Columba palumbus azorica ( Hartert, 1905)

Documentos relacionados
Arceuthobium azoricum Hawksworth et Wiens

O PRIOLO - AVE ENDÉMICA DOS AÇORES A SUA HISTÓRIA VISTA ATRAVÉS DA FILATELIA

Os problemas ambientais. Políticas globais. Environmental Politics and Economics. Perda da biodiversidade

1. DEFINIÇÕES DAS CATEGORIAS DE AMEAÇA CONSTANTES NA NOVA REVISÃO DO LIVRO VERMELHO DOS VERTEBRADOS DE PORTUGAL (CABRAL et al.

Clima, rios e vegetação da península Ibérica. História e Geografia de Portugal 5.º ano

A RAA em números. Geografia

1. Definições das categorias de ameaça constantes na nova revisão do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (ICN in press):

Manta. ou Milhafre? Saiba quem sou...

Dissertação apresentada na Universidade dos Açores para obtenção do grau de Mestre em Gestão e Conservação da Natureza

Protocolo de Avaliação e Monitorização da predação de ninhos de Priolo nas áreas de nidificação de Priolo por roedores e mustelídeos

Plano de Acção Brigadas Salvamento

Nome científico: Nome Popular: Classe: Ordem: Família: Género: Espécie: Reprodução:

EVOLUÇÃO DOS EFECTIVOS POPULACIONAIS DE POMBO TROCAZ, COLUMBA TROCAZ, ENTRE 1986 e ACTUAL ESTADO DE CONSERVAÇÃO.

Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores COMISSÃO DE ASSUNTOS PARLAMENTARES, AMBIENTE E TRABALHO RELATÓRIO E PARECER

Gestão do coelho-bravo nos Açores

HABITAT. Principais Ameaças O PROJECTO

Os Açores localizam-se a oeste de Portugal e a noroeste da Madeira

VOLUME II Introdução e enquadramento

Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados Senhora e Senhores Membros do Governo

GESTÃO CINEGÉTICA. A minha experiencia pessoal. Francisco de Almeida Garrett

Escola EB, 2,3, DE Aranguez Ano lectivo de 2009/2010. Disciplina de Geografia 7ºano

Mil Madeiras Preciosas ltda. PROCEDIMENTO OPERACIONAL PC-007/2007

Projeto de Lei n.º 966/XIII/3ª. Reforça a preservação da fauna e espécies cinegéticas em contexto de pósincêndio. Exposição de motivos

Açores é destaque na maior feira de observadores de aves da Europa

corrac peloteixo Iniciativa da Guarda O TEIXO

Monitorização da Comunidade de Aves Estepárias na ITI de Castro Verde

Impactos sócio-económicos da conservação do Priolo em São Miguel. Joaquim Teodósio

MONITORIZAÇÃO DA CODORNIZ NOS AÇORES

Evolução dos edifícios por ilha e município nos Açores

Protecção da avifauna contra a colisão e electrocussão em linhas eléctricas

Boletim Climatológico Outono de 2010

Impacto das Linhas Eléctricas de Média Tensão em Algumas Espécies de Aves Vulneráveis

As zonas húmidas são dos ecossistemas mais ricos e

(HC) (ADITAMENTO) DOCUMENTO INTERNO ADITAMENTO. Código : DOC17 Edição : 2 Data : 09/02/2015 Pag : 1/5 ESTRATÉGIA DE GESTÃO DA FLORESTA DE ALTO VALOR

RESUMO NÃO TÉCNICO OUTUBRO 2008

MONITORIZAÇÃO E CONTROLO DE PREDADORES NA ÁREA DE NIDIFICAÇÃO DA FREIRA DA MADEIRA Pterodroma madeira ATÉ 2005.

Áreas de Alto Valor de Conservação

Histórico Primeiro Programa Conservação do Lince em Portugal: Conhecimento sobre a distribuição histórica / actividades gestão habitat na RNSM

Mapa de riqueza dos vertebrados endémicos para a ilha de Santa Maria Endemic species richness map for Santa Maria

LIFE Saramugo Conservação do Saramugo (Anaecypris hispanica) na bacia do Guadiana (Portugal)

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Decreto Legislativo Regional n.º 46/2008/A de 7 de Novembro de 2008

Monitorização Ambiental em Parques Eólicos

POSEUR CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

Impactes sectoriais. Sistemas ecológicos e biodiversidade. Impactes Ambientais 6 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Animais em vias de extinção

Pombos. Valor nutricional. como o aproveitamento da carne de caça, cujo superior valor nutricional está mais do que provado.

Boletim Climatológico Verão de 2010

Resultados e atividades de 2013

Escola Básica e Secundária de Santa Maria. Ficha-relatório: Basalto (pillow lavas)

SINERGIAS COM GESTORES CINEGÉTICOS PARA

Turismo Sustentável. Intervenção da HEP na BTL

Anexo I. Um Ano de Projecto BARN

Impacto das alterações climáticas na distribuição e ecologia das aves estepárias

Mortalidade de abetarda e sisão em linhas de muito alta tensão. O Alentejo e a ZPE de Castro Verde como casos de estudo

68 Por Jussara Goyano (TEXTO), Otavio Marques (TEXTO e FOTOS) e Márcio Martins (FOTOS)

Pela Caldeira Velha, Monumento Natural

projecto LIFE Lince Press-Kit Moura/Barrancos Contactos Coordenação e Equipa técnica

Projeto de Resolução n.º 1993/XIII. Exposição de motivos

Índice de Figuras. Pág

O PNSAC e a. Extractiva. Maria Jesus Fernandes. 24.Fevreiro 2010 Porto de Mós

Boletim Climatológico Anual de 2010

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

II Estabelecimentos de Instituições Bancárias e Seguradoras e respectivo Pessoal ao Serviço, em 2000

Boletim Climatológico Mensal Março de 2015

Ordenamento do Espaço Rural

1. Nota introdutória Actividades para Conhecer para Proteger Roteiros Ambientais... 4

BREVE CARACTERIZAÇÃO DA FLORA DA ILHA GRACIOSA

Recorrência de Incêndios Florestais: Concelho de Mondim de Basto

1. Nota introdutória Actividades para Conhecer para Proteger Roteiros Ambientais... 4

Associação Os Montanheiros Boletim Informativo n.º 37 Dezembro 2013

Nome científico: Nome Popular: Classe: Ordem: Família: Subfamília: Género: Espécie: Características:

AULÃO UDESC 2013 GEOGRAFIA DE SANTA CATARINA PROF. ANDRÉ TOMASINI Aula: Aspectos físicos.


Boletim Climatológico Agosto 2016 Região Autónoma dos Açores

Boletim Climatológico Janeiro 2018 Região Autónoma dos Açores

Boletim Climatológico Mensal Junho de 2015

Avaliação Ambiental Estratégica Relatório Ambiental. PGRH-Açores Anexo I

Boletim Climatológico Outubro 2016 Região Autónoma dos Açores

LEVANTAMENTO DA FLORA VASCULAR EM DIFERENTES HABITATS DA ILHA DO PICO (AÇORES)

Boletim Climatológico Mensal Dezembro de 2013

ACTIVIDADE CINEGÉTICA NA REGIÃO AUTONOMA DOS AÇORES

RECUPERAÇÃO DO HABITAT DO PRIOLO NA ZPE PICO DA VARA/RIBEIRA DO GUILHERME

nome do indicador ÁREA AGRÍCOLA E FLORESTAL COM ELEVADO VALOR NATURAL

Gilson Semedo Claudia Brito Aline Rendall

BOLETIM MENSAL Nº 45 ABRIL DE VALONGO Parque das Serras do Porto

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS. Grupo Parlamentar. Projeto de Resolução n.º 552/XIII-2ª

DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL N.º 22/2004 TURISMO DE NATUREZA

Boletim Climatológico Fevereiro 2019 Região Autónoma dos Açores

RESUMO DE ABATE DE ANIMAIS DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

Avaliação da sensibilidade da População em Geral e da Administração Relativamente à Problemática do Priolo e da Vegetação Nativa

Boletim Climatológico Mensal Outubro de 2014

Boletim Climatológico Mensal Setembro de 2010

Boletim Climatológico Mensal Dezembro de 2015

PACTO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DO LINCE-IBÉRICO

Análise Sociológica Tema 2 Impactes das actividades económicas no ambiente Aulas Práticas

DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL N.º 18/2008 PARQUE NATURAL DE ILHA DO PICO

Boletim Climatológico Junho 2016 Região Autónoma dos Açores

Uso Sustentável da Água na Cultura do Arroz

Taxus baccata L. 43 Exemplares no Parque

Transcrição:

Columba palumbus azorica ( Hartert, 1905) Nome Comum: Pombo Torcaz O Pombo Torcaz pertence à ordem dos Columbiformes, família Columbidae. Esta espécie apresenta uma ampla distribuição europeia, sendo parte das suas populações migradoras (Norte e Centro Europa) e parte sedentárias (Sul Europa). Das populações sedentárias conhecem-se várias subespécies, entre estas se inclui a subespécie açoriana Columba palumbus azorica, a qual desenvolveu um conjunto de caracteres particulares no arquipélago dos Açores. Foi descrita como uma nova subespécie endémica por Hartert (1905), o qual baseou a sua reclassificação taxonómica em caracteres da coloração da plumagem e da sua morfologia. A subespécie açoriana diferencia-se da espécie parental, por apresentar uma plumagem mais escura; uma cor mais avermelhada do peito; a cabeça cinza mais escuro; as penas superiores da cauda são mais acastanhadas e as inferiores da cauda e das asas são mais escuras; as asas em média são mais curtas. Existe uma forte lacuna no conhecimento sobre a sua ecologia, biologia e distribuição desta espécie. Esta foi considerada pela maioria dos ornitólogos que visitaram o arquipélago, como uma espécie pouco abundante. Godman (1870) e Hartert & Ogilvie-Grant (1905) assinalaram que o Pombo Torcaz era mais abundante em São Jorge e no Pico. Bannermam & Bannerman (1963) na sua expedição ao arquipélago dos Açores, não conseguiram observar a espécie em nenhuma das ilhas que visitaram, no entanto, recolheram depoimentos de que a espécie ocorria e era relativamente abundante. Le Grand (1983) refere a espécie como residente em 6 ilhas, nas quais o seu estatuto em geral era vulnerável e em perigo na ilha das Flores. Esta espécie até 1993 foi considerada como cinegética, fazendo parte dos calendários venatórios regionais. A partir desta data deu-se a sua inclusão na Directiva Aves, por se considerar um endemismo insular e, portanto, uma espécie cuja área de distribuição mundial se limita aos Açores. Esta medida gerou uma série de controvérsias entre a população local, a qual considera a espécie abundante e causadora de estragos na agricultura em algumas ilhas, nomeadamente Faial e Pico. Por outro, lado os caçadores alegam a abertura da caça à espécie, baseando esta posição nas dúvidas sobre o verdadeiro estatuto taxonómico de

subespécie endémica, uma vez que estes afirmam a presença de bandos muito abundantes da espécie parental durante época de Outono e princípio do Inverno, e por outro lado a caça consistir uma forma de controlo da densidade da espécie evitando prejuízos à agricultura. Distribuição O Columba palumbus azorica encontra-se presente na maioria das ilhas dos Açores, excepto na ilha do Corvo. Na ilha Graciosa a sua nidificação necessita confirmação. Protecção e Status O Pombo Torcaz é uma subespécie endémica e encontra-se actualmente protegida como espécie prioritária pela Directiva Aves/Habitats Decreto-Lei n.º 140/99, incluída no Anexo A-I sujeita a medidas que visam a sua protecção e do seu habitat. Está classificada no Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal como vulnerável (SNPRCN, 1990). A abundância do Pombo Torcaz não é constante ao longo da sua distribuição, verificando-se diferenças significativas no status de conservação das suas populações a nível das várias ilhas. No grupo central a espécie é bastante comum nas ilhas do Pico, Faial, São Jorge e Terceira, enquanto na Graciosa a espécie é rara e necessita confirmação da sua nidificação. No grupo Oriental as populações de São Miguel e, principalmente Santa Maria, apresentam efectivos muito baixos. No Grupo Ocidental na ilha das Flores a população também é pouco abundante. Ecologia e Habitat Existe um elevado desconhecimento sobre a ecologia desta espécie nos Açores. Para além dos trabalhos de caracterização morfológica e classificação taxonómica de Hartert e Ogivilvie-Grant (1905), apenas foi realizado recentemente um trabalho sobre estudos populacionais da espécie nas ilhas do Faial e do Pico, abordando os problemas causados na agricultura e a possível ocorrência de bandos da raça parental. A espécie surge associada a habitats florestais, com preferência pelas florestas e matas laurifólias de média altitude, bosques mistos de faia (Myrica faya), pau branco (Picconia azorica) e incenso (Pittosporum undulatum) de baixa altitude ou pinhais com

sub cobertos de espécies endémicas. As matas de criptoméria parecem não ser um habitat preferencial da espécie. Utiliza como habitat de alimentação a floresta, em particular as espécies da flora natural, bem como é observada a se alimentar em campos acabados de lavrar, onde consome raízes, rizomas, tubérculos, bolbos, pequenas sementes e pequenos insectos. Parece não apresentar preferência por nenhum tipo de cultura, pelo que os prejuízos causados por esta espécie são localizados e pontuais. O Pombo Torcaz durante a época de nidificação é uma espécie territorial, e devido ao seu comportamento bastante tímido, é por vezes difícil de ser observada dentro das zonas florestais, onde normalmente voa logo acima do topo das árvores. A época de nidificação tem início a meados de Abril e estende-se até Junho, com uma postura de dois a três ovos e com duas semanas de incubação. Constrói os ninhos a meia altura das árvores, no tronco ou entre os ramos e utiliza também muros. Esta espécie fora da época de nidificação possui hábitos gregários (Outubro a Fevereiro), formando por vezes bandos de considerável tamanho, constituídos por indivíduos de várias idades que usam as mesmas áreas de alimentação. Alguns autores mencionam a ocorrência de migrações inter-ilhas, em particular no grupo central durante o Verão. No entanto, a existência de uma rota migratória dos indivíduos da espécie parental entre os Açores e o Continente não é conhecida e nunca foi comprovada, podendo contudo ocorrer alguns indivíduos da espécie parental de uma forma esporádica, como acontece com o caso de algumas espécies visitantes ocasionais no arquipélago, que surgem nos Açores devido a desvios da sua rota de migração, resultado de condições atmosféricas adversas. Ameaças A quase total ausência de conhecimento sobre esta espécie levanta a principal ameaça sobre a sua conservação. São essenciais estudos sobre a sua distribuição, selecção do habitat, ecologia alimentar, ecologia reprodutora e movimentações sazonais. Os dados disponíveis apontam para uma diferente utilização do espaço durante a época de nidificação e fora desta, este facto pode em alguns casos, apontar para uma deficiente cobertura das áreas de ZPE terrestes para a protecção desta espécie. Este aspecto é de elevada relevância, já que a maioria das ZPE terrestes foram implementadas com base na protecção do Pombo Torcaz.

São necessários também estudos sobre a ecologia alimentar da espécie e determinar os reais impactos que esta pode ter na agricultura local. Os estudos actuais revelam novamente uma incongruência entre as queixas dos agricultores e o comportamento observado, não se tendo verificando, mais do que estragos pontuais e localizados. A caça ilegal continua a constituir uma das ameaças à espécie e em algumas ilhas, como no grupo oriental, as baixas abundâncias poderão em parte estar relacionadas com uma sobre exploração de caça no passado A fragmentação e degradação do seu habitat natural (floresta natural), e a florestação intensiva das ilhas com Cryptomeria japonica, constituem outro factor de de ameaça.

Informação Ecológica Tabela 6: Avaliação do estado de Conservação/Populacional de Ilha SIC Espécie População Conservação Faial Caldeira e Capelinhos - SIC Columba palumba azorica B B Faial Caldeira e Capelinhos - ZPE Columba palumba azorica B B Faial Ponta do Varadouro - SIC Columba palumba azorica C B Flores Zona Central - Morro Alto Columba palumba azorica B A Pico Montanha do Pico, Mistério da Praínha e Caveiro - SIC Columba palumba azorica B A Pico Montanha do Pico, Mistério da Praínha e Caveiro - ZPE Columba palumba azorica B A Pico Ponta da Ilha - ZPE Columba palumba azorica B A Pico Ponta da Ilha - ZPE Columba palumba azorica B A São Jorge Costa Nordeste e Ponta do Topo - SIC Columba palumba azorica B A São Miguel Lagoa do Fogo - SIC Columba palumba azorica C B Pico da Vara- Ribeira do Guilherme - São Miguel ZPE Columba palumba azorica?? Terceira Serra de Santa Bárbara e Pico Alto - SIC Columba palumba azorica C B Observação: estas classificações são realizadas de acordo com as regras estabelecidas pela Comissão Europeia DG XI.D.2 * População: tamanho e densidade da população da espécie presente no sitio em relação à população do território nacional. A: 100% p> 15% B: 15% p > 2 % C: 2% p > 0% D: População não significativa * Conservação: grau de conservação das características do habitat que são importantes para a espécie em causa e com possibilidades de recuperação. A: Excelente conservação B: Boa conservação C: Conservação média ou reduzida