O MERCADO DE TRABALHO PARA O ADVOGADO NO DIREITO DESPORTIVO O Blog do Direito Desportivo da CAASP, escrito por este colega, presenteia os ilustres advogados, neste mês de agosto, marcado de comemorações pela instalação dos primeiros cursos jurídicos no país, com uma ampla abordagem das oportunidades de trabalho existentes na área. O Direito Desportivo, segundo Valed Perry, surgiu da ruptura de fronteiras pelo poder do esporte, abrindo as portas das competições internacionais, criando um verdadeiro Mundo Desportivo, no qual não havia mais lugar para as discriminações, para os regionalismos, para as querelas de política internacional, mas, apenas, sobrelevava o amor ao desporto, à pugna desportiva, ao desejo de competir. Atletas, dirigentes, clubes e entidades de direção sentiram que havia uma meta à frente: reunirem-se, vindo de todas as Nações, em torno de uma instituição internacional que tivesse no desporto sua razão de ser, que independesse dos governos, que adotasse seus princípios, que editasse as suas Tábuas da Lei. Nasceram, então, as entidades internacionais de direção dos desportos. As três primeiras, todas fundadas em Paris, foram a Union Cycliste Internationale, em 1885, o Comitê Olímpico Internacional, em 1894, e a Fédération Internationale de Football Association (FIFA), em 1904. Seguiram-nas a Fédération Internationale de Natation Amateur, Londres, 1908, a International Amateur Athletic Federation, Berlim, 1913, a Fédération Internationale de Basketball Amateur, Lausanne, 1933, e tantas outras. Nas palavras do decano do Direito Desportivo brasileiro, Na preservação da liberdade da prática do desporto, na preservação da liberdade do próprio desporto, todas elas nos seus estatutos estabeleceram princípios indeclináveis de proibição total à discriminação religiosa, política e racista, de conformidade com a legislação e os organismos desportivos, de respeito absoluto à autoridade de suprema hierarquia que elas representavam. O Direito Desportivo é o complexo de
normas e regras que rege o desporto no mundo inteiro e cuja inobservância pode acarretar a marginalização total de uma associação nacional do concerto mundial desportivo. No Brasil, a primeira norma a tratar do esporte foi o Decreto-Lei 3.199/41. Parte do Governo Vargas, teve inspiração na legislação italiana da época, de cunho fascista. Somente em 1975, na Ditadura Militar, essa norma foi substituída. Surgia a Lei 6.251, a qual estipulava que os clubes, independentemente de sua dimensão, deveriam organizar-se da mesma maneira. Significativa mudança veio com a Constituição Federal de 1988. Primeira Carta nacional a tratar do esporte, ela regulamentou a Justiça Desportiva, a qual já tinha seus procedimentos regidos pelo Código Brasileiro de Disciplina de Futebol e pelo Código Brasileiro de Justiça e Disciplina Desportiva. A Lei 8.672/93, ou Lei Zico, propunha o clube-empresa, facilitava as parcerias de investimento no esporte e consagrava a autonomia das entidades esportivas. A Lei 9.615/98, ou Lei Pelé, ou Lei Geral Sobre Desporto (LGSD), absorvendo 60% da Lei Zico, trazia como inovação a extinção do passe e a criação da cláusula penal na hipótese de rescisão contratual. Em 2003, foi aprovada a Lei 10.671, ou Estatuto do Torcedor. Em 2004, a Lei 10.891, ou Bolsa-Atleta. Em 2006, as Leis 11.345, ou Timemania, e 11.438, ou Lei de Incentivo ao Esporte. Feita a necessária apresentação da legislação esportiva internacional e nacional, partamos às possibilidades de atuação do advogado no mercado de trabalho do Direito Desportivo.
No que podemos chamar de Direito Desportivo Puro, o trabalho se dá nas questões relacionadas às regras das modalidades e aos regulamentos e disciplina nas competições. Tomemos como exemplo o Campeonato Paulista de Basquetebol Juvenil, para atletas não profissionais até 19 anos. É preciso ter conhecimento das regras do jogo (falta, falta técnica, falta antidesportiva, tempo de partida, arremessos de 1, 2 e 3 pontos, entre outros), as quais são emanadas pela FIBA, entidade máxima da modalidade, assim como do regulamento da competição (pontuação, turno e returno, playoffs, critérios de desempate, entre outros), do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD, ou Resolução CNE 29/09, abarca todas as modalidades esportivas inclusive o futebol, que anteriormente possuía Código próprio, regulando a organização, o funcionamento, as atribuições da Justiça Desportiva brasileira e o processo desportivo, bem como a previsão das infrações disciplinares desportivas e de suas respectivas sanções) e do Regimento Interno do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) do Basquetebol paulista. Assim, o causídico pode atuar, tanto preventiva, como contenciosamente, representando a entidade regional de administração do desporto (Federação Paulista de Basketball FPB), entidades de prática desportiva (clubes e associações esportivas), atletas, árbitros, assistentes e demais membros de equipe de arbitragem, e pessoas naturais que exerçam quaisquer empregos, cargos ou funções, diretivos ou não, diretamente relacionados à modalidade esportiva, como dirigentes, administradores, treinadores, médicos ou membros de comissão técnica. Se a competição for internacional, como, por outro exemplo, o Campeonato Mundial de Basquetebol Sub-20, é necessário que se tenha conhecimento, além das regras do basquetebol, do regulamento da competição, do Capítulo VII dos Estatutos da FIBA, que trata do Tribunal Arbitral do Basquetebol (Basketball Arbitral Tribunal BAT), e das regras de arbitragem desse Tribunal. Maneira muito semelhante acontece com as inúmeras outras modalidades esportivas. Vê-se, desta forma, o quão vasto é o mercado no Direito Desportivo Puro.
Não é diferente com relação ao que podemos chamar de Direito Desportivo Híbrido. Nele, a partir das normas-mãe, as Leis 9.615/98 (Lei Pelé) e 10.671/03 (Estatuto do Torcedor), as quais, apesar de algumas falhas por nós demonstradas no artigo de junho do Blog, direcionam o rumo das relações e da doutrina jusdesportiva. A Lei Pelé, por exemplo, diferenciando a atividade profissional da não profissional de esporte coletivo, permite uma contratação justa entre entidade de prática (clube, associação esportiva) e atleta: no primeiro caso, exige contrato de trabalho escrito, com prazo determinado, e previsão de cláusula indenizatória desportiva para a saída imotivada do atleta e de cláusula compensatória desportiva para a dispensa imotivada do atleta; no segundo, exige contrato de formação escrito, com previsão de cumprimento, pela entidade de prática, de exigências mínimas para o saudável desenvolvimento do atleta, em contrapartida de direito à indenização caso ele se oponha à assinatura com ela do primeiro contrato profissional de trabalho ou se vincule, sem sua autorização, a outra entidade de prática desportiva. O Estatuto do Torcedor, dentre suas inúmeras disposições, equipara, nos termos da lei 8.078/90 (Código de Proteção e Defesa do Consumidor), a fornecedor a entidade responsável pela organização da competição profissional e a entidade de prática desportiva profissional detentora do mando de jogo, e a consumidor o torcedor, ditando as regras, inclusive prevendo crimes e respectivas penas, para o bom funcionamento, a transparência e a segurança do espetáculo esportivo. A Lei Pelé e o Estatuto do Torcedor, por conseguinte, além de darem elementos para a criação e o desenvolvimento de uma doutrina jusdesportiva nacional, fazendo, ainda, em seus bojos, referências a outros ramos do direito ensejam um fascinante, porém árduo e vasto, caminho para o advogado que quiser se aventurar nas relações jurídicas esportivas.
Citemos alguns exemplos. Quanto ao Direito do Trabalho: - assessoria na elaboração e administração dos contratos de trabalho entre atletas e entidades de prática desportiva; - atuação em ações judiciais do contencioso trabalhista; - assessoria em questões de Direito Previdenciário relacionadas com a atividade esportiva. Quanto ao Direito Civil: - atuação em ações judiciais de contencioso cível oriundas de negócios e relações do esporte; - orientação a agentes de jogadores no relacionamento com atletas e entidades de prática desportiva; - acompanhamento e suporte jurídico em negociações e transferências de atletas de diversas modalidades como futebol, vôlei, futsal, dentre outras. - assessoria na elaboração e administração de contratos de natureza civil oriundos dos negócios e relações do esporte; - assessoria na aplicação dos dispositivos legais referentes ao relacionamento entre as entidades de prática desportiva entre si e com entidades de administração do desporto. Quanto ao Direito do Consumidor: - assessoria na aplicação das normas às relações de consumo para a realização de eventos esportivos aplicação da Lei 10.671/03 (Estatuto do Torcedor); - atuação em ações judiciais para discussão da aplicação das normas às relações de consumo para a realização de eventos esportivos. Quanto ao Direito da Propriedade Intelectual:
- assessoria na elaboração e administração de contratos que tenham por objeto exploração de propriedade intelectual, direitos de imagem e direitos autorais de atletas e entidades desportivas; - atuação em providências para registro de propriedades intelectuais; - assessoria na elaboração e administração de contratos de licenciamento de marcas, nomes, imagem e outras propriedades; - atuação em ações judiciais cujo objeto diga respeito a exploração de propriedade intelectual, direitos autorias e direito de imagem. Quanto ao Direito Penal: - assessoria na forma de orientação sobre eventuais implicações penais dos atos de gestão de entidades desportivas; - assessoria na forma de orientação sobre eventuais implicações penais na organização e promoção de eventos esportivos Quanto ao Direito Tributário: - assessoria no planejamento tributário de entidades desportivas, atletas e empresas com atuação em negócios do esporte; - assessoria para utilização de leis de incentivo fiscal voltadas à atividade esportiva Timemania, Lei de Incentivo ao Esporte, Bolsa Atleta. Quanto ao Direito Administrativo: - assessoria na relação com entes da administração pública em programas de fomento, incentivo e regulamentação de atividades esportivas. Quanto aos Projetos para Construção/Reforma de Arenas e Centros Esportivos:
- assessoria na gestão de projetos plano de construção/reforma e plano de viabilidade financeira para construção/reforma de arenas COPA DO MUNDO 2014 e OLIMPÍADAS 2016. Embora inúmeras sejam as possibilidades de atuação do advogado no Direito Desportivo e, como se pôde verificar, impossível de serem esgotadas, vale alertar ao colega que, em contrapartida, por conta da já também mencionada, em outro artigo do Blog, falta de profissionalização do esporte principalmente do nacional, bem como da acirrada competitividade, ínsita à essa atividade, é deveras tortuoso o caminho para se firmar na área. Entretanto, tudo que é mais difícil dá mais ânimo para enfrentar e prazer depois de conquistar. Que o Mês do Advogado, amante incondicional de sua profissão e empreendedor nato, dê a ele todas as boas energias para novas realizações. Felicidades, Advogado, e até o mês que vem!