Aclimatização de mudas micropropagadas de violeta africana em diferentes substratos Cícero Pereira Cordão Terceiro Neto 1 ; Fred Carvalho Bezerra 2 ; Fernando Felipe Ferreyra Hernandez 1 ; José Vagner Silva 1 ; Francisco Reinaldo Rodrigues Leal 1 1- Dept. de Solos do CCA da Universidade Federal do Ceará, 60.021-970, Fortaleza, CE 2- Embrapa 2 Embrapa Agroindústria Tropical, CP 3761, 60.511-110, Fortaleza, CE, fred@cnpat.embrapa.br RESUMO O estudo teve como objetivo testar o efeito de nove substratos sobre a aclimatação de mudas micropropagadas de violeta africana. As mudas foram provenientes de cultura de tecidos e transplantadas para bandejas de 63 células (40ml/célula). Aos 60 após o transplante foram avaliadas as variáveis matéria fresca da parte aérea e parte aérea + raiz, matéria seca da parte aérea + raiz, diâmetro da copa e número de folhas. Os melhores resultados para todas a variáveis foram observados naquelas mudas aclimatadas nos substratos comerciais plantagro e bioplant, seguidos pelos substratos pó de coco seco e vermiculita. Palavras chaves: Saintpaulia ionantha Wendl, micropropagação, floricultura ABSTRACT Aclimatization of micropropagated african violet seedlings in different substrates The objective of this study was to test the effect of nine substrates on aclimatization of african violet. The seedlings from tissue culture were transplanted in plastic trays containing 63 cells (40ml/cell). The fresh weight of the shoots and of shoots + roots, dry weight of shoots + roots, shoot diameter and leaf number were evaluated in 60 days old seedlings. The best results for all parameters were observed by seedlings grown in commercial plantagro and bioplant substrates, followed by those from dry coir dust and vermiculite. Key Words; Saintpaulia ionantha Wendl, micropropagation, floriculture A produção de flores e plantas ornamentais constitui uma atividade altamente promissora, porém, para que essa atividade traga benefícios satisfatórios para o produtor, é necessário o uso de tecnologias avançadas. A violeta africana (Saintpaulia ionantha Wendl) é uma dais plantas de interior mais populares e tem apresentado nos últimos anos uma demanda crescente. 1
Uma etapa importante na produção de flores e plantas ornamentais está relacionada à utilização de mudas de qualidade. Neste contexto, a produção de mudas através da micropropagação, surge como uma alternativa viável para obtenção de mudas em escala comercial com alta qualidade genética e fitossanitária, em um curto espaço de tempo, atendendo desta forma, as necessidades dos produtores. A aclimatização constitui uma etapa fundamental na produção de mudas obtidas por cultura de tecidos, uma vez que, as condições de cultura in vitro modificam características bioquímicas, anatômicas e morfológicas das plantas, alterando os processos fisiológicos normais (Lucas et al., 2002). Na fase de aclimatação, as mudas são retiradas do meio de cultivo e transferidas para recipientes contendo substratos. Esses substratos podem influenciar as respostas das mudas através de suas características químicas, físicas e biológicas (Gonçalves, 1995). A escolha e o manejo correto dos mesmos é de suma importância para a obtenção de mudas de qualidade. Esse trabalho teve como objetivo estudar a influência de diferentes substratos sobre a aclimatização de mudas micropropagadas de violeta africana. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação no Departamento de Ciências do Solo da UFC. As mudas utilizadas foram propagadas no Laboratório de cultura de tecidos do Departamento de Fitotecnia da UFC em meio de cultura MS (Murashige e Skoog, 1962), a partir de plantas adquiridas no comércio local. Para a realização da aclimatação, mudas com 2,5cm foram retiradas dos frascos e, após lavagem das raízes em água corrente para retirar todo o meio de cultura aderido às mesmas, foram colocadas em bandejas de 63 células (40ml/célula), contendo os substratos descritos abaixo: S1= Pó de coco seco (PCS) S2= Substrato comercial Bioplant (B) S3= Substrato comercial Plantagro (P) S4= Vermiculita (V) S5= Palha de carnaúba (PC) S6= Pó de coco verde (PCV) S7= Palha de carnaúba + pó de coco seco 1:1 (PC + PCS) S8= Pó de coco verde + casca de arroz 3:1 (PCV + CA) S9= Palha de carnaúba + pó de coco seco + casca de arroz 1,5 : 1,5 : 1 (PC + PCS + CA)
As mudas foram irrigadas uma vez ao dia por submersão das bandejas, sendo que a cada 3 dias essa submersão era feita com solução nutritiva de Murashige & Skoog (1962), diluída 1:100, e outros dias com água de poço. Após 60 dias de cultivo, as mudas foram avaliadas quanto as seguintes variáveis: peso da matéria fresca da parte aérea (MFPA; g/muda), peso da matéria fresca da parte aérea + raiz (MFPAR; g/muda); peso da matéria seca da parte aérea + raiz (MSPAR; g/muda); número de folhas/muda (NF) e diâmetro maior da parte aérea (D; cm). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com nove tratamentos (substratos), 3 repetições e 10 plantas por repetição, totalizando 270 plantas. Os dados foram submetidos à análise de variância através do teste F, e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO De uma maneira geral, os melhores resultados para todas a variáveis foram observados naquelas mudas aclimatadas nos substratos comerciais plantagro e bioplant, seguidos pelo pó de coco seco e vermiculita (Tabela 1). Tabela 1 Valores médios do peso da matéria fresca da parte aérea, peso da matéria fresca da parte aérea + raiz, peso da matéria seca da parte aérea + raiz, diâmetro da parte aérea e número de folhas/muda de mudas de violeta africana micropropagadas aclimatadas em diferentes substratos. Fortaleza, 2004. Substratos MFPAR MSPAR MFPA D (cm) PCS 5,52 b 0,19 b 5,24 b 5,67 b 8,27 a B 6,17 ab 0,20 ab 5,66 b 6,41 a 8,50 a P 6,99 a 0,22 a 6,56 a 6,51 a 8,93 a V 5,71 b 0,18 b 5,11 b 5,60 b 6,37b PC 3,59 c 0,12 c 3,38 c 3,93 c 4,67 c PCV 2,25 e 0,07 e 2,09 e 2,95 d 3,73 c PC + PCS 3,44 cd 0,11 cd 3,14 cd 3,21 d 4,47 c PCV + CA 2,68 de 0,09 de 2,48 de 3,39 cd 4,17 c PC + PCS + 2,03 e 0,06 e 1,88 e 2,83 d 3,83 c CA Medias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. PCS= pó de coco seco; B= bioplant; P= plantagro; V= vermiculita; PC= palha de carnaúba; PCV= pó de coco verde; PC + PCS= palha de carnaúba + pó de coco seco; PCV + CA= pó de coco verde + casca de arroz; PC + PCS + CA = palha de carnaúba + pó de coco seco + casca de arroz. NF
Tal desempenho pode estar associado as características desses substratos, que proporcionaram condições favoráveis para o melhor desenvolvimento das mudas. Estudos de Bianchini e Pântano (1991), com violeta africana, mostraram que o substrato ideal para o cultivo desta espécie deve ser poroso, bem drenado e rico em matéria orgânica. Os demais substratos apresentaram resultados semelhantes, sendo que a mistura composta por C+PCS+CA obteve os piores resultados para todas as variáveis analisadas. Os resultados obtidos nesse trabalho foram inferiores aos encontrados por Ferreira et al. (2001), também avaliando a aclimatação de violeta africana em diversos substratos. Essa diferença pode estar relacionada ao tamanho do recipiente usado por esses pesquisadores, que foi um com capacidade de 200ml, enquanto que no presente trabalho foi usado bandeja com células com 40 ml/célula. O tamanho do recipiente tem grande influência no desenvolvimento de mudas. Trabalho de Marsh e Paul (1988) mostram a influência de tamanho do recipiente na produção de mudas de couve. O tamanho do recipiente deve proporcionar um bom desenvolvimento do sistema radicular, o qual é conseguido quando se usa recipientes com maior tamanho, pois esses permitem que as raízes tenham maior quantidade de substrato ao seu dispor e consequentemente maior quantidade de nutrientes. Outros fatores como temperatura e umidade do ambiente em que as plantas são cultivadas, tem grande influência no desenvolvimento das mudas. Maciel (2000), destaca a importância desses fatores na fase de aclimatização. No presente trabalho a temperatura média e umidade do ambiente foram respectivamente, 31,5 o C e 58,5%, diferentes daqueles encontrados por Xu (1984), trabalhando com mudas de violetas africana durante a fase de aclimatização, com temperatura entre 20 o C 26 o C e alta umidade relativa. Esse autor encontrou valores superiores àqueles encontrados no presente trabalho para as variáveis avaliadas. LITERATURA CITADA BIANCHINI, F.; PANTANO, A.C. Tudo verde: Guia de Plantas e Flores. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1991. 135 p. FERREIRA, I.T.; SOUZA, J.A. de; ROCHA, M.T.R. da; VIÉGAS, J.; SILVA, J.B. da. Violetasafricanas micropropagadas: cultivo em diversos substratos. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental, Campinas, v.7, n.2, p. 117 127, 2001. GONÇALVES, A.L. Recipientes, embalagens e acondicionamento de mudas de plantas ornamentais. In: MINAMI, K. (Ed.) Produção de mudas de alta qualidade em horticultura. São Paulo: T.A Queiroz, 1995. 18p.
LUCAS, M.A.K.; SAMPAIO, N.V.; KOHN, E.T.; SOARES, P.F.; SAMPAIO, T.G. Avaliação de diferentes composições de substratos para a aclimatação de mudas de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch). Revista Cientifica. Rural, Bagé, v.8, n.1, p. 16-23, 2002.v MACIEL, A.L.R.; SILVA, A.B.; PASQUAL, M. Aclimatação de plantas de violeta africana (Saintpaulia ionantha Wendl.) obtidas in vitro : efeitos do substrato. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.24, n.1, p. 9-12, jan/mar., 2000. MARSH, D.B; PAUL, K.B. Influence of container type and cell size on cabbage transplant development and field performance. HortScience, Alexandria, v. 23, n. 200/201, p. 310 311, 1988. MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and bioassays with tobacco tissue culture. Physiologia Plantarum, Kopenhagen., v.15, p. 473 497. 1962 XU, L.Q. The promotive effects of ginseng on rapid clonal in vitro propagation of African Violet (Saintpaulia ionantha Wendl.). Acta Botanica Sinica. Peking, v.26, n.2, p. 489-498, Fev. 1984.