Turma e Ano: Novo Código de Processo Civil Comparado e Comentado (2016) Matéria / Aula: Agravo interno; agravo por instrumento e recurso ordinário Professor: Rodolfo Hartmann 1 Monitor: Cesar Lima Aula 26 1- Agravo de Instrumento: Trata-se de um recurso que se destina a impugnar as decisões interlocutórias, Há alguns anos atrás, poderia escolher entre o agravo de instrumento ou agravo retido. Na maioria dos casos, os profissionais optavam pelo agravo de instrumento, pois já levava a matéria para o tribunal. Diferentemente, temos o agravo retido, que agora não existe mais, usado para evitar a preclusão da matéria. Quando houvesse a sentença, a apelação reiterava o agravo retido e o tribunal analisaria. Neste modelo antigo, havia um número imenso de agravos de instrumento no tribunal, usados para impugnar qualquer decisão interlocutória, tornava-se um quadro inviável. Por exemplo, em um processo com dez decisões interlocutórias, poderíamos ter dez agravos de instrumento. O quantitativo de funcionários é muito maior na primeira instancia. A reforma de 2005 veio modificar este quadro, pois a quantidade imensa de agravos de instrumento estava sufocando os tribunais. O agravo passou a poder ser utilizado em poucas hipóteses, só prevendo em cinco casos. A regra era o uso do agravo retido. Com o Novo CPC, mudou novamente a situação. O código novo acabou com o agravo retido e trouxe uma técnica nova, poderá no próprio recurso de apelação, discutir o conteúdo de algumas decisões interlocutórias. Parece que o Novo CPC esqueceu certo aspecto, pois potencializa o agravo de instrumento, negativamente, com relação às hipóteses de cabimento, como se vê no artigo 1.015. O inciso XIII fala ainda dos outros casos ainda previstos em lei para interposição de agravo de instrumento, por exemplo, na sentença que decreta a falência. Temos também no Novo CPC uma petição nova, prevista expressamente. No caso de que vem a ordem para suspender todos os processos que versarem sobre determinada matéria, pois há um recurso extraordinário repetitivo ou especial ainda pendente de julgamento. Contudo, o seu caso não tinha nada a ver com o que está pendente de julgamento no tribunal superior, seu caso foi sobrestado e você quer que ele deixe de ficar assim e volte a tramitar. Nós temos no artigo 1.037, 13, se o processo está parado em primeiro grau, você fará um requerimento, por petição, ao juízo em que seu processo se encontra. Para o professor, poderia se dar o nome de petição de distinção, para mostrar que o caso é diferente. Se o juiz entender que é igual, a decisão comportará agravo de instrumento. Não obstante as hipóteses dos incisos destacados, o parágrafo único do artigo 1.015 prevê que também caberá agravo de instrumento em face de todas as decisões interlocutórias proferidas em execução, liquidação e inventário. Para o professor, não dará certo, os tribunais ficarão exacerbados de trabalho, prejudicando o fluxo de processamento. O artigo 1.015 tem os casos de agravo de instrumento, muito mais que no modelo anterior. Se os tribunais não derem conta, o professor acredita em uma jurisprudência defensiva, o que o Novo CPC queria evitar. As formalidades do agravo de instrumento estão no artigo 1.016, deve ter o nome das partes, exposição dos fatos e do direito, entre outros tópicos. Além disso, o agravo de 1 Juiz Federal.
instrumento deve ser instruído com cópias reprográficas, vejam que o artigo 1.017, I, passou a exigir mais cópias. No modelo anterior, se exigia as decisão que está sendo agravada, a procuração do advogado e a certidão de intimação. Agora, exige-se a cópia da inicial e da contestação, cópia da petição que deu ensejo à decisão agravada, são mais peças, fora as que podem ser apresentadas de maneira facultativa. O código, seguindo orientação jurisprudencial, permite que a certidão de intimação possa ser substituída por outro documento oficial. Há muitos anos atrás, este quadro já era possível se você juntava a página do Diário Oficial e poderia suprir essa possibilidade. Se o código já entrou em vigor e você já interpôs o agravo e esqueceu alguns dos pontos da instrução. Tem-se o artigo 1.017, 3º prevê que o relator não pode inadmitir o recurso quando houver ausência dessas peças, deve intimar as partes para regularizar esta situação, em cinco dias. Dentro da ideia de que se o vício é pequeno, vamos intimar a parte para tentar sanar, antes de inadmitir o recurso. Seria interessante incluir o dispositivo do artigo 1.017, 3º no fim da peça de agravo, para que se o juiz entender que falta algum documento, se dê oportunidade de regularizar. Eventualmente, pode ser que não tenha alguns desses documentos, pode não ter ocorrido a citação do réu, não possuindo a procuração dele. Caberá ao patrono do agravante, declarar, sob a sua responsabilidade, que a peça não existe, como se nota no artigo 1.017, II. Muitas vezes, essa declaração é feita no corpo do agravo de instrumento ou colocam uma folha avulsa. Estas copias, que devem acompanhar, de acordo com o artigo 1.017, 5º, é previsto que sendo eletrônicos os autos do processo, as peças são dispensadas. Neste caso, quando o processo for eletrônico nos dois graus de jurisdição, totalmente eletrônico. Contudo, estamos passando por um momento em que temos um híbrido. O processo, às vezes, é físico em primeiro grau, mas a interposição do agravo se dá por meio eletrônico. Você vai interpor o agravo de instrumento e no próprio site terá que carregar as peças. Depois, o agravo é protocolado, o artigo 1.017, 2º dá várias possibilidades de protocolos no agravo, poderá ser no tribunal, na própria comarca ou sessão ou subseção judiciária, pode ser por postagem. Por exemplo, no estado do Rio de Janeiro, que territorialmente é pequeno, ao falar em cidades como Itaperuna e Campos dos Goytacazes, que são distantes da capital, há uma dificuldade em interpor o recurso pessoalmente no tribunal. Muito mais simples o advogado da comarca apresentar na própria comarca e ela encaminha para o tribunal. Imagine nos estados maiores, a situação fica ainda pior. A distância, as vezes, atrapalha o exercício da advocacia. Após o protocolo, havia, no CPC de 1973, a necessidade de juntar cópia do agravo no juízo de primeiro grau, era o artigo 526 do CPC de 1973. No Novo CPC, no artigo 1.018: o agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o recurso. 1o Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de instrumento. 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento. 3o O descumprimento da exigência de que trata o 2o, desde que arguido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento. Neste caso, você pode pensar que é uma faculdade, mas consultando o 2º do referido artigo, não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará esta providência. O artigo
1.017 diz que precisa das cópias, exceção se for eletrônico. No artigo 1.018 inverte-se o raciocínio. Se o processo for físico, o agravante deve apresentar o agravo no juízo de primeiro grau. Caberá ao agravado alegar e provar a ausência do respeito a este dispositivo. Neste caso, o juiz convocado ou desembargador poderá negar a admissibilidade do recurso. O código anterior não fala que é o juiz que precisa comunicar o descumprimento dessa norma, mas sim o agravado. O tribunal recebia o agravo e intimava o agravado com cópia. O tribunal achou que seria mais trabalho fazer isso. Neste caso, passou a intimar o agravo pelo Diário Oficial, cabendo a parte ir ao tribunal para tirar cópia do agravo. Neste sentido, o Novo CPC mudou e colocou como ônus do agravante a necessidade de tirar cópia e levar na Vara de origem, tendo acesso às razões recursais, no caso, o advogado do agravado. Poderá ser feita uma petição dirigida ao escrivão, em caso de negativa, poderá pedir uma certidão comprovando que não houve juntada do agravo neste processo, na Vara de origem. Neste caso, o agravado poderá dizer que não teve acesso ao agravo, devendo o desembargador inadmitir o agravo. Por este motivo, o artigo 1.018, 3º pontua: o descumprimento da exigência de que trata o 2o, desde que arguido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento. O professor acredita que muitos membros dos tribunais vão continuar com este hábito de indagar ao juiz de primeiro grau se houve o cumprimento. Contudo, a ratio da norma centra-se na ideia de que o agravado que precisa alegar e provar. Interposto o agravo, cairá perante um relator, que vai analisar, de acordo com os poderes do artigo 1.019. O relator pode inadmitir o recurso, se for um vício insanável, se for sanável precisa intimar para regularizar. Poderá admitir e negar provimento, mas não pode admitir e dar provimento, pois ainda não foram apresentadas contrarrazões pelo agravado. Se quiser já dar provimento, precisará intimar o agravado para que apresente as contrarrazões, podendo dar provimento. O artigo 932, V prevê este cenário, dando o contraditório prévio. O I do artigo 1.019 prevê: poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão. Neste caso, a ideia deste artigo é com relação aos efeitos do agravo que possui efeito devolutivo, eventualmente, tem efeito suspensivo e ativo, também chamado de tutela antecipada do recurso. Pode-se ilustrar o que consiste quando é caso de efeito suspensivo ou de efeito ativo. Por exemplo, o autor pede o fornecimento de medicamento, o juiz defere em tutela antecipada, o réu utiliza-se de agravo de instrumento. Neste caso, o adequado para o réu seria o efeito suspensivo, pois se o juiz de primeiro grau criou uma decisão positiva, que impõe um comportamento pelo réu. Se não quer cumprir esta obrigação, deve suspender os efeitos dele, cabe ao agravante requerer o efeito suspensivo. Poderá ser o inverso, o autor tenha requerido o fornecimento de medicamento, o juiz tenha indeferido. Neste cenário, tudo continua como antes, não tem nada para receber, quem interpõe o agravo é o autor, pleiteando a reforma da decisão para que os medicamentos sejam prestados pelo agravado. Trata-se de uma situação emergencial, mas não parece ser o caso do desembargador decidir sozinho, quer levar ao órgão colegiado. Mas poderá conceder a tutela antecipada do recurso ou o efeito ativo, quer uma decisão que impõe algo, não adiante suspender, precisa de mais. Embora o desembargador já pudesse julgar o mérito do agravo, ele quer submeter ao órgão colegiado, mas por decisão monocrática já dá a tutela antecipada em razão recursal, concedendo o fornecimento do medicamento. No código anterior, essa decisão monocrática que dava o efeito ativo ou suspensivo era irrecorrível. No Novo CPC, não existe mais esta suspensão, poderá utilizar o agravo interno do artigo 1.021.
Na sequência, o desembargador vai intimar o agravado para apresentar as contrarrazões em quinze dias úteis. Pode determinar que o Ministério Público se manifeste se for o caso, pode requisitar informações ao juiz de primeiro grau. Depois, o artigo 1.020 prevê que o desembargador solicitará o prazo para julgamento não superior a um mês da intimação do agravado. Com a quantidade de agravos, se mostra muito difícil de cumprir. No Novo CPC, o agravo de instrumento envolvendo decisão de tutela de urgência passa a dar direito à sustentação oral, artigo 937, VIII, somente neste caso. Quando se tratar de decisão interlocutória de mérito, como aquela do artigo 356, o agravo, se for provido por maioria, terá direito à técnica nova do Novo CPC, do artigo 942. O processamento muda. 2- Agravo interno: Presente em apenas um dispositivo, no artigo 1.021. Ele tem cinco parágrafos. O agravo interno, que não possuía nome, chamado por alguns já de agravo interno ou de agravo regimental ou inominado. Ele veio para ser usado nos casos em que tínhamos no Código de 1973, quando estamos diante de decisão monocrática. Esse recurso pode ser usado no STF, no SJT, no TJ, no TRF, em Turma Recursal, basta estar diante de uma decisão monocrática. No modelo anterior, o prazo para sua interposição era de cinco dias, agora será o prazo de quinze dias. Este agravo interno tem esse nome, pois é interposto no mesmo órgão que iria julgar o recurso anterior. Por exemplo, foi interposta uma apelação, distribuída na 1ª Câmara Cível, só que o relator da apelação decidiu monocraticamente. O agravo interno será dirigido à mesma Câmara Cível e ao mesmo relator. Faz o agravo interno e diz o 1º do artigo 1.021: na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada. Muito se fala da necessidade da fundamentação das decisões judiciais, é preciso que os demais operadores do direito também se preocupem mais com a argumentação, que o reflete na disposição da norma citada, ou seja, que tenham uma nova argumentação e não uma cópia do recurso anterior, por exemplo. O 3º do artigo 1.021, em que o agravo interno deve estar acompanhado de fundamentação específica. O relator vai intimar o agravado para contrarrazões, mais quinze dias úteis. Sendo vedado que o relator mantenha a decisão agravada pelos próprios fundamentos, vai precisar argumentar de maneira mais cuidadosa. Deverá enfrentar o argumento novo do agravo interno. O 4º do artigo 1.021 prevê o pagamento de multa, como se vê: quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa. O 5º do artigo 1.021 prevê que a interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao pagamento da multa, exceto para a Fazenda Pública e para o beneficiário da gratuidade de justiça que fará o pagamento ao final. Topograficamente, nosso próximo recurso seria de embargos de declaração, que começa no artigo 1.022 até o artigo 1.026. 3- Recurso ordinário: O recurso ordinário, que conta com dois dispositivos regulando, os artigos 1.027 e 1.028, também chamado de recurso ordinário constitucional, tendo em vista que suas hipóteses de cabimento estão na própria Constituição. Havia até um descompasso, não
batiam os artigos do Código de 1973 e a Constituição de 1988. Atualmente, com o Novo CPC este problema foi sanado, prevendo o mesmo que a Constituição. Não se trata de um recurso extremamente raro, mas o caso mais comum é visto no artigo 1.027. A hipótese mais corriqueira se dá, por exemplo: ingressasse com mandado de segurança em primeiro grau, o juiz de primeiro grau acolhe a segurança, resolvendo o mérito, ou denega a segurança. Se for impetrado o mandando perante o juízo de primeiro grau, o recurso cabível é o recurso de apelação para impugnar a sentença. Contudo, pode ser que tenha sido impetrado originariamente no TJ ou TRF. Neste caso, o tribunal concede ou denega a segurança. Sendo assim, da decisão denegatória cabe o recurso ordinário, da decisão concessiva cabe o recurso extraordinário ou especial. Uma característica é ser um recurso secundo evento litis, ou seja, poderá ser usado dependendo da resolução do litígio. O recurso ordinário deverá ser interposto no tribunal de origem, no caso de denegação, e será encaminhado ao STJ, como diz o artigo 1.028, 3º, o juízo de admissibilidade será feito no STJ. Pode-se imaginar que o mandado de segurança é de competência originária do STJ. Nesta toada, se for concedida a segurança, será o caso de recurso extraordinário no STF. Se for denegada a segurança, será caso de recurso ordinário no STF, como se vê no artigo 1.027, 1º. Esse recurso ordinário, apesar de ter o mérito analisado pelo STJ ou STF, lembrará muito o recurso de apelação. Trata-se de um recurso considerado de fundamentação livre, qualquer matéria poderá ser apresentada, seja de cunho processual, material, pode pedir reexame de prova. O prazo para interpor é de quinze dias úteis e poderá eventualmente ser ampliado. Depois da interposição, o recorrido é intimado para apresentar contrarrazões. O processo é enviado para o tribunal superior para que seja realizado o juízo de admissibilidade, o artigo 1.028, 2º e 3º vão disciplinar esta dinâmica. Eles podem ter complemente, de acordo com o regimento interno dos tribunais superiores, como se vê no caput do artigo 1.028. Existe uma polêmica, em que o CPC de 1973 era omisso, relativa a um posicionamento do STF e do STJ. A grande questão era se esse recurso poderia adotar a teoria da causa madura, como se vê no artigo 1.013. O mandado de segurança foi impetrado originariamente no TJ, teve a segurança denegada, se aplicando tanto a decisão terminativa e definitiva, sem resolução de mérito. O recurso ordinário foi encaminhado ao STJ e foi provido. Como se trata de mandado de segurança, a prova é pré-constituída, não tenho mais prova a produzir. O STJ entender que pode dar a decisão antes do tribunal inferior. O STF não aceita, não aplica a teoria da causa madura, não analisa o mérito antes do STJ, se fizesse o contrário, estaria usurpando a competência do STJ. O STF vai verificar que não tem competência originária, precisa cassar a decisão e baixar para o STJ, para que ele decida. Como se vê no artigo 1.027, 2º, venceu a tese do STJ de aplicação da teoria da causa madura. Para o professor, não haverá vinculação em relação ao STF. É importante lembrar a situação do artigo 1.027, II, b, em que em um dos polos do processo tem um Estado estrangeiro ou organismo internacional e de outro lado uma pessoa física ou jurídica de direito privado, ou município. Neste processo, ocorrerá a tramitação na Justiça Federal de primeiro, a sentença comportará recurso ordinário no STJ e não recurso ao TRF. Neste processo, teremos decisões interlocutórias, sendo cabível agravo de instrumento que será interposto no STJ diretamente, mas precisa saber se se enquadra no artigo 1.015.