GERMINAÇÃO DO ALGODOEIRO COLORIDO IRRIGADO COM ÁGUAS SALINAS Eliezer da C. Siqueira (UFCG / eliezersiqueira@yahoo.com.br), Hans. R. Gheyi (UFCG), Napoleão. E. de M. Beltrão (Embrapa Algodão), Genival Barros Júnior (UFCG), Mário. L. F. Cavalcanti (UFCG), Frederico. A. L. Soares (UFCG). RESUMO - Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de se avaliar o efeito de 2 tipos de água em 6 diferentes níveis de salinidade, na germinação e vigor inicial do algodoeiro colorido marrom escuro (Linhagem CNPA 2002/26). O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com 12 tratamentos e 3 repetições, analisados em esquema fatorial (6x2). O trabalho foi conduzido em casa de vegetação pertencente a Embrapa Algodão em Campina Grande, usando-se vasos plásticos preenchidos com 21,17 kg de solo adubado com 5% de matéria orgânica em base de volume. As águas de irrigação foram preparadas mantendo-se a proporção equivalente em 9,5:0,5 e 6,0:4,0 de sódio e cálcio, em forma de cloretos. Antes da semeadura, todos os vasos foram previamente irrigados com as respectivas soluções. Após o plantio, as irrigações foram feitas em dias alternados. De acordo com os resultados obtidos verifica-se que houve efeito significativo apenas da salinidade da água de irrigação sobre a percentagem de germinação e para o índice de velocidade de emergência. Palavras-chave: qualidade de água, tolerância à salinidade, Gossypium hirsuntum. GERMINATION OF COTTON COLORED IRRIGATED WITH SALINE WATERS ABSTRACT The present study was conducted with the objective to evaluate the effects of 2 types of water of 6 different salinities in germination and initial vigor of the colored cotton colored (lineage CNPA 2002/26). A completely randomized experimental design with 12 treatments and 3 replications, analyzed in factorial 6x2, was adopted under greenhouse conditions belonging Embrapa Algodão in Campina Grande, using plastic pots filled out initially with 21.17 kg soil incorporating with of 5% of organic matter volume basis. Irrigation water of desired electrical conductivity was prepared maintaining 9.5:0.5 and 6.0:4.0. equivalent proportion using of sodium and calcium chlorides. Cotton was soun in previously irrigated soil with respective solution and afterwards irrigation water was applied on alternate days. The results obtained show that there was just significant effect of the salinity of the irrigation water on the germination percentage and for the index of emergency speed. Key words: water quality, tolerance to salinity, Gossypium hirsuntum. INTRODUÇÃO As sementes têm a função de perpetuação e multiplicação das espécies. É o elemento principal no estabelecimento, expansão, diversificação e desenvolvimento da agricultura. A germinação consiste de uma seqüência ordenada de atividades metabólicas que se inicia com a embebição das sementes, estabelecendo a retomada do desenvolvimento do embrião até a formação de uma plântula normal que dependendo de vários fatores, inclusive, o meio edáfico. Os efeitos dos sais na germinação decorrem de uma série de fatores que agem sobre as sementes de forma associada. Nawar et al. (1998) afirmam que além do efeito negativo da concentração dos sais sobre a germinação das sementes, o incremento na concentração de sais retarda a germinação das sementes do algodoeiro. A
salinidade, ao reduzir o potencial osmótico do meio, aumenta o tempo de embebição de água pelas sementes, ocasionando, inicialmente, o prolongamento do período de emergência da plântula e quando a redução do potencial osmótico é intensificada, ocorre inibição do processo germinativo, (BASNAYAKE et al., 1994; O LEARY, 1995). A absorção excessiva de íons como Na e Cl ocasiona diminuição da intensidade respiratória e da atividade de algumas enzimas envolvidas na germinação (AZIMOV, 1973), restringindo a obtenção de energia para o processo de divisão celular e crescimento do eixo embrionário. Assim o objetivo do presente trabalho foi avaliar a germinação e vigor inicial do algodoeiro colorido marrom (Linhagem CNPA 2002/26), irrigado com dois tipos de águas em seis diferentes níveis salinos. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi conduzido em casa de vegetação pertencente a Embrapa algodão, localizada em Campina Grande-PB, com os tratamentos consistindo de dois tipos de água com diferentes proporções equivalentes de Na e Ca (9,5:0,5 e 6,0:4,0), e seis níveis de condutividade elétrica da água de irrigação CEa (2,0, 3,5, 5,0, 6,5, 8,0 e 9,5 ds.m -1 ). O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizados, fatorialmente combinados (6x2), resultando em 12 tratamentos com três repetições, constituindo-se em 36 unidades experimentais. No preparo das águas de irrigação utilizou-se água do sistema de abastecimento local, baseando-se na relação entre condutividade elétrica da água (CEa) e concentração (mmol c L -1 = CEa x 10), extraída de Rhoades et al. (1992). As águas de irrigação foram preparadas de acordo com os níveis salinos, devidamente diluídas com água destilada e/ou acrescidas dos sais, conforme os tratamentos. Foram utilizados vasos plásticos, com 30 cm de diâmetro e 27 cm de altura, com furos na parte inferior para permitir a livre drenagem. Os recipientes foram preenchidos com 21,17 kg de solo, não salino e enriquecidos com 5% de matéria orgânica em base de volume. Inicialmente os vasos foram irrigados com a respectiva água de cada tratamento até que o substrato atingisse a capacidade de campo, em seguida fez-se o plantio semeando-se 03 sementes por vaso, a uma profundidade de 1,0 cm. As irrigações subseqüentes foram realizadas em dias alternados com as respectivas águas de cada tratamento, sendo o volume calculado em função da demanda evapotranspiratória. Efetuou-se a semeadura em 30/04/03, realizando-se contagem diária das plântulas germinadas para a obtenção da percentagem de germinação e o índice de velocidade de emergência até o décimo segundo dia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Embora tenha sido constatado efeito significativo dos tratamentos salinos (p < 0,01), Os maiores prejuízos da salinidade sobre a germinação foram constatados com a água de 9,5 ds m -1 com uma porcentagem de germinação de 49,98%, (Tab. 1). Através da análise de regressão segmentada (modelo platô) aplicada aos dados relativos da PG, em função da CEa, verifica-se que o limite de CEa (salinidade limiar - SL) a partir do qual ocorreu decréscimo da PG, foi de 3,96 ds m -1, seguido de taxa de decréscimo relativo de 13,16% por aumento unitário de CEa (Fig. 1). Para o Índice de Velocidade de Emergência (IVE), conforme Tabela 1, verificou-se efeito significativo para o fator nível salino. A linhagem estudada teve um decréscimo linear da ordem de 7,84 para cada incremento unitário na salinidade da água de irrigação, medido pela sua condutividade elétrica. Para Santos (1981), a salinidade afeta a germinação do algodoeiro de duas maneiras: a) efeito osmótico, onde o sal causa
um aumento na concentração iônica do substrato e conseqüentemente a pressão osmótica, o que resulta numa menor absorção de água pelas sementes e b) efeito tóxico, onde a presença de um ou mais íon específico em excesso na solução torna-se prejudicial à germinação das sementes. Outros pesquisadores constataram que o aumento da concentração e o tipo de sais solúveis afetaram negativamente a germinação e vigor das sementes de várias culturas e que, o sódio e o cloreto são os íons mais tóxicos na fase de germinação (DINIZ, 1979; SILVA, 1981; OLIVEIRA et al., 1998; NAWAR, 1998;). Apesar de ter havido efeito significativo da salinidade sobre a germinação e no índice de velocidade de emergência, pode-se considerar que o algodoeiro colorido é tolerante à salinidade na fase de germinação, devida tratar-se de fase inicial de desenvolvimento, quando a maioria das culturas é sensível e, também, por não haver referência na literatura, dessa linhagem de algodoeiro em relação à salinidade. Tabela 1. Resumo de ANOVA e médias para a percentagem de germinação (PG), e índice de velocidade de emergência (IVE) do algodoeiro colorido BRS verde, observadas sob diferentes níveis de salinidade e tipo de água, Campina Grande-PB,12 de maio de 2005. Causa de variância Valores de quadrados médios PG IVE Nível Salino (N) 2034,716** 0,102** Reg. Pol. Linear 26,715** 0,531** Reg. Pol. Quadr. 1,929 ns 0,002 ns Tipo (T) 30,250 ns 0,041 ns Interação (N x T) 399,916 ns 0,008 ns Resíduo 404,388 0,012 CV (%) 29,690 19,76 Valores médios 1 Nível Salino (N) Figura 1 Figura 2 Tipo de Água (Na:Ca) T 1 (9,5:0,5) 77,83 a 0.72760 a T 2 (6,0:4,0) 76,00 a 0.79551 a (**) Significativo a 0,01 de probabilidade; (*) Significativo a 0,05 de probabilidade; (ns) não significativo; pelo teste F. Obs.: médias seguidas de mesma letra na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05).
PG Relativa (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 SL = 3,96 ds m -1 y = 100-13,165(CEa - 3,96) R 2 = 0,97 2,0 3,5 5,0 6,5 8,0 9,5 CEa (ds m -1 ) Figura 1. Percentagem de germinação (PG) relativa do algodoeiro colorido CNPA 2002/26 sob diferentes níveis de salinidade de água de irrigação. 0,90 0,80 y = 0,9906-0,0671CEa** R 2 = 0,96 IVE 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 2 3,5 5 6,5 8 9,5 CEa ds m -1 Figura 2. Índice de Velocidade de Emergência (IVE) do algodoeiro colorido CNPA 2002/26 sob diferentes níveis de salinidade de água de irrigação. CONCLUSÕES 1. Na germinação o algodoeiro colorido marrom escuro CNPA 2002/26 tolera água de até 3,96 ds m -1, com decréscimos acima deste nível, na ordem de 13,16% por aumento unitário da condutividade elétrica da água de irrigação; 2. o índice de velocidade de emergência foi afetado pela salinidade, com um decréscimo unitário da ordem de 7,84 por aumento unitário da condutividade elétrica da água de irrigação; 3. a percentagem de germinação e o índice de velocidade de emergência foram afetados significativamente pelo tipo da salinidade da água; 4. Nas condições do estudo, o algodoeiro colorido marrom (CNPA 2002/26) se constitui numa linhagem tolerante a salinidade na fase de germinação.
REFERÊCIAS BIBLIOGRAFICAS AZIMOV, R. A. Effects of calcium on dehydrogenese activity in cotton seed germinated in chloride salinity. Voprozy Solensteichivast Rastenii, Tashekent Vzbek, v.1, p.181-188, 1973. BASNAYAKE, J.; COOPER, M.; LUDLOW, M. M.; HENKEU, R. G. Combining ability variation for osmotic adjustment among a selected range of grain sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench). Field Crops Research, v. 38, p.147-155, 1994. DINIZ, A. F. Efeito da salinidade na germinação e vigor da semente de algodão herbáceo (Gossypium hirsutum L.). Fortaleza: UFC, 1979. 89 p. (Dissertação de Mestrado). NAWAR, M. T.; ZAHER, A. M.; EL-SAHHAR, K.; ABDEL-RAHIM, S. A. Effect of salinity on botanical characters and fiber maturity of three Egyptian cotton cultivars. In: WORLD COTTON RESEARCH CONFERENCE, 2, 1998, Atenas. Proceedings... Atenas: ICAC, 1998. p. 272 277. O LEARY, J. W. Adaptive components of salt tolerance. In: Pessarakli, M. (Ed.). Handbook of plant and crop physiology. New York: Marcel Dekker, 1995. p. 577-585. OLIVEIRA, F. A. de; CAMPOS, T. G. da S.; OLIVEIRA, B. C. Efeito de substratos salinos na germinação, vigor e no desenvolvimento do algodoeiro herbáceo. Engenharia Agrícola. v. 18, n. 2, p. 1-10, 1998. SANTOS, J. A. S. Efeito da temperatura, pré-embebição e salinidade na germinação e vigor de sementes de algodão (Gossypium hirsutum). Campina Grande: UFPB. 1981. 91p. (Dissertação de Mestrado). SILVA, M. da S. Efeitos de diferentes pré-tratamentos de sementes na germinação, desenvolvimento e produção do algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) em meio salino. Campina Grande: UFPB. 1981. 84p. (Dissertação de Mestrado). RHOADES, J. D.; KANDIAH, A.; MASHAL, A. M. The use of saline water for crop production, Rome: FAO. 1992. 133 p. (Irrigation and Drainage Paper, 48).