque está em causa matéria civil (.º/) não excluída pela parte final do n.º nem pelo n.º 2 do art..º. 0. 0. 0.3 - O âmbito temporal está preenchido, porque a ação foi proposta depois de dia 0 de Janeiro de 205 (art. 8.º). - Por fim, é necessário aferir o preenchimento do âmbito espacial (art. 6.º). a) Benito tem domicílio num Estado-Membro (Bolonha, Itália). b) Já Alison tem domicílio nos EUA pelo que, quanto a ela, a aplicabilidade do Regulamento está dependente da verificação de alguma das normas a que alude o artigo 6.º/ (art. 8.º/, 2.º/2, 24.º e 25.º), o que, no caso, não se verifica. Deve concluir-se pela competência internacional dos tribunais portugueses: a) quanto a Benito, a competência dos tribunais portugueses resulta da aplicação dos artigos 5.º, 7.º/ al. a) e 7.º/ al. b) do Reg. 25/202. Admitindo-se a dupla funcionalidade deste último preceito (tese sustentada pelo Prof. Miguel Teixeira de Sousa) fica também fixada a competência territorial. b) quanto a Alison, a competência dos tribunais nacionais resulta do art. 62.º al. b) CPC uma vez que o contrato que serve de causa de pedir à ação foi celebrado em Portugal (o art. 80.º/3 não pode ser utilizado para fazer funcionar o princípio da coincidência). - de seguida, há que averiguar se o tribunal em que a ação foi proposta (secção cível da instância central do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa) é internamente competente. 0.2 - Quanto à competência em razão da jurisdição, são competentes os tribunais judiciais porque esta causa não é atribuída a nenhuma outra ordem jurisdicional (art. 20.º/3 CRP, art. 64.º e art. 40.º/ LOSJ). - Quanto à competência em razão da hierarquia, são competentes os tribunais de primeira instância, 0.3 - porque a presente ação não é da competência do STJ (arts. 52.º ss.

LOSJ, 69.º CPC) - nem dos Tribunais da Relação (arts. 72.º ss. LOSJ, 68.º CPC) - 80.º/ LOS e 67.º CPC. - Quanto à competência em razão da matéria, esta ação não é da competência dos tribunais de competência territorial alargada (arts..º a 6.º LOSJ), pelo que deverá ser julgada pelo tribunal de comarca (art. 80.º/ LOSJ). - De entre as secções da instância central descritas nos arts. 7.º ss LOSJ, só poderia ser, quanto à matéria, da secção cível. - Quanto à competência em razão do território: a) admitindo-se a dupla funcionalidade do art. 7.º/ al. do Reg. a competência territorial é, quanto a Benito, fixada por esse preceito. Se assim for, verificando-se uma divergência entre os critérios aplicáveis aos dois réus, há que recorrer ao art. 82.º CPC. b) não se admitindo-se a dupla funcionalidade (e em qualquer hipótese quanto a Alison) deve procurar-se resposta no CPC. Sabendo que nenhum dos réus tem domicílio em Portugal vale o disposto no art. 80.º/3 (a aplicação do art. 7.º/ não permite resolver a hipótese). É, portanto, competente o tribunal do lugar do seu paradeiro (que o enunciado omite), o tribunal do domicílio do autor (que sendo omitido se pode supor ser em Vila Nova de Milfontes) e, subsidiariamente, o tribunal de Lisboa. - Em todo o caso, verificando-se uma incompetência em razão do território ela deveria ter sido arguida pelos réus (art. 03.º/ ou arts. 28.º e 26.º Reg. 25, admitindo a dupla funcionalidade do art. 7.º) sob pena de sanação (cf. art. 04.º). - No que diz respeito à forma, esta ação segue forma especial: o crédito é inferior a 5.000, é exigível, certo e líquido (DL. 269/98, art. 546.º/2). - Quanto ao valor (2.500, nos termos do art. 30.º/ CPC, uma vez que o valor da causa é determinado pelo preço do negócio jurídico), é competente à secção de competência genérica da instância local (art. 30.º/ al. a) LOSJ) - Logo, são violadas as regras de atribuição de competência em razão do valor (art. 7.º/ al. a) LOSJ) o que configura uma situação de incompetência relativa, - que é uma exceção dilatória (arts. 576.º/2 e 577.º al.a)), - de conhecimento oficioso (art. 04.º/2) 0.2 0.8 - e que daria lugar à remessa do processo para secção de competência genérica da instância local (art. 05.º/3). - Deve notar-se que o CPC não determina qual o regime a aplicar aos casos em que a incompetência decorre da forma de processo (cf. 7.º/

al. a) LOSJ). Uma vez estabelecido que esta ação seguiria forma especial podem os alunos sustentar a aplicação das regras que reputem mais adequadas: incompetência absoluta (art. 96.º ss) ou relativa (art. 02.º ss). 2. É procedente a exceção de ilegitimidade invocada por Alison? (,5 v.) - A legitimidade processual é a possibilidade de estar em juízo quanto a um certo objeto. - Alison é alheia à situação subjetiva descrita por Carlos. Segundo ele, apenas Benito celebrou o contrato de prestação de serviços do qual resulta a obrigação de pagamento (cf. art. 30.º/3). Por esta razão, Alison é uma parte ilegítima. - Logo, verifica-se uma exceção dilatória (577.º, al. e)) que conduz à sua absolvição da instância (art. 576.º, n.º 2, e 278.º, n.º, al. d)). 0.25 0.75 3. Tendo que apreciar a exceção invocada por Benito como decidiria? (2 v.) - Benito alega que ter havido preterição de litisconsórcio conjugal necessário legal. - Sendo Carlos o autor desta ação importa verificar a aplicabilidade do art. 34.º/. - Tendo em conta que está apenas em causa o direito do autor ao pagamento do preço, esta ação não pode importar a perda ou oneração de qualquer bem (nomeadamente o barco). - Também não está em causa a casa de morada de família. - Há que averiguar se está em causa o exercício de um direito que só por ambos os cônjuges possa ser exercido. Carlos faz valer contra Benito um direito de crédito resultante da exploração do seu barco. Os efeitos possíveis de ação são a vinculação ou liberação do devedor relativamente ao pagamento do preço, respetivamente em caso de condenação ou absolvição. Ora, estes efeitos podem ser produzidos por Carlos sem que seja necessário o consentimento do seu cônjuge, nos termos do CC. - 0.2 0.8 NOTAS: - a resposta não se altera caso o aluno analise este direito de crédito no contexto de um ato de gestão de um bem comum (o que se pode, razoavelmente, inferir do enunciado uma vez que Carlos está casado em comunhão de bens desde 965). Sendo este um negócio destinado a promover a normal frutificação da embarcação, constitui um ato de gestão ordinária pelo que não se exige o consentimento de Daniela (art. 678.º/3 CC). - a resposta não se altera caso o aluno entenda que Carlos celebrou o negócio no âmbito da sua atividade profissional (678.º/2 al. a) CC).

- Não há qualquer outra disposição legal que imponha a presença de Daniela, e não se verifica, também, a existência de litisconsórcio necessário convencional ou natural. - Não há, deste modo, preterição de litisconsórcio necessário, sendo Benito parte legítima na ação. 0.3 0.2 4. Admitindo que Benito lograva demonstrar ter celebrado um contrato com a sociedade comercial Carlos & Daniela passeios turísticos Lda. e não com Carlos, qual seria o desfecho expectável desta ação? (,5 v.) - A pergunta implica nova reflexão sobre a legitimidade do autor (e não sobre o pressuposto interesse processual ou interesse em agir vertido no art. 30.º/2). Demonstrando-se que o contrato fora celebrado com um terceiro (a sociedade comercial não é parte nesta ação) há que saber se falta um pressuposto processual que impeça uma decisão sobre o fundo da causa. - O CPC veio a consagrar tese subjetivista perfilhada pelo Prof. Barbosa de Magalhães pelo que a legitimidade se deve aferir pela relação jurídica controvertida, tal como é configurada pelo autor (30.º/3). - Desta forma, o facto de Carlos não ser o real titular da relação jurídica controvertida não conduz à absolvição do réu da instância mas antes à sua absolvição do pedido. 5. Carlos litiga por si enquanto Alison e Benito estão patrocinados por advogado. a. Nesta ação era o patrocínio judiciário obrigatório? (,5 v.) - A constituição de mandatário judicial é obrigatória nos casos previstos no art. 40.º/ (não apenas na alínea a) do n.º ). - Uma vez que o valor da causa é de 2.500 (art. 30.º/) não se encontra preenchida nenhuma das suas alíneas (art. 40.º/ als. a), b) ou c), 629.º/2, /3 al. a) e 44.º LOSJ). - Por esta razão, o patrocínio é facultativo e as partes podem pleitear por si. 0.25 0.25 b. A opção das partes põe em causa o princípio da igualdade de armas? (,5 v.) - O princípio da igualdade de armas (também dito de igualdade dos meios processuais), manifestação do princípio da igualdade (art. 4.º), exige que as partes se situem, durante todo o processo, numa situação de paridade perante o tribunal. 0.

- Objetivamente, a parte que pleiteia por si poderá encontrar-se numa posição de desvantagem face aos restantes litigantes. - Porém, a igualdade que a lei exige traduz-se numa igualdade de chances e de riscos: qualquer desvantagem (ainda que eventual) resultante da falta de patrocínio não é um prejuízo imposto a Carlos mas a consequência de uma escolha livre. - Porque a ambas as partes são conferidas as mesmas oportunidades e os mesmos meios de defesa, em nenhum momento é posto em causa o princípio da igualdade. 0. 0.8 6. No decorrer da ação, vem a saber-se que a prodigalidade de Benito vinha de longe. Três anos antes, o Tribunal de Setúbal tinha já decretado a inabilitação de Benito com este mesmo fundamento. c. Em que circunstâncias deve Benito ser representado pelo seu curador? (2,5v.) - Benito será representado quando não possa estar, por si, em juízo (art. 5.º/ e 6.º) - Por ser inabilitado, Benito nunca poderia praticar, por si, atos de disposição carecendo, em tais hipóteses, de autorização do seu curador (art. 53.º CC). A presente ação não coloca em jogo a titularidade dos seus bens, logo, não é esse o caso. - Já a possibilidade de praticar validamente atos de mera administração depende do conteúdo da sentença que o inabilitou (arts. 53.º e 54.º CC e art. 90.º/2). Em função do que o tribunal tenha determinado assim Benito será capaz ou incapaz, o que se reflete na ação, por via do princípio da instrumentalidade, consagrado no art. 5.º/2. Se estiver apenas sujeito a assistência, Benito pode estar por si pessoal e livremente em juízo. - Já se a incapacidade se estender aos atos de administração não poderia Benito estar em juízo sem o seu curador (art. 54.º/ CC e 5.º/2 CPC). Neste caso, sendo réu, estaria sujeito a representação em nenhum caso a posição de réu se acha na dependência de autorização (art. 6.º) embora também ele devesse ser citado (art. 9.º/) d. Sendo esta representação exigível, quais as consequências da não apresentação de contestação por parte do curador? (2 v.) - Caso Benito fosse incapaz a sua representação caberia ao seu curador (art. 53.º CC). - Tendo Benito contestado por si, verificar-se-ia uma incapacidade judiciária em sentido estrito, faltando a esta peça um pressuposto de um ato processual. -

- O enunciado é omisso quanto à citação do curador mas esta bastaria para que se sanasse a incapacidade judiciária do réu (art. 27.º). - O curador poderia ratificar a contestação, repeti-la ou nada fazer. Neste caso ficaria sem efeito a sua defesa. O processo nunca terminaria com a absolvição do réu da instância, prosseguindo como se não tivesse existido contestação. - Haveria então que equacionar a aplicação do regime do sub-suprimento (art. 2.º). Se o aluno entendesse que as partes estavam devidamente patrocinadas (como se afirmava na pergunta 5) a defesa de Benito não competia ao Ministério Público (art. 2.º/3). Caso contrário, estariam verificados os pressupostos do preceito. 7. O tio Estêvão é o curador de Benito. Poderá Carlos provocar a intervenção principal deste familiar endinheirado se com essa intervenção puder garantir a satisfação do seu crédito? (2,5 v.) - A ter lugar, a participação de Estêvão no processo decorre da sua condição de curador, mas tal circunstância não fará dele parte (o réu é Benito, não o seu representante). - A intervenção provocada por ter lugar para sanar a preterição de um litisconsórcio necessário ou para para formar um litisconsórcio voluntário. - Os prazos para que essa intervenção possa ter lugar são distintos consoante a parte que a provoca. Sendo Carlos autor, ela poderia ter lugar até ao final da fase dos articulados (art. 38.º/ al.b)). - Acontece que apenas pode intervir como parte principal que tenha um interesse igual ao do autor ou ao do réu (cf. 32.º, 33.º, 34.º). Ora, Estêvão não é sujeito passivo da relação material controvertida pelo que, não tendo legitimidade para se litisconsorciar com Benito, não pode ser chamado a intervir (cf. art. 36.º/2). 0.75 0.25