Tributo aos Combatentes Africanos



Documentos relacionados
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas 10 de Junho de 2010

INTERVENÇÃO DO SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DA DEFESA NACIONAL PAULO BRAGA LINO COMEMORAÇÕES DO DIA DO COMBATENTE, EM FRANÇA

Após 41 anos de descontos e 65 de idade reformei-me. Fiquei com UMA SÓ reforma calculada a partir dos descontos que fiz nesses 41 anos.

20 CURIOSIDADES SOBRE A GUERRA DO PARAGUAI

LEI Nº 4.375, DE 17 DE AGOSTO DE 1964

GUIA PRÁTICO SUBSÍDIO DE DESEMPREGO PARCIAL

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE GABINETE DO PRIMEIRO-MINISTRO

GUIA PRÁTICO REDUÇÃO DE TAXA CONTRIBUTIVA PRÉ REFORMA INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

Escola Básica do 2º e 3º Ciclos S. Paio de Moreira de Cónegos

Minhas senhoras e meus senhores.

Recenseamento Geral da População e Habitação 2014

UNIDADE LETIVA 2 ANEXO 1

Educação Patrimonial Centro de Memória

JOSÉ DE SOUZA CASTRO 1

O CNPV. e as Estruturas Locais de Voluntariado. 4 de Dezembro de 2009 Cláudia Amanajás

Partido Popular CDS-PP. Grupo Parlamentar. Projecto de Lei nº 575/X

Reflexão Final do Módulo Atendimento e serviço pós-venda

ROTEIRO DE ESTUDO I ETAPA LETIVA GEOGRAFIA 3.º ANO/EF 2015

02 de Fevereiro de 2010

TER NOÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE UMA NAÇÃO

PRESENÇA FEMININA DAS FORÇAS ARMADAS

GOVERNO UTILIZA EMPRESAS PUBLICAS PARA REDUZIR O DÉFICE ORÇAMENTAL, ENDIVIDANDO-AS E ARRASTANDO-AS PARA A SITUAÇÃO DE FALENCIA TÉCNICA

A origem dos filósofos e suas filosofias

INQ Já alguma vez se sentiu discriminado por ser filho de pais portugueses?

GUIA PRÁTICO SUBSÍDIO DE DESEMPREGO - MONTANTE ÚNICO

PARECER N.º 103/CITE/2010

PARECER N.º 104/CITE/2014

1. P: Quais são os requisitos para os candidatos ao Plano? R: O pedido é apresentado em nome de empresa comercial e preenche os seguintes requisitos:

REGULAMENTO SOBRE INSCRIÇÕES, AVALIAÇÃO E PASSAGEM DE ANO (RIAPA)

Decreto Regulamentar n.º 41/90 de 29 de Novembro

SAMUEL, O PROFETA Lição Objetivos: Ensinar que Deus quer que nós falemos a verdade, mesmo quando não é fácil.

Meu nome é José Guilherme Monteiro Paixão. Nasci em Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1957.

CARACTERÍSTICAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR DOS MORADORES DO DOMICÍLIO

Casamentos gay. Jornal Público (excerto)

Título: GENEALOGIA PARA OS JOVENS. Sub-título: DETECTIVES DO PASSADO

O que esperar do SVE KIT INFORMATIVO PARTE 1 O QUE ESPERAR DO SVE. Programa Juventude em Acção

A Cura de Naamã - O Comandante do Exército da Síria

CARTILHA SOBRE DIREITO À APOSENTADORIA ESPECIAL APÓS A DECISÃO DO STF NO MANDADO DE INJUNÇÃO Nº 880 ORIENTAÇÕES DA ASSESSORIA JURIDICA DA FENASPS

REGULAMENTO DAS PROVAS ORAIS DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO

JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SEP OCT NOV DEZ

ASPIRANTE FRANCISCO MEGA O PATRONO DA TURMA DA AMAN DE 15 FEVEREIRO DE 1955

Os sistemas de Segurança Social e da CGA utilizados pelo governo como instrumento orçamental

CENTRO HISTÓRICO EMBRAER. Entrevista: Eustáquio Pereira de Oliveira. São José dos Campos SP. Abril de 2011

澳 門 金 融 管 理 局 AUTORIDADE MONETÁRIA DE MACAU

IMS Health. Carlos Mocho. General Manager.

A. Disposições Gerais

VALOR GARANTIDO VIVACAPIXXI

PROJETO DE LEI N.º 1018/XII/4.ª PROTEGE OS DESEMPREGADOS DE LONGA DURAÇÃO, FACILITA O ACESSO AO SUBSÍDIO DE DESEMPREGO

Pretérito Imperfeito do Indicativo

Os gráficos estão na vida

MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL MARINHA

Perguntas mais frequentes sobre o Subsídio para aquisição de material escolar a estudantes do ensino superior no ano lectivo de 2014/2015

Há cabo-verdianos a participar na vida política portuguesa - Nuno Sarmento Morais, ex-ministro da Presidência de Portugal

PARECER N.º 256/CITE/2014

PARECER N.º 175/CITE/2009

N n RECIBOS VERDES NA ARS/ALGARVE

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES TRABALHOS DA COMISSÃO

Campanha Nacional de recolha de roupa de Inverno para as crianças refugiadas da Síria. Manual de Campanha

Eixo Prioritário III Valorização e Qualificação Ambiental e Territorial Equipamentos para a Coesão Local Equipamentos Sociais

Notícias da Quinta do Outeiro

Proteção Jurídica Atualizado em:

PARECER N.º 93/CITE/2009

Considerações sobre recolhimento de imposto sobre doação de espécie nos Estados e no Distrito Federal

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de assinatura de atos e declaração à imprensa

Preconceitos: Xenofobia, racismo, chauvinismo

Artur Pastor. Artur Pastor *Filho

NOVA CONTABILIDADE DAS AUTARQUIAS LOCAIS

Fascículo 2 História Unidade 4 Sociedades indígenas e sociedades africanas

PERÍODO ATÉ AO TELÉGRAFO ELECTRICO

Setembro, Fátima Barbosa

COMO PREPARAR E COMUNICAR SEU TESTEMUNHO PESSOAL

INDAGAR E REFLECTIR PARA MELHORAR. Elisabete Paula Coelho Cardoso Escola de Engenharia - Universidade do Minho elisabete@dsi.uminho.

REGULAMENTO INTERNO I. DENOMINAÇÃO / SEDE

IR 2010: Perguntas e respostas. 1. A planilha que a ANAJUSTRA forneceu possui valores divergentes ao que recebi do banco. Por quê?

- FICHA DE APOIO TÉCNICO Nº 4 /2008/RC/RS

SUMÁRIO: Regula a atribuição de incentivos à contratação de jovens à procura do primeiro emprego e de desempregados de longa duração.

LIGA DOS COMBATENTES

GUIA PRÁTICO PRESTAÇÕES DE DESEMPREGO - MONTANTE ÚNICO

RECUPERAÇÃO DE IMAGEM

Sobre o Jogo da Economia Brasileira

1 - A presente Convenção aplica-se a todas as pessoas empregadas, com excepção dos marítimos.

Anelise de Brito Turela Ferrão Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Edição de um filme a partir de fotografias

Pesquisa de Opinião Pública Tema geral: Como o eleitor escolheu seus candidatos em 2010

Universidade Metodista de São Paulo

MANUAL DO ALUNO DO CURSO DE INGLÊS EF

OBRIGAÇÕES DE CAIXA FNB Remuneração Garantida 2006 Instrumento de Captação de Aforro Estruturado Prospecto Informativo da Emissão

4 o ano Ensino Fundamental Data: / / Atividades de Língua Portuguesa Nome:

Oficina Porcentagem e Juros

Cotagem de elementos

Anna Júlia Pessoni Gouvêa, aluna do 9º ano B

EE-T4 OGUM O BLINDADO LEVE DA ENGESA

Notas técnicas. Introdução

Suspensão da Exigibilidade do Crédito Tributário

Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Portuguesa

ANEXOS 3º CICLO O OUTRO EM MIRA

Nós o Tempo e a Qualidade de Vida.

NOME: Nº. ASSUNTO: Recuperação Final - 1a.lista de exercícios VALOR: 13,0 NOTA:

Série 6 o ANO ROTEIRO DE ESTUDOS DE RECUPERAÇÃO E REVISÃO 3º BIMESTRE / 2011

PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 005/2011.

Transcrição:

Tributo aos Combatentes Africanos Foto Google Zona Leste Sector L 3 ( a zona a sul do Rio Corubal foi abandonada em 6 de Fevereiro de 1969, durante a Operação Mabecos Bravios) Após terminado o 2º ciclo do CSM (Curso de Sargentos Milicianos), promovido a 1º Cabo Miliciano em 18Abr68, apresentei-me no Grupo de Artilharia Contra Aeronaves nº 2, em Torres Novas e, no regresso de umas breves férias intituladas da Páscoa, recebi a ordem de mobilização, gozei as férias da ordem e, após alguns adiamentos, em 28Maio68 embarcava rumo à Guiné, a bordo do N/M Alenquer. Desembarcado a 02Jun68 apresentei-me na Companhia de Caçadores nº 5, uma das três companhia africanas existentes na altura, no dia 9 desse mês, após uma viagem a bordo dum avião Dakota, até Nova Lamego (Gabu; 12º 15 N 15º 35 W). Dois ou três dias depois enverguei o meu camuflado, ainda a cheirar a novo, para efectuar a minha primeira operação, integrado numa coluna militar que, a 15 de Junho, retirou a guarnição 1/6

de destacamento de Beli (11º 55 N 14º 12 W)para o destacamento de Madina do Boé (11º 46 N 14º 12 W) Não terminei a operação, já que fui evacuado, do Ché-che (11º 55 N 14º 12 ) para Nova Lamego, de helicóptero, com a primeira crise de paludismo. Mas a nossa intenção não é contar a história de um dos muitos militares que estiveram num dos teatros de operações na época. Pretendemos sim, prestar homenagem àqueles que, mesmo querendo, não conseguem fazer ouvir a sua voz ou publicar os seus escritos, talvez mais extensos do que outro qualquer militar metropolitano: os militares Africanos. Mas, na realidade, a referência às unidades do Exército, não esquecendo os outros ramos das Forças Armadas, deve-se à impossibilidade de referir todos e cada um dos cerca de 7.500 militares africanos que combateram ao lado dos metropolitanos. Também há que referir as unidades de milícias, uma força paramilitar mal armada e muitas vezes mal instruída, assim como os caçadores civis, os guias, os carregadores os assalariados e outros, que também prestaram uma valiosa contribuição no esforço de guerra junto das unidades militares. Quando passei por aquela terra, na unidade em que servi, conheci soldados cujo número mecanográfico terminava em 61, ou seja, tinham sido alistados em 1961 e, há poucos anos, ao ler relatórios sobre a minha companhia, datados de 1973 e 1974, lá constavam soldados alistados naquele ano. Isto quer dizer que houve homens soldados africanos - que cumpriram 13 anos de tropa o que equivale a 13 anos de guerra, e que, na realidade, é muito tempo. Em 1959/1960, com a nova orgânica das unidades nos territórios ultramarinos, foram atribuídas à Guiné três companhias de caçadores indígenas e um grupo de artilharia de campanha, no que concerne a tropas operacionais. Em 1960 já estavam criadas a 1ª CCaçI e a 4ª CCaçI, assim como o Grupo de Artilharia de Campanha 7. A 3ª CCaçI foi criada em Agosto de 1961. Estas unidades eram constituídas por praças africanas, enquadradas por oficiais, sargentos e praças especialistas europeus. Estima-se que nesta altura haveria cerca de 1.000 elementos africanos nas forças armadas Com a chegada de unidades de reforço à província, muitos militares do recrutamento local, foram atribuídos a essas unidades, transitando para as que vinham substituir as anteriores. A partir de 1966, os africanos foram chamados a uma intervenção mais activa no esforço de guerra. Foi iniciada a constituição de Pelotões de Caçadores Nativos (PelCaçNat) tendo sido formados sete pelotões numerados de 51 a 57. Estas unidades eram comandadas por um oficial com a patente de alferes, coadjuvado por furriéis e 2/6

praças especialistas europeias, uma estrutura adaptada à sua dimensão entre 30 a 40 homens. Neste ano subiu, para 3952, o número de tropas locais em serviço. O ano de 1967 foi um ano de viragem. As companhias de Caçadores existentes foram redenominadas e transformaram-se nas CCaç 3 (ex-1ª CCaçI), CCaç 5 (ex- 3ª CCaçI) e CCaç 6 (ex- 4ªCCaçI), além da formação de mais um PelCaçNat o nº 58. Em 1968 foram criados 11 novos PelCaçNat, a quem foram atribuídos os números de 59 a 69, e em 1969 foram criadas as CCaç 11, 12, 13 e 14, a partir das CArt 2479 e CCaç 2590, 2591 e 2592, que já tinham uma constituição igual às anteriores companhias existentes do recrutamento local ou foram adaptadas. No período entre 1970 e 1973 foram constituídas mais sete companhias de recrutamento local, as CCaç 15, 16, 17 e 18 (em 1970), a CCaç 19, (em 1971) e as CCaç 20 e 21 (em 1973). Em 1973 foi, também, constituído o Pel.Caç.Nat 70. A partir das antigas equipas de comandos, nas quais já se integravam muitos militares africanos, foi constituída a 1ª Companhia de Comandos Africanos (1969) seguida da 2ª CCmdsA (1971) e 3ª CCmdsA (1973), constituindo, neste ano, o Batalhão de Comandos da Guiné. Esses foram os verdadeiros heróis que, batendo-se nas mesmas condições de que qualquer militar metropolitano, já lá se encontravam quando chegávamos e lá continuaram quando partíamos, e a maioria lá ficou quando, ao abrigo do Acordo de Alvor, datada de 26 de Agosto de 1974, entregaram as armas [artigo 17º do anexo ao Acordo: As forças armadas portuguesas obrigam-se a desarmar as tropas africanas sob o seu controle. A Republica da Guiné-Bissau prestará toda a colaboração necessária para o efeito.] e, receberam um punhado de dinheiro [artigo 24º do anexo ao Acordo: A Delegação do PAIGC regista a declaração do Governo Português de que pagará todos os vencimentos até trinta e um de Dezembro de mil novecentos e setenta e quatro aos cidadãos da Guiné Bissau que desmobilizar das suas forças militares ou militarizadas, bem como aos civis cujos serviços às forças armadas sejam dispensados.], tiveram que regressar às tabancas e iniciar uma vida para a qual não havia, e provavelmente ainda não há, futuro promissor. Foram estes homens que, vivendo com as famílias a seu lado, se despediam delas sem saber se voltavam da operação de combate em que iam participar. Foram estes homens que, faziam amizade com o branco, mas este terminada a sua comissão de serviço regressava, mas ele o preto ficava e continuava a luta. Foram destes homens que se ouviu, muitos anos depois, frases como a que Assumane, um mecânico de bicicletas em Bissau, que tinha percorrido toda a região do Gabú quando foi soldado respondeu, quando lhe perguntaram porque não continuou no 3/6

exército depois da independência: Eu jurei bandeira do português, não pode jurar duas bandeiras. 3ª C. CAÇ I Nova Lamego - 1962/1967 4ª C. CAÇ I Bolama - 1962/1967 C. CAÇ. 3 Barro/Cacheu - C. CAÇ. 5 Nova Lamego - C. CAÇ. 6 Bedanda - C. CAÇ. 11 C. CAÇ 12 Bambandinca - C. CAÇ. 13 Bissorã - 1969/1974 C. CAÇ 14 Bolama - C. CAÇ. 15 C. CAÇ. 16 C. CAÇ. 17 1970/1972 C. CAÇ. 18 1971/1973 PEL. CAÇ. NAT. 51 PEL. CAÇ. NAT. 52 PEL. CAÇ. NAT. 53 PEL. CAÇ. NAT. 55 PEL. CAÇ. NAT. 57 PEL. CAÇ. NAT. 58 PEL. CAÇ. NAT. 60 1968/1974 PEL. CAÇ. NAT. 69 4/6

Batalhão de Comandos da Guiné PELOTÃO DE MILÍCIAS 169 (Guiné 1965) PELOTÃO DE MILÍCIAS 410 Companhia de Milícias de Jugudul Guiné 1973/1974 GRUPOS ESPECIAIS (Guiné ) Retirado, com a devida vénia, de http://brasoes.home.sapo.pt 5/6

O Autor: Nascido em Leiria em Setembro de 1946, foi recrutado em Julho de 1967 tendo frequentado o Curso de Sargentos Milicianos. Foi mobilizado e embarcou para a Guiné em Maio de 1968, onde foi integrado na Companhia de Caçadores nº 5, unidade do recrutamento local do Comando Territorial Independente da Guiné, até Junho de 1970, data em que regressou, passando à disponibilidade no mês seguinte. 1968/1970 Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria Nova Lamego e Canjadude - Guiné 2008 Técnico Oficial de Contas Grande Lisboa 6/6