EFICIÊNCIA DE ISCAS-ODORES NA COLETA DE EUGLOSSINI (HYMENOPTERA, APIDAE) Mayla Gava¹, Luceli de Souza² 1 Graduanda em Ciências Biológicas Licenciatura, Universidade Federal do Espírito Santo/Departamento de Biologia, Alto Universitário S/N Caixa Postal 16, CEP: 29.500.000 Alegre - ES, Brasil, mayla.gava@gmail.com 2 Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Biologia, Centro de Ciências Agrárias, Alto Universitário S/N Caixa Postal 16, CEP: 29.500.000 Alegre - ES, Brasil, luceli.souza@ufes.br Resumo- A ordem Hymenoptera é um dos grupos chave envolvidos nos processos de polinização e as abelhas que pertencem à tribo Euglossini são conhecidas como as abelhas das orquídeas. O presente trabalho teve como objetivo analisar a atratividade de cinco diferentes tipos de essências (eucaliptol, eugenol, acetato de benzila, vanilina e baunilha) usadas para coletar Euglossini em dois fragmentos de Mata Atlântica em Burarama/ES e as coletas foram realizadas de 9:00 às 13:00, de fevereiro a agosto de 2013, pelo método de coleta ativa e passiva. A ativa consistiu de chumaços de algodão envolto por gaze e embebido com essência e as abelhas atraídas foram recolhidas com auxílio de rede entomológica. A passiva consistiu em armadilhas feitas com garrafas plásticas com chumaço de algodão interno e, neste método, as abelhas atraídas pela essência ficaram retidas na armadilha. Todas as abelhas coletadas foram preparadas no Laboratório de Zoologia do Centro de Ciências Agrárias da UFES (Alegre/ES). Eucaliptol foi a isca mais atrativa em ambos os fragmentos e pode estar relacionado com a volatilidade do produto e também pela guilda de Euglossini de ocorrência na área estudada. Palavras-chave: Abelha nativa, Eucaliptol, Mata Atlântica, Fragmento. Área do Conhecimento: Zoologia Introdução O território brasileiro possui um dos biomas mais ricos em biodiversidade no mundo, a Mata Atlântica (SOS MATA ATLÂNTICA, 2013). A maior parte da sua vegetação encontra-se distribuída em ilhas que, por estarem em áreas distantes umas das outras, deixaram de possuir a capacidade de sustentar um grande número de espécies, estando assim mais suscetível a extinção das mesmas (TABARELLI; PINTO e LEAL, 2009). Um bom exemplo desse processo ocorre na região da Floresta Estacional Semidecidual no sul do Espírito Santo, e a região encontra-se marcada por fragmentos de vegetação decorrentes do processo histórico da ação antrópica na região (GODINHO, 2011). A ordem Hymenoptera é um dos grupos chave envolvidos nos processos de polinização e é representando por vespas, formigas e abelhas (BRANDÃO, 2013). Dentro do grupo das abelhas as que pertencem à tribo Euglossini são conhecidas como as abelhas das orquídeas (REBÊLO e GARÓFALO, 1997). Os machos deste grupo coletam elementos aromáticos frequentemente produzidos em flores de Orchidaceae, Araceae, Gesneriaceae ou Solanaceae, mas também por fungos e outras fontes (PERUQUETTI et al, 1999). Ainda é desconhecida a utilização exata dessas substâncias pelas abelhas, acredita-se que tenha alguma função em sua biologia reprodutiva (SILVEIRA; ALMEIDA e MELO, 2002). Peruquetti et al (1999) relataram que a partir dos estudos desenvolvidos por Dodson e colaboradores, em 1969, a grande maioria dos compostos passaram a ser conhecidos e utilizados em iscas para a atração de Euglossini e, desta forma, a tribo passou a ser estudada mais efetivamente, aumentando seu número nas coleções entomológicas. Desde então vários compostos químicos foram utilizados para a coleta de Euglossini com variações em função da vegetação e região geográfica. Assim, o presente trabalho teve como objetivo analisar a atratividade de cinco diferentes tipos de essências para coletar Euglossini, em dois fragmentos da Floresta Estacional Semidecidual no sul do Espírito Santo.
Metodologia O estudo foi realizado no distrito de Burarama Cachoeiro de Itapemirim ES, em duas áreas de fragmentos de Mata Atlântica. A primeira conhecida como Sítio Poço do Pedro, em reflorestamento desde 1991, denominada de área reflorestada. A outra área conhecida como Sítio Ribeirão Floresta encontra-se preservada e com poucas interferências antrópicas desde os anos 90, denominada área preservada. As duas áreas estão separadas por uma propriedade com plantio de café, e os pontos de coleta distam 370 metros um do outro. A coleta de abelhas Euglossini foi realizada uma vez por mês no período de fevereiro de 2013 a agosto de 2013 nos dois fragmentos florestais da Mata Atlântica. A coleta foi feita por quatro horas consecutivas, entre 09:00 e 13:00 horas, sendo utilizadas cinco substâncias odoríferas para a atração dos machos de Euglossini: eucaliptol, eugenol, acetato de benzila, vanilina e essência de baunilha. Foram utilizados dois métodos de coleta, um com isca ativa e outro com isca passiva (Figura 1), e todas as iscas ficaram amarradas nas ramagens das árvores a 1,5 m do solo. Em função da evaporação das diferentes substâncias usadas, foi feita uma recarga de hora em hora, exceto para eucaliptol que devido a sua alta volatilidade foi recarregado em intervalos de 30 minutos. O conjunto de iscas-odores foi instalado a 30 metros da borda da mata e as iscas passivas e ativas foram dispostas a 5 metros uma das outras, cada qual contendo uma substância odorífera (Figura 2). Figura 2- Esquema demonstrando a disposição das iscas ativas e passivas nas áreas de coleta em Burarama/ES. Para a coleta ativa, após a aplicação das substâncias odoríferas toda abelha atraída foi coletada com rede entomológica e colocadas em frascos mortíferos contendo acetato de etila; posteriormente os exemplares foram colocados em frascos separados por essência utilizada, horário e dia. Na coleta passiva ao final do período de exposição no campo as abelhas foram recolhidas e separadas em frascos por essência e data de coleta. As abelhas foram levadas ao Laboratório de Zoologia do Centro de Ciências Agrárias da UFES (Alegre/ES) onde foram preparadas para a identificação e cada indivíduo recebeu etiqueta de localização incluindo a isca onde foi capturado. Resultados A Figura 1 A: isca ativa feita com um chumaço de algodão presa em um ramo de árvore. B: isca passiva confeccionada com garrafa pet e presa em árvore (Foto: Marcela Gava, 2013) B Foram coletadas 377 abelhas durante o período de fevereiro a agosto de 2013, sendo 185 indivíduos coletados na área preservada e 192 coletados na área reflorestada. Na área preservada as abelhas foram atraídas somente pelas iscas eucaliptol e vanilina (Figura 3). Eucaliptol atraiu em fevereiro 17 abelhas, nos meses de março e abril atraíram, respectivamente, 55 e 40 abelhas, em junho 26, em julho 6 abelhas e em agosto 35 abelhas. A essência vanilina atraiu 3 abelhas em fevereiro, 1 abelha em março, 1 em abril e 1 em agosto. Nos demais meses não atraiu nenhuma abelha.
Discussão Figura 3- Número total de abelhas coletadas por essência na área preservada, em cada mês de coleta, em Burarama/ES. Figura 4- Número total de abelhas coletadas por essência, em cada mês de coleta, na área reflorestada em Burarama/ES. Na área reflorestada as abelhas também foram atraídas pelas essências eucaliptol e vanilina (Figura 4). Em fevereiro 22 abelhas foram atraídas por eucaliptol, 109 no mês de março, 18 no mês de abril, 2 em maio, 2 abelhas em julho e 25 em agosto. Vanilina atraiu 7 abelhas somente no mês de abril; nos demais meses não houve nenhuma abelha coletada com esta essência. As demais essências não atraíram nenhuma abelha em nenhuma das duas áreas estudadas e em nenhum tipo de isca, ativa ou passiva. O horário de coleta e as substâncias utilizadas nas iscas, neste estudo, foram indicados em diversos trabalhos como sendo os mais atrativos para esta guilda de abelhas (DIAS, 2010; FREITAS, 2009; REBÊLO e GARÓFALO, 1997). Das cinco essências utilizadas eucaliptol atraiu a maior quantidade de machos de Euglossini (96,55%), tanto no Sítio Ribeirão Floresta (área preservada, n=179) quanto no Sítio Poço do Pedro (área reflorestada, n=185), e esta essência foi a preferida pelas abelhas Euglossini em diferentes estudos como na região urbana de João Pessoa (PB) estudada por Bezerra e Martins (2001); no Baixo-Sul da Bahia por Neves e Viana (1997); nas matas ciliares do rio São Francisco por Neves e Viana (1999); Centro Sul do Paraná estudado por Dias (2010); no Cerrado em Uberlândia (MG) por Freitas (2009) e Região Sul de Minas Gerais em estudo conduzido por Cardoso Jr (2010). As demais essências, exceto a vanilina, não atraíram nenhuma Euglossini, isso pode ter ocorrido devido a alta volatilidade do eucaliptol que, segundo Cardozo Jr (2010), pode refletir na atratividade das abelhas. Essinger (2005) trabalhando no Sul de Santa Catarina coletou um baixo número de indivíduos e espécies com eucaliptol e obteve maiores coletas com vanilina e eugenol. As demais essências utilizadas - acetato de benzila, baunilha e eugenol - não atraíram nenhuma Euglossini, exceto vanilina que atraiu poucos indivíduos (n=13). Braga (2000) verificou que algumas espécies de Euglossini como Eulaema nigrita foram atraídas preferencialmente por esse composto químico. Neste estudo, como os indivíduos não foram identificados até espécie, podemos inferir que na região de coleta ocorre uma pequena quantidade de indivíduos com essa preferência odorífera, refletindo no baixo número de indivíduos coletados, hipótese essa que será corroborada ou não assim que os exemplares forem identificados até espécie, por especialistas do grupo. A abordagem em identificar as preferências odoríferas de Euglossini permite aumentar o conhecimento sobre a estrutura das comunidades desta guilda de abelhas e auxiliar na indicação de espécies bioindicadoras de qualidade nos ambientes estudados. A essência com maior atratividade sobre uma espécie em particular pode colaborar no entendimento do uso preferencial de habitats da região estudada, a capacidade de deslocamento e a utilização das essências em uma área abrangente (CARDOSO Jr, 2010).
Conclusão A essência eucaliptol foi a isca mais eficiente na atração de machos de Euglossini na região de Burarama/ES e pode ser utilizada para monitoramento rápido da diversidade de abelhas nesta região. Referências BEZERRA, C.P.; MARTINS, C.F. Diversidade de Euglossinae (Hymenoptera, Apidae) em dois fragmentos de Mata Atlântica localizados na região urbana de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, v. 18, n. 3, p. 823-835, 2001. BRAGA, A. K. A comunidade de Euglossini da Estação Ecológica da Paulo de Faria, Paulo de Faria, SP, e comportamento de coleta de fragrâncias pelos machos de Euglossa townsendi Cockerell (Hymenoptera: Apidae: Euglossini). Ribeirão Preto, SP, 20p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). Universidade de São Paulo USP, 2000. BRANDÃO, C. R. F. Hymenoptera. Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX, 5: invertebrados terrestres. São Paulo: FAPESP, p.141-146, 1999. CARDOSO JR., C. S. Estudo da Fauna de Euglossini (Hymenoptera, Apidae) em Paisagem Fragmentada na Serra da Forquilha, Jacutinga, Região sul de Minas Gerais: Diversidade de espécies e uso de habitats. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas - Universidade Estadual Paulista, 2010. DIAS, F. V. Ocorrência de Euglossina (Hymenopetara: Apidae) em um fragmento da Floresta Ombrófila Mista do Centro Sul do Paraná, Brasil. 2010, 50f. Dissertação. (Mestrado em Biologia Evolutiva) Pós-graduação em Ciências Biológicas na Universidade Estadual do Centro Oeste, 2010. ESSINGER, L. N. 2005. Euglossini (Apidae: Hymenoptera) no sul de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 65 p. FREITAS, R.F. Diversidade e sazonalidade de abelhas Euglossini Latreille (Hymenoptera: Apidae) em fitofisionomias do bioma Cerrado em Uberlândia, MG. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais Universidade Federal de Uberlândia, 2009. GODINHO, T.O. Quantificação de biomassa e de nutrientes na serapilheira em trecho de Floresta Estacional Semidecidual Submontana, Cachoeiro de Itapemirim, ES. 2011, 114f. Dissertação. (Mestrado em Ciências Florestais) Pós-graduação em Ciências Florestais na Universidade Federal do Espírito Santo, 2011. NEVES, E. L.; VIANA B. F. Inventário da fauna de Euglossinae (Hymenoptera, Apidae) do Baixo Sul da Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, v.4, n. 14, p.813,1997. NEVES, E. L.; VIANA, B. Comunidade de machos de Euglossine (Hymenoptera Apidae) das matas ciliares da margem esquerda do médio rio São Francisco, Bahia. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 28, n. 2, p. 201-210, 1999. PERUQUETTI, R. C.; CAMPOS, L. A. O.; COELHO, C. D. P.; ABRANTES, C. V. M. e LISBOA L. C. O. Abelhas Euglossina (Apidae) de áreas de Mata Atlântica: abundância, riqueza e aspectos biológicos. Revista Brasileira de Zoologia, v. 16 (suppl. 2), p. 101-118,1999. REBÊLO, J.M.M.; GARÓFALO, C.A. Comunidades de Machos de Euglossine (Hymenoptera: Apidae) em Matas Semideciduas do Nordeste do estado de São Paulo. Anais da Sociedade Entomológica Brasileira, v. 26, n. 2, p. 243 255,1997. SILVEIRA, F. A.; ALMEIDA, E. A. B.; MELO, G. A. R. Abelhas Brasileiras: sistemática e identificação. Belo Horizonte: Fernando A. Silveira, 2002. 253p SOS MATA ATLÂNTICA. Disponível em:< http://www.sosma.org.br/> Acesso em 10 de jan de 2013. TABARELLI, M.; PINTO, S. R.; LEAL, I. R. Mata Atlântica Nordestina: Fragmentação, Degeneração e Perda da Biodiversidade. Ciência Hoje. v. 44, n. 263, p. 36-41, 2009.