ALVES BARBOSA E RIBEIRO DA SILVA REEDITAM DUELO NICOLAU-TRINDADE



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Transcrição:

Os anos 50 ALVES BARBOSA E RIBEIRO DA SILVA REEDITAM DUELO NICOLAU-TRINDADE Alves Barbosa e Ribeiro da Silva 1950 Dias Santos vence a Volta pela segunda vez Em 1950, Luciano Moreira de Sá (FC Porto) sagrou-se campeão nacional; João Lourenço classificou-se em 3º lugar na corrida '9 de Julho', em São Paulo, com o mesmo tempo do vencedor; a equipa 'A' do Sporting (Felix Bermudes e Mário Fazzio) venceu as 24 Horas de Lisboa ; Fernando Moreira e João Lourenço, conquistaram o 1º e 2º lugares na prova Rio de Janeiro - Petropolis - Rio de Janeiro ; e na 15ª edição da Volta a Portugal (1950) registou-se a segunda vitória consecutiva de Dias Santos (FC Porto) enquanto que, por equipas, triunfou também o FC Porto, e no Prémio da Montanha a vitória pertenceu ao espanhol Dalmacio Langarica (Académico), vencedor de cinco etapas. Com a mesma autoridade e determinação do ano anterior, o 'portista' Dias Santos, bem apoiado pelos seus companheiros de equipa, voltou a impor-se,

vencendo a Volta sem contestação, embora com mais dificuldades, pois teve, desta feita, que enfrentar a forte equipa do Sporting, comandado pelo italiano Mário Fázzio, que terminou no segundo lugar com a escassa diferença de 1m 52s. No contra-relógio da terceira etapa Vila Real-Chaves, Dias Santos, pondo à prova as suas características para este tipo de corridas, arrebatou a camisola amarela a José Serra, que a conquistara na pista do Lima e a envergou no segundo dia até Vila Real. Daí até final, durante 18 etapas, o ciclista do FC Porto, passeou a camisola amarela através do país, com Sporting e Benfica à espreita de todas as oportunidades para desencadearem ataques. No Campeonato Nacional triunfou outro corredor do FC Porto, Luciano Moreira de Sá. Félix Bermudes venceu o Circuito da Malveira. O italiano Mário Fazio e Félix Bermudes, venceram as 24 Horas de Lisboa e o espanhol Dalmácio Langarica triunfou no Porto-Braga. Em deslocação ao Brasil, Fernando Moreira (FC Porto) venceu a prova Rio- Petrópolis-Rio e o Circuito do Rio de Janeiro, enquanto João Lourenço (Sporting) ganhou a Clássica 9 de Julho. 1951 Alves Barbosa tornou-se o dono absoluto da camisola amarela Alves Barbosa (Sangalhos), com apenas 19 anos de idade, cometeu a proeza inédita de vencer a Volta a Portugal, com a camisola amarela do primeiro ao último dia, travando animado despique com Ribeiro da Silva, do Académico, outro valor que despontava no firmamento do nosso ciclismo. Graças a esse renhido duelo, a Volta a Portugal, nos anos de 50 a 58, conheceu um período de entusiasmo muito parecido com aquele em que Nicolau e Trindade foram as figuras dominantes, a que faltou apenas o aliciante da rivalidade clubista de um Benfica-Sporting.

Alves Barbosa Mas enquanto o consagrado ciclista da Bairrada festejava a vitória, roubaramlhe a bicicleta, que apareceu dias depois quando um rapaz a tentava vender por baixo preço. O ciclista do FC Porto, Luciano Moreira de Sá, classificou-se em 2º lugar na prova 9 de Julho, realizada em São Paulo e só não lhe foi adjudicada a vitória por, nos últimos quilómetros, ter sido empurrado pelo argentino Pedro Salas. Reclamou, mas não foi atendido. Conquistou título de campeão nacional e na clássica Porto-Lisboa triunfou Amândio Cardoso (FC Porto). O circuito da Malveira foi conquistado por Alves Barbosa e no Madrid-Porto triunfou Manolo Rosriguez. A corrida de 163 Km da AC Sul foi ganha por Armando Santos Gonçalves.

Fernando Moreira 1952 Com Barbosa preso na Tropa a vitória foi para o FC Porto Desfalcada de Alves Barbosa, que não foi dispensado pela unidade militar onde prestava o serviço obrigatório, a equipa do Sangalhos partiu do Estádio do Lima, no Porto, para a XVII Volta a Portugal-1952, ganha por Moreira de Sá, que terminou com 12 minutos de vantagem sobre o espanhol do Sangalhos, Emílio Rodriguez. Mesmo privada de Alves Barbosa, a equipa do Sangalhos, liderada pelo espanhol Emílio Rodriguez, travou uma dura batalha com o grupo do FC Porto, que, bem apetrechado como estava, não só resistiu estoicamente na defesa dos seu camisola amarela, como garantiu também a vitória por equipas. Talvez não seja justo dizer que Fernando Moreira de Sá, do FC Porto, deve a sua única vitória na Volta à ausência de Alves Barbosa, mas, tendo em conta a forma como se impôs e dominou tudo e todos, liderando a prova a partir da quarta das 18 etapas. O título de campeão nacional ficou na posse de António Maria (Sangalhos) e no Porto-Lisboa triunfou Luciano Moreira de Sá (FC Porto). No Circuito da Malveira triunfou Onofre Tavares. Alves Barbosa (Sangalhos) foi à Volta a Venezuela e venceu 7 etapas, e na Volta a Marrocos ganhou uma etapa.

1953/1954 Crise suspende a Volta Em 1953 e 1954 a Volta não se realizou por dificuldades financeiras da Federação que a impediram de dar continuidade às organizações levadas a cabo pelo jornal Diário do Norte nos três anos anteriores. A clássica Porto-Lisboa de 1953 foi ganha, pela segunda vez consecutiva, por Luciano Moreira de Sá, do FC Porto. O campeonato nacional de 1953 foi conquistado por Onofre Tavares, destronado no ano seguinte (1954) por Alves Barbosa, ao mesmo tempo que, no mesmo ano, Américo Raposo (Sporting) alcançava a sua única vitória no Porto-Lisboa. No Circuito da Malveira de 1953 triunfou Alves Barbosa, destronado no ano seguinte (1945) por Armando Pereira (Benfica). 1955 Alves Barbosa vítima de agressão na Volta Alves Barbosa conquistou, em 1955, mais uma vitória no estrangeiro, na Corrida 9 de Julho, em São Paulo (Brasil), então a maior prova ciclista da América do Sul, que registou a participação de 500 concorrentes. Barbosa correu à média de 41,760 Km/h pelas avenidas da grande urbe paulista. Por seu turno, Dias Santos, que representou a Portuguesa de Desportos, classificou-se em 6º lugar. No Campeonato Nacional registou-se a vitória de Pedro Polainas. Na Volta a Portugal de 1955, que regressou à estrada depois do interregno dos dois anos anteriores, Alves Barbosa viu-se privado da vitória, não só devido a diferenças de critério do júri nas chegadas à Covilhã e às Caldas da Rainha, onde entendeu que foi prejudicado, mas ainda porque, na última etapa, já à entrada do Porto, nos Carvalhos, foi agredido por grupos de espectadores anónimos que lhe danificaram a bicicleta. Barbosa ainda concluiu a prova, cuja vitória pertenceu a Ribeiro da Silva, do Académico do Porto.

A organização pertenceu à Federação de Ciclismo, uma vez que o Norte Desportivo e o Diário do Norte se desinteressaram da prova, mas o seu desfecho ficou como um dos pontos mais negros da história da Volta. Nem Ribeiro da Silva (Académico), nem, muito menos, Alves Barbosa (Sangalhos) mereciam que as suas carreiras ficassem manchadas pela criminosa atitude de um grupo de energúmenos que, agredindo barbaramente o corredor da Bairrada, na última etapa, proporcionaram a vitória ao valoroso corredor academista. Ribeiro da Silva era um ciclista com valor suficiente para vencer a Volta pelos seus próprios meios e recebeu este êxito como um presente envenenado, em circunstâncias deploráveis, em que os adeptos nortenhos, que encheram a Pista do Lima, foram os primeiros a manifestar a sua indignação pelo sucedido. O Campeão Nacional deste ano (1955) foi Pedro Polainas (Sporting). Edgar Marques ganhou os 120 Km da AC Sul e Alves Barbosa voltou a ganhar o Circuito da Malveira e triunfou na Clássica 9 de Julho, no Brasil, e em Moçambique venceu a Volta ao Sul do Save. 1956 Sensacional estreia de Barbosa no Tour Alves Barbosa foi, em 1956, o primeiro português a participar na Volta à França, e logo na primeira etapa classificou-se em 6º lugar. Nesta sua estreia na grande prova francesa, o ciclista de Sangalhos teve comportamento deveras

prestigiante para Portugal ao terminar num brilhante 10º lugar, confirmando assim a sua classe de ciclista de indiscutível projecção internacional. Aureolado com esse espectacular décimo lugar no 'Tour' de França, Barbosa, apesar de impor um ritmo moderado, com grande economia de energias, ganhou, nesse ano, a 19ª Volta a Portugal, somando vitórias em 10 das 23 etapas. Vingou-se, assim, das partidas do destino e dos energúmenos que o atacaram na última etapa do ano anterior, deixando o seu rival Ribeiro da Silva no segundo lugar. Alves Barbosa foi para a estrada sedento de vitória, decidido a 'vingar-se' dos agressores que lhe 'roubaram' a possibilidade concreta de averbar o segundo triunfo. Uma vez mais o grande ciclista de Montemor-o-Velho fez prova eloquente da sua categoria, vencendo e convencendo com tanto mais mérito quanto é certo que teve sempre na sua sombra a ameaça do rival Ribeiro da Silva, espreitando o menor deslize para destronar Barbosa. Mas desta feita a Volta terminou em Lisboa e o homem do Sangalhos deu-se até ao luxo de vencer nove etapas, entre as quais se incluíram as duas do último dia. Ribeiro da Silva teve de contentar-se com o segundo posto, a 7m 46s. O Sangalhos obteve as vitórias individuais de Fernando Henrique Silva no Porto-Lisboa e de Alves Barbosa no Campeonato Nacional. Quarta vitória de Alves Barbosa no Circuito da Malveira. 1957 Venturas e desventuras de Barbosa e Ribeiro da Silva em França Depois de Alves Barbosa, em 1957, ter terminado em 24º o Paris-Nice, Ribeiro da Silva sagrou-se vencedor da 48ª edição do Paris-Evreux, na distância de

160 quilómetros, que completou em 3h 52m 25s, à média de 41,379 Km/h. No Paris-Roubaix, desse mesmo ano, quando o pelotão respondia a um ataque do italiano Barone, Ribeiro da Silva sofreu uma queda que o levou a desistir para receber assistência hospitalar, ao mesmo tempo que Alves Barbosa, ao lançar-se numa fuga, a faltarem 39 quilómetros para a meta, teve um desfalecimento que o levou também a abandonar a corrida. No Brasil, o ciclista Artur Coelho (FC Porto), venceu a clássica corrida brasileira 9 de Julho, em São Paulo, e no plano nacional João Marcelino (Benfica) venceu o campeonato nacional e José Sousa Santos (FC Porto) ganhou o Porto-Lisboa. No Tour de França, Alves Barbosa participou numa fuga espectacular e, logo nos primeiros dias, subiu ao 16º lugar da geral, isto ao mesmo tempo que Ribeiro da Silva descia na tabela, ambos integrados na equipa do Luxemburgo, onde acabaram por ficar sozinhos, ao cabo de 12 etapas, ao longo das quais amealharam apenas 145 mil francos em prémios, à época cerca de 11 mil escudos. Desse montante, Alves Barbosa tinha conquistado 100 mil francos pela vitória numa meta volante em plenos Alpes. Na etapa que terminou em Saint Gaudens, Barbosa cortou a meta já com o controlo encerrado, sendo, por isso, eliminado. Quanto a Ribeiro da Silva, fez uma boa prestação na subida do Tourmalet, averbando a vitória nessa contagem de montanhapara, no dia seguinte, subir ao 22º lugar da geral sendo distinguido com o Prémio da Combatividade. Gostei de lutar ao lado de Anquetil, e só tive pena de não aguentar o seu ritmo nos últimos quilómetros, comentou o ciclista português. Ribeiro da Silva terminou este Tour em 25º com quase hora e meia de atraso em relação ao vencedor, o francês Jacques Anquetil, que deixou um elogio ao português, que o ajudou na subida do Tourmalet: Da Silva tem um coração formidável. Mas o corredor francês não se limitou a este elogio, pois ofereceulhe 100 mil francos como recompensa por o ter ajudado a escapar-se do italiano Padovan, o adversário que mais o preocupava. Segunda vitória de Ribeiro da Silva na Volta Com o objectivo de alcançar a desforra da derrota imposta na Volta anterior por Alves Barbosa, Ribeiro da Silva soube tirar partido das suas qualidades de 'trepador' e da sua 'endurance' nas grandes distâncias, para nas etapas mais acidentadas, como nas mais longas, construir uma vitória a todos os títulos merecida.

Ribeiro da Silva (à esquerda) com Anquetil no Tour Alves Barbosa, que não venceu uma única etapa, ao passo que Ribeiro da Silva somou duas, a primeira das quais permitiu-lhe arrebatar a camisola amarela ao portista José Sousa Santos, teve de render-se e, um tanto desmotivado, acabou na quarta posição com 8m 23s de atraso. Por equipas venceu o Académico do Porto e na montanha também triunfou Ribeiro da Silva, que no final comentava: Saí de casa para ganhar a Volta, mas estou farto de ciclismo. A vitória no na clássica Porto-Lisboa pertenceu a José Sousa Santos (FC Porto) e o título de campeão nacional ficou na posse de João Marcelino (Benfica). Pedro Polainas ganhou o Circuito da Malveira.. 1958 Barbosa 16º na Vuelta em ano de luto no ciclismo A Volta a Espanha de 1958 chegou ao fim com a vitória de Jean Stablinsky e Alves Barbosa foi o melhor dos três portugueses que terminaram a corrida, classificando-se em 16º, a 50m 57s, seguindo-se Carlos Carvalho em 33º, a 2h 16m 53s e Antonino Baptista, em 36º, a 2h 34m 15. Esta foi a segunda Volta a Espanha em que Barbosa participou, e durante a qual sofreu um ataque de furunculose. Não tive um único dia de saúde. Mesmo assim a camisola amarela chegou a estar ao meu alcance no segundo dia, referiu o ciclista. O ano foi marcado pela trágica morte de Ribeiro da Silva, mas sofreu novo abalo com o falecimento de António Baptista, irmão de Antonino Baptista, que representava também o Sangalhos, vítima de um acidente durante o II Circuito Entre Douro e Minho, em que estiveram também envolvidos Sousa Santos (FC

Porto) e Agostinho Ferreira (Académico). Os três ciclistas seguiam em fuga com substancial avanço, e quando verificaram que se tinham enganado no percurso, fizeram inversão de marcha, lançando-se em grande velocidade, a cortar as curvas fora de mão, para recuperarem o tempo perdido. Foi então que surgiu um automóvel em sentido contrário dando-se, assim, o fatal acidente. No Tour de França, o luxemburguês Charly Gaul sagrou-se vencedor, enquanto Alves Barbosa terminou em 76º com mais 3h 44m 23s. Na segunda etapa da Volta a Portugal, entre Lisboa e Alpiarça, registou-se o triunfo de Alves Barbosa, que envergou a camisola amarela no primeiro dia e nunca mais a despiu, como já tinha feito em 1951. Esta etapa, porém, ficou marcada pela trágica morte de dois ciclistas espanhóis: Joaquim Pólo, no Hospital de Santarém, e Raúl Motos, no Hospital de Alpiarça. Dado que a etapa decorreu sob intenso calor, estas mortes foram atribuídas a insolação, mas ficou sempre a suspeita do trágico desenlace se ter ficado a dever a algo mais... Alves Barbosa Com a morte de Ribeiro da Silva, falecido meses antes, vítima de acidente de

viação, o nível competitivo da Volta já não teve o mesmo aliciante, servindo principalmente para recordar a sua memória e avaliar a dimensão da lacuna que deixou no pelotão. E esta vitória do popular 'Tó', tão categórica como a de 1951, teve então o valor de uma homenagem ao desportivismo com que ambos cultivaram uma rivalidade da maior utilidade para o ciclismo. Carlos Carvalho (FC Porto) venceu o Porto-Lisboa, como que a anunciar a vitória na Volta do ano seguinte. Pedro Polainas venceu de novo o Circuito da Malveira. 1959 Carlos Carvalho surpreende na Volta Na Volta a Portugal de 1959, organizada, como a anterior, pelo jornal Diário Ilustrado, registou-se a surpreendente vitória de Carlos Carvalho, desfecho que ficou a dever-se exclusivamente aos méritos do fogoso corredor do FC Porto, que manteve animado despique com o algarvio Jorge Corvo (Tavira), a quem, no último dia, retirou a possibilidade de triunfar, por escassos cinco segundos, classificando-se em segundo lugar. De sublinhar o facto do vencedor desta Volta ter ganho apenas duas das 20 etapas.

Carlos Carvalho Com esta vitória de Carlos Carvalho, o FC Porto partiu para uma nova fase de liderança no ciclismo português, inscrevendo os nomes de quatro dos seus atletas na lista dourada dos vencedores. Alves Barbosa ainda andou por lá, suscitando a admiração dos seus numerosos adeptos aos quais conseguiu 'oferecer' sete vitórias, incluindo a da sempre apetecida última etapa, mas não foi além disso, classificando-se numa modesta posição abaixo do 10º lugar. O Porto-Lisboa de 1959 foi ganho por Mário Sá (FC Porto) e no campeonato nacional triunfou Antonino Baptista. Alves Barbosa venceu pela quinta vez o circuito da Malveira e Fernando Maltez triunfou no Lisboa-Alpiarça. No plano internacional merece registo a vitória conseguida por José Sousa Cardoso na etapa Pamplona-S. Sebastian da Vuelta a Espanha e o triunfo alcançado por Alves Barbosa (Celta d Alessandro) no Critério de Narbonne, em França.