Ecoescleroterapia de varizes com espuma: revisão de literatura



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ARTÍCULO DE REVISIÓN Artículo publicado en la Revista Médica de Minas Gerais 2006; 16(4): 183-6. Reproducido con las autorizaciones correspondientes. Ecoescleroterapia de varizes com espuma: revisão de literatura Autores: Francisco Reis Bastos 1, Ana Carolina Assumpção 2, Amador Emilio de Lima 3 1 Angiologista dos hospitais de Belo Horizonte, exprofessor-assistente de Anatomia da Faculdade de Medicina UfMG / 2 Angiologista dos hospitais de Belo Horizonte / 3 Médica-estagiária E-Mail: drfranciscobastos@ig.com.br Fecha recepción artículo: 20/01/2009 - Fecha aceptación artículo para publicación: 28/02/2009 Resumen La incorporación de nuevas técnicas en medicina suele encontrar resistencia, en particular, debido a la posibilidad de efectos adversos. Las técnicas para el tratamiento de las venas varicosas no han sido plenamente eficaces. La ecoescleroterapía de varices de las extremidades inferiores con espuma surgió en Europa hace 20 años y poco a poco se ha impuesto como un método tan bueno como la cirugía de la vena varicosa. La escleroterapía clásica que llevó a la ecoescleroterapía se utiliza hace más de 150 años. El método consigue el aumento del poder esclerosante, lo que permite su uso más amplio, especialmente en casos como las úlceras de pierna en pacientes ancianos o en pacientes con enfermedades crónicas concomitantes. Además es un método más barato, lo que permite acceder a tratar adecuadamente a pacientes que anteriormente resultaba difícil. La revisión de la literatura muestra que el método es seguro y eficaz, con una baja tasa de complicaciones. Palabras clave: Varices / terapia; Úlcera varicosa / Escleroterapía Abstract News medicine thecniques are dificults to be incorporate in usual practice. But the progress must arrive. The foam sclerotherapy begans at Europe there are 20 years and it seems to be as good as the surgery for the treatment of the varices. The sclerothreapy method was born there are 150 years ago and now, becomes more powerfull with the foam ehcosclerotherapy. Now we can treat every kind of veins with this method. Many cases of the varices like the patients with venous ulcer can now be threated. The varices in the oldest ages people and in chroniques diseases too. Always when the anesthesic risk forbidd the surgery the foam echosclerotherapy can do. More cheaper this method of echosclerotherapy shows a low index of complications in the review of the literature. Key words: Varicose Veins/therapy; Varicose Ulcer/therapy; Sclerotherapy Resumo A incorporação de novas técnicas em Medicina constituise em natural resistência, em especial, decorrente da avaliação do risco de efeitos adversos. As técnicas para o tratamento de varizes não se revelaram totalmente eficientes. A ecoescleroterapia de varizes dos membros inferiores com espuma surgiu na Europa há 20 anos e gradativamente se afirmou como método tão bom quanto a cirurgia de varizes. A escleroterapia clássica que deu origem à ecoescleroterapia é usada há mais de 150 anos. O método acompanha o advento da espuma com poder esclerosante maior, o que permite o seu uso de forma mais ampla, sobretudo em casos como os de úlceras de perna, em pacientes idosos ou nos portadores de doenças crônicas concomitantes. Constituise em método mais barato, o que permite ampliar o tratamento para pessoas antes difíceis de serem tratadas convenientemente. A revisão da literatura evidencia que o método é seguro e eficaz, com baixo índice de complicações. Palavras-chave: Varizes/terapia; Úlcera varicosa/terapia; Escleroterapia Año 4 / Nº 11 / Mayo - Agosto 2009 / Páginas 665 a 670 665

Introdução Não se desembaraça de um hábito jogando-o pela janela, mas fazendo-o descer as escadas degrau por degrau. Mark Twain. Há mais de 150 anos o tratamento das varizes de membros inferiores é feito por intermédio da escleroterapia, entretanto, nova proposta terapêutica propõe o uso de espuma de polidocanol, orientada pelo ultrassom e pelo venoscópio de luz LED (Veinlite). A espuma de polidocanol se revelou um esclerosante mais potente que os líquidos até então utilizados. Constitui-se em nova tecnologia, que agrega mais precisão, eficiência e menos complicações na abordagem das varizes dos membros inferiores. Outras técnicas têm sido testadas com o objetivo de promover a ablação das veias por intermédio do raio laser, o vapor de água ou a radiofrequência. São necessários, entretanto, mais estudos de confirmação e validação dos métodos para que possam ser usados de forma adequada. Revisão Da Literatura História A preocupação médica com a abordagem das varizes dos membros inferiores remonta à Antiguidade, com o relato da aplicação de vários métodos terapêuticos como trançagem, injeções com osso de galinha e outros expedientes 1-24. A técnica da escleroterapia representa a abordagem atual, primária e universal, em que são usados vários produtos esclerosantes 2,15,16 como fenol, glicose hipertônica, tetradecyl (TDS), ethanolatho de metila e o polidocanol (aethoxyclerol ou AET). O AET ensaiado, inicialmente, como anestésico local é a substância esclerosante de vasos mais usada. Associase à reação alérgica em 3:1.000 aplicações 15,16. Pode ser aplicado sob a forma líquida ou como espuma 8,9, com formas de preparo e doses variáveis 4,6,10-12. A ecoescleroterapia com polidocanol sob a forma de espuma é prática que surgiu com Orbach, na década de 40 25, e aperfeiçoada por Cabrera na década de 90, quando atingiu a sua maioridade tecnológica e teve seus limites de indicação 666 de uso alargados 26. Método (a luz LED-veinlite-e o ecodoppler) A ecoescleroterapia de varizes com espuma de AET tornou-se mais fácil com a boa visualização permitida pelo duplex-scan (ultrassom) ou pelo veinlite (venoscópio), que gera luz LED. Esse processo torna a pele com aparência afilada, o que facilita a visão do sangue intravenoso subcutâneo de forma mais nítida. Vê-se, então, o sangue ou a espuma dentro da veia. Esse avanço tecnológico permitiu ao angiologista a obtenção de diagnóstico com mais precisão e melhor abordagem terapêutica. Durante a ecoescleroterapia, é possível ver onde está a ponta da agulha ou do cateter e onde será colocada a espuma, isto é, dentro ou fora da veia doente. Permite também analisar a fisiopatologia das veias superficiais de forma constante. O duplex-scan ecodoppler ajuda também a determinar o acesso venoso no momento da punção de veias mais profundas, a identificar a suficiência da espuma em preencher a veia e a localizar o esclerus (coleção de sangue a ser drenada) após o tratamento. O uso de cateter curto ou longo, com controle da colocação do bolus de espuma na veia, permite mais segurança e, caso necessário, possibilita refazer a injeção, evitando-se complicações. Permite interromper antes e injetar menos espuma se o médico assim perceber que foi suficiente. O ecodoppler, entretanto, não consegue distinguir a espuma da bolha de gás fisiológico, que surge após a absorção do AET pela parede da veia tratada. Há um verdadeiro sequestro do esclerosante pela parede da veia. A ecoescleroterapia com polidocanol pode ser usada nas grandes veias com úlceras de estase, nos hemangiomas e malformações venosas, nos idosos e em recidivas complicadas de varizes. Este horizonte alargado representa novidade expressiva e auspiciosa em angiologia. Essas técnicas são realizadas entre cinco e seis milhões de sessões por ano na França 11. O método de preparo da espuma mais usado é o de Tessari 27, também chamado de método das três vias, em que se misturam 4 ml de gás biológico com 1 ml de solução esclerosante. A Flebología y Linfología / Lecturas Vasculares

espuma, após a sua confecção, é introduzida na veia por intermédio de uma agulha muito fina do tipo insulina, para que o processo não seja doloroso. A espuma é vista entrar na luz da veia e empurrar o sangue. Isto apaga a imagem da veia doente. A espuma carreia o polidocanol para a parede média das veias depois de destruir o endotélio e atravessar a camada de elastina que sustenta o endotélio. É possível ver, ao microscópio, os núcleos das células do endotélio que se misturam ao sangue. O polidocanol que chega à camada média (muscular) da veia provoca uma reação de edema e contração das miofibrilas musculares, causando um espasmo de 50% do seu volume. O medicamento é absorvido em 94% de seu volume pela parede da veia. Uma pequena porção do polidocanol circulará pelo corpo humano, o que pode explicar o seu baixo índice de complicação. A cicatrização restante será feita pela aplicação de meia elástica, que faz a compressão externa, e pelas reações inflamatórias do organismo humano. O gás da bolha de espuma será absorvido em vários tecidos do corpo humano. As veias sadias terão melhor fisiologia se houver cicatrização daquelas que estão doentes 27-35. A ecoescleroterapia com espuma pode ser feita junto ou isolada à cirurgia de varizes, especialmente nas grandes veias com úlceras de estase, nos hemangiomas e nas malformações venosas, nos idosos e nas recidivas complicadas de varizes. Esse horizonte torna a ecoescleroterapia com espuma uma novidade na angiologia. A padronização da escleroterapia pelo polidocanol foi proposta pelo Segundo Consenso Europeu sobre Ecoescleroterapia em Tergensee, Alemanha 28, após a sua aplicação em 184.000 pacientes. Nossos 400 primeiros casos estão nesta série. O National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE), da Inglaterra, estabeleceu, recentemente, a segurança e a eficiência do tratamento das varizes com espuma de polidocanol 1 baseado em 1.138 relatos científicos. Clínica A transição demográfica no mundo e também no Brasil ressalta a menor fertilidade feminina, menos nascimentos e envelhecimento populacional. A população torna-se mais idosa, o que Año 4 / Nº 11 / Mayo - Agosto 2009 / Páginas 665 a 670 requer abordagem terapêutica menos intervencionista, mais simples e eficaz, econômica e com baixa morbidade. A abordagem das varizes com ecoescleroterapia por intermédio da espuma apresenta todos esses benefícios, especialmente as mulheres que apresentam mais varizes e por isso perdem qualidade de vida 16. A doença venosa evolui com o tempo, acumulando os estragos naturais da somatória de veias falidas. Tratase de uma série de efeitos, em cascata, que desgastam a rede venosa responsável pela drenagem do sangue dos membros inferiores. É uma evolução de um quadro venoso preexistente que se agrava paulatinamente. Os idosos também possuem menos eficiência em seus processos reparadores, mais exposição a fatores fisiopatológicos que promovem o desenvolvimento de comorbidades e gênese de múltiplas doenças. O seu sistema venoso pode ser afetado pela imobilização, atrofia da musculatura, sedentarismo, distúrbios alimentares (desnutrição e supernutrição), propiciando riscos de tromboses locais e sistêmicas, especialmente pulmonar, com as repercussões deletérias sobre o sistema hemodinâmico, interpondo mais limitação ou interrupção da vida. O tratamento das varizes deve ser antecedido de exame clínico geral e, sobretudo, de investigação da rede arterial, que pode ser feita simultaneamente ao ecodoppler, que irá mapear as veias doentes a serem tratadas. Terapêutica A análise dos resultados de qualquer tratamento das afecções venosas crônicas é difícil. Ela pode apreciar número importante de critérios subjetivos e objetivos. O grau de satisfação do médico e do paciente nem sempre está correlacionado. É difícil quantificar a melhoria dos sintomas. A ecoescleroterapia com espuma possui a mesma eficácia da cirurgia de varizes a céu aberto 29 ou da cirurgia endovenosa, recomendação de grau 2 C para as varizes assintomáticas e 2 B para as varizes sintomáticas 16. A escala de Guyatt, entretanto, não considera o custo diferenciado dos vários procedimentos. Parece que apresenta melhores resultados com complicações equivalentes, constituindo-se em alternativa mais econômica e com vantagem de 667

Figura 1 - Eczema de estase. Antes e depois da ecoescleroterapia com espuma. Figura 2 - Úlcera antes e depois do tratamento com espuma. Figura 3 - Úlcera com erisipela tratada com espuma escleroterápica. Quadro 1 - Principais complicações associadas à escleroterapia pelo polidocanol Complicações Frequência (%) Acidente vásculo-cerebral 0,0-2,8 Embolia pulmonar 0,0-0,3 Trombose venosa profunda 0,0-5,7 Necroses e ulcerações cutâneas 0,0-2,6 Distúrbios visuais 1,4 Cefaleia 4,2 Trombo flebites superficiais 4,7 Hiperpigmentacao ou matting 17,8 Dor no ponto de injeção 25,6 668 ampliar o horizonte do tratamento de varizes, incluindo os casos mais graves, ou seja, os casos com úlcera de estase. 30 São apresentados, a título de ilustração, três casos graves em que a ecoescleroterapia com espuma funcionou muito bem. Na Figura 1, um intenso eczema de estase com abundante secreção cristalina tratada com polidocanol. Na Figura 2, um caso de úlcera de estase intenso na face anterior do pé direito, tratado com polidocanol. Na Figura 3, uma intensa estase com erisipela que apresentou fechamento da úlcera com 60 dias, tratada com tetradcyl sulfato de sódio. Entre os sinais mais objetivos, as úlceras de estase e a lipodermatosclerose podem ser medidas como parâmetros de cura ou melhora. O estabelecimento da melhora dos sinais e sintomas na doença varicosa nem sempre é fácil de ser estabelecido 18,19,20. A investigação ultrassonográfica foi tentada como controle de tratamento, mas revelou-se incompleta na avaliação da melhora clínica 21. Outro fator relevante e que deve ser levado sempre em consideração é a dificuldade (inerente à doença venosa crônica) de definir o ponto final do tratamento das varizes dos membros inferiores. Muitos casos são difíceis de relatar, pois o paciente não volta mais ou muda de médico. A durabilidade média do tratamento ecoescleroterápico situa-se em torno de um a três anos e a oclusão da veia tratada entre 67 e 93,8% (média de 84,4%). A recidiva ou o aparecimento de novas varizes surge em 27,8% (extremos 4,4-51,2%), mas o ponto final de tratamento é mal definido 27-35. A satisfação do paciente, a modificação da sintomatologia, a avaliação clínica e a qualidade de vida antes e depois do tratamento ainda não foram sistematicamente avaliadas 3,13. Complicações A eficácia do tratamento das varizes dos membros inferiores com espuma de polidocanol é incontestável, desde que a sua estratégia de uso seja feita com rigor. Os efeitos indesejáveis são os mesmos encontrados na escleroterapia clássica16. Associamse a todo tratamento esclerosante eficaz e, felizmente, são raros e benignos, desde que sejam realizados por angiologista com treinamento adequado. Flebología y Linfología / Lecturas Vasculares

Os efeitos indesejáveis podem ser localizados ou generalizados. Os efeitos localizados decorrem de: hematomas de punção venosa, dor no trajeto venoso, pigmentação subcutânea residual, flebite superficial, trombose venosa profunda (TVP), matting. A pigmentação subcutânea residual é a complicação mais frequente, com realce especial devido à importância estética sempre presente no tratamento das varizes. A TVP associase, especialmente, ao hábito do tabagismo, uso de anticoncepcional ou portadores de trombofilia. Os efeitos generalizados são raros, alguns transitórios e outros potencialmente graves, devidos ao desenvolvimento de enxaqueca, tosse seca, hipersensibilidade e acidente vásculo-encefálico. A redução do volume de espuma injetado e o repouso logo após a sessão de ecoescleroterapia parecem ter muita importância na prevenção dessas complicações (Quadro 1). A injeção intra-arterial do polidocanol pode determinar repercussões graves, devido ao risco da espuma provocar oclusão arterial e consequente necrose da jusante 24. Conclusão A ecoescleroterapia parece ser segura e eficaz. Oferece resultados semelhantes aos da cirurgia, que ainda constitui o método mais usado no controle das varizes. O baixo índice de complicações permite indicar o método para aqueles que possuem alguma contraindicação ao método cirúrgico. A ecoescleroterapia com espuma pode ser considerada a alternativa mais econômica no futuro próximo. Outras possibilidades terapêuticas podem se tornar importantes no futuro como o uso de radiofrequência, dos raios laser e do vapor d`água, apesar do custo elevado dos dois primeiros. A ecoescleroterapia com espuma oferece a possibilidade de inserção social de segmentos que antes eram marginalizados, sem tratamento, como os idosos, os ulcerados e até os portadores de defeitos venosos congênitos. Referências 1. Jia X, Mowatt G, Burr JM, Cassar K, Cook J, Fraser C. Systematic review of foam sclerotherapy for varicose veins. Br J Surg. 2007; 94: 925-36. 2. Guex JJ. Foam sclerotherapy: an overview of use for primary venous insufficiency. Semin Vasc Surg. 2005; 18:25-9. 3. Wright D, Gobin JP, Bradbury AW, Coleridge-Smith P, Spoelstra H, Berridge D, et al. Varisolve polidocanol microfoam compared with surgery or sclerotherapy in the management of varicose veins in the presence of trunk vein incompetence: European randomized controlled trial. Phlebology. 2006; 21:180-90. 4. Hamel-Desnos C, Desnos P, Wollmann JC, Ouvry P, Mako S, Allaert FA. Evaluation of the efficacy of polidocanol in the form of foam compared with liquid form in sclerotherapy of the greater saphenous vein: initial results. Dermatol Surg. 2003; 29: 1170-5. 5. Hamel-Desnos C, Ramelet A-A, Guias B, Desnos P. Efficacité des mousses de sclérosants: synthèse des principaux essais cliniques publiés. Angéiologie. 2004; 56 (2): 43-8. 6. Yamaki T, Nozaki M, Iwasaka S. Comparative study of duplexguided foam sclerotherapy and duplex-guided liquid sclerotherapy forthe treatment of superficial venous insufficiency. Dermatol Surg. 2004 May; 30(5):718-22; discussion 722. 7. Guex JJ, Allaert FA, Gillet JL, Chleir F. Immediate and midterm complications of sclerotherapy: report of a prospective multicenter registry of 12,173 sclerotherapy sessions. Dermatol Surg. 2005; 31:123-8. 8. Tessari L. Nouvelle technique d obtention de la scléro-mousse. Phlébologie. 2000; 53: 129. 9. Wollmann JC. The history of sclerosing foams. Dermatol Surg. 2004; 30(5):694-703. 10. Belcaro G, Cesarone MR, Di Renzo A, Brandolini R, Coen L, Acerbi G, et al. Foam-sclerotherapy, surgery, sclerotherapy, and combined treatment for varicose veins: a 10-year, prospective, randomized, controlled, trial (VEDICO Trial). Angiology. 2003; 54: 307-15. Año 4 / Nº 11 / Mayo - Agosto 2009 / Páginas 665 a 670 669

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