ANÁLISE DE NDVI NO NORDESTE BRASILEIRO POR COMPONENTES PRINCIPAIS: RESULTADOS PRELIMINARES



Documentos relacionados
Análise da Variabilidade Espacial e Temporal do NDVI sobre o Brasil

Variabilidade temporal de índice de vegetação NDVI e sua conexão com o clima: Biomas Caatinga Brasileira e Savana Africana

Atmosfera e o Clima. Clique Professor. Ensino Médio

DINÂMICA DOS PRINCIPAIS DOMÍNIOS FITOGEOGRÁFICOS DO NORDESTE BRASILEIRO E SUAS CONEXÕES COM A PRECIPITAÇÃO

CAPÍTULO 8 O FENÔMENO EL NIÑO -LA NIÑA E SUA INFLUENCIA NA COSTA BRASILEIRA

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO. (Fevereiro, Março e Abril de 2002).

MAPEAMENTO DA COBERTURA VEGETAL DE ÁREAS DE GRANDE EXTENSÃO ATRAVÉS DE MOSAICOS DE IMAGENS DO NOAA-AVHRR

ATUAÇÃO DO VÓRTICE CICLÔNICO DE ALTOS NÍVEIS SOBRE O NORDESTE DO BRASIL NO MÊS DE JANEIRO NOS ANOS DE 2004 E 2006.

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA Instituto Nacional de Meteorologia INMET Coordenação Geral de Agrometeorologia

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL (Setembro Outubro e Novembro de- 2003).

Resumo. Abstract. 1. Introdução

Figura 1 Localização da bacia do rio São Francisco. Fonte:< Acessado em 01/02/2009.

PROGNÓSTICO DE ESTAÇÃO PARA A PRIMAVERA DE TRIMESTRE Outubro-Novembro-Dezembro.

VARIABILIDADE ESPAÇO TEMPORAL DO IVDN NO MUNICIPIO DE ÁGUAS BELAS-PE COM BASE EM IMAGENS TM LANDSAT 5

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

NARRATIVA DO MONITOR DAS SECAS DO MÊS DE JUNHO DE 2015

INFLUÊNCIA DO OCEANO PACÍFICO NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA OCIDENTAL

Massas de ar do Brasil Centros de ação Sistemas meteorológicos atuantes na América do Sul Breve explicação

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL Agosto-Setembro-Outubro de Prognóstico Trimestral (Agosto-Setembro-Outubro de 2003).

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA CINÉTICA ASSOCIADA A ATUAÇÃO DE UM VÓRTICE CICLÔNICO SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

SINAIS DE LA NIÑA NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA. Alice M. Grimm (1); Paulo Zaratini; José Marengo

CLIMAS DO BRASIL MASSAS DE AR

VARIABILIDADE DO VENTO NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO DURANTE A OCORRÊNCIA DA ZCAS

BLOQUEIOS OCORRIDOS PRÓXIMOS À AMÉRICA DO SUL E SEUS EFEITOS NO LITORAL DE SANTA CATARINA

Climatologia. humanos, visto que diversas de suas atividades

INFOCLIMA. BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano de julho de 2004 Número 7

INMET/CPTEC-INPE INFOCLIMA, Ano 13, Número 07 INFOCLIMA. BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano de julho de 2006 Número 07

Análise sinótica associada a ocorrência de chuvas anômalas no Estado de SC durante o inverno de 2011

Climas do Brasil GEOGRAFIA DAVI PAULINO

Comparação entre Variáveis Meteorológicas das Cidades de Fortaleza (CE) e Patos (PB)

Impacto do Fenômeno El Niño na Captação de Chuva no Semi-árido do Nordeste do Brasil

Variabilidade na velocidade do vento na região próxima a Alta da Bolívia e sua relação com a precipitação no Sul do Brasil

O Clima do Brasil. É a sucessão habitual de estados do tempo

15- Representação Cartográfica - Estudos Temáticos a partir de imagens de Sensoriamento Remoto

Bloqueio atmosférico provoca enchentes no Estado de Santa Catarina(SC)

11.1. INFORMAÇÕES GERAIS

ANÁLISE DOS DADOS DE REANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO MENSAL NO PERÍODO DE 62 ANOS NO MUNICÍPIO DE IBATEGUARA-AL

Monitoramento da Vegetação do Estado da Paraíba nos Anos 2008 e 2009

Universidade de Aveiro Departamento de Física. Dinâmica do Clima. Precipitação

ANÁLISE DA OCORRÊNCIA SIMULTÂNEA DE ENOS E ODP SOBRE O CARIRI CEARENSE

Aula 1 Professor Waterloo Pereira Filho Docentes orientados: Daniela Barbieri Felipe Correa

ASPECTOS METEOROLÓGICOS ASSOCIADOS A EVENTOS EXTREMOS DE CHEIAS NO RIO ACRE RESUMO

ANÁLISE DE UM CASO DE CHUVA INTENSA NO SERTÃO ALAGOANO NO DIA 19 DE JANEIRO DE 2013

Variação Temporal de Elementos Meteorológicos no Município de Pesqueira-PE

CAPÍTULO 13 OS CLIMAS DO E DO MUNDOBRASIL

Relação entre a Precipitação Acumulada Mensal e Radiação de Onda Longa no Estado do Pará. (Dezembro/2009 a Abril/2010)

INFLUÊNCIA DE EVENTOS ENOS NA PRECIPITAÇÃO DE CAMPINAS, SP Leônidas Mantovani Malvesti 1 e Dr. Jonas Teixeira Nery 2

Climatologia GEOGRAFIA DAVI PAULINO

PADRÕES DE VARIABILIDADES ESPACIAIS E TEMPORAIS DE NDVI NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL USANDO ANÁLISE FATORIAL

ÍNDICE K: ANÁLISE COMPARATIVA DOS PERIODOS CLIMATOLÓGICOS DE E

PROGNÓSTICO DE VERÃO

Previsão de Consenso 1 CPTEC/INPE e INMET

Sensoriamento Remoto. Características das Imagens Orbitais

Acumulados significativos de chuva provocam deslizamentos e prejuízos em cidades da faixa litorânea entre SP e RJ no dia 24 de abril de 2014.

044.ASR.SRE.16 - Princípios Físicos do Sensoriamento Remoto

INFOCLIMA, Ano 11, Número 11 INFOCLIMA. Previsão de Consenso 1 CPTEC/INPE e INMET para o trimestre Dezembro/04 a fevereiro/05

Figura 18. Distâncias das estações em relação ao Inmet e Mapa hipsmétrico

CLIMATOLOGIA DE RELÂMPAGOS NO BRASIL: ANÁLISE PRELIMINAR

Cleiton da Silva Silveira & Francisco de Assis de Souza Filho Universidade Federal do Ceará (UFC) cleitonsilveira16@yahoo.com.br. 1.

PRINCIPAIS SECAS OCORRIDAS NESTE SÉCULO NO ESTADO DO CEARÁ: UMA AVALIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA

Prova bimestral 5 o ano 2 o Bimestre

VEGETATION RESPONSE TO PRECIPITATION IN HOMOGENOUS REGIONS OF BAHIA STATE (BRAZIL)

Uso de Imagens do Satélite MODIS para o estudo Desastres Naturais

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PODCAST CIÊNCIAS HUMANAS

Expansão Agrícola e Variabilidade Climática no Semi-Árido

CLIMATOLOGIA. Profª Margarida Barros. Geografia

Índice de vegetação em clone de seringueira após a desfolha anual Vegetation Index in rubber clone after the annual defoliation

LIGAÇÃO ENTRE O EL NIÑO E POSSÍVEIS PROCESSOS DE DESERTIFICAÇÃO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

A PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE ARAPIRACA/AL E OS EVENTOS EL NIÑOS/ LA NIÑAS UTILIZANDO O ÍNDICE IME.

Colégio São Paulo Geografia Prof. Eder Rubens

ESTUDO DA EXPANSÃO DO DESMATAMENTO DO BIOMA CERRADO A PARTIR DE CENAS AMOSTRAIS DOS SATÉLITES LANDSAT

Análise da Freqüência das Velocidades do Vento em Rio Grande, RS

CARACTERIZAÇÃO DOS FLUXOS DE ENERGIA NOS ECOSSISTEMAS DE FLORESTA TROPICAL, FLORESTA DE TRANSIÇÃO E PASTAGEM PELO MODELO DE BIOSFERA TERRESTRE IBIS

CAPÍTULO 11 O FENÔMENO EL NINO

Índices Teleconectivos

Fenômeno El Niño influenciará clima nos próximos meses

COLÉGIO SÃO JOSÉ PROF. JOÃO PAULO PACHECO GEOGRAFIA 1 EM 2011

Dr. Nelson Veissid Laboratório Associado de Sensores e Materiais Centro de Tecnologias Especiais - LAS/CTE/INPE São José

MAPEAMENTO DE CLASSES INTRAURBANAS NO MUNICÍPIO DE CARAGUATATUBA (SP) UTILIZANDO IMAGENS LANDSAT-5 TM E IMAGEM NDBI

Os diferentes climas do mundo

Complexo regional do Nordeste

Subtração de imagens para detecção de mudanças na cobertura vegetal da bacia hidrográfica do Rio Alegre Alegre/ES

A INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS NO LESTE DO NORDESTE DO BRASIL UTILIZANDO O MODELO RAMS

CARACTERIZAÇÃO DA VARIABILIDADE INTERANUAL DAS VAZÕES MÉDIAS MENSAIS NA AMERICA DO SUL

DINÂMICA LOCAL INTERATIVA CONTEÚDO E HABILIDADES FORTALECENDO SABERES GEOGRAFIA DESAFIO DO DIA. Aula 21.1 Conteúdo. Região Sudeste

OS CLIMAS DO BRASIL Clima é o conjunto de variações do tempo de um determinado local da superfície terrestre.

USO DA TÉCNICA DE ANALISE POR COMPONENTE PRINCIPAL NA DETECÇÃO DE MUDANÇAS NA COBERTURA DO SOLO

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE OUTORGAS DE USINA SOLAR FOTOVOLTAICA (UFV) NO BRASIL

Exercícios Tipos de Chuvas e Circulação Atmosférica

Tópicos em Meio Ambiente e Ciências Atmosféricas

INMET: CURSO DE METEOROLOGIA SINÓTICA E VARIABILIDADE CLIMÁTICA CAPÍTULO 4

ABSTRACT. Palavras-chave: Aviso Meteorologia Especial, INMET, São Paulo. 1 - INTRODUÇÃO

EXERCÍCIOS DE REVISÃO - CAP. 04-7ºS ANOS

IMAGENS DE SATÉLITE PROF. MAURO NORMANDO M. BARROS FILHO

COLÉGIO MARQUES RODRIGUES - SIMULADO

MONITORAMENTO DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE EM ÁREAS URBANAS UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS

Impacto de desmatamento na mudança climática regional via satélites

Relações entre diferentes fases da monção na América do Sul

Validação das observações feitas com o pluviômetro de garrafa PET na cidade de Belém-PA.

Transcrição:

Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 5-1 abril 23, INPE, p. 2869-2875. ANÁLISE DE NDVI NO NORDESTE BRASILEIRO POR COMPONENTES PRINCIPAIS: RESULTADOS PRELIMINARES 1 LETÍCIA PALAZZI PEREZ 1 NELSON JESUS FERREIRA YOSIO EDEMIR SHIMABUKURO 1 MARCOS ADAMI 1 1 INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Caixa Postal 515-1221-97 - São José dos Campos - SP, Brasil. (leticia, nelson, yosio, adami)@ltid.inpe.br Abstract: The purpose of this work is to diagnose the spatial patterms of vegetation coverage over northeast Brazil in a seasonal basis using principal component analysis. The analysis was done using NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) obtained from NOAA-AVHRR (National Oceanic and Atmospheric Administration - Advanced Very High Resolution Radiometer) for the period January/82- December/99. The results depict the main vegetation type of NE, and its variability as a function of the prevailing rainfall cycle, and the influence of El Niño events. Keywords: vegetation coverage, AVHRR, NE. 1. Introdução A região nordeste do Brasil está localizada na faixa tropical, aproximadamente de 1º a 18º de latitude sul, e 35º a 47º de longitude oeste, abrangendo os Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Alguns estudos sugerem a existência de pelo menos três regimes de precipitação no NE (Strang, 1972, Ratisbona, 1976, Kousky, 1979, Rao et. Al., 1993). O primeiro influencia a área mais ao norte, abrangendo principalmente o Ceará, oeste do Rio Grande do Norte e no interior da Paraíba e de Pernambuco. Este regime apresenta máximo de precipitação em março/abril e está associado principalmente ao deslocamento mais para sul da ZCIT. O segundo regime atua sobre o litoral leste do NE, desde o Rio Grande do Norte até o Estado da Bahia, com máximo em maio e junho. O terceiro regime apresenta máximos de precipitação em dezembro e janeiro e abrange a parte sul do NE, decrescendo para o norte, estando associado à incursões frontais na região. Em termos de características da superfície terrestre, a vegetação predominante no NEB é a caatinga, mas também são encontrados os seguintes domínios fitoclimáticos: a zona da mata, o agreste, os campos cerrados e a zona amazônica (IBGE, 1993). A possibilidade de monitoramento de grandes extensões territoriais em intervalos de tempo relativamente pequenos sugere que o sensoriamento remoto pode ser uma alternativa muito importante para a compreensão da dinâmica da cobertura vegetal dessa região (Almeida, 1997; Barbosa 1999; Batista et al, 1997). O presente estudo avalia os padrões variabilidade espacial e temporal do NDVI sobre o NE utilizando-se componentes principais, com base em uma serie relativamente longa de NDVI/AVHRR, recentemente disponibilizados pela NASA. 2. Dados e metodologia O conjunto de imagens de NDVI utilizado neste estudo foi produzido pelo Grupo de Estudos de Monitoramento e Modelamento do Inventário Global (GIMMS - Global 2869

Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 5-1 abril 23, INPE, p. 2869-2875. Inventory Modeling and Monitoring Study) da GSFC/NASA (Goddard Space Flight Center/National Aeronautics & Space Administration). Essas imagens são composições mensais, disponibilizadas com resolução espacial de 8 km x 8 km, na projeção Goode Interrupted Homolosine, com 128 de offset e,8 de ganho e abrange o período de 1982 a 1999 (Goddard, 1999). O NDVI é definido como sendo a razão entre a diferença da medida da reflectância nos canais do infravermelho próximo e vermelho e a soma desses canais (Rouse et al., 1974), sendo expresso por: NDVI = (ρ 2 - ρ 1)/(ρ 2 + ρ 1) onde: ρ 1 e ρ 2, representam respectivamente, os valores da reflectância na região do vermelho e infravermelho próximo do espectro eletromagnético. Os dados de entrada para o cálculo do NDVI, provenientes do GIMMS são os dados originais GAC (Global Area Coverage) com resolução inicial de 4 km. Inicialmente estes dados são organizados por continentes, e as informações relativas ao oceano são omitidas sendo eliminados os dados contaminados por nuvens, espalhamento e absorção devido à atmosfera (exceto por ozônio) e visadas fora do nadir com ângulos maiores que 25º. Os dados diários de NDVI são mapeados usando os dados de navegação do satélite e reamostrados para 8 Km x 8 km. A composição quinzenal/mensal é gerada através da seleção do valor mais alto de NDVI de cada pixel. O cálculo da ACP (Análise por Componentes Principais) envolve as seguintes etapas: obtenção da matriz de variância-covariância ou correlação; cálculo dos autovalores e autovetores; transformação linear dos conjuntos de dados, e obtenção da correlação entre os dados originais e a componentes (Haan, 1977; Wilks, 1995). Neste trabalho apresenta-se uma análise preliminar da variabilidade do NDVI, envolvendo as 4 primeiras componentes. 3. Resultados 3.1 Análise da primeira componente O padrão espacial da primeira componente (Figura 1 a) de NDVI sobre o NE está associado ao comportamento médio dessa variável, e representa 92,94% do total da variância associada. A escala de cores dessa imagem varia do verde ao preto. O verde escuro representa as regiões com valores de NDVI relativamente altos, estando associado à vegetação mais densa. O amarelo representa as regiões com pouca vegetação, e o vermelho está associado a ausência de vegetação ou água. Observa-se na figura 1 cinco grandes domínios de cobertura vegetal: a caatinga, a zona da mata, agreste, cerrado e zona amazônica. A zona da mata cobre praticamente todo a faixa litorânea tendo cerca de 2 km de largura. A porção noroeste do estado do Maranhão é coberta pela zona amazônica, enquanto que na porção sudoeste existe uma extensa área de cerrado. A caatinga domina praticamente todo o interior, existindo ainda manchas de vegetação um pouco mais densa, conhecida como agreste. A análise da variabilidade temporal dos autovetores da primeira componente (não mostrado) revela significativas alterações em anos de El Nino. 287

Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 5-1 abril 23, INPE, p. 2869-2875. 3.2 Análise da segunda componente A segunda componente (Figura 1 b) está associada com o modo verão/inverno do ciclo anual, e corresponde a 2,54% do total da variância. O padrão espacial desta componente mostra duas regiões que se destacam com comportamentos opostos: por volta de dezembro/janeiro, os valores de NDVI dominado pela caatinga no interior do NE, são maiores que os observados próximo do litoral na zona da mata, e em agosto/setembro, os valores de NDVI são maiores na zona da Mata. Em média, a série temporal destes autovetores de NDVI (Figura 2 a) indica valores positivos de novembro a maio e valores negativos de junho a outubro. Esse comportamento está associado com o regime de chuvas na região: os meses mais secos (no interior) ocorrem no período de junho/setembro (NDVI diminui), enquanto que o período chuvoso se concentra de dezembro a março (NDVI aumenta). No litoral nordeste e zona da Mata as chuvas se concentram entre maio e julho (vegetação está mais verde) e o período de seca entre outubro e dezembro. Esses resultados estão consistentes com os encontrados por Barbosa (1998), e Gurgel (21). Observa-se também que o modo verão/inverno do ciclo anual sofre alterações interanuais principalmente em anos de ENSO forte. Já na região costeira, o máximo de maio a julho está ligado à maior atividade de circulação de brisa que advecta bandas de nebulosidade para o continente e à ação de remanescentes de sistemas frontais, que se propagam ao longo da costa (Kousky, 1979; Rao et al, 1993). 3.3 Análise da terceira componente As Figuras 1 c e 2 b mostram respectivamente o padrão espacial e a série temporal dos coeficientes da terceira componente de NDVI sobre o NE. Na primeira figura, destaca-se os loadings relativamente altos de NDVI na zona semi-árida do centro norte do NE, envolvendo os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Piauí, e parte do Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pernambuco, e Bahia. Além disso, observam-se loadings negativos no litoral sul e sul da Bahia. A série temporal dos autovetores mostra que em média os máximos ocorrem por volta de abril/maio e os mínimos em novembro. Aparentemente, o padrão espacial da terceira componente mostrada, reflete o regime de chuvas das regiões norte e sul do NE. O período chuvoso no norte ocorre de fevereiro a maio, e é modulado pelo deslocamento meridional da ZCIT para latitudes mais ao sul (Hastenrath and Lamb, 1977). Outro fator que afeta o regime de chuvas desta região são os vórtices ciclônicos de altos níveis (Gan, 1982). Por outro lado, o máximo no sul do NE está associado a incursões equatoriais de sistemas frontais oriundos de latitudes médias, principalmente no final da primavera (Kousky, 1979). Do ponto de vista da variabilidade interanual observa-se que em anos de El Nino (1982/1983, 1986/1987/1988, 199/1991/1992/1993, 1994/1995, 1997/1998) o NDVI sofre significativas reduções na região centro norte do NE. 3.4 Análise da quarta componente A quarta componente (Figuras 1 d e 2 c) mostra um padrão de variabilidade dominado por loadings relativamente baixos no quadrante sudeste do NE, mas valores altos principalmente a noroeste. Este tipo de situação ocorre quando o leste do NE é dominado por condições meteorológicas estáveis (ausência de chuvas) enquanto que no setor oeste prevalesce ocorrência de chuvas. Em situações deste tipo (Figura 3), observa-se que a 2871

Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 5-1 abril 23, INPE, p. 2869-2875. radiação de ondas longas emergentes apresenta valores menores (indicativo de chuva) na Amazônia e oeste do NE e valores maiores (sem nuvens) na costa leste e áreas oceânicas adjacentes. -1478-942 663 2336 32 79 a b -492-479 -259 42 729 255 c d Figura 1. Padrão espacial de NDVI/AVHRR durante o período jan1982-dez1999: a) primeira componente, b) segunda componente, c) terceira componente, d) quarta componente. 2872

Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 5-1 abril 23, INPE, p. 2869-2875.,3,2,1 -,1 1_1982 -,2 -,3 -,4 8_1982 3_1983 1_1983 5_1984 12_1984 7_1985 2_1986 9_1986 4_1987 11_1987 6_1988 1_1989 8_1989 3_199 1_199 5_1991 12_1991 7_1992 2_1993 9_1993 (b) (a) 4_1994 11_1994 6_1995 1_1996 8_1996 3_1997 1_1997 5_1998 12_1998 7_1999,3,2,1 -,1 -,2 -,3 -,4 (c),25,2,15,1,5 -,5 -,1 -,15 -,2 Figura 2. Série temporal dos autovetores de NDVI/AVHRR, período jan1982 a dez1999: a) segunda componente, b) terceira componente e c) quarta componente. 2873

Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 5-1 abril 23, INPE, p. 2869-2875. Figura 3. Radiação de ondas longas emergentes em watts.m- 2, derivada do satélite NOAA, mês de fevereiro de 1993. Imagem fornecida por NOAA-CIRES Climate Diagnostics Center, Boulder, Colorado, na homepage http://www.cdc.noaa.gov/. 4. Conclusões Os resultados da análise por componentes principais de NDVI sobre o nordeste do Brasil, utilizando-se dados do sensor AVHRR para o período de jan1982-dez1999 revelam os tipos dominantes da cobertura vegetal associados a primeira componente. As demais componentes (2,3 e 4) mostram padrões espaciais modulados pelos distintos regimes climáticos da região, e também por eventos El Niño. Agradecimentos Os autores agradecem a Dra. Nadine Dessay, que organizou e corrigiu os dados NDVI, cedidos pela NASA. O segundo autor agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Processo Número 3486/96- pelo suporte. 5. Referências Bibliográficas Almeida, E. S. Relação entre índice de vegetação derivado do NOAA-AVHRR e precipitação na região amazônica. São José dos Campos. 9 p. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1997. Barbosa, H. A. Análise espaço temporal de índice de vegetação AVHRR/NOAA e precipitação na região nordeste do Brasil em 1982-85. São José dos Campos. 164 p. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1998. Batista, G. T.; Shimabukuro, Y. E.; Lawrence, W. T. The long-term monitoring of vegetation cover in the Amazonian region of northern Brazil using NOAA-AVHRR data. International Journal of Remote Sensing, v. 18, n. 15, p. 3195-321, Oct. 1997. Gan, M.A., Um estudo observacional sobre as baixas da alta troposfera nas latitudes subtropicais do Atlântico Sul e leste do Brasil. São José dos Campos. 82 p. Dissertação Mestrado - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1982. 2874

Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 5-1 abril 23, INPE, p. 2869-2875. Goddard Distributed Active Archive Center (DAAC). Pathfinder Advanced Very High Resolution Radiometer (AVHRR) Land FTP Data, [on line]: <http://daac.gsfc.nasa.gov/campaign_docs/ftp_site/readmes/pal.html> Jan. 21. Gurgel, H.C.,. Variabilidade espacial e temporal do NDVI sobre o Brasil e suas conexões com o clima. São José dos Campos. 82 p. Dissertação Mestrado - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2. Haan, C. T. Statistical Methods in Hydrology. Ames: Iowa State University Press, 1977. 378 p. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Recursos Naturais e Meio Ambiente: uma visão do Brasil. Sueli Sirena Cladeiron coordenadora. Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Recursos naturais e Estudos Ambientais, 1993, 154p. Hastenrath, S., Lamb, P., 1977: Climatic Atlas of the Tropical Atlantic and Eastern Pacific Oceans. University of Wisconsin Press, 113 pp. Kousky, V. E., 1979: Frontal influences on the Northeast Brazil. Mon. Wea. Rev., 17,114-1153. Rao, V. B.; De Lima, M. C. and Franchito S. H., 1993: Seasonal interannual variations of rainfall over Eastern Northeast Brazil. Journ. Climate, 6, 1754-1763. Ratisbona, C. R., 1976: The climate of Brazil. In: Climates of Central and South America, Wor. Surv. Climatology, Elsevier, 12, 219-293. Rouse, J. W.; Hass, R. H.; Deering, D. W.; Schell, J. A. Monitoring the vernal advancement and retrogradiation (green wave effect) of natural vegetation. Austin: Texas A. M. University, College Station, 1974. Strang, D. M. G., 1972: Climatological analysis of rainfall normals in Northeast Brazil. Available at the Instituto de Atividades Espaciais, São José dos Campos, SP., Brazil, I.A.E.-MD2/72. Wilks, D. S. Statistical methods in the atmospheric sciences: an introduction. California: Academic Press, 1995. 467 p. 2875