Experi^encias Simples com o Gn^omon. Elementary experiments with the gnomon. Germano B. Afonso. Departamento de Fsica, Universidade Federal do Parana



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Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 18, n ọ 3, setembro, 1996 149 Experi^encias Simples com o Gn^omon Elementary experiments with the gnomon Germano B. Afonso Departamento de Fsica, Universidade Federal do Parana Caixa Postal 19081, CEP 81531-990, Curitiba, PR, Brasil Trabalho recebido em 30 de junho de 1995 Neste trabalho apresentamos as primeiras experi^encias que estamos realizando no Jardim Astron^omico de Curitiba (PR), utilizando o gn^omon, para obter: a altura do Sol, o meio-dia solar, os pontos cardeais e as estac~oes do ano. Em geral, as experi^encias com o gn^omon, encontradas na literatura, s~ao validas apenas para lugares situados ao Norte do Tropico de C^ancer ou ao Sul do Tropico de Capricornio. Assim, fazemos uma analise detalhada, considerando todas as latitudes, tendo em vista que a maioria das cidades brasileiras localizase entre o Equador e o Tropico de Capricornio, onde a observac~ao e menos evidente. Abstract In this work we present the rst experiments that we are performing in the Astronomic Garden at Curitiba, PR, utilizing the gnomon to obtain: the altitude of the Sun, the solar noon, the cardinal points and the seasons of the year. In general, the experiments with the gnomon described in the literature are held just for sites located at the North of the Tropic of Cancer and at the South of the Tropic of Capricorn. So, we perform a detailed analysis considering all the latitudes, because the majority of the Brazilian cities are localized between the Equator and the Tropic of Capricorn where the observation is less evident. 1. Introduc~ao Desde a pre-historia o Homem observou que havia variac~oes de temperatura e que os animais, as ores e os frutos vinham de acordo com as diferentes estac~oes do ano. Assim, ele comecou a registrar os fen^omenos celestes, principalmente os movimentos aparentes do Sol. Quase todos esses registros foram obtidos atraves de um dos mais antigos e simples instrumentos de Astronomia: o gn^omon vertical. Ele consiste de uma haste cravada verticalmente no solo, da qual se observa asom- bra, projetada pelo Sol, sobre um terreno horizontal. O gn^omon foi utilizado, tambem, nas civilizac~oes maiores: Egito (obeliscos), seculo XV a.c. China, seculo XI a.c. Grecia, seculo VII a.c.. O gn^omon, simples bast~ao vertical, teve ent~ao um papel muito importante easvezes subestimado no desenvolvimento da Astronomia. Com o objetivo de fornecer metodos didaticos alternativos ao processo de ensino-aprendizagem nas disciplinas que envolvem Ci^encias, atraves de observac~oes da Natureza e do Meio Ambiente, construimos em Curitiba (PR) o que chamamos de Jardim Astron^omico 1. Ele ocupa uma area de cerca de 400m 2,noCentro Politecnico (UFPR) e consiste de uma pir^amide (gn^omon) de 6 metros de altura e de ores que marcam, a partir dela, os quatro pontos cardeais e as posic~oes donascer, culminac~ao e p^or do Sol em cada estac~ao do ano. Idealizamos o Jardim Astron^omico baseados na Arqueoastronomia no entanto, no lugar de pedras para marcar as direc~oes e os arcos, utilizamos ores da regi~ao que orescem nas respectivas estac~oes do ano. As experi^encias de Astronomia realizadas no Jardim Astron^omico s~ao as mesmas que podem ser feitas com o Gn^omon: determinac~ao do meio-dia solar, dos quatro pontos cardeais, das estac~oes do ano, da altura do Sol, da latitude do lugar e da declinac~ao do Sol. Alem delas, elaboramos as seguintes experi^encias: observac~ao do comportamento das ores da regi~ao em func~ao das estac~oes do ano (fotoperiodismo, insolac~ao, etc.), deter-

150 Germano B. Afonso minac~ao da posic~ao do Sol nas constelac~oes zodiacais e previs~ao emprica dos eclipses 2. Neste trabalho, para exemplos, utilizamos as seguintes cidades: Curitiba, Parana (Latitude = 25,43 Sul Longitude = 49,27 Oeste), situada ao Sul do Tropico de Capricornio Salvador, Bahia (Latitude = 12,57 Sul Longitude = 38,51 Oeste), situada entre o Equador e otropico de Capricornio e Macapa, Amapa (Latitude =0,04 Sul Longitude = 51,09 Oeste), situada sobre o Equador. 2. Determinac~ao da Altura do Sol (Fig. 1) Podemos construir um gn^omon com um pedaco de madeira (cabo de vassoura, por exemplo) cravado verticalmente no solo. Para vericarmos se a madeira se encontranavertical amarramos uma pedra em um barbante (o de prumo) e a suspendemos ao lado da madeira. Se a madeira car paralela ao barbante ela se encontra na vertical do lugar. Podemos medir com um transferidor a altura do Sol. Basta desenhar, em uma escala apropriada, o tri^angulo ret^angulo denido pela altura do gn^omon e pelo comprimento da sombra. Consideremos, por exemplo, a altura do gn^omon igual a 1,25 metros e o comprimento da sua sombra igual a 1,05 metros. Desenhando a altura do gn^omon como sendo 12,5cm devemos desenhar o comprimento da sombra como sendo 10,5cm. Assim, medimos diretamente o ^angulo de aproximadamente igual a 50 que corresponde a altura do Sol, naquele instante. Podemos, tambem, utilizar a seguinte relac~ao trigonometrica: tg(h) =y=x onde h = altura do Sol y = altura do gn^omon x = comprimento da sombra. Neste exemplo, teremos: tg(h) = 1 25 =1 19 1 05 h = tg ;1 (1 19) = 49 96 3. Determinac~ao dos Pontos Cardeais Figura 1. Altura do Sol [h]. Chamamos de altura do Sol (h) ao^angulo que ele forma com a linha do horizonte, contado verticalmente. A altura do Sol varia de 0 a90 se ele estiver acima da linha do horizonte e de 0 a {90 se ele estiver abaixo dessa linha. Para determinar a altura do Sol, em qualquer instante, medimos a altura do gn^omon e o comprimento de sua sombra naquele instante. Quando o Sol surge no horizonteasombra projetada pelo gn^omon e maxima.amedidaqueosolvai subindo, em relac~ao a linha do horizonte, a sombra vai diminuindo ate atingir um comprimento mnimo, quando o Sol atinge sua altura maxima. Depois, a medida que o Sol vai descendo, a sombra do gn^omon muda de direc~ao e aumenta, cada vez mais, ate op^or do Sol. Quando a sombradogn^omon, projetada pelo Sol, e mnima temos o meio-dia solar (meio dia verdadeiro). Nesse instante, temos tambem a linha meridiana local (linha norte-sul) 3. Chamamos de culminac~ao do Sol quando ele atinge sua altura maxima, isto e, ao meio-dia solar. Ao meio-dia solar, em qualquer dia do ano, o Sol se localiza exatamente ao Norte ou ao Sul do observador easombra do gn^omon ao Sul ou ao Norte. Em geral, para um observador no Hemisferio Sul, o Sol culmina ao Norte (sombra ao Sul), como esta representado na Fig. 2. Os casos particulares ser~ao analisados nos proximos tens.

Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 18, n ọ 3, setembro, 1996 151 4. Determinac~ao das Estac~oes do Ano Avertical de um lugar, que passa pelo observador e que parece atingir o ceu em um ponto bem acima da sua cabeca (altura igual a 90 ) recebe o nome de z^enite do observador. As linhas dos tropicos limitam a regi~ao da superfcie da Terra na qual o Sol passa pelo z^enite do observador, ao meio-dia solar (Fig. 3). Figura 2. Variac~ao diaria da sombra do gn^omon (G) e os pontos cardeais (gn^omon visto de cima). Com o gn^omon no centro, ao meio-dia solar, tracamos uma reta paralela a direc~ao Sol-sombra (linha norte-sul) e uma reta perpendicular a ela. No lado em que o Sol nasce temos o Leste e no lado em que ele se p~oe temos o Oeste. Podemos materializar, ent~ao, os quatro pontos cardeais (Fig. 2). Em geral, o meio-dia solar (natureza) n~ao coincide com o meio-dia (12h) de nossos relogios (convencional), variando em func~ao da longitude do lugar de observac~ao. Alem disso, existem pequenas diferencas de tempo nos instantes que ocorrem o meio-dia solar, nos diversos dias do ano, para um mesmo lugar, porque ovalor da velocidade do movimento de translac~ao da Terra (revoluc~ao), em torno do Sol, n~ao e constante. Exemplos A seguir, fornecemos os instantes de culminac~ao do Sol (meio-dia solar) nos dias do incio das quatro estac~oes do ano, nas tr^es cidades escolhidas: Curitiba: Outono = 12h e 24min. Inverno = 12h e 19min. Primavera = 12h e 10min. Ver~ao = 12h e 15min. Salvador: Outono = 11h e 41min. Inverno = 11h e 36min Primavera = 11h e 27min. Ver~ao = 11h e 32min. Macapa: Outono = 12h e 32min. Inverno=12he 26min. Primavera = 12h e 17min. Ver~ao = 12h 23min.. Esses instantes foram calculados para o ano de 1996 eles s~ao validos para qualquer outro ano, aproximadamente, com uma diferenca maxima de cinco minutos, acima ou abaixo desses valores. Figura 3. Culminac~ao do Sol () na linha norte - sul (meio - dia solar) e estac~oes do ano no Hemisferio Sul. Em relac~ao a linha do Equador, cuja latitude e 0, otropico de C^ancer ca ao Norte (latitude = 23 27' Norte) e o Tropico de Capricornio ao Sul (latitude = a 23 27' Sul). Quando o Sol se encontra sobre o Tropico de C^ancer e ver~ao no Hemisferio Norte e inverno no Hemisferio Sul. Quando ele se encontra sobre o Tropico de Capricornio e ver~ao no Hemisferio Sul e inverno no Hemisferio Norte. Quando o Sol se encontra sobre o Equador e outono ou primavera em um dos hemisferios e primavera ou outono no outro. Assim, nos instantes dos equinocios (primavera e outono) o Sol se encontra sobre o Equador, enquanto que nos solstcios (inverno e ver~ao) ele se encontra o mais afastado possvel do Equador. Em 1996 (ano bissexto), no Hemisferio Sul, o incio das estac~oes do ano ocorre nos seguintes dias: 20 de marco (outono), 20 de junho (inverno), 22 de setembro (primavera) e 21 de dezembro (ver~ao). Em 1997, temos: 20 de marco (outono), 21 de junho (inverno), 22 de setembro (primavera) e 21 de dezembro (ver~ao). Nos outros anos elas ocorrem aproximadamente nos mesmos dias.

152 Germano B. Afonso Observando a sombra do gn^omon, ao meio-dia solar (linha norte-sul), nos diversos dias do ano, vericamos que ela varia de comprimento, indo consecutivamente para uma mesma extremidade depois de transcorrido aproximadamente um ano. Uma das extremidades da sombra corresponde ao ver~ao e a outra ao inverno. O outono e a primavera correspondem ao ponto em que a altura do Sol e amedia das duas alturas extremas (inverno e ver~ao)en~ao ca necessariamente no meio das duas extremidades da sombra. Assim, observando a sombra por diversos anos, ao meio-dia solar, como faziam os antigos povos, podemos determinar os dias de incio de cada uma das quatro estac~oes do ano. A seguir analisaremos os comprimentos dessas sombras para locais situados ao Sul do Tropico de Capricornio, na linha do Equador e entre a linha do EquadoreoTropico de Capricornio. Nas guras 4, 5 e 6 utilizamos as seguintes notac~oes: I = posic~ao do Sol no inverno SI = extremidade da sombra no inverno PO = posic~ao do Sol na primavera e no outono SPO = extremidade da sombra na primavera e no outono V = posic~ao do Sol no ver~ao SV = extremidade da sombra no ver~ao. 4.1. Sul do Tropico de Capricornio (Fig. 4): Ao Sul do Tropico de Capricornio o Sol nunca passa pelo z^enite e, consequentemente, o gn^omon sempre projeta sombra ao meio-dia solar. Assim, em locais cujas latitudes sejam superiores a 23 graus e 27 minutos (23,45 ) Sul, tais como as cidades de Curitiba(PR), Florianopolis(SC) e Porto Alegre(RS) o Sol estara aonorte easombra ao Sul, na culminac~ao, em qualquer dia do ano. Nessa regi~ao, quando o comprimento da sombra, ao meio-dia solar, for maximo temosoinverno, quando ele for mnimotemosover~ao e quando ele estiver em uma posic~ao entre esses dois pontos extremos (n~ao necessariamente no meio) temos o outono e a primavera. Isso ocorre porque, ao meio-dia solar, no ver~ao osol se encontra mais alto (sombra mais curta) em relac~ao a linha do horizonte, no inverno mais baixo (sombra mais comprida) e na primavera/outono em uma posic~ao intermediaria. Ao Sul do Tropico de Capricornio, a altura maxima do Sol corresponde ao meio-dia solar do dia do ver~ao. Em nenhum dia do ano o Sol passa pelo z^enite. Figura 4. Posic~oes do Sol e da sombra ao meio - dia solar ao sul do Tropico de Capricornio. Exemplo Em Curitiba, Parana (Latitude = 25,43 Sul), situada ao Sul do Tropico de Capricornio, vemos que a altura e a localizac~ao do Sol, nas estac~oes do ano, ao meio-dia solar, s~ao: h(inverno) = 41,12 Norte h(primavera e Outono) = 64,57 Norte h(ver~ao) = 88,02 Norte 4.2. Entre o Equador e o Tropico de Capricornio (Fig. 5): Para um observador situado entre o Equador e o Tropico de Capricornio, o Sol se localiza ao Norte e a sombra do gn^omon ao Sul, no inverno, na primavera e no outono, ao meio-dia solar. Entre o dia da primavera e o dia do ver~ao, ao meio-dia solar, o Sol pode estar ao Sul ou ao Norte do observador, dependendo da latitude do lugar e do dia em que ele zer a observac~ao. No ver~ao, ao meio-dia solar, o Sol estara ao Sul e a sombra ao Norte.

Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 18, n ọ 3, setembro, 1996 153 Figura 5. Posic~oes do Sol e da sombra ao meio-dia solar entre o Equador e o Tropico de Capricornio. Nesses locais, em dois dias do ano, ao meio-dia solar, o Sol passa pelo z^enite, entre a primavera e o ver~ao. No entanto, nenhum desses dias corresponde ao dia do ver~ao. Isso signica que esses dois dias deveriam ser os mais quentes do ano, se a temperatura dependesse apenas do ^angulo de incid^encia dos raios solares. Exemplo Em Salvador, Bahia (Latitude = 12,57 ), situada entre o Equador e o Tropico de Capricornio, vemos que a altura e a localizac~ao do Sol, nas estac~oes do ano, ao meio-dia solar, s~ao: h(inverno) = 53,98 Norte h(primavera e Outono) = 77,43 Norte h(ver~ao) = 79,12 Sul 4.3. Sobre a Linha do Equador (g. 6): Na linha do Equador, o Sol passa a pino, isto e, a uma altura de 90 graus (z^enite) nos dias de outono e de primavera, ao meio-dia solar. Isso ocorre porque nesses dias o Sol esta sobre a linha do Equador. Portanto, o gn^omon n~ao projeta sombra, ao meio-dia solar, nesses dois dias. Figura 6. Posic~oes do Sol e da sombra ao meio - dia solar no Equador. Nesses lugares o Sol se afasta 23 27' para o Sul no ver~ao e para o Norte no inverno (estac~oes do ano do Hemisferio Sul). Observando a altura do Sol durante todo o ano vemos que a altura maxima corresponde aos dias de equinocios (primavera e outono). No Equador, ao meio-dia solar, na primavera e no outono, o Sol se encontra a pino, isto e, no z^enite do observador. Assim, os dois dias mais quentes do ano seriam o incio do outono e da primavera. No ver~ao o Sol se localiza ao Sul e no inverno ao Norte, sendo essas estac~oes do ano correspondentes ao Hemisferio Sul. Exemplo Em Macapa, Amapa (Latitude = 0,04 Sul), situada no Equador, vemos que a altura e a localizac~ao do Sol, nas estac~oes do ano, ao meio-dia solar, s~ao: h(inverno) = 66,51 Norte h(primavera e Outono) = 90 Z^enite h(ver~ao) = 66,51 Sul As alturas apresentadas nestes tr^es ultimos exemplos s~ao medias, podendo variar cerca de um grau, acima ou abaixo desses valores. Para o Hemisferio Norte as situac~oes se invertem em relac~ao as apresentadas para o Hemisferio Sul, bastando trocar o Norte pelo Sul nas guras 3, 4 e 5. Assim, por exemplo, ao Norte do Tropico de C^ancer, o Sol sempre estara ao sul e a sombra ao norte, ao meio-dia solar.

154 Germano B. Afonso Conclus~ao Com as experi^encias aqui apresentadas, os estudantes aprendem a reconhecer, observando o movimento do Sol, como os antigos povos estabeleciam seus calendarios e obtinham, com uma boa precis~ao, os quatro pontos cardeais. As pessoas, em geral, pensam que o ver~ao corresponde ao dia em que o Sol se encontra mais alto, em relac~ao a linha do horizonte. Neste trabalho mostramos que isso acontece somente para localidades situadas ao Sul do Tropico de Capricornio. Para localidades situadas no Equador e entreoequadoreotropico de Capricornio, o Sol culmina no z^enite duas v^ezes por ano e em dias que n~ao correspondem ao dia do incio do ver~ao. Caso a temperatura dependesse apenas da posic~ao do Sol, esses seriam os dias mais quentes do ano nessas regi~oes. Esses s~ao alguns dos conceitos basicos que o estudante pode obter simplesmente observando a sombra de um gn^omon. Refer^encias 1. G. B. Afonso et Th. M. Nadal, Un Jardin Astronomique, Cahier Clairaut, 63, 11-15, 1993. 2. G. B. Afonso, AArqueoastronomia e os Eclipses, Apostila do Eclipse, IAG/USP, 142-150, 1994. 3. R. Boczko, Conceitos de Astronomia, Editora Edgard Blucher Ltda., 1984.