Arquitetura e Participação do Usuário. Antonio Pedro Alves de Carvalho

Documentos relacionados
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO VILLAGE CAMPESTRE II, MACEIÓ-AL. Jéssica Muniz Costa/UFAL

Política de Segurança da Informação CGEE

9 Conclusões e Trabalhos Futuros

CINEMAN.ULTRA. Manual de usuário

3ª Aula. Processo de Projeto em SE Exemplo de projeto: Sistema de Mapa GPS. Introdução. PSI3441 Arquitetura de Sistemas Embarcados

Padrões contexto problema solução

Análise e projeto de sistemas

Israel 1994 mundo 2004 Brasil 2006

Aula 8 A coleta de dados na Pesquisa Social

Informação para Relatório da Qualidade do Serviço de Empréstimo Interbibliotecas (EIB): 2018

1º SEMINÁRIO DE REPRESENTANTES DO SISTEMA CONFEA/CREA ANÁLISE DE PROJETOS DE LEI BRASÍLIA-DF 14 DE MARÇO DE 2012

ARCHITECTURAL DESIGN. Ian Sommerville, 8º edição Capítulo 11 Aula de Luiz Eduardo Guarino de Vasconcelos

PARTICIPAÇÃO DE PARTES INTERESSADAS. GIRH para Organizações de Bacias Hidrográficas

Departamento de Matemática e Ciências Experimentais Escola E.B. 2,3 Dr. António Chora Barroso. Matemática 6º ano. Planificação a Longo Prazo

ANÁLISE DE COMPLEXIDADE DOS ALGORITMOS

I Jornada Científica de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo EDITAL DE ABERTURA PARA ENVIOS DOS ARTIGOS

5 Processo de Reificação e de Desenvolvimento com ACCA

Centro Universitário Estácio/FIC Curso de Arquitetura e Urbanismo Unidade Via Corpvs SEMINÁRIOS INTEGRADOS EM ARQUITETURA E URBANISMO CCE0736

4º ANO DE ESCOLARIDADE

Arquigrafia: um repositório digital de imagens em ambiente colaborativo web

Interface Humano- Computador (IHC) Prof. Dr. Ronaldo Barbosa

GESTÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

OBJETIVOS GERAIS DESCRITORES DE DESEMPENHO CONTEÚDOS ATIVIDADES RECURSOS. Breve história da representação da perspetiva.

Plano de Estudos. Código Nome Área Cientifica ECTS Duração Horas Design 9 Semestral 234

Prefeitura Municipal de Porto Feliz Rua Adhemar de Barros, 340, Centro Porto Feliz/SP CEP: Telefone: (15)

ESCOLA SECUNDÁRIA DE AMORA. PLANIFICAÇÃO A LONGO/MÉDIO PRAZO - Ano Letivo 2014 / 2015 CURSOS DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO TIPO 2 2.º ANO

Agentes Inteligentes. Qualquer coisa que pode: 1. Perceber seu ambiente através de sensores e

UNISALESIANO Curso de Arquitetura e Urbanismo Projeto Arquitetônico Interdisciplinar I

PIT PROJETO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E A NORMALIZAÇÃO

PLANO DIRETOR: INSTRUMENTO REGULADOR DE FUNÇÃO SOCIAL 1

OFICINAS DO PLANO DIRETOR DA UNILA INTRODUÇÃO

Sistemas Multi-agentes

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA BASE DE PESQUISA ESTUDOS DO HABITAT - GRUPO DE ESTUDOS EM HABITAÇÃO ARQUITETURA E URBANISMO GEHAU

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CONSELHO UNIVERSITÁRIO SECRETARIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS DELIBERAÇÃO N.º 19, DE 29 DE MARÇO DE 2012

Inteligência Artificial. Prof. Tiago A. E. Ferreira Aula 4 Tipos de Agentes Inteligentes Racionais e Ambientes

A CONSTRUÇÃO DA CIDADE

REGULAMENTO DAS SUBUNIDADES ÁREAS CIENTÍFICAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI - CCO/ UFSJ MEDICINA PLANILHA GERAL - PRÁTICA DE INTEGRAÇÃO: ENSINO, SERVIÇO E COMUNIDADE IV

CAPÍTULO 3. O PROCESSO

Agentes Inteligentes. CAPÍTULO 2 - Russell

Coordenação de Projetos. Antonio Pedro Alves de Carvalho

Introdução à Interface Pessoa-Máquina

NÚCLEO DE ORIENTAÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE

Introdução a UML (Unified Modeling Language)

Arquitetura de Computadores. Tiago Alves de Oliveira

Computação Distribuída

DIREÇÃO-GERAL DE ESTABELECIMENTOS ESCOLARES - DIREÇÃO DE SERVIÇOS DA REGIÃO ALENTEJO AGRUPAMENTOS DE ESCOLAS DE ARRAIOLOS

PLANIFICAÇÃO ANUAL. 1. Introdução à Programação e Algoritmia. Tempos letivos previstos (45) Período escolar

Projeto de software Estrutura do software e arquitetura SWEBOK

GESTÃO ESCOLAR: NOVOS DESAFIOS. Profa. Myrtes Alonso

Figura 45: Modelo de epígrafe Figura 46: Modelo de resumo em língua vernácula Figura 47: Modelo de resumo em língua estrangeira...

Requisitos de Software e UML Básico. Janaína Horácio

Sistemas Operacionais

Universidade Federal do Amazonas. Biblioteca Central BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÕES (BDTD/UFAM) Manual de Autodepósito

OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO TERRITORIAL EM PORTUGAL: uma perspectiva histórica

Ana Silva (2003) Análise do Software Poly Pro Programa de Geometria Dinâmica

RESOLUÇÃO - IMTec 01/2016

Planificação de atividade TIC

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular PROJECTO I Ano Lectivo 2016/2017

Estruturação do Novo PDI UFOP

Câmpus de Bauru. Plano de Ensino. Disciplina A - Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo II: Composição e Forma

Ciências da Informação e da Documentação e Biblioteconomia. LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS Construção de Tesauros Disciplina

Planificação de Matemática 9º ano. Ano letivo: 2014/15

Conselhos de Saúde (participação social) Teleconsultora Enfermeira Mabel Magagnin Possamai

Requisitos de sistemas

ATO Nº 61. Dispõe sobre a conceituação de Projeto Básico em Consultoria de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.

Atelier Prático de Projetos de Iluminação Residencial

Síntese da Planificação da Disciplina de Matemática 6.º Ano

Transformações urbanas: Instrumentos para a melhoria urbana

Síntese da Planificação da Disciplina de Matemática - 6º Ano

ESCOLA SECUNDÁRIA DE AMORA PLANIFICAÇÃO A LONGO/MÉDIO PRAZO

POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INFANTIL FRENTE AOS DESAFIOS DA BNCCEI. Rita Coelho

o modo artesanal o modo do desenho o modo das simulações

PROPOSTA DE UM WORKFLOW E MAPAS CONCEITUAIS DE ENSINO APRENDIZAGEM DOS DIAGRAMAS DA UNIFIED MODELING LANGUAGE (UML) RESUMO

CONTANDO RELAÇÕES E FUNÇÕES

Professora: Susana Costa

Eficiência e Sustentabilidade

Processo de Desenvolvimento de Software

Gestão da Tecnologia da Informação

Aula 6 - Análise de Requisitos: Especificação de Requisitos. Análise de Sistemas Prof. Filipe Arantes Fernandes

Matriz da Prova Global do Agrupamento. Matemática - 6.º Ano. Agrupamento de Escolas Silves Sul. Direção de Serviços Região Algarve

Plano Curricular de Matemática 6ºAno - 2º Ciclo

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

Planificação anual e metas curriculares da Disciplina de Educação Visual. 3ºciclo 8º ano 2017/2018

O uso do BIM em projetos de estações ferroviárias Experiência na prática - CPTM

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA E CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS - Grupo 500. Planificação Anual /Critérios de avaliação. Disciplina: MACS 11º ano 2014/2015

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE SAMORA CORREIA ESCOLA BÁSICA PROF. JOÃO FERNANDES PRATAS ESCOLA BÁSICA DE PORTO ALTO

01) Julgue os itens abaixo em Certos (C) ou Errados (E), corrigindo os errados: 35 a) 50. b) 2 = 12. m = é igual a

Consulta Pública da ERS n.º 1/2018. Projeto de Regulamento para Transferências de Utentes entre Estabelecimentos Prestadores de Cuidados de Saúde

Planificação Anual Matemática 7º Ano

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS MATEMÁTICA_6º ANO_A. Ano Letivo: 2014/ Introdução / Finalidades. Metas de aprendizagem

ENGENHARIA SIMULTÂNEA DE SISTEMAS: ESTUDO DE CASO DO DESENVOLVIMENTO DE UM AUTOMÓVEL "VERDE"

ENGENHARIA DE SOFTWARE. Introdução

Inteligência Artificial - IA. Agentes Inteligentes Cont.

Trabalho de rede entre os serviços voltados à proteção dos direitos da criança e do adolescente acolhidos institucionalmente.

Constituição Federal/1988

Princípios e Diretrizes Sistema Único de Saúde

A ESCOLA NA CIDADE QUE EDUCA. A Geografia Levada a Sério

ENTREVISTAS DE HISTÓRIA DE VIDA INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO NO CAMPO SOCIAL REGINA C. FIORATI

Transcrição:

Arquitetura e Participação do Usuário Antonio Pedro Alves de Carvalho

Arquitetura e Participação O tema da participação do usuário no projeto de arquitetura é recorrente. A formação dos arquitetos, no entanto, concede pouca importância ao assunto. Como maiores dificuldades para o aumento da participação, pode ser apontado: Comunicação difícil (linguagem) Tempo e custos Opacidade do processo de projeto

Arquitetura e Participação Defende-se, no entanto, que a participação plena do usuário pode conceder uma usabilidade sustentável ao edifício, que, desta forma, atenderá melhor sua função. Na década de 1960, Kevin Linch e Christopher Alexander deram importante contribuição ao debate.

O MÉTODO DE ALEXANDER O criador: arquiteto e matemático austríaco, naturalizado americano, com interesses no processo de comunicação entre o proprietário (e suas necessidades) e o projetista. Processo idealizado em 1964, com a publicação da tese de doutorado: Ensaio sobre a Síntese da Forma Tese: a complexidade do sistema constituinte de um projeto está fora do alcance cognitivo humano e é trabalho que usa a forma intuitiva do conhecimento Modo tradicional de solução: análise do Contexto e criação da Forma Contexto: dados constantes Forma: parte variável ou manipulável Proposta: processo de criação antecedido por uma determinação de subsistemas, cujas variáveis formam um número de inter-conexões estritamente necessários para que o sistema se adapte em tempo hábil Criação de uma Autonomia Ativa no processo

O MÉTODO DE ALEXANDER Deve seguir seis princípios: 1. Ordem orgânica: permite o todo emergir gradualmente a partir de atos locais 2. Participação: todas as decisões sobre o que há de construir, e sobre como, nas mãos dos usuários 3. Crescimento em pequenas doses: a construção empreendida dentro de etapas pressuporia projetos os menores possíveis 4. Padrões: a construção e projeto devem guiar-se através de uma coleção de princípios de planificação comunitária, chamados padrões 5. Diagnosis: o bem estar do todo deve ser garantido por um diagnóstico anual, expressando com detalhes o papel de cada espaço na história da comunidade 6. Coordenação: a emergência de uma ordem orgânica deve estar garantida por um processo único Uma ordem orgânica autêntica unicamente pode encontrar-se através de uma anarquia responsável

Ordem Orgânica Um plano geral não pode criar um todo. Pode criar uma totalidade, mas não um todo. Um plano geral indica espaços em branco a serem ocupados uma ordem totalitária (é impossível fixar hoje o que o meio ambiente há de ser no futuro) A comunidade deve eleger sua ordem não a partir de um mapa que fixe seu futuro, mas a partir de uma linguagem comum A ordem orgânica equilibra as partes individuais e o todo.

Ordem Orgânica RUA EM CANTERBURY, INGLATERRA

Participação Menor participação: mero cliente do arquiteto Maior participação: construção do seu próprio meio O tempo que o grupo de usuários necessita para projetar é legítimo e essencial ao seu trabalho diário Esse tipo de participação não pode funcionar quando os projetos são muito grandes

Participação

Crescimento em pequenas doses O crescimento por grandes etapas depende de uma visão descontínua e estática do meio ambiente O crescimento em pequenas doses depende de uma visão dinâmica e contínua Em grandes projetos os erros são manifestos nos primeiros anos de uso Recursos devem ser distribuídos durante o tempo

Crescimento em pequenas doses PALÁCIO EM SIENA, ITÁLIA

Padrões Fixar regras e tipologias Intermediação entre contexto e forma Formas abstratas mas entendidas por todos cada projeto tem a sua eleição de um vocabulário básico que ajude a comunicação entre os usuários e entre os usuários e arquitetos

PROCESSO TRADICIONAL PARA SÍNTESE DA FORMA

PAPEL DE INTERMEDIAÇÃO DOS PADRÕES

PAPEL DE INTERMEDIAÇÃO DOS PADRÕES

PAPEL DE INTERMEDIAÇÃO DOS PADRÕES

Diagnóstico Mapa diagnóstico anual Exposição pública e discussão coletiva Aprovação formal Junta de planificação permanente Um modo intemporal de construir

Coordenação Projetos ordenados por prioridades Junta de planificação Decisões públicas Transparência no planejamento Ordem subjacente vinda dos padrões

Sugestões Práticas Eleger um comitê de planificação com representantes da administração e usuários (determinar uma proporção) Projetos devem ser iniciados pelos usuários Ex: Comitê da Universidade do Oregon: 9 estudantes, 5 professores, 4 funcionários O ideal, no entanto, é de 8 participantes Minimizar o número de padrões

Referências Básicas de Alexander Ensaio sobre a síntese da forma (1964) Uma linguagem de padrões (1977) O modo intemporal de construir (1979) Urbanismo e participação (1987)