EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL KIM PATROCA KATAGUIRI, brasileiro, solteiro, Deputado Federal eleito pelo partido Democratas-SP, com Cadastro de Pessoas Físicas sob número 393.134.958-64, domiciliado na Rua da União, 127, Vila Mariana, São Paulo-SP, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado e bastante procurador, apresentar o presente MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO COM PEDIDO LIMINAR DE CONCESSÃO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA em face do PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, Exmo. Sr. Deputado Federal Rodrigo Felinto Epitácio Maia, domiciliado na Praça dos Três Poderes - Câmara dos Deputados, Anexo IV, 3º andar, gabinete 308, Brasília-DF, CEP número 70.160-900, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor. I DO BREVE RESUMO DOS FATOS O Regimento Interno da Câmara dos Deputado prevê a realização de sessões preparatórias anteriores ao início da sessão legislativa ordinária, a fim de que sejam empossados os eleitos e eleita a mesa diretora para o próximo biênio. O artigo 5º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados (RICD) na segunda sessão preparatória da primeira sessão legislativa de cada legislatura, no dia 1º de fevereiro, sempre que possível sob a direção da Mesa da sessão anterior, realizar-se-á a eleição do Presidente, dos demais membros da Mesa e dos Suplentes dos Secretários, para mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente. - 1 -
Pela leitura dos dispositivos do RICD, verifica-se que a sessão para eleição da Mesa será realizada pelo sistema eletrônico e por escrutínio secreto, sendo certo afirmar, portanto, que não será publicitado à população brasileira em qual candidato cada parlamentar votou. Vejamos a dicção o artigo 7º, do Regimento Interno: Art. 7º A eleição dos membros da Mesa far-se-á em votação por escrutínio secreto e pelo sistema eletrônico, exigido maioria absoluta de votos, em primeiro escrutínio, maioria simples, em segundo escrutínio, presente a maioria absoluta dos Deputados (...) Assim, não obstante a sessão de eleição da Mesa ser aberta, os votos dos parlamentares são secretos, não permitindo a publicidade devida de um de seus primeiros atos como deputados eleitos pelo sufrágio universal. Ocorre que, como se verá, o segredo do voto para eleição da Mesa da Câmara afronta princípios e normas constitucionais, motivo pelo qual se faz imperiosa a concessão da segurança pretendida a fim de que o voto seja público. II DA LEGITIMIDADE ATIVA E DA LEGITIMIDADE PASSIVA O Impetrante foi eleito e diplomado Deputado Federal pelo Estado de São Paulo e será empossado para cumprir seu mandato na legislatura 2019-2022, sendo certo que votará para composição da Mesa na sessão preparatória do dia 1º de fevereiro de 2019. Ademais, o Impetrante já se colocou como candidato à presidência da Casa Legislativa Federal, sendo que oficializará sua candidatura no momento regimentalmente oportuno. Assim, resta clara a legitimidade ativa do Impetrante, uma vez que visa ter garantido seu direito líquido e certo à publicidade do voto de seus pares para a Mesa da Câmara dos Deputados. - 2 -
Da mesma forma, é patente a legitimidade passiva do Exmo. Sr. Deputados Federal Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara dos Deputados, uma vez que a segurança a ser concedida no presente mandamus forçará o Impetrado a cumprir as disposições constitucionais de publicidade. Outrossim, é certo que será o Impetrado o responsável pela condução da sessão preparatória de eleição da Mesa, tal como determina o já citado artigo 7º do RICD ao asseverar que sob a direção da Mesa da sessão anterior, realizar-se-á a eleição do Presidente, dos demais membros da Mesa e dos Suplentes dos Secretários (g.n.). Portanto, sendo as partes legítimas para figurar nos polos ativo e passivo da presente demanda, o Impetrante pugna pelo recebimento e prosseguimento do feito, devendo ser concedida a segurança pretendida pelos motivos de fato e de direito expostos. III DO DIREITO O presente Mandado de Segurança Preventivo tem seu cabimento previsto no inciso LXIX, do artigo 5º, da Constituição Federal (CF), que dispõe que conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. No mesmo passo é a dicção do artigo 1º, da Lei do Mandado de Segurança (lei número 12.016/09), que assevera que conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. Destarte, o presente mandamus é perfeitamente cabível, devendo ser recebido, processado e julgado por está Colenda Suprema Corte. O direito líquido e certo do Impetrante refere-se à publicidade que os atos administrativos devem conter, tal como determina o artigo 37, da CF. Vejamos (com grifos nossos): - 3 -
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...) Na doutrina da professora Maria Sylvia Zanella di Pietro (em Direito Administrativo, 2008, Ed. Altas), o princípio da publicidade exige a ampla divulgação dos atos praticados pela Administração Pública. O professor Justen Filho (em Curso de Direito Administrativo, 2005, Ed. Saraiva) destaca a importância de não se confundir interesse público com interesse do Estado, com interesse do aparato administrativo e muito menos com interesse dos agentes públicos. O artigo 57, 4º, da CF, determina que cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente, sem fazer qualquer menção a voto secreto dos parlamentares, motivo pelo qual infere-se que o voto para eleição da Mesa deve ser aberto. Reitere-se: a disposição constitucional supracitada não faz qualquer menção a voto secreto para eleição das Mesas. Importante dizer que a Constituição Federal é expressa nas ocasiões em que determina que qualquer escrutínio seja realizado através de voto secreto, tal como se denota do artigo 14, artigo 52 (incisos III, IV e XI), artigo 98 (inciso II) e artigo 119 (inciso I e 1º, inciso I). Referindo-se ao Senado Federal, o texto constitucional homenageia o princípio da publicidade em praticamente todas suas disposições, com a exceção expressamente declarada nos incisos III, IV e IX, do artigo 52, sendo certo que, portanto, somente nas ocasiões expressamente permitidas pela Constituição é que o voto poderá ser secreto, devendo ser aberto em todas as demais ocasiões, inclusive para a eleição da Mesa da Câmara dos Deputados. - 4 -
A fim de corroborar tal interpretação, insta consignar que a Emenda Constitucional (EC) número 76, de 28 de novembro de 2013, aboliu o voto secreto nos casos de perda de mandato de Deputado ou Senador e de apreciação de veto, impondo nova redação ao dispositivos que menciona apenas retirando do texto legal as expressões voto secreto e escrutínio secreto. Ora, bastou a supressão das expressões mencionadas para que o voto passasse a ser obrigatoriamente aberto, em atenção ao princípio da publicidade dos atos administrativos. Destarte, repita-se: o voto somente será secreto nas ocasiões em que a Constituição expressamente determinar. Nos casos em que a CF não determina votação e/ou escrutínio secreto, estes serão necessariamente abertos e públicos. Está-se diante do silêncio eloquente da Constituição, que deve ser observado como regra, tal como a norma expressa. Portanto, é certo que a segurança pretendida no presente Mandado de Segurança deve ser concedida, vez que a publicidade dos atos administrativos é direito líquido e certo do Impetrante, sobretudo por tratar-se de Deputado Federal eleito e candidato à presidência da Câmara dos Deputados. Outrossim, não bastassem as determinações constitucionais quanto à publicidade dos atos administrativos, certo é que os Deputados devem pautar-se pelo interesse público, dando publicidade, portanto, a todos os atos que praticam em nome do povo. Assim é a determinação do artigo 3º, inciso I, do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, que dispõe que são deveres fundamentais do Deputado: I promover a defesa do interesse público e da soberania nacional. No mesmo sentido caminha a jurisprudência pátria. Vejamos: - 5 -
Em Mandado de Segurança que versava sobre tema semelhante (MS número 36169-DF) cujo Impetrante, o Senador Lasier Costa Martins, pugnou pela realização de votação aberta à eleição da Mesa do Senado Federal o Eminente Ministro Marco Aurélio Mello ressaltou que constitui fator de legitimação das decisões governamentais, indissociável da diretriz que consagra a prática republicana do poder, o permanente exercício da transparência. Naqueles autos, cujo pedido liminar de concessão de tutela provisória foi deferido, o E. Ministro pautou-se pela necessidade de plena publicidade dos atos administrativos, fundamentando que inexiste órgão menos ainda composto por mandatários eleitos que escape à claridade imposta pela Lei Maior e ao crivo da ampla e nítida fiscalização social, prerrogativa inafastável da cidadania. Ainda no entendimento do Ministro Marco Aurélio, a exigência da atuação em público tem irredutível relevo porque a publicidade é, por si mesma, forma de controle, sendo que ausente menção no artigo 57, 4º, da Lei Maior à natureza secreta da eleição ali versada, há de prevalecer o princípio democrático que reclama a votação ostensiva e aberta. Assim, resta patente a necessidade de o Impetrado respeitar o princípio constitucional da publicidade dos atos administrativos, devendo determinar a realização de eleição para Mesa da Câmara mediante voto aberto. Por fim, importante salientar que há em trâmite na Câmara dos Deputados inúmeras propostas tendentes a alterar o artigo 7º, do RICD, e outras disposições regimentais que determinam a votação secreta para a eleição da Mesa, sendo que a maioria dos projetos está apensado ao Projeto de Resolução (PRC) número 231/1990, de autoria do Deputado Federal Eraldo Tinoco (PFL/BA). Ocorre que tal propositura, não obstante ter sido apresentada há quase 30 (trinta) anos, jamais foi votada pelos membros da Casa Legislativa Federal, restando incontroverso que o atual presidente da Câmara, ora Impetrado, não tem a mínima intenção de pautar o tema, mais um motivo pelo qual o presente Mandado de Segurança tem cabimento. - 6 -
Portanto, o presente Mandado de Segurança deve ser conhecido e provido, a fim de que seja concedida a segurança pretendida para que a votação da Mesa da Câmara dos Deputados seja realizada de forma aberta, em atenção ao princípio constitucional da publicidade. IV DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA Por tudo quanto exposto, se mostra imperiosa a concessão liminar de tutela provisória de urgência, nos termos dos artigos 294 e 300, do Novo CPC, uma vez que evidenciada a probabilidade do direito do Impetrante e o perigo de dano irreversível. Há probabilidade do direito do Impetrante, uma vez que a publicidade administrativa princípio constitucional basilar da Administração Pública está em vias de ser vilipendiada com a votação secreta para eleição da Mesa da Câmara dos Deputados. No mesmo trilhar, o perigo de dano é iminente, já que a realização da citada eleição de forma secreta pode afastar a Casa Legislativa da determinação constitucional de publicidade de seus atos, contrariando os dispositivos legais supra aludidos, sendo impraticável a realização de nova eleição à Mesa após o deslinde da presente demanda. Portanto, a concessão liminar da pretendida tutela provisória de urgência é medida que se impõe e desde já se requer, devendo ser determinado ao Impetrado que realize as eleições da Mesa da Câmara em votação aberta, ostensiva, transparente e pública. V DA CONCLUSÃO Por tudo quanto exposto, requer se digne Vossa Excelência a: 1. Receber o presente Mandado de Segurança Preventivo e, liminarmente e inaudita altera parte, conceder a tutela antecipada pretendida, a fim de que o Impetrado realize a eleição para composição da Mesa da Câmara dos Deputados por votação aberta; 2. Processar o presente mandamus para, ao final, manter a liminar deferida e conceder definitivamente a segurança pleiteada; e 3. Notificar o Impetrado para que preste as informações cabíveis, se assim lhe aprouver. - 7 -
Requer provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em Direito, sobretudo pela juntada de documentos, colheita de prova oral e produção de prova pericial, sem prejuízo de quaisquer outros meios que se mostrarem pertinentes. Por derradeiro, requer que, sob pena de nulidade, todas as publicações sejam realizadas em nome dos advogados PAULO HENRIQUE FRANCO BUENO, OAB/SP 312.410 e RUBENS ALBERTO GATTI NUNES, OAB/SP 306.540. De São Paulo-SP para Brasília-DF, 08 de janeiro de 2019. PAULO HENRIQUE FRANCO BUENO Assinado de forma digital por PAULO HENRIQUE FRANCO BUENO Dados: 2019.01.08 07:00:53-02'00' PAULO HENRIQUE FRANCO BUENO RUBENS ALBERTO GATTI NUNES OAB/SP 312.410 OAB/SP 306.540-8 -