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PROJETO DE LEI Nº, DE 2007 (Da Sra. Thelma de Oliveira) Suspende as autorizações para queimadas e desmatamentos ou, supressão de vegetação na Amazônia Legal. O Congresso Nacional decreta: Art. 1º Ficam suspensas, pelo período de três anos, as autorizações para queimadas e desmatamentos ou, supressão de vegetação na Amazônia Legal, concedidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente SISNAMA. Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput às autorizações já concedidas e que ainda não foram executadas. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICAÇÃO A Amazônia está situada em sua porção centro-norte; é cortada pela linha equatorial e, portanto, compreendida em área de baixas latitudes. Ocupa cerca de 2/5 do continente e mais da metade do Brasil. Inclui 9 países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela). A Amazônia brasileira compreende 3.581 Km2, o que eqüivale a 42,07% do país. A chamada Amazônia Legal é maior ainda, cobrindo 60% do território em um total de cinco milhões de Km2. Ela abrange os estados do Amazonas, Acre, Amapá, oeste do Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Roraima e Tocantins. **

A Amazônia abriga 33% das florestas tropicais do planeta e cerca de 30% das espécies conhecidas de flora e fauna. Hoje, a área total vítima do desmatamento da floresta corresponde a mais de 350 mil Km2, a um ritmo de 20 hectares por minuto, 30 mil por dia e 8 milhões por ano. Com esse processo, diversas espécies, muitas delas nem sequer identificadas pelo homem, desapareceram da Amazônia. Sobretudo a partir de 1988, desencadeou-se uma discussão internacional a respeito do papel da Amazônia no equilíbrio da biosfera e das conseqüências da devastação que, segundo os especialistas, pode inclusive alterar o clima da Terra. A destruição de florestas tropicais, além de reduzir a biodiversidade do planeta, causa erosão dos solos, degrada áreas de bacias hidrográficas, libera gás carbônico para a atmosfera, causa desequilíbrio social e ambiental. A redução da umidade na Amazônia faz reduzir as chuvas na região centro-sul brasileira. O desmatamento na Amazônia tem registrado um aumento considerado no decorrer de 2007, apesar da queda de 30% em 2006. Segundo dados do Projeto DETER - Detecção do Desmatamento em Tempo Real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam uma tendência clara de aumento do desmatamento na Amazônia, de cerca de 8% entre 2006 e 2007, em média. Em algumas áreas o aumento é de até 600 % (Rondônia) e 84 % em Mato Grosso. Foi avaliada a situação em todos os Estados da Amazônia Legal entre junho e setembro deste ano e no mesmo período de 2006. A comparação do total para toda a região indica que o desmatamento foi menor em 2007 do que no ano passado apenas no mês de junho. De julho a setembro a área desmatada aumentou em 3%, 53% e 107% na comparação ano a ano, respectivamente. As bacias hidrográficas de Mato Grosso já perderam de 32% a 43% de sua cobertura vegetal original (IMAZON e ICV, 2006). No Brasil, a quase totalidade das queimadas é causada pelo Homem, por razões muito variadas: limpeza de pastos, preparo de plantios, desmatamentos, disputas fundiárias, vandalismo, colheita manual de cana-de-açucar, dentre outras. **

A tabela abaixo mostra as áreas de desmatamento medidas pelo DETER, estratificadas por Estado para os meses de junho a setembro. O DETER é um projeto do INPE/MCT, com apoio do MMA e do IBAMA e faz parte do Plano de Combate ao Desmatamento da Amazônia do Governo Federal. **

Área desmatada mapeada pelo DETER por Unidade Federativa (km2) Jun Jun Jul Jul Ago Ago Set Set AC 211 10-95 9 1-89 18 9 AM 292 43-85 18 122 578 46 29-37 23 33 43 AP 3 MA 189 2-99 11 3-73 24 41 MT 255 486 91 271 265-2 193 263 36 211 389 84 PA 235 815 247 664 491-26 149 225 51 411 655 59 RO 916 37-96 18 134 644 62 179 189 42 295 602 RR TO 4 7 9 2 Total 2098 1397-33 991 1026 4 474 723 53 687 1424 107 Total 2006 = 4250 Fonte: INPE Total 2007 = 4570 A taxa de desmatamento na Amazônia Legal, divulgada pelo INPE em 10 de agosto de 2007, para o período de agosto de 2005/agosto de 2006 foi de 14.040 Km2, que corresponde a cerca de 30% de queda em relação ao período anterior. Este foi o segundo ano consecutivo de queda, desde o pico de 27.429 quilômetros quadrados registrados em 2003-2004 o segundo maior da história. Fonte: INPE De 1977 a 1988: 21 mil km2 De 1988 a 1990: 31,5 mil km2 De 1990 a 1994: 39,7 mil km2 De 1994 a 1998: 77,8 mil km2 (1º governo FHC) De 1998 a 2002: 76,9 mil k m2 (2º governo FHC) De 2002/03 a 2005: 84.233 Km2 (1º governo Lula) Fonte: INPE **

O índice de desmatamento, anunciado pelo Governo Lula para o período 2004/2005 ainda é muito superior à média dos anos 1990 (ver dados abaixo) e ainda mantém o governo Lula como o recordista na média de desmatamento mais alto de todos os tempos: 84.233 Km2 no primeiro mandato do Presidente Lula. Série histórica do INPE sobre desmatamento PERÍODO TOTAL (Em Km2) 94/95 29.059 95/96 18.161 96/97 13.227 97/98 17.383 98/99 17.259 99/00 18.226 00/01 18.165 01/02 23.266 02/03 24.871 03/04 27.362 04/05 18.900 05 14.040 A Revista Grandes Reportagens Amazônia Ainda é possível Salvar? publicada pelo O Estado de S. Paulo (Novembro/Dezembro de 2007), mostra que, nos últimos cinco anos de ocupação predatória e desorganizada cerca de 100 mil quilômetros quadrados foram desmatados e que a Amazônia brasileira já perdeu 17% da cobertura original ou seja 700 mil quilômetros quadrados de floresta destruídos, o equivalente à área somada de Minas Gerais, Rio e Espírito Santo. As marcas da destruição aparecem nos mapas de monitoramento como enormes manchas vermelhas que avançam sobre a floresta, principalmente no interior de Rondônia, no norte de Mato Grosso, o leste do Pará e o norte do Maranhão. Registra-se que nos 83% restantes da Amazônia, inspira cuidados. Por baixo da copa das árvores, a floresta é marcada por queimadas e outros **

sinais de destruição. Pesquisadores do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia Imazon, em Belém, estimam que só 43% do bioma permanece intacto, livre de ocupação e da influência de atividades humanas sejam elas legais ou ilegais. O Código Florestal estabelece que os proprietários de terra podem derrubar até 20% da floresta para práticas econômicas. A maioria não respeita o limite. Os estados de Mato Grosso e Pará são os que mais desmataram. O Amazonas, um pouco mais isolado da fronteira agrícola, é o que tem a maior parte de seu território conservada: 98%. Rondônia, Maranhão e Tocantins já quase não têm mais florestas fora das áreas de conservação. Os cenários para o futuro permanecem pouco animadores. Pesquisadores estimam que 40% da Amazônia poderá desaparecer até 2050 se não houver uma alteração do modelo de exploração da região. É necessário que a preservação das florestas seja transformada em atividade rentável para os proprietários. Apesar de uma política de mais de 20 anos contra a devastação da Floresta Amazônica, os resultados não foram satisfatórios e têm mostrado preocupantes com relação aos instrumentos de controle do desmatamento e das queimadas. Diante dessas circunstâncias, estamos sugerindo a suspensão das autorizações para desmatamentos e queimadas ou, supressão de vegetação no âmbito da Amazônia Legal por um período de três anos a partir da publicação desta lei. Acreditamos que a moratória de três anos para as novas concessões poderá minimizar os impactos ambientais bem como possibilitar a discussão de alternativas que considerem a preservação ambiental uma atividade rentável no processo de desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sala das Sessões, em de novembro de 2007. Deputada THELMA DE OLIVEIRA PSDB/MT **