EFICIÊNCIA DA ARMADILHA ETANÓLICA NA CAPTURA DE COLEOPTERA EM ECOSSISTEMAS DA FLORESTA NACIONAL DO ARARIPE-FLONA
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- Victorio Avelar Gesser
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1 EFICIÊNCIA DA ARMADILHA ETANÓLICA NA CAPTURA DE COLEOPTERA EM ECOSSISTEMAS DA FLORESTA NACIONAL DO ARARIPE-FLONA Cicero Antonio Mariano dos Santos 1 Francisco Roberto de Azevedo 2 Eridiane de Silva Moura 3 Daniel Rodrigues Nere 4 Raul Azevedo 5 1 Introdução/ Desenvolvimento As ações antrópicas não fundamentadas em princípios de sustentabilidade fragmentam florestas e a diversidade destes ambientes está ameaçada, bem como o equilíbrio de toda a cadeia trófica e esse equilíbrio pode ser medido pela observação das populações de insetos considerados bioindicadores. Os insetos desempenham papel importante nos ecossistemas terrestres, pois estão envolvidos na decomposição de matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, fluxo de energia, polinização, dispersão de sementes, reguladores de populações de plantas, animais e outros organismos (LOPES, 2008). Muitos insetos, como os coleópteros, são bioindicadores da qualidade e da degradação ambiental, devido às várias funções que desempenham na natureza, estreita relação com a heterogeneidade dos ecossistemas e processos ecológicos, bem como seu alto grau de sensibilidade às mudanças ambientais. O etanol tem sido empregado como isca para aumentar a eficiência das armadilhas na coleta desses insetos, uma vez que essa substância tem poder atrativo sobre várias espécies de coleobrocas. Esse princípio se baseia na fermentação alcoólica da madeira quando cortada, doente ou em processo de degradação, pois nessas condições ocorre a decomposição da biomassa vegetal por microrganismos (NAKANO; LEITE, 2000). Este trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência da armadilha etanólica em levantamentos dos coleópteros bioindicadores da qualidade ambiental presentes em quatro vegetações da Floresta Nacional do Araripe-FLONA. 1 Estudante do curso de Agronomia, Universidade Federal do Ceará, Crato, Ceará, anttony.ms@gmail.com 2 Profº Dr. do curso de Agronomia, Universidade Federal do Ceará, Crato, Ceará, razevedo@ufc.br 3 Estudante do curso de Agronomia, Universidade Federal do Ceará, Crato, Ceará, annne.moura@gmail.com 4 Estudante do curso de Agronomia, Universidade Federal do Ceará, Crato, Ceará, r.nere@agronomo.eng.br 5 Técnico do laboratório de Entomologia, Universidade Federal do Ceará, Crato, Ceará, raulbiologo@gmail.com 1
2 2 Metodologia/ Resultados Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri A pesquisa foi realizada na Floresta Nacional do Araripe (FLONA-Araripe), em sua parte localizada na região do Cariri cearense, município do Crato, de agosto a setembro de 2012, em quatro vegetações distintas: Mata Úmida (7º15 25 S e 51º29 26 W), Carrasco (7º17 18 S e 51º32 24 W), Cerrado (7º20 45 S e 51º28 15 W) e Fragmento de Mata (7º12 33 S 51º26 39 W). Foram instaladas cinco armadilhas por vegetação, dispostas em pontos estratégicos, com espaçamentos de 30 m entre elas. As armadilhas foram confeccionadas com garrafas plásticas de refrigerante de 2 litros (PET), cortadas nas laterais e na parte inferior, no sentido transversal, que representa o recipiente de coleta. No interior desse recipiente foram colocados 250 ml de uma solução de detergente neutro + água, na proporção de 1:10. Foram colocados ainda, na parte superior das armadilhas, pequenos frascos com tampa de borracha transpassada com tubos endovenosos, no interior dos quais foram colocados etanol que serviu como atrativo alimentar. Os insetos ao serem atraídos pelo atrativo caíram dentro da solução contida na parte inferior da armadilha. As coletas foram feitas semanalmente, com o auxílio de uma peneira de plástico de malha fina e um pincel, totalizando oito coletas em toda a pesquisa. Após as coletas, substituía a solução de detergente + água e, caso necessário, colocava-se etanol nos frascos com tampa de borracha à medida que eles iam secando. Os insetos coletados foram acondicionados em recipientes plásticos de 100 ml contendo álcool a 70% e, em seguida, levados ao laboratório de Entomologia da UFC, Campus Cariri, no Crato, para triagem e identificação em nível de ordem e família utilizando chaves de identificação. Cada vegetação foi considerada uma comunidade com características próprias, determinadas por meio dos seguintes índices faunísticos: Frequência: pi = ni/n, em que ni é o número de indivíduos da espécie i e N é o total de indivíduos da amostra. Dominância: LD = (1/S) x 100, em que LD é o limite de dominância e S o número total de famílias. As famílias foram classificadas em dominantes, quando os valores da frequência apresentaram-se superiores a esse limite, e, não dominantes, quando os valores foram inferiores. Abundância: Para calcular a abundância, empregou-se uma medida de dispersão, por meio do cálculo do intervalo de confiança (IC) das médias das famílias, a 5% de probabilidade. Assim, as famílias foram classificadas em raras, quando o número de indivíduos foi menor que o limite inferior do IC; dispersas, quando esse número ficou entre os limites inferiores do IC; comuns, quando situado dentro do IC; abundantes, quando entre os limites superiores; e muito abundantes, quando o número de indivíduos foi maior que o limite superior do IC. Constância: C = p x 100/N, em que p é o número de coletas com a família e N é o número total de amostras tomadas. As famílias são classificadas como constantes, quando estão presentes em mais de 50% das amostras; acessórias, quando presentes em 25-50% das amostras; e acidentais, quando presentes em menos de 25% das amostras. Riqueza: Refere-se à abundância numérica de uma determinada família em uma comunidade e pode ser calculada pelo índice de Menhinick: DMn = S/ N, em que S é o número de famílias e N o de indivíduos na comunidade. Foram amostrados um total de 10 famílias, pertencentes à ordem Coleoptera. Sendo que a família mais rica foi a Bostrichidae, com 85% dos insetos coletados, seguido da família Scolytidae com 11% dos indivíduos. Dos indivíduos 2
3 capturados 49% foram encontrados no Fragmento de Floresta, 24% na Mata Úmida, 15% no Cerrado e 12% no Carrasco (Tabela 1). A armadilha etanólicas assemelha-se com uma árvore em estado de decomposição, onde esta está em plena atividade fermentativa, liberando um odor característico ao do álcool, que atrai os coleópteros que atuam na decomposição deste material. O uso do álcool etílico como princípio atrativo para monitoramento e controle desta Ordem de insetos foi recomendado por Nakano; Leite (2000). Estes afirmaram que plantas atacadas entram em fermentação alcoólica. Isto é consequência da decomposição de matéria vegetal causada por fungos que penetram pelas galerias dos ramos atacados e desta forma atraem outras coleobrocas. O que justifica a grande quantidade de bostriquídeos capturados, pois estes dependem de árvores em decomposição para sua sobrevivência. O Fragmento de Floresta apresentou a maior quantidade de coleópteros capturados com 478 indivíduos (Tabela 1), sendo a família Bostrichidae a que apresentou a maior frequência nas coletas com 83% de todos os insetos coletados, e somente ela foi considerada como uma família dominante sobre as demais, muito abundante neste ecossistema e sendo constantemente capturada pelas armadilhas (Tabela 2). O fato do Fragmento de Floresta apresentar um grande número de bostriquídeos capturados pode ser explicada pela grande quantidade de árvores em estado de decomposição, pois parte destas foram derrubadas para os plantios de culturas anuais. A família Scolytidae foi à segunda família frequentemente coletada neste ecossistema, esta apresentou 15% de frequência, porém não é uma família dominante, dispersa e sendo capturadas com constância nestas armadilhas (Tabela 2). A Mata Úmida apresentou a segunda maior captura de coleópteros apresentando um total de 255 indivíduos (Tabela 1). Esta também apresentou apenas uma família dominante, sendo os bostriquídeos os mais capturados nas armadilhas (Tabela 2). Isto porque este ambiente também apresenta madeira em decomposição, podres, mortas etc., o que pode ter favorecido a esta família uma maior frequência na captura com relação aos demais ambientes. Apresentando 91% de frequência dos bostriquídeos, a Mata Úmida foi o ecossistema que mais capturou esta família de coleópteros, quando comparada com a captura nos demais ecossistemas. Além de apresentar uma maior frequência os bostriquídeos foram dominantes, muito abundantes e são constantemente coletados nas armadilhas. Mezzomo et al. (1998) relataram que os Scolytidae e Bostrichidae tiveram maior número de indivíduos coletados em armadilhas etanólicas em povoamentos de eucalipto nos municípios de Paineiras e Paraopeba, Minas Gerais, onde o florestamento com eucalipto assemelha-se ao ambiente de mata úmida tendo os mesmos processos fermentativos de decomposição. O Cerrado apresentou a terceira maior quantidade de indivíduos capturados, coletando um total de 175 coleópteros (Tabela 1). Neste, os bostriquídeos foram os insetos mais coletados neste ambiente, sendo considerado como uma família dominante, muito abundante e constantemente capturado. Estes apresentaram uma frequência de 83% seguida da família Scolytidae com 10% de frequência (Tabela 2). Neste ecossistema foi coletado 145 indivíduos da família Bostrichidae (Tabela 1). No Carrasco capturou-se um total de 143 indivíduos, sendo este ecossistema o que apresentou a menor quantidade de coleópteros coletados em relação aos demais ecossistemas (Tabela 1). Neste ambiente, a família Bostrichidae, foi também a de maior ocorrência nas armadilhas, apresentando 86% de frequência, dominante, muito abundante e sendo frequentemente capturada. 3
4 Tabela 1: Numero total de indivíduos das famílias de Coleoptera coletados em ecossistemas da Floresta Nacional do Araripe, Crato-CE, Ecossistemas Ordens Fragmento de Mata Total Famílias floresta Carrasco Úmida Cerrado Bostrichidae Carabidae Cerambycidae Curculionidae Coleoptera Elateridae Bruchidae Lucanidae Scarabaeidae Scolytidae Staphyllinidae Total 2 Fonte: Dados de Pesquisa O fato de o Cerrado e o Carrasco apresentarem a menor quantidade de bostriquídeos coletados quando comparados com o Fragmento de Floresta e a Mata Úmida, pode ser explicado por apresentar a menor quantidade de árvores lenhosas em estado de decomposição, onde a fermentação é intensa, ou seja, estes insetos preferem áreas com árvores lenhosas em pleno estado de decomposição. Já o Cerrado e o Carrasco apresentam árvores de pequeno porte, retorcidas, mais espaçadas e com uma grande quantidade de arbustos. Flechtmann (1995) registrou baixas densidades populacionais para as mesmas espécies, em vegetação de cerrado, em Agudos, estado de São Paulo. Tabela 2: Índices faunísticos das famílias de Coleoptera coletadas em ecossistemas da Floresta Nacional do Araripe, Crato-CE, Famílias Fragmento de floresta Carrasco Mata Úmida Cerrado F D A C F D A C F D A C F D A C Bostrichidae 83% DOM MA CTE 86% DOM MA CTE 91% DOM MA CTE 83% DOM MA CTE Bruchidae 0% ND D ACI % ND D ACE Carabidae % ND D ACE Cerambycidae 1% ND D CTE 3% ND D CTE 3% ND D CTE 6% ND D CTE Curculionidae 1% ND D CTE 1% ND D ACE 0% ND D ACI Elateridae % ND D ACI 1% ND D ACE Lucanidae 0% ND D ACI Scarabaeidae % ND D ACI Scolytidae 15% ND D CTE 7% ND D CTE 5% ND D CTE 10% ND D CTE Staphyllinidae % ND D ACI D: Dominância (DOM) dominante; (ND) não dominante. A: Abundância (MA) muito abundante; (A) abundante; (C) comum; (D) dispersa. F: Frequência. C: Constância (CTE) constante; (ACE) acessória; (ACI) acidental. Fonte: Dados de Pesquisa 4
5 3 Considerações Finais O Fragmento de Floresta tem maior número de indivíduos de Coleoptera por ser um ambiente perturbado pela ação antrópica. A família Bostrichidae é a mais frequente e predominante em todos os ecossistemas. A armadilha etanólica é eficiente na captura de Bostrichidae e Scolytidae. 4 Referências FLECHTMANN, C.A.H. Manual de pragas em florestas: Scolytidae em reflorestamento com pinheiros tropicais. Piracicaba: IPEF, p. LOPES, B.G.C. Levantamento da entomofauna bioindicadora da qualidade ambiental em diferentes áreas do alto Jequitinhonha- Minas Gerais. Monografia de graduação, Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes, Inconfidentes, 47p., MEZZOMO, J. A. et al. Influência de faixas de vegetação nativa sobre Coleoptera em Eucalyptus cloeziana. Revista Árvore, v. 22, n. 1, p , NAKANO, O.; LEITE, C.A. Armadilhas para insetos. Pragas agrícolas e domésticas. Piracicaba: FEALQ, p. 5
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