Patrocínio Institucional Parcerias Apoio
O Grupo Cultural AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a autoestima de jovens das camadas populares. Tem por missão promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania. O InfoReggae é uma publicação semanal e faz parte dos conteúdos desenvolvidos pela Editora AfroReggae. Sede Rio de Janeiro Rua da Lapa, nº 180 Centro Rio de Janeiro (RJ) +55 21 3095.7200 InfoReggae - Edição 40 Diminuição da Maioridade Penal 30 de junho de 2014 Coordenador Executivo José Júnior Coordenador Geral Adjunto Danilo Costa Gerência de Informação e Monitoramento Thales Santos Assistentes de Pesquisa Nataniel Souza Pedro Henrique Nunes Coordenação Editorial Marcelo Garcia Representação São Paulo Rua João Brícola, nº 24 18º andar Centro São Paulo (SP) +55 11 3249.1168 Contatos www.afroreggae.org facebook.com/afroreggaeoficial twitter.com/afroreggae inforeggae@afroreggae.org É permitida a reprodução dos conteúdos desta publicação desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Patrocínio Institucional Parcerias Apoio
Apresentação Esta edição do InfoReggae apresenta um debate sobre Diminuição da Idade Penal. O Brasil precisa tomar uma decisão com base em informações e não em sentimentos isolados que chamam a atenção de todos os brasileiros quando ocorrem. Debater a diminuição da idade penal, antes de qualquer coisa, exige responsabilidade técnica e política. Devemos redobrar a atenção neste momento com pesquisas de opinião pública e, a partir delas, explicar o que de fato significa a redução da idade penal no Brasil. O Coordenador Executivo do AfroReggae, no dia 15 de Junho publicou no Facebook sua opinião sobre este tema. Em menos de 48 horas foram mais de 11 mil curtidas, 595 compartilhamentos e 700 comentários. O Um Debate a Ser Feito desta edição mobilizou a equipe da Gerência de Informação e Monitoramento do AfroReggae a pesquisar dados e mediar estas informações para que o debate, como já dissemos, possa ser feito de forma direta e a partir de dados concretos e não de "achismos" e, até mesmo, sentimentos de vingança. Para nós do AfroReggae, sem dúvida, este é um dos debates mais importantes e atuais do Brasil, mas que infelizmente segue afastado de rigor técnico e muitas vezes vem sendo usado apenas politicamente. Como disse José Junior, a defesa da Diminuição da Idade Penal não representa os valores e princípios do AfroReggae.
Quem são os adolescentes em Medidas Socioeducativas? Este InfoReggae apresenta o perfil dos jovens que cometeram algum ato infracional em todo o Brasil no ano de 2012, pela pesquisa Panorama Nacional - A Execução das Medidas Socioeducativas de Internação Programa Justiça ao Jovem, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A partir das características socioeconômicas desses jovens, é possivel compreender de que forma o ambiente bem como a realidade dessas adolescentes influenciam seu comportamento. Gráfico 1: Idade das Crianças ou Adolescentes ao Cometer o Primeiro Ato Infracional segundo a Região 7 a 11 anos 12 a 14 anos 15 a 17 anos Sem Resposta Brasil 9,0% 42,6% 47,5% 0,9% Sul 10,3% 43,2% 44,9% 1,7% Sudeste 8,3% 45,0% 46,2% 0,5% Norte 10,9% 43,5% 44,2% 1,4% Nordeste 9,7% 35,5% 54,0% 0,9% Centro-Oeste 7,9% 40,2% 48,8% 3,1% Fonte: DMF/CNJ - 2012 Em todas as cinco regiões do Brasil, os adolescentes na faixa etária entre 15 e 17 anos são os que mais cometem algum tipo de ato infracional, segundo a pesquisa. Os adolescentes entre 12 aos 14 anos também registraram significativas ocorrências de infração. Vale destacar a grande porcentagem de crianças, que na idade entre 7 e 11 anos, cometem o primeiro ato infracional. Esses dados nos mostram sobre a importância do trabalho de prevenção se iniciar já nos primeiros anos escolares e sobre a importância das crianças, em situação de vulnerabilidade, e seus familiares serem acompanhadas por perto por uma equipe técnica social. Diminuir a maioridade penal para os 16 anos de idade não é a solução para esses jovens.
36,0% Gráfico 2: Motivo da atual internação Brasil 24,0% 15,0% 13,0% 7,0% 3,0% 1,0% 1,0% Roubo Tráfico de drogas Outros Homicídio Furto Roubo seguido de morte Estupro Lesão corporal Fonte: DMF/CNJ - 2012 Como podemos ver no gráfico 2, os tipos de atos infracionais mais cometidos pelos adolescentes cumprindo medida socioeducativa são o roubo e o tráfico de drogas, sendo a vulnerabilidade social, juntamente com a dependência química, fortes fatores que contribuem para que os adolescentes cometam tais atos. Esses dados nos mostram a urgência sobre a necessidade de melhores programas sociais e educacionais, além da oferta de lazer nas comunidades onde moram os jovens, uma vez que 24,0% estão associados à atos relacionados ao tráfico de drogas. É necessário e importante disponibilizar à esses jovens novas oportunidades, seja de emprego, seja de se expressarem artisticamente, seja para conquistarem seus objetivos e sonhos.
Gráfico 3: Percentual de Reincidência dos Adolescentes segundo a Região 1ª internação Reincidente Sem Resposta Brasil 56,4% 43,3% 0,3% Sul 55,1% 44,9% Sudeste 60,0% 39,7% 0,3% Norte 61,6% 38,4% 0,0% Nordeste 54,5% 54,0% 0,6% Centro-Oeste 53,5% 45,7% 0,8% Fonte: DMF/CNJ - 2012 O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontou que a taxa de reincidencia nos presídios brasileiros é de 70%, enquanto entre os adolescentes do sistema socioeducativos essas taxas não chegam a 45%. Esses dados nos mostram que a redução da idade penal não diminuiríam os índices de reincidência na idade juvenil. Os atos infracionais reincidentes mais cometidos são os roubos com 28% dos casos, seguido do tráfico de drogas com 14%. É importante que os orgãos de medidas socioeducativas criem mecanismos para que os adolescentes tenham oportunidades reais de se profissionalizar e ter uma boa educação no cumprimento de medidas socioeducativas, a medida que as infrações cometidas depois da primeira internação são mais graves. Enquanto na primeira internação os homicídios somam apenas 3%, em caso de reincidente os números sobem para 10%.
Gráfico 4: Média da Idade em que o Adolescente Interrompeu os Estudos segundo a Região 14,3 14,2 14 13,7 13,7 Sul Centro-Oeste Sudeste Nordeste Norte Fonte: DMF/CNJ - 2012. A média de idade em que pararam de estudar os adolescentes que cometeram alguma infração é de 14 anos, ou seja, idade em que provavelmente ainda estaria no ensino fundamental. Como podemos ver no Gráfico 4, nas regiões Nordeste e Norte essa média é ainda menor. Dessa forma, esses dados nos mostram sobre a importância em se desenvolver políticas dentro das salas de aula que estimulem os alunos a continuarem os estudos e a identificar os adolescentes com maior probabilidade de evasão escolar, para que não parem os estudos e estejam vulneráveis à atividades ilícitas. O relatório Criança fora da Escola 2012, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mostrou que 2.074,683 crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos estão fora da escola em todo Brasil. Outros InfoReggaes já apontaram como principais causas para o abandono escolar a necessidade do jovem em trabalhar para ajudar nas despesas de casa, a distorção de idade e série, o desinteresse por não acreditar que o estudo seja um fator importante para a garantia de um futuro melhor, entre outros. Esses dados nos mostram sobre a real necessidade de uma escola com qualidade e que acompanhe socialmente o jovem e sua família.
2ª série Gráfico 5: Última Série Cursada pelo Adolescente cumprindo medida socioeducativa Brasil 4% 3ª série 5% 4ª série 10% 5ª série 21% 6ª série 18% 7ª série 8ª série 13% 14% Ensino médio 11% Sem resposta 3% Fonte: DMF/CNJ - 2012 Segundo a pesquisa do Conselho Nacional da Justiça, entre os adolescentes cumprindo medidas socioeducativas, 57% declararam não estarem estudando no momento da internação. A quase totalidade dos jovens infratores estavam no ensino fundamental (86%), sendo a maioria na 5ª série, com 21%. A não garantia do direito a educação para os jovens acarreta problemas graves para toda a vida, inclusive fechando portas no mercado de trabalho, por exemplo. Nas regiões Norte e Nordeste os índices de adolescentes que não frequentam escolas são superiores a 50%, enquanto que no Sudeste é de apenas 10%. Ainda segundo o relatório, o Brasil não está tendo êxito na aplicação das medidas socioeducativas e na aplicação de programas voltados à educação desses jovens.
Um debate a ser feito Durante os últimos meses tenho escutado direto o debate sobre a diminuição da idade penal. Trabalho com crianças, adolescentes e jovens faz um tempão. Impossível concordar com esta proposta que erra no foco e na ação. Não estou falando de passar a mão na cabeça de quem errou, mas de reparar outro erro muito maior e histórico. O papo tem que ser outro! A gente devia estar defendendo é a diminuição da idade de início para proteção das crianças e dos adolescentes. O que o Brasil devia estar defendendo é que toda criança seja protegida desde o dia que nasceu para que não chegue aos 12 anos de idade trabalhando para o tráfico de drogas; aos 15, não esteja comandando boca de fumo; e aos 19, não seja assassinada. O que a gente devia estar defendendo é que meninas e meninos não sejam explorados sexualmente com 10 ou 12 anos de idade. O papo da diminuição da idade penal cheira vingança. O que a gente precisa de fato é garantir que as crianças estudem, aprendam, morem em casas seguras e comunidades em paz. Quem são os adolescentes que estão cumprindo medida socioeducativa no Brasil? São os negros, pobres e favelados. São negros que nasceram sem oportunidades, são pobres que cresceram sem atenção do governo e são favelados que vivem no meio de uma guerra diária. Minha defesa é outra e quero que todos tenham oportunidade, atenção e que vivam em paz. A proposta de diminuição da idade penal não me representa de jeito nenhum e espero que vocês sintam o mesmo. José Junior coordenador-executivo do AfroReggae
Patrocínio Institucional Parcerias Apoio