fls. 318 Registro: 2015.0000393579 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1086920-63.2014.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante MADRID INVESTIMENTOS IMOBILIÁRIOS SPE LTDA, são apelados PAULA FERNANDA QUIGNOLI DIAS e CLAYTON PEREIRA SOBRINHO. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIS MARIO GALBETTI (Presidente sem voto), MIGUEL BRANDI E LUIZ ANTONIO COSTA. São Paulo, 9 de junho de 2015. Ramon Mateo Júnior Relator Assinatura Eletrônica
fls. 319 Voto nº 6534 Apelação nº 1086920-63.2014.8.26.0100 Apelantes: Madrid Investimentos Imobiliários SPE Ltda. Apelados: Paula Fernanda Quignoli Dias e Outro Comarca: São Paulo Juiz Sentenciante: Renato Acacio de Azevedo Borsanelli COMPRA E VENDA - Rescisão contratual Legitimidade passiva da ré para a condenação de taxa de SATI Ilegalidade na cobrança de referido numerário Rescisão por culpa exclusiva da apelante, que deixou de cumprir o cronograma da obra Desfazimento da avença que importa em restituição das partes ao status quo ante Devolução do valor integral despendido pelos autores Apelo desprovido. Paula Fernanda Quignoli Dias e Clayton Pereira Sobrinho Dias ajuizaram ação de rescisão contratual em face de Madrid Investimentos Imobiliários SPE Ltda. (TECNISA). Adquiriram o apartamento n. 18 do Condomínio Flex Suzano em 01/9/2011, por R$ 169.400,00, cujo prazo para conclusão, já incluídos os 180 dias de tolerância, era setembro/2013. Aduzem que a cobrança de R$ 5.600,00, de comissão de corretagem, e de R$ 650,00, da taxa SATI, é indevida. Acrescentam que, como houve atraso da obra, perderam o interesse na aquisição do imóvel, e que, à época, já haviam quitado o montante de R$ 57.191,76, além da comissão de corretagem e taxa SATI. Afirmam que desde junho/2014 tentam obter distrato amigável perante a ré. Esta se propôs a devolver apenas 80% dos valores pagos, sem ressarcimento da comissão de corretagem e da taxa SATI. Pleiteiam seja rescindido o contrato, bem como o ressarcimento integral da quantia Apelação nº 1086920-63.2014.8.26.0100 -Voto nº 6534 2
fls. 320 despendida. A ação foi julgada parcialmente procedente, nos termos da sentença de fls.260/262, declarada a fls. 269, para condenar a ré ao ressarcimento do valor integral pago, descontada a quantia concernente à comissão de corretagem, totalizando R$ 57.841,76. Apela a ré. Em preliminar, alega não ser parte legítima para restituir valores que não recebeu (taxa SATI). Quanto ao mérito, assinala ser descabida a restituição integral das quantias desembolsadas pelos autores, devendo der aplicado o teor das cláusulas. 6.3, 6.3.1 e 6.3.2, cuja declaração de nulidade não foi requerida pelos autores, os quais, ainda, não alegaram vício de vontade. Ressalta ser válido o contrato. Efetuado o preparo, o recurso foi processado e contrariado. É o relatório. De ilegitimidade passiva ad causam não há falar. Não há celeuma quanto à aplicação do Código de Defesa do Consumidor no contrato de compra e venda de imóveis. Caracterizada a relação de consumo, deve ser reconhecida a solidariedade entre todos os envolvidos na cadeia de fornecedores. Consoante redação do parágrafo único do artigo 7º do Código de Defesa do Consumidor, tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos Apelação nº 1086920-63.2014.8.26.0100 -Voto nº 6534 3
fls. 321 danos previstos nas normas de consumo. A empresa E.G. Empreendimentos Imobiliários Ltda. foi contratada pela ré, motivo pelo qual manifesta a pertinência subjetiva passiva. Aliás, bem esclareceu o douto desembargador Vito Guglielmi (Apelação Cível n. 0214281-85.2001.8.26.0100, j. 27.9.2012): A circunstância de haverem sido os pagamentos destinados a pessoas jurídicas diversas nada diz para com o pedido de repetição. Na medida em que quitados na mesma ocasião da compra e no interior do próprio estande de vendas da ré, presumem-se os beneficiários prepostos da apelada, a quem cabe, eventualmente, promover as medidas de regresso em ação própria. No que pertine à restituição da taxa SATI (Serviço de Assessoria Técnico Imobiliária), há várias razões que defluem na conclusão da nulidade de referida cobrança nas aquisições de imóveis no mercado de consumo. Importa ressaltar que a assessoria prestada aos adquirentes por pessoa ou mesmo equipe que seja disponibilizada pelo vendedor não configura autêntica assessoria, eis que, por evidente, o assessor não terá isenção nem independência para otimizar sua atuação visando unicamente ao interesse do adquirente consumidor. Daí, essa cobrança carecer de idoneidade, justamente por apresentar-se como um expediente para dissimular o repasse ao consumidor da remuneração de um serviço que, na verdade, é de interesse de quem vende o imóvel, em outras palavras, a assessoria deve ser realizada em prol do consumidor e não por pessoa ou empresa caracterizada como parceira da vendedora e para seu próprio benefício. Apelação nº 1086920-63.2014.8.26.0100 -Voto nº 6534 4
fls. 322 Não há relevância que o serviço de intermediação imobiliária não se encontre atrelado ao contrato de venda e compra, eis que firmados com pessoas jurídicas diversas, pois visa a uma finalidade comum. Nesse passo, padece de nulidade a cobrança de referida assessoria, seja por configurar a venda casada (art. 39, I do CDC), seja por ter sido impingido ao consumidor a prestação de serviço não solicitado (art. 39, I e III do CDC), inobstante, ainda, por majorar, por meio oblíquo (de forma escusa e injusta), a despesa do consumidor sob o fundamento de intermediação ou custeio administrativo da contratação (art. 51, 1º, III do CDC), imposição indevida e abusiva de acréscimo desnecessário do custo do imóvel. A ilegalidade da cobrança é evidente porque o consumidor tem direito à informação clara e adequada dos serviços, nos termos do art. 6º, II do Código de Defesa do Consumidor, não havendo sequer prova de que os referidos serviços tenham sido prestados. Nessa lente, inolvidável o cabimento da restituição deste numerário em prol do autor. Quanto à devolução integral dos valores pagos, em razão da rescisão do contrato, melhor sorte não colhe a ré. Nesse ponto, a apelante não nega, antes admite a inobservância do cronograma das obras, redundando no atraso na entrega das obras. Presumido o prejuízo dos autores-apelados, ao empregarem dinheiro na aquisição do imóvel, sem perspectiva definida de seu recebimento. Apelação nº 1086920-63.2014.8.26.0100 -Voto nº 6534 5
fls. 323 O descumprimento do avençado traduz inadimplemento contratual, por culpa exclusiva da ré-apelante. A resolução da avença, portanto, era mesmo a única solução admissível. Consequência do inadimplemento é o dever de a ré restituir, imediata e integralmente, a quantia paga, sem retenção de sinal, de multa, ou qualquer outro valor, estabelecido contratualmente. cláusulas contratuais. Não se está aqui questionamento a validade das O que importa e possui relevância é o fato de que, com o desfazimento do negócio as partes contratantes retornam ao estado anterior, tendo como consequência natural e necessária a devolução dos valores pagos. Aplica-se, à hipótese, o princípio legal da vedação ao enriquecimento sem causa. Não teria cabimento a restituição de apenas parte do numerário empregado pelos autoresapelados. Daí porque, a sentença monocrática deve ser mantida, por seus próprios e bem lançados fundamentos. Ante o exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao apelo. RAMON MATEO JUNIOR Relator Apelação nº 1086920-63.2014.8.26.0100 -Voto nº 6534 6