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Transcrição:

VIII TREFILAÇÃO A trefilação é uma operação de conformação que visa produzir materiais de secção transversal, devidamente calibrada. Esta ação se faz, onde a matéria-prima é puxada contra uma matriz (chamada fieira ou trefila) em forma de funil por meio de uma força de tração aplicada do lado de saída da matriz. O escoamento plástico é produzido principalmente pelas forças compressivas provenientes da reação da matriz sobre o material. Normalmente realiza-se a operação a frio. Produtos Mais Comumente Utilizados na Trefilação: Vantagens sobre outros processos: Tabela 1. Relação dos materiais trefilados mais utilizados. O material pode ser estirado e reduzido em secção transversal mais do que com qualquer outro processo; A precisão dimensional que pode ser obtida é maior do que em qualquer outro processo exceto a laminação a frio, que não é aplicável às bitolas comuns de arames; A superfície produzida é uniformemente limpa e polida; O processo influi nas propriedades mecânicas do material, permitindo, em combinação com um tratamento térmico adequado, a obtenção de uma gama variada de propriedades com a mesma composição química. Fieira A fieira é o dispositivo básico da trefilação. A geometria da fieira é dividida em quatro zonas (ver figura 1, abaixo): 1. Zona de entrada; 2. Zona de redução (α = ângulo de abordagem);. Guia de calibração ou zona de acabamento; 4. Zona de saída. Prof. L.C.Simei Página 1

Os materiais de construção dependem das exigências do processo (dimensões, esforços) e do material a ser trefilado. Os mais utilizados são: Carbonetos metálicos, sinterizados (sobretudo WC Widia); Aços de alto C, revestidos de Cr (cromagem dura); Aços Ligas (Cr-Ni, Cr-Mo, Cr-W, etc.); Ferros Fundidos Branco; Cerâmicos (pós de óxidos metálicos sinterizados); Diamante (p/ fios finos ou de ligas duras). Figura 1. Esquema de uma fieira. Figura 2. Esquema de uma fieira de metal duro. Prof. L.C.Simei Página 2

Equipamentos Podem-se classificar os equipamentos para trefilação em dois grupos básicos: a) Trefiladoras de Bancada utilizadas para produção de componentes não bobináveis, como barras e tubos; b) Trefiladoras de Tambor utilizada para produção de componentes bobináveis, ou seja, arames. As trefiladoras de tambor ainda podem ser classificadas em três grandes grupos, a saber: simples (1 só tambor) - para arames grossos; duplas - para arames médios; e múltiplas (contínuas) - para arames médios a finos. Figura. Exemplo de uma trefiladora de bancada. Figura 4. Exemplo de uma trefiladora de tambor. Prof. L.C.Simei Página

Trefilação de Tubos Figura 5. Exemplo de uma trefiladora de dois tambores. Os tubos podem ser trefilados de quatro modos: sem apoio interno (rebaixamento ou afundamento figura a); com mandril passante (figura b); com bucha interna (figura c); com bucha flutuante (figura d). Figura 6. Esquema de trefilação de tubos. Prof. L.C.Simei Página 4

Trefilação dos Arames de Aço Um dos usos mais comuns da trefilação é a produção de arames de aço. Por esta razão especificam-se abaixo algumas das principais características deste processo. Etapas: A trefilação propriamente dita é precedida por várias etapas preparatórias que eliminam todas as impurezas superficiais, por meios físicos e químicos. Os passos a percorrer são discriminados no esquema abaixo. Figura 7. Fluxograma de processo - Etapas de trefilação. 1. Matéria-prima: fio-máquina (vergalhão laminado a quente); 2. Descarepação mecânica (descascamento: dobramento e escovamento) e química (decapagem: com HCl ou H 2S0 4 diluídos);. Lavagem: em água corrente; 4. Recobrimento: comumente por imersão em leite de cal Ca(OH) 2 a 100 C a fim de neutralizar resíduos de ácido, proteger a superfície do arame, e servir de suporte para o lubrificante de trefilação; 5. Secagem (em estufa), que também remove H 2 dissolvido na superfície do material; 6. Trefilação. Os primeiros passes são a seco. Eventualmente há recobrimento com Cu ou Sn. Posteriormente trefilação a úmido (com lubrificante). Tratamento Térmico dos Arames. Depois da trefilação os arames são submetidos a tratamentos térmicos para alívio de tensões e/ou obtenção de propriedades mecânicas desejadas. Os dois principais tratamentos utilizados são: Prof. L.C.Simei Página 5

Tabela 2. Tabela com as Indicações de tratamento térmico. Análise da Trefilação de Arames A) Carga: Para cada passe de trefilação, a carga necessária pode ser estimada pela seguinte expressão: Prof. L.C.Simei Página 6

Observação: Para cada redução dada existe um valor ótimo do ângulo de abordagem (α), que é aquele que minimiza a carga e conseqüentemente o trabalho total de trefilação, Wt. Quanto maior é, menor será a área de contato, e consequente menor atrito (Wa). Quanto maior é, maior será a força para a conformação porque maior é a redução (Wr). Wt = Wpl + Wa + Wr Wpl Trabalho de deformação plástica homogênea (independente de α); Wa = Trabalho de atrito (diminui se α aumenta); Wr = Trabalho de redução (cresce se α aumenta). Figura 8. Indicação gráfica da relação das cargas atuantes. B) Modos especiais de deformação na trefilação: a) Se o ângulo de abordagem da trefila é superior a certo valor crítico cr1 ocorre um cisalhamento interno no material, separando-se uma zona que adere a fieira e forma uma falsa matriz (zona morta) através da qual prossegue a trefilação. O valor crítico é dado por: Prof. L.C.Simei Página 7

b) Se o ângulo de abordagem excede outro valor crítico, a zona morta formada não adere à fieira e sim desliza para trás (descansamento); a camada superficial da peça se destaca e o núcleo da mesma deixa de se deformar, atravessando a trefila com velocidade de saída igual à de entrada. Veja na figura abaixo as condições de fluxo em relação aos ângulos críticos. Figura 9. Correlação da geometria do fluxo do material x ângulo da fieira. Prof. L.C.Simei Página 8

Defeitos Típicos do Processo de Trefilação. Os defeitos mais comuns em trefilação são apresentados abaixo. A. Diâmetro irregular: causado por partículas duras que ficam retidas na fieira e posteriormente se desprendem. B. Fratura irregular formando cones: causada por redução pequena e ângulo de fieira muito grande, com acentuada deformação da parte central. C. Marcas em forma de v ou fratura em ângulo: causadas por redução grande e parte cilíndrica pequena, com inclinação do fio na saída; ruptura de parte da fieira com inclusão de partículas no contato fio-fieira; inclusão de partículas duras estranhas. D. Fratura irregular com estrangulamento: causada por esforço excessivo devido à lubrificação deficiente ou redução excessiva. E. Fratura com risco lateral ao redor da marca de inclusão: causada por partícula dura inclusa no fio inicial proveniente da laminação ou extrusão. F. Fratura com trinca aberta em duas partes: causada por trincas de laminação. Prof. L.C.Simei Página 9

BIBLIOGRAFIA Handbook: Glossário. Em: www.infomet.com.br, acessado em 10/01/201. Processos de Fabricação. Em www.cimm.com.br, acessado em 10/01/201. Processos de Fabricação. Em www.cimm.com.br, acessado em 10/01/201. Processos de Fabricação. Volume I. Apostila do Curso Técnico em Mecânica. Telecurso 2000. MORO, Norberto; AURAS André Paegle. Processos de Conformação. Apostila do Curso Técnico em Mecânica do CEFET/SC, 2002. Diversos. Tecnologia Mecânica. Apostila do Curso Técnico em Mecânica da ETEC Cel. Fernando Febeliano da Costa, do CEETEPS, 20002 OBERD, Erik. JONES, Franklin e HORTON, Holbrook. Manual Universal da Técnica Mecânica. São Paulo: Ed. Hemus, 2005. DOYLE L., MORRIS J., LEACH J. e SHRADER G.. Processos de Fabricação e Materiais para Engenheiros. São Paulo: Ed. Edgard Blucher Ltda, 2000. CUNHA, Lauro Sales e CRAVENCO, Marcelo P. Manual Prático do Mecânico. São Paulo: Ed. Hemus, 2005. Prof. L.C.Simei Página 10

O presente material tem como objetivo único o desenvolvimento de embasamento técnicocientífico, para complementação dos estudos da disciplina Manutenção Mecânica MAME 1, do curso de Graduação em Tecnologia em Manutenção. É expressamente proibida a divulgação eletrônica ou impressa, com objetivo financeiro ou de promoção pessoal!!! A divulgação, utilização comercial e ou outro qualquer objetivo, diferente da simples leitura e estudo para complementação da matéria em questão, e ainda sem a aprovação do professor elaborador, é proibida e de inteira responsabilidade do aluno detentor que faz o uso indevido deste. Estas notas de aulas foram desenvolvidas com base em periódicos técnicos, materiais disponibilizados por outros professores, anotações pessoais, materiais de estudos de outras instituições, entre outros; de modo a complementar em um único compêndio de estudos relativos aos assuntos repassados em aulas. Professor Luís C. Simei Prof. L.C.Simei Página 11