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Transcrição:

BONE UMA MONTAGEM NA PENITENCIÁRIA INDUSTRIAL DE CASCAVEL Música 1 Cenário. CERIMÔNIA (pigarro): Boa noite. Este teatro foi montado na Penitenciária Industrial de Cascavel. Depois de falhas, discussões, erros, enganos e cálculos; depois de um cálculo frio e derradeiro no calor de uma febre insana. Este Teatro nasceu do Medo. Da desventura, do choro, da morte. 20 anos depois... ele foi redescoberto, e sua data de estréia foi marcada para o dia em que nascemos. Ladys and Gentleman, Bone Uma Reflexão do Antigo Hamlet. Música 2 Traz alguém numa cadeira de rodas. Montam o palhaço. Sentam-no de volta. PRIMEIRO:...acredito que tudo é possível a todos; Eu acredito Que acreditar me faz humano; Eu acredito em vocês; Eu acredito estar mudando o mundo... SEGUNDO (atrás cadeira): Apesar das perdas irreparáveis, Apesar das falsas verdades com que sou bombardeado; Apesar das distâncias,...da solidão... PRIMEIRO:...são essas chagas oriundas da minha doença essas dores oriundas da minha alma que operam esse necessário Música 3 Se colocam. ROSENCRANTZ: O Príncipe está morto. OFÉLIA: Já o mataram? ROSENCRANTZ: Não, ele morreu. REI: Não me é notório. OFÉLIA: Eles todos, Senhor. upgrade Moral REI: Por isso é que os sinos não param com seu badalar? Desde a madrugada começou, e até este instante... HAMLET: Como o vórtice de um redemoinho Atrai pro abismo tudo que o rodeia. É uma roda maciça, Fixada no pico da montanha mais alta, Em cujos raios enormes dez mil coisas menores

Vivem incrustadas ou grudadas; aí, quando ela cai, Cada pequeno anexo... Acompanha a queda tonitruante. Quando um rei suspira, senhores, o reino inteiro geme. Música 4 - PRIMEIRO: Ser ou não ser; essa é a questão: Se mais nobre é em mente suportar Dardos e flechas de ultrajante sina Ou tomar armas contra um mar de angústias E firme, dar-lhes fim. Morrer? dormir? SEGUNDO: Não mais dizer que um sono porá fim À dor do coração e aos mil embates De que é herdeira a carne!... PRIMEIRO: Morrer? dormir? TERCEIRO: Dormir, talvez sonhar: eis o dilema, Pois no sono da morte, sejam quais forem os sonhos, mas estes É que nos darão paz. QUARTO: Se há de haver paz em quando as grades, se desprendendo de nossa febre e malícia, Quebrarem-se, Até que a fenda entre os dedos de ferro fizer-se maior que a nossa rebeldia. QUINTO: Morrer? SEGUNDO: Não há de haver Masmorra maior que o pesadelo da alma; Nem que o duelo agoniado da nossa morte, Quando a vida... precede a morte. QUINTO: Morrer!!! DETENTO: Hoje eu não consigo escrever nada. Eu tinha uma esperança de ir ver minha família mas percebi que isso não vai ser possível. Tive uma má notícia. Hoje estou muito triste. SEXTO: Hoje eu não consigo escrever nada!!! SÉTIMO: Aluno burro. Sempre foi o pior da turma. Sempre foi burro. Será um bandido quando crescer. OITAVO: Morte ao Imbecil!!! DETENTO: Hoje eu não consigo escrever nada. Eu tinha uma esperança de ir ver minha família mas percebi que isso não vai ser possível. Tive uma má notícia. Hoje estou muito triste.

OFÉLIA: Onde está Hamlet, Senhor? REI: Hamlet? RAINHA: Ele partiu, Ofélia; Os navegantes que correm o rio da morte o chamaram, Mas não para morrer. Ele cometeu o erro necessário para o castigo. Hamlet partiu, criança. Vá para casa dormir. DETENTO: Por que é que hoje eu não consigo escrever? se quando eu era criança as palavras saíam da minha boca como se fossem espuma, caindo de leve, como se fosse uma coisa sem mim; e hoje, não. Hoje eu fico muito triste por qualquer tristeza, como se eu quisesse chorar. Mas hoje não. Obrigado pela sua atenção. Música 5 Entram dois a passear. PRIMEIRO: (cínico): Que gracinha, Que bonitinho, Parece com você, Marcelo! Vou comprá-lo de presente pra você? SEGUNDO: Vou dar o nome de Bone. PRIMEIRO: Bone? SEGUNDO: Bone. Música 6 Visualiza paisagem. É pego, posto numa mesa de cirurgia. Retiram-lhe o coração. PRIMEIRO: Sim, era o coração. SEGUNDO: O quê? PRIMEIRO: Uma pedra. SEGUNDO: Uma pedra em lugar de um coração?

PRIMEIRO: Não uma pedra. Era um cristal. Mas era uma pedra. E era dura como uma pedra. SEGUNDO: Era uma pedra então. DETENTO: Era uma pedra, mas amadureceu. Como que apodrecesse um dia, como um coração, porque tornara-se frágil, flácido, degenerado; mas não mal. Era uma pedra mas corria um rio por cima, como se era uma nuvem por que descesse a chuva. SEGUNDO: Retiro-lhe as córneas? PRIMEIRO: Não, deixe que acompanhe tudo... com os próprios olhos... DETENTO: Hoje parei para escrever algo importante: Hoje não me falta o arroz e o feijão pra comer, mas falta algo que só eu sei: eu não sou nada sem o leve vento solto no ar, sem a beleza de uma flor, sem conseguir ver o sol se pôr... no horizonte: Hoje com os pés no chão, a refletir, sem saber que horas são. Música 7 Efeito psiquiátrico. PRIMEIRO: Por um erro de atitude minha mesma, sem pensar nas conseqüências, sem pensar, sem pensar que não calculei que seria assim; se eu agora pudesse escrever uma história da minha vida, iria fazer como uma metaficcção, como a história sem fim, com muitas coisas fora da realidade. Sem tantas tristezas. RAINHA: Há um salgueiro que cresce inclinado no riacho Refletindo suas folhas de prata no espelho das águas; Ela foi até lá com estranhas grinaldas De botões-de-ouro, urtigas, margaridas, E compridas orquídeas encarnadas, Que nossas castas donzelas chamam dedos de defuntos, E a que os pastores, vulgares, dão nome mais grosseiro. Quando ela tentava subir nos galhos inclinados, Para aí pendurar as coroas de flores, Um ramo invejoso se quebrou; Ela e seus troféus floridos, ambos, Despencaram juntos no arroio soluçante. Suas roupas inflaram e, como sereia, A mantiveram boiando um certo tempo; Enquanto isso ela cantava fragmentos de velhas canções, Inconsciente da própria desgraça Como criatura nativa desse meio, Criada pra viver nesse elemento. Mas não demoraria pra que suas roupas Pesadas pela água que a encharcava, Arrastassem a infortunada do seu canto suave À morte lamacenta. SEGUNDO: Ela está onde agora? HAMLET: No céu? No inferno? Será que o quê que existe depois de aquilo que é dentro de nós? Ofélia não existe mais. O Rei padeceu. O sonho desfez-se. Já não havia mesmo o

que sonhar. Hoje é frio aqui na Dinamarca; e não haverá de tornar-se melhor... nunca mais. Música 8 Guerra. Encaram-se olho no olho então turma finda. Os que estavam ao lado levantam-se em pé agora, em vez de sentados. Música 9 Aparição. NA NOITE: Quem sois?......... Quem sois?......... Quem vai? Diz diz diz Quem vai? Diz diz diz Quem sois?......... PAI: Sou o Pai e o Filho Só que sem um Espírito Santo. Sou temporal e incisivo, Às vezes suave como o seu canto.... Amante da adrenalina. PRIMEIRO: Quem sois!!!!!!!!! Música 10 Palhaço. Veste um paletó e um chapéu. Boêmio. BÊBADO: Gostei do olhar da Mona Lisa. E a impressão que senti, que no olhar dela, parece estar sempre olhando pra mim. E os lábios dela é bonito, Representa estar querendo sorrir para mim. Ela é linda....viro de todos os lados e ela sempre está só olhando pra mim. Mais que pena, eu sou casado. CÍNICO: Pode ser que ela está me zombando com este olhar. Mas acho que não. MEIO BÊBADO: Só o que tenho em dizer é que ela é bonita. GRITO. Música 11 Abraço. Música 12 Confuso. Liberdade um por um. ÚLTIMO: Então me levaro pra casa de meu dono Marcelo, onde ganho amor, carinho e um bom prato de comida. Essa é minha história de vida, e meu dono me pôs o nome de Bone! Até mais, assinado... cachorrinho Bone. Música 13. Fim.