ESTRATÉGIAS AGROECOLÓGICAS E A INFLUÊNCIA DO ACESSO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS NA TRAJETÓRIA DE AGROECOSSISTEMA FAMILIAR, NO ESTADO DE SERGIPE, BRASIL

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Transcrição:

ESTRATÉGIAS AGROECOLÓGICAS E A INFLUÊNCIA DO ACESSO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS NA TRAJETÓRIA DE AGROECOSSISTEMA FAMILIAR, NO ESTADO DE SERGIPE, BRASIL Estrategias agroecológicas y la influencia del acceso a las políticas públicas en la trayectoria de agroecosistema familiar, en el estado de Sergipe, Brasil OLIVEIRA, Tereza Cristina de 1 ; COLLADO, Angel Calle 2; TAVARES, Edson Diogo 3 ; CURADO, Fernando Fleury 4 ; SANTOS, Amaury da Silva dos 5. RESUMO O Plano Brasil Sem Miséria (PBSM) foi uma Política Pública redistributiva que visou superar a pobreza, auxiliando famílias em atividades que promovessem e ampliassem a segurança alimentar e nutricional e, também, gerassem renda. Este trabalho apresenta as estratégias agroecológicas e a influência do acesso às políticas públicas na trajetória de agroecossistema familiar em território rural de Sergipe, no âmbito do PBSM. A metodologia utilizada foi de pesquisa-ação-participativa para a construção de Unidade de Aprendizagem (UA) com base nos princípios agroecológicos, em local indicado pela rede sociotécnica formada por técnicos, extensionistas e famílias agricultoras. A trajetória histórica do agroecossistema familiar foi construída por meio de entrevistas, elaboração de mapas, recuperação e construção da linha do tempo, a partir do Núcleo Social de Gestão do Agroecossistema (NSGA). Observou-se que o NSGA utilizou estratégias para ampliar a produção de alimentos e insumos, com foco no aumento da autonomia e na soberania alimentar, ainda, que a UA construída impactou positivamente, promovendo à construção de conhecimento agroecológico por meio dos intercâmbios de experiências e materiais das redes formadas. A maior parte dos alimentos produzidos no agroecossistema foi para o autoconsumo da família e dos animais. Também identificou-se que a principal forma de comercialização dos produtos é de venda direta nos agroecossistemas e em feiras da cidade. Destacou-se o impacto positivo das estratégias de diversificação e combinação de produção de alimentos com criação de animais e da relevância do acesso às políticas públicas para o fortalecimento da agricultura familiar e camponesa. Palavras Chaves: Construção do Conhecimento; Unidade de Aprendizagem; Extensão Rural; Rede Sociotécnica e Agricultura Familiar. RESUMEN El Plan Brasil sin Miseria (PBSM) era una Política Pública redistributiva que objetivó superar la pobreza, ayudando a las familias en actividades para promocionar y ampliar la seguridad alimentaria y nutricional y, también, generar renta. Este trabajo presenta las estrategias agroecológicas y la influencia del acceso a las políticas públicas en la trayectoria de agroecosistema familiar en territorio rural de Sergipe, en el ámbito del PBSM. La metodología utilizada fue de investigación-acción-participativa 590

para la construcción de Unidad de Aprendizaje (UA) con base en los principios agroecológicos, en local indicado por la red sociotécnica formada por técnicos, extensionistas y familias agricultoras. La trayectoria histórica del agroecosistema familiar fue construida por medio de entrevistas, elaboración de mapas, recuperación y construcción de la línea del tiempo, a partir del Núcleo Social de Gestión del Agroecosistema (NSGA). Se observó que el NSGA utilizó estrategias para ampliar la producción de alimentos e insumos, con foco en el aumento de la autonomía y en la soberanía alimentaria, aún, que la UA construido impactó positivamente, promoviendo a la construcción de conocimiento agroecológico por medio de los intercambios de experiencias y materiales de las redes formadas. La mayor parte de los alimentos producidos en el agroecosistema fue para el autoconsumo de la familia y de los animales. Se identificó que la principal forma de comercialización de los productos es de venta directa en los agroecosistemas y en las ferias de la ciudad. Se destacó el impacto positivo de las estrategias de diversificación y combinación de producción de alimentos con creaciones de animales y de la relevancia del acceso a las políticas públicas para el fortalecimiento de la agricultura familiar y campesina. Palabras Claves: Construcción del conocimiento; Unidad de Aprendizaje; Extensión rural; Red sociotécnica y Agricultura Familiar. INTRODUÇÃO O Plano Brasil Sem Miséria (PBSM) era uma Política Pública compensatória de caráter redistributivo direcionada aos brasileiros que vivem em extrema pobreza, instituída em 2011, que objetivou superar a extrema pobreza no país. Segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16,2 milhões de brasileiros necessitavam de efetiva inclusão socioprodutiva, com enfoque em tecnologias adequadas à sua realidade social, econômica, ambiental e cultural (IBGE, 2010). Em Sergipe, o PBSM iniciou-se pelo território do Alto Sertão de Sergipe, por apresentar o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado (0,575), enquanto o IDH do estado era de 0,742. A renda per capita média naquele território era de R$ 77,00, considerada uma das menores do Estado. A inclusão produtiva é um dos eixos estratégicos do PBSM que pretende auxiliar as famílias a desenvolverem atividades que assegurem a segurança alimentar e gerem renda. As metodologias e ferramentas de transferência de tecnologia (TT) utilizadas tradicionalmente pela Embrapa não reconhecem o conhecimento dos agricultores familiares, nem os consideram como sujeitos da ação (OLIVEIRA, 2015). Assim, ao trazer a Agroecologia como ciência norteadora das ações e dos fundamentos teóricos e metodológicos para se construir e viabilizar soluções inovadoras e adequadas às necessidades locais para os agroecossistemas familiares valorizam-se os diferentes tipos de conhecimentos, formas, e modos de vida, estratégias e inovações das famílias agricultoras e camponesas. Este trabalho apresenta a trajetória e as estratégias agroecológicas utilizadas no agroecossistema familiar de D. Marivalda Moura Meneses Santos, localizado no Povoado Pias, município de Gararu, território do Alto Sertão Sergipano. O resultado possibilitou mostrar as diferentes estratégias, formas e modos de produção e reprodução social da família agricultora e a evolução da trajetória histórica do agroecossistema, durante o período de 2012 a 2016. 591

METODOLOGIA A experiência agroecológica do território do Alto Sertão de Sergipe foi realizada, por uma equipe da Embrapa Tabuleiros Costeiros em parceria com a Empresa Agropecuária de Desenvolvimento, Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Sergipe (EMDAGRO), instituição responsável pela assistência técnica e extensão rural aos beneficiários do PBSM. No município de Gararu a análise se concentrou no agroecossistema familiar de D. Marivalda Moura Meneses Santos, Povoado Pias. Foi formado Grupo de Interesse (GI) composto por 24 famílias dos Povoados Palestina, Lagoa do porco, Várzea nova e Pias, todos no município de Gararu. O projeto de pesquisa-ação- participativa foi desenvolvido e executado no período entre 2012 a 2014. As avaliações de acompanhamento ocorreram anualmente e as finais em dezembro de 2014 e dezembro de 2016. Por decisão do GI foi instalada uma Unidade de Aprendizagem (UA) no agroecossistema de D, Marivalda, sendo que todas as atividades foram realizadas em formato de mutirão. Os procedimentos metodológicos seguiram as etapas: 1. Mapeamento e articulação de parceiros para construção da proposta e levantamento de dados secundários; 2. Sensibilização, construção, apresentação e validação da proposta; 3. Formação do Comitê Gestor Interinstitucional; 4. Caracterização da realidade local utilizando técnicas participativas; 5. Planejamento participativo e a formação do GI; 6. Instalação da UA, em sistemas diversificados de produção de alimentos com criação de pequenos animais, a partir dos temas priorizados pelo GI; 7. Acompanhamento, monitoramento e avaliação da UA, utilizando a linha do tempo e a metodologia de análise econômico-ecológico de agroecossistemas (ASPTA, 2017), e; 8. Sistematização da experiência (CHAVÉZ TÁFUR, 1994, 2007). A instalação da UA ocorreu em ambientes sociotécnicos para promover a inovação agroecológica por meio do diálogo e da integração de saberes. A UA foi construída em formato de policultivos (feijão de diversas variedades, milho, palma forrageira e gliricídea) associados às criações de animais, frutíferas, hortaliças e adubos verdes. O acompanhamento ocorreu de forma individual no agroecossistema familiar e coletivamente com a participação do GI. O acompanhamento e a avaliação ocorriam ao término de cada atividade com a reflexão dos resultados e aprendizados obtidos a partir da ação, realizada em roda de conversa com os participantes (OLIVEIRA, 2015). Para construir a trajetória histórica do agroecossistema familiar de D. Marivalda foram realizadas visitas, caminhada transversal no agroecossistema, entrevistas com membros do Núcleo Social de Gestão do Agroecossistema (NSGA), elaboração de mapas, fluxos e da linha do tempo por meio da recuperação de fatos históricos, tomando como base a constituição NSGA familiar, a partir do seu casamento e da análise de dados obtidos por meio da entrevista, caminhada transversal e identificação de fluxos de produtos e insumos, no período de 2012 a 2016. RESULTADOS E DISCUSSÃO O agroecossistema está localizado no território do Alto Sertão de Sergipe, em Gararu no Povoado Pias (Figura 1). É composto por 45 tarefas (15,3 ha) pertencentes à família, sendo que 20 tarefas (6,8 ha) foram compradas em 1984 com a venda do gado criado nas terras dos pais de D. Marivalda, adquiri- 592

dos pela venda da mão de obra da família em fazenda no interior da Bahia, onde foi morar depois do casamento com o Sr. Edilson Vieira Santos em 1981. Adquiriu mais 25 tarefas (8,5 ha) em 2013, devido recebimento de herança de seus pais. O agroecossistema de D. Marivalda foi tipificado como Agricultura Familiar em Transição Agroecológica, devido às seguintes características: baixo nível de participação política e de organização social; acesso a políticas públicas; acesso ao mercado local; baixo acesso a recursos hídricos; baixa diversidade produtiva de vegetais e elevada diversidade de animais; beneficiário do PBSM; maior parte de insumos produzidos; mulher e jovens com participação na gestão; utiliza práticas agroecológicas; busca autonomia e segurança alimentar e; não usa veneno nem adubos químicos. Até 2011, as estratégias do NSGA para minimizar o impacto da dependência externa de alimentos e insumos em períodos longos de seca, eram: ceder uma parte dos pastos nativos; vender sua força de trabalho em fazendas de terceiros, trocando por renda e/ou alimentos e, ainda, reunir a mão de obra da família na divisão de tarefas agrícolas e de criações. A partir de 2012, foi instalada a UA, com foco principal na produção de alimentos para os animais. O objetivo era diminuir a necessidade de compra de insumos externos. Em 2013, o GI realizou atividades em mutirão para preparo de solo; identificação de materiais e sementes; plantios de lavouras em consórcios de diferentes culturas. A UA foi instalada em 1,5 tarefas (0,51 ha), sendo reproduzida no ano seguinte pelo NSGA em outras áreas do agroecossistema e por outras famílias. O agroecossistema de D. Marivalda era formado por oito (08) subsistemas: 1) bovinos; 2) ovinos; 3) caprinos; 4) pequenas aves; 5) pastos nativos; 6) lavouras de palma; 7) lavouras: palma x gliricídia x milho e; 8) lavouras: palma x gliricídia. Em 2013, a família recebeu a segunda água do Programa P1+2 (Uma Terra Duas Águas) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), destinada a plantios e à criação de animais o que permitiu maior autonomia ao NSGA. Em 2014, por meio do trabalho em formato de mutirão do GI, foi realizada a construção/reforma de estruturas (galinheiro, aprisco, curral, cocho, cercas). Nesse mesmo ano, iniciou-se a construção da nova casa de D. Marivalda do Programa Minha Casa, Minha Vida (inserido no PBSM). A colheita de palma, milho e gliricídia da UA e das demais lavouras em consórcios e policultivos possibilitou que a família produzisse e armazenasse silo suficiente para ser utilizado no período mais seco. A estratégia usada para produzir silos a partir da gliricídia tornou possível aumentar a produção de alimentos para os animais. Além da estratégia de ampliação de outros espaços com lavouras consorciadas e de policultivos utilizando a gliricídia, observou-se ainda, que o incremento da biodiversidade manejada e a ampliação da produção de culturas para o autoconsumo impactaram positivamente. O que promoveu a redução na compra de insumos externos, principalmente, de farelo de soja (substituído pela gliricídia). Igualmente importante foram às reformas de estruturas para melhor acomodar e proteger os animais, parte das ovelhas eram criadas em outros agroecossistemas, além de perdas por doenças e roubos o que limitava o aumento de investimento em quantidade e diversidade de animais. Em 2015, com a chegada do Programa Luz para Todos (integrante do PBSM), foi instalada a energia que possibilitou a mudança da família para a nova moradia, próxima da cisterna e do galinheiro (Figuras 2 e 3). 593

As dinâmicas de inovação aconteceram no NSGA a partir da experiência da integração da família com a rede sociotécnica representada pelo GI, que resgata e revitaliza a realização de atividades em mutirão. Em trabalhos realizados em agroecossistemas em territórios rurais do Rio Grande do Sul, Norte e Nordeste do País foram encontrados resultados similares (ASPTA, 2017), que demonstraram a importância das redes sociotécnicas de aprendizagem para famílias agricultoras, independentemente do tipo de agroecossistema familiar. A partir de 2016, a família deixou de receber o programa Bolsa Família, impactando no NSGA. Nos últimos anos, as cisternas não conseguiram acumular água suficiente para a família, além de que animais, plantios, materiais genéticos e produções, quase totalmente perdidos. As estratégias da família diante da perda de apoio de políticas públicas associadas às secas acumuladas nos cinco últimos anos foram: criação de animais combinada com a produção de vegetais; redução de investimento em gado e aumento na criação de ovinos, caprinos e pequenas aves e aumento de policultivos com plantas nativas e as mais adaptadas e resistentes às condições do bioma. A maior parte dos alimentos produzidos no agroecossistema é para o autoconsumo da família e das criações. E, a comercialização dos produtos por meio de vendas em feiras, no local e o leite em fábricas de queijo do município. CONCLUSÃO Foi observado que a UA se constituiu em um ambiente de inovação agroecológica e de construção de conhecimento agroecológico. Verificou-se que o NGSA utilizou estratégias para ampliar a produção de alimentos e insumos com foco no aumento da autonomia e a soberania alimentar. Ainda, percebeu-se a fragilidade e desarticulação do GI, após o término das atividades do projeto. Por fim, é incontestável o papel das políticas públicas no apoio e fortalecimento da agricultura familiar e camponesa no agroecossistema. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAVEZ-TAFUR, J. Aprender com a prática: uma metodologia para sistematização de experiências. Brasil: AS-PTA, 2007. IBGE. I. Cidades@Avaliablefrom.http.//www.ibge.gov.br/cidades at/topwindow.htm,v.1, 2010. 38 39. OLIVEIRA, T. C. Construção do conhecimento agroecológico no âmbito do plano Brasil sem Miséria, no território do Alto Sertão Sergipano. 96 f. 2015. Master (Tesina) - Universidad Internacional de Andalucía, Sergipe, 2015. PETERSEN, P. et al, 2017. Olhares Agroecológicos Análise econômico-ecológica de agroecossistemas em sete territórios brasileiros. Articulação Nacional de Agroecologia, 190p. Rio de Janeiro. OLIVEIRA, T. C. de; TAVARES, E. D.; CAPORAL, F. R.; CURADO, F. F.; COLLADO, A. C. 594

Diálogos entre educação-pesquisa-extensão: contraponto ao processo convencional de transferência de tecnologia no Território do Alto Sertão Sergipano. III Seminário Nacional de Educação de Agroecologia. Seropédica. Rio de Janeiro, 2016. Figura 1. Imagem do perímetro e delimitação do Agroecossistema D. Marivalda com a localização da casa do PBSM, Povoado Pias, no Alto Sertão de Sergipe, Sergipe, 2016. Figura 2. Imagem do Agroecossistema de Dona Marivalda, Povoado Pias, no Alto Sertão de Sergipe, Sergipe, 2016. Figura 3. Imagem da casa de D. Marivalda pelo Programa Minha Casa Minha Vida do PBSM, Povoado Pias, no Alto Sertão de Sergipe, Sergipe, 2016. 595