O Entrave para a Paz no Oriente Médio e Norte da África - ÁGUA A água cobre mais de 70% do planeta. Porém, somente 3% é água doce, sendo o restante água salgada. A degradação dos ecossistemas de água doce está se transformando em um problema que pode ser a causa de conflitos em muitos países, ou entre Estados, ao afetar regiões onde esse bem natural é escasso, como o Oriente Médio. Ainda que se trate de um recurso renovável, a quantidade de água na Terra também é limitada e muito vulnerável aos efeitos da ação humana. Até recentemente, era considerado um produto inesgotável, com acesso limitado apenas por técnicas de engenharia. Por isso, foi consumido de modo irresponsável. O consumo mundial de água doce teve um vertiginoso crescimento a partir dos anos 50. O setor agrícola utiliza 69% da água; o industrial, 21%; nas cidades gastam-se 6%; e as perdas em reservatórios calcula-se em torno de 4%. A maior porcentagem de água é destinada à irrigação, uma tendência crescente no campo, haja visto que, no decorrer do século XX, a quantidade de água empregada na agricultura multiplicou-se por dez. Nos próximos 30 anos, 80% dos alimentos virão da agricultura irrigada, segundo previsões. Dos 7 bilhões de pessoas que constituem a população mundial, mais de 2 bilhões carece de água limpa e salubre, enquanto que outros 1,5 bilhão não tem acesso a meios de saneamento adequado. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1986, a água contaminada causava a morte de 27 mil pessoas por dia, em 2012, calculou-se 2milhões de pessoas por ano, um pequeno avanço, mas não o suficiente. Vinte e seis países, em sua maioria da África e Oriente Médio e também alguns europeus, como a Holanda são deficitários em água. Em algumas regiões, a disponibilidade desse recurso alcançou a barreira da água, estimada em mil metros cúbicos por pessoa ao ano o mínimo aproximado necessário de água para uma qualidade de vida aceitável. A crise da água afeta especialmente determinadas regiões do planeta, como o Norte da África, o Oriente Médio e a China. As megacidades do Terceiro Mundo sofrem graves problemas de saneamento e salubridade enquanto que, em outros lugares, a crise freia ou impede o crescimento industrial. Quarenta e sete por cento das terras habitadas do planeta situam-se nas bacias de rios e quase 50 países dos quatro continentes têm mais de três quartos de seus territórios nessas bacias. Existem 217 bacias internacionais, compartilhadas por vários países, incluindo 57 na África e 48 na Europa. Isso quer dizer que quase 40% da população mundial vive ao redor de rios internacionais. Dois bilhões de pessoas dependem de algum tipo de cooperação, por enquanto quase inexistente, que os assegure o fornecimento compartilhado desse recurso vital.
Como as bacias fluviais mais importantes do mundo atravessam vários países, os acordos sobre gestão e proteção dos recursos de água doce costumam acontecer em nível internacional. Os Estados cujo abastecimento de água depende uicamente da boa vontade de seus vizinhos, por não terem mananciais dentro de suas fronteiras, estão em posição desfavorável na hora de negociar acordos. Na União Europeia, existem regulamentos em relação aos recursos hídricos compartilhados, especialmente sobre a qualidade da água, que restringem os direitos dos países dentro de suas fronteiras. À luz dessa experiência, é provável que iniciativas similares funcionem em outras partes do mundo. Oriente Médio e África As dificuldades de acesso à água se converteram em instrumento e arma de guerra. As instalações hidráulicas do inimigo são objetivos estratégicos e, quanto maior é a escassez de água em uma região ou país, maior é a importância militar de seus sistemas hidráulicos. São vários os países do Oriente Médio e Norte da África, imersos na crise da água. Há três grandes eixos fluviais que, ao serem compartilhados por numerosos Estados, são foco permanente de tensões. Na bacia do rio Nilo, as disputas pela água envolvem basicamente o Egito, o Sudão e a Etiópia. As águas dos rios Tigre e Eufrates correm pela Turquia, o Iraque e a Síria. O rio Jordão com seus afluentes Yarmuk, Banias e Hasbani e o rio Litani são fonte de conflito entre o Líbano, a Síria, Israel e a Jordânia. O Centro Internacional de Estudos Estratégicos de Washington assegura que até princípios do século XXl a disputa pelos recursos hídricos pode agravar os já frágeis vínculos entre os Estados da região (Oriente Médio) e provocar um clima de agitação sem precedentes. Em 1979, o então presidente egípcio Anuar Sadt declarou: A única questão que poderia levar o Egito a guerra, outra vez, é a água. Em 1990. O Rei Hussein da Jordânia disse o mesmo do seu país. O NILO Enquanto a Etiópia controla 85% das nascentes do Nilo, o Sudão e, especialmente, o Egito, encontram-se em uma situação geográfica mais desfavorecida. Já o Egito, com maior estabilidade política e econômica que seus vizinhos, consegue compensar sua vulnerabilidade física e coloca-se em posição de dominação da região. O elevado índice de crescimento da população desses países estima-se que o Egito terá 100 milhões de habitantes em 2010 fazem com que as provisões de água sigam diminuindo e a oferta cada vez mais escassa. Porém, o problema mais complexo a ser enfrentado por esses países, segundo alguns especialistas, é a imprevisibilidade do caudal do rio, que altera longos períodos de seca com inundações.
De qualquer maneira, essa é a única região em que se chegou a um acordo bilateral entre países ribeirinhos Egito e Sudão sobre a gestão dos recursos compartilhados. O acordo assinado em 1959, distribui o caudal estimado do rio. Uma comissão binacional se encarrega das disputas. O Tigre e o Eufrates As nascentes desses rios estão situadas na Turquia, o único país da região que não atingiu ainda uma situação crítica quanto ao abastecimento de água. Síria e Iraque compartilham essa bacia fluvial, porém não há nenhum tratado sobre o uso compartilhado dos recursos hídricos da região. Existe um grande projeto hidráulico na Anatólia do Sudeste, única região turca que padece de escassez de água. É composto de 13 subprojetos: 6 no Tigre e 7 no Eufrates. Compreende a construção de 21 represas e 19 centrais hidrelétricas financiadas pela Turquia. Esse plano aumentaria a dependência de países como a Síria ou o Iraque em relação à Turquia. Os países árabes consideram um ato beligerante a construção da grande represa Ataturk. O Jordão e o Litani A bacia do rio Jordão abarca parte dos territórios ocupados por Israel Cisjordânia e as montanhas de Golã território jordaniano e a região sudoeste da Síria. A área padece de uma escassez de água e sofre uma crise de gestão e preservação de recursos, em um contexto complexo de conflito: a ocupação de territórios por parte de Israel. Este país protege zelosamente suas águas, acumuladas em constantes enfrentamentos com a Síria, a Jordânia e o Líbano. Um exemplo da extensão do problema é a Represa da Unidade, projeto conjunto da Jordânia e Síria para a utilização das águas do rio Yamurk, principal afluente do Jordão, que Israel ameaçou explodir caso fosse construída. O rio Litani nasce e flui integralmente no Líbano e é utilizado por esse país, sobretudo, para gerar energia hidrelétrica. Por seu baixo grau de salinidade, é uma fonte atraente de água potável. Porém, ao alimentar, em parte, as águas do rio Hasbani, que deságua no Jordão e na zona de segurança israelense, no Sul do Líbano, a questão se complica. O Líbano não enfrenta ainda problemas de fornecimento de água, e a Síria recebe grande quantidade de água dos rios Eufrates e Yarmuk. Porém, Israel, Jordânia e os territórios árabes ocupados vivem em situação crítica por terem esgotado praticamente todos os seus recursos convencionais. Israel: produto chave (água) Em Israel, os principais problemas são a superexploração de recursos hídricos e a má gestão, provocada pela falta de coordenação entre instituições. Grande parte das provisões de água doce desse país tem origem em mananciais subterrâneos, como o da Montanha Yarkon/Taninim, no oeste da Cisjordânia, e o costeiro em Gaza.
Com a ameaça de esgotamento de recursos hídricos, o país teve que desenvolver um amplo sistema de reutilização de águas residuais, que de fato é o maior do mundo. Israel dedica uma grande porcentagem da água que consome as atividades de irrigação, técnica que desenvolveu para aplicar a sua agricultura. Na Cisjordânia, a situação é diferente. A população árabe é totalmente da água subterrânea e a distribuição do recurso entre palestinos e israelenses não é em absoluto equitativa. Israel impôs um sistema de controle quanto a exploração de poços: deu a suas autoridades todo o poder sobre a água, estipulou proibições, estabeleceu autorizações e expropriações. Essa situação fez com que muitos palestinos da Cisjordânia se vissem obrigados a abandonar a agricultura e instalarse nas cidades. Em 1990, segundo cifras das próprias autoridades israelenses, os palestinos da Cisjordânia consumiam 119 metros cúbicos de água por pessoa, enquanto o consumo dos israelenses chegava a 354 metros cúbicos. O sistema de tarifas de consumo de água em Israel e territórios ocupados, também afeta, de forma distinta, palestinos e israelenses.a gestão e manutenção dos recursos hídricos estão a cargo da companhia israelense Mekorot desde 1982. Segundo fontes israelenses, um palestino paga sua água a essa companhia duas vezes mais caro do que um israelense. Segundo fontes palestinas, essa relação aumenta para cinco vezes, posso afirmar que essa informação é verdadeira, porque vi em loco. Na faixa de Gaza, a situação é crítica. As cotas de exploração de poços por parte dos palestinos permaneceram congeladas nos níveis de 1967, à raiz da ocupação israelense. Além disso, a desigualdade do pagamento das tarifas é alarmante: os palestinos pagam 20 vezes mais pela água do que os colonos israelenses, que recebem subsídio de seu governo. A maior parte da água potável de Gaza provém de lençol freático, que foi explorado por mais de 30 anos, gerando altos níveis de salinização por infiltração da água do mar. A baixa qualidade da água tornou-se um problema de saúde pública. Fonte de consulta: Centro de Investigação para a Paz, Madri, Espanha. Prof. Dr. Mauricio H. Santos