PARECER Nº, DE 2011. RELATOR: Senador INÁCIO ARRUDA



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Transcrição:

PARECER Nº, DE 2011 Da COMISSÃO DE SERVIÇOS DE INFRAESTRUTURA, sobre o Ofício S nº 9, de 2011 (Ofício GS nº 2.097, de 22 de novembro de 2010, na origem), da Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado do Ceará, que encaminha ao Senado Federal, nos termos do 1º do art. 28 da Lei nº 11.079, de 2004, o processo de contratação da Parceria Público Privada para a reforma do Estádio Castelão. RELATOR: Senador INÁCIO ARRUDA I RELATÓRIO Encontra-se em exame nesta Comissão o Ofício S nº 9, de 2011 (Ofício GS nº 2.097, de 22 de novembro de 2010, na origem), da Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado do Ceará, em cumprimento ao 1º do art. 28 da Lei 11.079, de 30 de dezembro de 2004, a qual institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. O ofício trata do processo de contratação da parceria públicoprivada (PPP), na modalidade de concessão administrativa, para a reforma, ampliação, adequação, operação e manutenção do Estádio Governador Plácido Aderaldo Castelo, o Castelão, na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, para recebimento de partidas da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Também estão incluídas na PPP a construção, operação e manutenção de edifício de estacionamento de veículos, conforme recomendações da FIFA, e a construção e manutenção do edifício-sede da Secretaria de Esportes do Estado do Ceará. O objetivo do pleito é o pronunciamento desta Casa sobre o cumprimento, pelo Governo do Ceará, dos limites e parâmetros contidos na Lei das PPP. Não há informações sobre outras PPP contratadas pelo Governo do Ceará.

2 Conforme a Portaria da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) nº 614, de 21 de agosto de 2006, a contraprestação básica devida pelo governo estadual configura-se simples despesa de caráter continuado. Segundo tabela anexada ao ofício da Secretaria do Planejamento e Gestão, as contraprestações previstas para a PPP em tela comprometerão a receita corrente líquida estimada para o período de 2011 a 2018 em percentuais que variam entre 0,15% a 2,20%. II ANÁLISE Na forma do art. 104, inciso I, do Regimento Interno do Senado Federal, compete à Comissão de Serviços de Infraestrutura opinar sobre matérias pertinentes às PPP. Essa modalidade de contratação, instituída pela Lei nº 11.079, de 2004, tem como elementos diferenciadores o compartilhamento de riscos entre o ente público e o parceiro privado e a contraprestação pecuniária do primeiro em prol do último. O compartilhamento almejado não encontra correspondência nas modalidades tradicionais de contratação de obras e serviços pelo setor público, disciplinadas pela Lei n 8.666, de 21 de junho de 1993, ou nos regimes de concessão e permissão de serviços públicos, regulamentados pela Lei n 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Na primeira situação, os riscos do empreendimento são assumidos pela própria administração pública; na segunda, esses riscos são transferidos ao concessionário e aos usuários. Do ponto de vista orçamentário, a contraprestação devida constitui despesa obrigatória de caráter continuado, a qual é definida, pelo art. 17 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), como despesa corrente derivada de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por um período superior a dois exercícios. O controle de suas repercussões sobre as finanças públicas estaduais e municipais não compete ao Senado Federal, mas sim ao Poder Legislativo local, por meio dos respectivos planos plurianuais, leis de diretrizes orçamentárias e leis orçamentárias anuais. Logo, para esta Casa, as PPP dos entes subnacionais não diferem do ato de recrutar pessoal permanente ou de expandir os serviços prestados, diretamente, pelo setor público. Em outras palavras, constituídas as novas

3 despesas, caberá aos tesouros dos governos envolvidos prover, nos exercícios subseqüentes, a adequada cobertura orçamentária. Assim, entendemos que não cabe a esta Casa aprovar ou desaprovar as contratações de PPP pelos entes subnacionais. As informações recebidas prestam-se tão somente a subsidiar eventuais análises pelos órgãos competentes da capacidade dos governos envolvidos para ampliar o seu nível de endividamento ou para receber transferências voluntárias. Dessa forma, o presente parecer limita-se a opinar pelo conhecimento da matéria e seu subseqüente arquivamento, com o envio de cópia da deliberação correspondente à STN. Evidentemente, qualquer empreendimento estadual ou municipal que requeira a contratação de operação de crédito pela administração pública direta, autarquias, fundações ou empresas estatais dependentes precisará observar os limites e as condições fixadas por esta Casa no exercício de suas competências constitucionais (Constituição Federal, art. 52, incisos V a IX), consubstanciadas nas Resoluções do Senado Federal n os 40 e 43, ambas de 2001, e 48, de 2007. No entanto, como são os parceiros privados que devem obter os empréstimos requeridos pelas PPP, tem-se que essa modalidade de contratação não está sujeita aos controles prévios definidos pelas normas senatoriais. O mesmo ocorre com as regras de contingenciamento do volume de crédito das instituições financeiras em favor do setor público, contidas na Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) nº 2.827, de 2001, e alterações subseqüentes. Por conseguinte, as PPP permitem significativa expansão da capacidade de investimento dos entes subnacionais à revelia dos limites de endividamento fixados pelas autoridades competentes. Justamente pela capacidade que as PPP têm de elidir o monitoramento tanto do CMN como da STN e do Senado Federal, a Lei nº 11.079, de 2004, no art. 28, fixou limites prudenciais de comprometimento da receita corrente líquida (RCL) com as despesas de caráter continuado derivadas do conjunto de PPP contratadas. Tendo como base o exercício em que forem apurados os limites em questão, são eles: a) 3% da RCL observada no exercício anterior; b) 3% da RCL estimada para os dez exercícios subseqüentes.

4 Trata-se de coibir eventuais excessos pelos atuais gestores públicos, em prejuízo da gestão orçamentária dos futuros governos estaduais e municipais. O ente que não observar os limites citados estará sujeito às seguintes sanções no seu relacionamento com a União: a) não receber garantias para realizar operações de crédito; b) não receber transferências voluntárias. Para que as sanções fixadas possam ser aplicadas, os entes subnacionais deverão encaminhar ao Senado Federal e à STN, previamente à contratação, informações sobre as PPP que pretendam implementar. O Ofício S nº 9, de 2011, ora analisado, também cumpre a exigência de informar esta Casa acerca da contratação, pelo governo cearense, de PPP para a reforma do Estádio Castelão. Cabe frisar que o demonstrativo do impacto orçamentário e financeiro da PPP indica que o comprometimento da RCL variará de 0,15% até 2,20%. Conseqüentemente, em relação ao que dispõe a Lei das PPP, o Estado do Ceará permanece habilitado tanto a obter garantias da União para realizar operações de crédito como a receber recursos federais a título de transferências voluntárias. A proposição ora em análise não aborda a questão dos projetos construtivos das obras de reforma e ampliação do Estádio Castelão. Assim, incluo, como recomendação ao Governo do Estado do Ceará, que as obras em tela adotem, quando e onde for tecnicamente possível, a proposta da Copa do Mundo Verde. Dentro dessa concepção, o novo Castelão deve ser um estádio ecológico, construído de modo a causar o menor impacto ambiental possível, com o mínimo de desperdício de materiais e a maior eficiência energética possíveis. A utilização de materiais localmente disponíveis e de fontes alternativas de energia, particularmente a solar e a eólica, devem ser priorizadas. O novo estádio e as demais obras incluídas nessa PPP devem prever que parte de suas demandas de água e de energia devem ser obtidas por meio de sistemas de coleta pluvial e de painéis fotovoltaicos, respectivamente. Deve-se prever, também, a instalação de um sistema de tratamento da água para reaproveitamento na irrigação do gramado e nas instalações sanitárias. Ainda dentro da idéia de construção de um estádio ecologicamente sustentável, a manutenção do futuro gramado deve ser baseada no conceito de química verde.

5 III VOTO Em face do exposto, voto para que esta Comissão de Serviços de Infraestrutura tome conhecimento do Ofício S nº 9, de 2011, e proceda ao seu arquivamento, com o envio da presente deliberação, que inclui a recomendação de adoção do conceito de Copa do Mundo Verde, ao Ministério da Fazenda, para, na forma do 1º do art. 28 da Lei nº 11.079, de 2004, dar ciência ao órgão competente. Sala da Comissão,, Presidente, Relator