PARECER Nº, DE 2008 Da COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E CIDADANIA, sobre o Projeto de Lei do Senado nº 370, de 2008, do senador Papaléo Paes, que altera o Código Penal, para incluir o crime de induzir pessoa não maior de quatorze anos a presenciar ato de libidinagem. RELATOR: Senador ANTONIO CARLOS VALADARES I RELATÓRIO Trata-se do Projeto de Lei do Senado nº 370, que pretende alterar o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 dezembro de 1940, Código Penal (CP), para incluir o crime de induzir pessoa não maior de quatorze anos a presenciar ato de libidinagem. O autor, ilustre Senador Papaléo Paes, justifica que a tipificação do art. 218 do CP não tem alcançado a conduta de induzir a pessoa não maior de quatorze anos a presenciar ato de libidinagem, porque a corrupção de menores não possui elementos do crime de atentado violento ao pudor, para o qual a conduta deveria ser desclassificada, tendo em vista a presunção de violência, constante do art. 224 do mesmo Código. Traz ainda a opinião de Heleno Fragoso, que, citando Magalhães Noronha, explana que, sem dúvida, a prática de atos de libidinagem com menor de 14 anos será atentado violento ao pudor, em face da presunção de violência; todavia, na forma de induzir o menor a presenciar atos de libidinagem, a conduta será impunível, se se tratar de menor de 14 anos. Salienta, enfim, que a pena de seis a dez anos de reclusão proposta vem guardar isonomia e proporcionalidade com a gravidade do crime de atentado violento ao pudor.
2 No prazo regimental não foram oferecidas emendas. II ANÁLISE O art. 227, 4º, da Constituição Federal determina que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão ; e que a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. O CP, por outro lado, determina no seu art. 224, a, como disposição geral dos crimes contra os costumes, que se presume a violência se a vítima não é maior de 14 anos. Desse modo, o crime de corrupção de menores, que consta do art. 218 do CP, será desclassificado para os crimes de estupro (art. 213, CP) ou atentado violento ao pudor (art. 214, CP), se houver cópula ou não, com pessoa não maior de 14 anos, incidindo o agente nas penas de seis a dez anos de reclusão. Entretanto, é certo que a corrupção de menores não encontra apoio na presunção de inocência da pessoa não maior 14 anos, quando tratarse de induzir esse menor a presenciar ato de libidinagem, porque a tipificidade dessa conduta não integra a tipificidade dos crimes de estupro ou atentado violento ao pudor. A conduta que se realiza no mundo concreto, para ser considerada relevante perante o ordenamento jurídico-penal, tem que encontrar exata correspondência ao fato que a lei penal descreve como crime, ou seja, deve a conduta subsumir-se ao tipo, ao modelo legal de crime contido na norma penal incriminadora. Assim, o art. 1º, ab initio, do CP determina que não existe crime, sem lei anterior que o defina. Convém salientar, também, que não existe conduta sem vontade, sem finalidade. Se o conteúdo volitivo for típico, temos o dolo, elemento subjetivo do tipo penal (art. 18, CP).
3 O elemento dolo integra o tipo penal, envolvendo a consciência e a vontade do agente de cometer o fato típico. A correta tipicidade, de que o elemento subjetivo do dolo - vontade de cometer o fato típico - é integrante, é indispensável à configuração e classificação do delito. Destarte, o citado PLS nº 370, de 2008, vem a suprir a lacuna do tipo penal do art. 218 do CP, complementando a sua tipificação, para que a conduta de corrupção de menores, induzindo pessoa não maior de 14 anos a presenciar ato de libidinagem seja considerada crime grave, assim como o estupro e o atentado violento ao pudor. Ainda, é preciso destacar que o legislador está vinculado ao sistema jurídico, devendo respeitar o princípio da proporcionalidade, ao cominar a pena de crimes, graduando a valoração das condutas proibidas, a fim de que os delitos mais graves sejam mais rigorosamente punidos do que os menos graves. Entendemos, portanto, que o PLS nº 370, de 2008, ao pretender cominar pena de seis a dez anos de reclusão ao novo delito tipificado, guarda harmonia com a gravidade da conduta de abuso sexual cometido contra criança e adolescente, que exige punição severa. O projeto sob exame é jurídico e constitucional, porquanto a matéria trata de direito penal, cuja competência para legislar é do Congresso Nacional, de acordo com os arts. 22, I, e 48, ambos da Constituição Federal. A proposição merece, contudo, o oferecimento de substitutivo, a fim de aperfeiçoá-lo, abrangendo uma análise mais completa da corrupção de menor, com o aumento da pena máxima da forma qualificada dos crimes contra os costumes, se do fato resulta morte. Por oportuno, incluímos no substitutivo alteração da Lei de Execução Penal, no que tange ao uso de tornozeleira ou pulseira eletrônica, ou qualquer outro meio de monitoramento, pelo condenado, que tenha cometido crime contra os costumes contra pessoa não maior de 18 (dezoito) anos ou crime tipificado no Estatuto da Criança e do Adolescente, cuja pena máxima cominada seja superior a dois anos, quando estiver sujeito ao regime semiaberto ou aberto.
4 III VOTO Diante do exposto, opinamos pela aprovação do Projeto de Lei do Senado nº 370, de 2008, mediante o seguinte substitutivo: PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 370 (SUBSTITUTIVO), DE 2008 Altera o Código Penal, para tipificar a corrupção de menores qualificada e aumentar a pena da forma qualificada dos crimes contra os costumes, e a Lei de Execução Penal, para determinar o uso de tornozeleira ou pulseira eletrônica. O CONGRESSO NACIONAL decreta: Art. 1º Os arts. 218 e 223 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação: Art. 218.... Corrupção de menores qualificada Parágrafo único: Se a corrupção ou a facilitação de corrupção de menor for cometida, induzindo pessoa não maior de 14 (quatorze) anos a presenciar ato de libidinagem: Pena reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (NR)... Art. 223.... Parágrafo único. Se do fato resulta morte: Pena reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (NR) Art. 2º O art. 39 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, Lei de Execução Penal, passa a viger com a seguinte redação: Art. 39.... XI uso de tornozeleira ou pulseira eletrônica ou qualquer outro meio de monitoramento, quando estiver sujeito ao regime semi-aberto
5 ou aberto, tendo cometido crime contra os costumes contra pessoa não maior de 18 (dezoito) anos ou crime tipificado no Estatuto da Criança e do Adolescente, cuja pena máxima cominada seja superior a dois anos....(nr) Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Sala da Comissão,, Presidente, Relator