Página1 Curso/Disciplina: Direito Administrativo Aula: Servidor Público: Exoneração por excesso de gasto. Demissão 83 Professor (a): Luiz Oliveira Castro Jungstedt Monitor (a): Luis Renato Ribeiro Pereira de Almeida Aula 83 SERVIDOR PÚBLICO 1. Exoneração por excesso de gasto orçamentário (continuação). Os arts. 169, 6.º, da CRFB/88, e 4.º, da Lei 9.801/99, preveem a extinção do cargo que fica vago pela exoneração do servidor pelo excesso de gasto orçamentário, vedada a criação de outro pelo prazo de 4 anos. CRFB/88. Art. 169. 6.º. O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos anteriores será considerado extinto, vedada a criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos. Lei 9.801/99. Art. 4.º. Art. 4º Os cargos vagos em decorrência da dispensa de servidores estáveis de que trata esta Lei serão declarados extintos, sendo vedada a criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos. Costuma-se afirmar que essa regra temporal se justifica para evitar perseguições políticas, impedindo que os servidores sejam exonerados para que os cargos sejam providos por servidores do partido político do novo Chefe do Executivo. Isso seria evitado pois o mandato do Chefe do Executivo é de 4 anos. Assim, somente depois de 4 anos os cargos vagos poderão ser preenchidos. Afirma-se, portanto, que o prazo de 4 anos seria uma regra moralizadora para preencher novamente as vagas.
Página2 O 6.º também veda contratação temporária ( função ). A regra de exoneração por excesso de gasto orçamentário da EC 19 não atinge os membros vitalícios (Magistrado, membro do MP, Conselheiros e Ministros de Tribunais de Contas), apenas o servidor estável (flexibilização da estabilidade, não da vitalieciedade). O art. 247, acrescentado pela EC 19 no título das disposições constitucionais gerais (art. 233 e ss.), dispõe que a lei mencionada no art. 169, 7.º (Lei 9.801/99), que regulamenta a perda do cargo pelo servidor estável, estabelecerá critérios e garantias especiais para perda do cargo pelo servidor público estável que, em decorrência das atribuições de seu cargo efetivo, desenvolva atividades exclusivas de Estado. Art. 247. As leis previstas no inciso III do 1º do art. 41 e no 7º do art. 169 estabelecerão critérios e garantias especiais para a perda do cargo pelo servidor público estável que, em decorrência das atribuições de seu cargo efetivo, desenvolva atividades exclusivas de Estado. Esses servidores estáveis terão tratamento diferenciado. O art. 3.º, da Lei 9.801/99, traz esses critérios e garantias especiais. Assim, a exoneração de servidor estável que desenvolva atividade exclusiva de Estado deve observar duas condições: a) A exoneração de servidores dos demais cargos do órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal deve ter alcançado pelo menos 30%. Exemplo: pelo menos 30% do pessoal administrativo da Procuradoria do Estado deve ser exonerado antes do Procurador do Estado ser exonerado. b) Cada ato poderá reduzir até no máximo 30% o número de servidores que desenvolvam atividades exclusivas de Estado. Exemplo: depois de todas as providências anteriores para controlar os gastos, somente poderão ser exonerados no máximo 30% dos Procuradores. A LRF (LC 101/00), contudo, no art. 65, inc. I, dispõe que na hipótese de calamidade pública o prazo de 2 quadrimestres para o Estado ajustar o limite de pessoal fica suspenso. Assim, declarado estado de calamidade fiscal, por exemplo, esse prazo não correrá.
Página3 Art. 65. Na ocorrência de calamidade pública reconhecida pelo Congresso Nacional, no caso da União, ou pelas Assembléias Legislativas, na hipótese dos Estados e Municípios, enquanto perdurar a situação: I - serão suspensas a contagem dos prazos e as disposições estabelecidas nos arts. 23, 31 e 70; Extrapolado o limite de gasto, o Governo tem 8 meses para voltar ao limite de gasto com pessoal. Caso o limite não seja restabelecido no prazo definido, o 3.º do art. 23 prevê três sanções: Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos 3º e 4o do art. 169 da Constituição. 3.º. Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o excesso, o ente não poderá: I - receber transferências voluntárias; II - obter garantia, direta ou indireta, de outro ente; III - contratar operações de crédito, ressalvadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal. a) Proibição de receber transferência voluntária, com a ressalva do art. 25, 3.º. O art. 25 da LRF traz uma regra de transferência voluntária, e no 3.º excepciona aquelas relativas a educação, saúde e assistência social. Portanto, o Governo continuará a receber transferências voluntárias referentes a educação, saúde e assistência social (que em regra é o objeto da transferência voluntária) mesmo que vencidos os 2 quadrimestres, esgotado o prazo 8 meses e gastando mais do que previsto. Art. 25. 3.º. Para fins da aplicação das sanções de suspensão de transferências voluntárias constantes desta Lei Complementar, excetuam-se aquelas relativas a ações de educação, saúde e assistência social. b) Obter garantia direta ou indireta de outro ente. Se o Estado extrapola o limite de gasto com pessoal e deseja fazer uma operação de crédito (contrato de financiamento com o BIRD, BID ou Clube de Paris), sendo exigida uma garantia da União, como o limite de gasto foi ultrapassado a União não poderá dar a garantia. c) Contratar operações de crédito, salvo para refinanciamento da dívida mobiliária e para resolver o problema de gasto com pessoal.
Página4 A LRF consagra o princípio da prudência fiscal, buscando evitar o dano. Com isso, a Lei traz o limite de alerta (previsto no art. 59, 1.º, II, emitido pelos Tribunais de Contas) e o limite prudencial (definido pelo próprio ente da Federação), que traz restrições. O art. 22, parágrafo único, traz essas restrições, entre os quais o provimento de cargo público. Caso limite de gasto com pessoal seja extrapolado no primeiro quadrimestre do último ano de mandato, nos termos do art. 23, 4.º, as restrições do 3.º são aplicadas imediatamente, não se observa o prazo de 2 quadrimestres. Art. 23. 4.º. As restrições do 3o aplicam-se imediatamente se a despesa total com pessoal exceder o limite no primeiro quadrimestre do último ano do mandato dos titulares de Poder ou órgão referidos no art. 20. A LRF, no art. 23, 2.º, prevê a possibilidade de redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga horária. Contudo, o STF, em liminar na ADI 2.238-5, suspendeu a eficácia do dispositivo, por ferir a irredutibilidade de vencimentos. Art. 23. 2.º. É facultada a redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga horária. 2. Demissão (art. 41, 1.º, CRFB/88). A avaliação periódica de desempenho foi incluída pela EC 19, e prevê que Lei Complementar (que ainda não foi editada) deverá regulamentar a matéria. Portanto, a avaliação periódica de desempenho não é autoaplicável.
Página5 Art. 41. 1.º. O servidor público estável só perderá o cargo: I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. É possível que o servidor seja submetido a avaliação periódica, desde que seja para fins de promoção, remoção, adicional de produtividade etc., mas não para demissão, que depende de lei complementar. Esse mesmo dispositivo foi previsto no art. 247 da CRFB para tratamento diferenciado. Assim, atividades típicas de Estado terão tratamento diferenciado também na avaliação periódica de desempenho. A demissão feita administrativamente é instrumentalizada pelo processo administrativo disciplinar (PAD). Cada estatuto funcional regulamenta o seu PAD. Exemplo: cada ente pode estabelecer o prazo que achar necessário. Na União, o art. 152 da Lei 8.112/90 estabelece o prazo de 60 mais 60 dias; o Estado do Rio de Janeiro admite 3 prorrogações de 30 dias. Cada ente tem autonomia político-administrativa para regulamentar o seu processo administrativo disciplinar. A sequência de fases do PAD na União é definida nos arts. 143 e ss., da Lei 8.112/90: instauração, inquérito e julgamento.