Estado, elites, processos e desafios do desenvolvimento no Espírito Santo

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Transcrição:

Estado, elites, processos e desafios do desenvolvimento no Espírito Santo

Copyright 2018, Ednilson Silva Felipe, Ueber José de Oliveira. Copyright 2018, Editora Milfontes. Rua Santa Catarina, 282, Serra - ES, 29160-104. Compra direta e fale conosco: https://editoramilfontes.com.br Distribuição nacional em: www.amazon.com.br editor@editoramilfontes.com.br Brasil Editor Chefe Bruno César Nascimento Conselho Editorial Profª. Drª. Adriana Pereira Campos (UFES) Cilmar Franceschetto (Arquivo Público do Estado do ES) Prof. Dr. Júlio Bentivoglio (UFES) Prof. Dr. Leandro do Carmo Quintão (IFES-Cariacica) Prof. Dr. Rafael Cerqueira do Nascimento (IFES-Guaraparí) Prof. Dr. Ueber José de Oliveira (UFES)

Ednilson Silva Felipe Ueber José de Oliveira (Organizadores) Estado, elites, processos e desafios do desenvolvimento no Espírito Santo Editora Milfontes

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação digital) sem a permissão prévia da editora. Projeto Gráfico e Editoração Weverton Bragança do Amaral Capa Imagem da Capa Cais de Capuaba - Vila Velha - ES Acervo do Organizador Revisão Sob a exclusiva responsabilidade do autor Impressão e Acabamento GM Gráfica e Editora Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) ES79 Estado, elites,processos e desafios do desenvolvimento no Espírito Santo/ Ednilson Silva Felipe; Ueber José de Oliveira (org.). Serra: Editora Milfontes, 2018. 174 p. : 20 cm Inclui Bibliografia. ISBN: 978-85-94353-28-3 1. Política. 2. Elites. 3. Desenvolvimento. 4. Economia. I. Felipe, Ednilson Silva II. Oliveira, Ueber José III. Título. CDD 981.52

Sumário Apresentação... 7 Elites e empresariado: o Conselho de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo (CODEC)... 13 Diones Augusto Ribeiro & Mário Miranda de Magalhães O governo Rubens Rangel (1966-1967) e a Federação das Indústrias do Espírito Santo... 35 Ciro Campelo Oliveira Elites e processos de desenvolvimento, no Espírito Santo, no governo Christiano Dias Lopes (1967-1971)... 57 Ueber José de Oliveira Governos biônicos, elites e os grandes projetos de impacto: da segunda muleta às descontinuidades desenvolvimentistas... 85 Ednilson Silva Felipe & Ueber José de Oliveira Economia, migração e emprego. O Espírito Santo nos anos 2000... 109 Guilherme Augusto da Silva Souza & Rogério Naques Faleiros Sustentabilidade ambiental e desafios na cafeicultura capixaba: a problemática da crise hídrica e irrigação... 131 Ednilson Silva Felipe A representação histórica do desenvolvimento e o governo Hartung: os usos políticos do passado no Espírito Santo... 149 Rafael Cerqueira do Nascimento

Ednilson Silva Felipe, Ueber José Oliveira (org.) Apresentação Desde os fundadores da Teoria das Elites Vilfredo Pareto (1848-1923), Gaetano Mosca (1858-1941) e Robert Michels (1876-1926), o conjunto de estudos sobre a temática adquiriu outra dimensão a partir das décadas de 1970 e 1980, ocasião em que se tornou mais recorrente a incursão ao tema, especialmente por parte de cientistas políticos, sociólogos, historiadores, economistas, entre outros, motivados, segundo Grynszpan & Grill, 1 por pelo menos dois aspectos: o primeiro foi a ruptura com sua marca antidemocrática expressa nos autores clássicos supramencionados; e o segundo aspecto diz respeito à progressiva autonomização do objeto elites, que passou a ser abordado a partir de perspectivas teórico-metodológicas diversas, inicialmente no quadro da ciência política e da sociologia política americana, que, aos poucos, foi adquirindo maior abrangência nos demais ramos as ciências humanas e sociais e em outras regiões do mundo, sobretudo nas últimas décadas. De qualquer modo, não obstante ao incremento dessa categoria de estudos, ainda permanece um visível contraste entre a riqueza das possibilidades abertas pelos estudos das elites políticas, que compreendem um amplo universo de indagações a serem consideradas aos estudos dos fenômenos políticos em geral, e a relativa escassez de trabalhos com tal conceituação e abordagem. Estudos sobre elites abrem novas possibilidades de análise, especialmente se levarmos em consideração as novas técnicas e metodologias de pesquisa verificadas com o advento da chamada Nova História Política, que proporcionaram inovadoras maneiras de manusear as fontes documentais, além, é claro, de novos apontamentos de natureza teórica. 1 GRYNSZPAN, Mario; GRILL, Igor Gastal. Apresentação. Dossiê Elites: Recursos e legitimação. Revista Pós Ciências Sociais, v.8, n.15, 2011. 7

Estado, elites, processos e desafios do desenvolvimento no Espírito Santo Partindo dessas considerações, a presente coletânea, intitulada Estado, elites, processos e desafios do desenvolvimento no Espírito Santo, representa um esforço de pensarmos a história regional capixaba com o objetivo de refletir acerca das vinculações significativas entre as elites de poder, o Estado e os processos de desenvolvimento propriamente ditos. Apresenta, também, dois grandes desafios que, de uma forma ou outra, deverão permear as discussões, se se quer lançar o estado em processos atuais e mais sustentáveis de desenvolvimento, seja no aspecto social ou no aspecto ambiental. O livro reúne reflexões realizadas por pesquisadores, cujos trabalhos procuram dialogar acerca desse tripé Estado-Elitesprocessos de desenvolvimento em variadas dimensões, possibilidades e consequências. A Coletânea inicia-se com o capítulo escrito por Diones Augusto Ribeiro e Mário Miranda de Magalhães, no qual discutem a importância do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo (Codec) para as políticas públicas destinadas à modernização do Espírito Santo através do planejamento e estudos técnicos a respeito da possibilidade de industrialização. Segundo os autores, o Codec foi um importante locus no qual as propostas destinadas ao desenvolvimento capitalista capixaba foram pensadas, tanto voltadas para a industrialização como também a criação de incentivos às atividades tradicionais locais, ligadas à agricultura. Constatam que as mudanças visavam adequar, em longo prazo, a economia local ao capitalismo brasileiro e internacional resgatando ideias que remontam ao governo Jones dos Santos Neves (1951-1955), incrementadas quando da criação do Codec por Carlos Fernando Monteiro Lindenberg (1959-1961). No segundo capítulo, Ciro Campelo Oliveira trata das ações tomadas por Rubens Rangel na direção do aparelho estatal capixaba (1966-1967), bem como de sua relação com a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes). Rangel assumiu o governo após a renúncia do ex-governador Francisco Lacerda de Aguiar, ocorrida em abril de 1966. Sua entrada na direção do governo capixaba representou uma nova concepção política. Rangel, além de mudar o modelo de administração do Estado priorizando uma administração técnica, ao invés de política, também inseriu a Findes no aparelho estatal 8

Ednilson Silva Felipe, Ueber José Oliveira (org.) através do seu secretariado. Durante seu governo, foram tomadas medidas importantes para aparelhar o Espírito Santo com o projeto industrializante que viria a se materializar com os governos militares. Em seguida, no terceiro capítulo, Ueber José de Oliveira discorre acerca das elites capixabas e dos papeis por elas desempenhados por ocasião do processo de atualização histórica verificada no Governo Christiano Dias Lopes (1967-1971). O autor parte do pressuposto de que a crise decorrente da política de erradicação dos cafezais empreendida pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC) foi o principal elemento gerador de uma ruptura na composição política do Estado, ante o colapso da estrutura agrária dominante até então, proporcionando o consenso em torno de um projeto de desenvolvimento econômico com base na indústria. Tais aspectos acabaram por se tornar a plataforma ideal para a circunstância havendo uma confluência de agendas entre o projeto das elites capixabas e o projeto industrializante dos governos militares eficiente e oportunamente proposta pelo Governador Christiano Dias Lopes. O capítulo na sequência foi escrito pelos professores Ednilson Silva Felipe e Ueber José de Oliveira. Os autores analisam o projeto de desenvolvimento do Governo Arthur Carlos Gerhardt Santos (1971-1975), quando houve o incremento da confluência histórica com o projeto de desenvolvimento que vinha sendo gestado no Governo anterior, de Christiano Dias Lopes (1967-1971). Analisam a reorientação promovida por Gerhardt na política de desenvolvimento, não mais voltada ao fomento às atividades tradicionais, da customização das operações da Vale do Rio Doce e de incentivos ficais, como seu antecessor. Gerhardt Santos, que fora Secretário de Dias Lopes, verificou desde antes de assumir o governo, as dificuldades de o Estado modernizar a sua economia ante à incapacidade, por parte das forças político-econômicas regionais, de gerar poupança para fins de investimentos em infra-estrutura. Assim, dedicou-se a atrair investidores externos, o que redundou naquilo que se convencionou chamar de Grandes Projetos de Impacto (GPs), isto é, a implantação dos pólos siderúrgico e paraquímico no Estado, 9

Estado, elites, processos e desafios do desenvolvimento no Espírito Santo projeto de desenvolvimento desenhado e parcialmente executado durante seu governo e concluído nas administrações seguintes. O capítulo é concluído com a análise dos dois governos subsequentes Élcio Alvares (1975-1979) e Eurico Rezende os quais assumiram o Estado já em circunstâncias de abertura democrática, momento de perda de fôlego da tecnocracia, quando se verificou o desmonte do aparato técnico-administrativo que de algum modo contribuiu para a promoção das políticas voltadas para o desenvolvimento em termos regionais naquele contexto. Além do exposto, o livro trata ainda de desafios recentes que não podem ser desconsiderados se se quer colocar o estado em novas rotas mais sustentáveis social e ambientalmente. No quinto capítulo, Guilherme Augusto da Silva Souza e Rogério Naques Faleiros analisam o fenômeno da migração em interface aos temas da economia e do emprego, no Estado do Espírito Santo, considerando o seu processo de industrialização tardio e retardatário, processo este que pode ser interpretado também como importante fator de geração de pobreza. Nesse sentido, os autores consideram o processo de industrialização não apenas como um fenômeno que redunda na alteração das técnicas e na diversificação da produção, mas, acima de tudo, numa profunda alteração da divisão social e espacial do trabalho. E, nesse sentido, as migrações constituem um fenômeno atrelado às mudanças históricas, sociais e estruturais de cada economia. No sexto capítulo, Ednilson Silva Felipe trata dos desafios da cafeicultura capixaba num tempo marcado pelo notável desenvolvimento tecnológico, por um lado, mas também pelo desafio da sustentabilidade, dada a ocorrência, cada vez mais claras de estiagens prolongadas, seca e restrições hídricas no território capixaba. Essa nova situação gera grandes desafios que, se não observados e enfrentados, condenará a agricultura capixaba à crises recorrentes, consequência das mudanças climáticas em curso. A sustentabilidade, argumenta o capítulo, é hoje, e será ainda mais, uma variável fundamental aos processos de desenvolvimento. E por fim, nem por isso menos importante, no sétimo e último texto da coletânea, Rafael Cerqueira do Nascimento procura 10

Ednilson Silva Felipe, Ueber José Oliveira (org.) analisar como se constituiu, no contexto contemporâneo, o resgate e a mobilização de determinadas lembranças em função do governo Hartung e seu projeto de desenvolvimento. O foco da abordagem está nas publicações relacionadas ao governo do Estado e à ONG ES em Ação, respectivamente, a Coleção Canaã e a coleção Memórias do desenvolvimento: grandes nomes. Analisa como a trajetória histórica do desenvolvimento do Espírito Santo no período republicano é interpretada sob a perspectiva do ideal de superação, o que orientou a configuração de uma representação de governos e personalidades da elite política republicana qualificados como os condutores do progresso capixaba. Por meio dessas publicações, reforçou-se a produção de uma memória sobre o desenvolvimento ao mesmo tempo em que evidenciou-se o uso político desse passado. Assim, os textos que compõem esta edição apontam para várias dimensões e temas, tanto em termos históricos quanto atuais. Em conjuntos nos induz a pensar, em um espectro mais amplo, o Estado do Espírito Santo e o Brasil contemporâneo. Deste modo, buscamos, além de fomentar o debate acerca de alguns dos nossos dilemas, aliar o exercício reflexivo para uma questão que se torna absolutamente fundamental nos nossos dias: que tipo de país possuímos e que tipo de país queremos? Ednilson Silva Felipe Ueber José de Oliveira 11