5. PRINCIPAIS PATOLOGIAS DETETADAS NO CASTELO DE ALMOUROL



Documentos relacionados
MEMÓRIA DESCRITIVA E JUSTIFICATIVA DO MODO DE EXECUÇÃO DA OBRA

JUSTIFICAÇÃO PARA A NÃO SUJEIÇÃO DO PLANO DE PORMENOR DE REABILITAÇÃO URBANA DE SANTA CATARINA A AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA

Regulamento do Programa de Incentivos à Recuperação de fachadas e coberturas de Imóveis degradados situados na Cidadela de Bragança NOTA JUSTIFICATIVA

REQUISITOS E CONSIDERAÇÕES GERAIS REF. NBR DA ABNT

PROPOSTA # 17 REPARAÇÃO E MELHORAMENTO DO ESTABELECIMENTO ESCOLAR DO 1.º CICLO DE RIBAFRIA

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO DO EDIFICADO

DEPARTAMENTO DE OBRAS E GESTÃO DE INFRA-ESTRUTURAS MUNICIPAIS FICHA TÉCNICA

Relatório do Modo Como Decorreu a Execução da Obra. Identificação da Obra Forte da Graça - Elvas

A cobertura pode ser feita com telhas que podem ser metálicas, de barro ou ainda telhas asfálticas tipo shingle.

Reabilitação do Edifício da Casa da Cultura

MEMORIAL DESCRITIVO Calçadas Externas/rampa/escada:

Bairro Dr. Alfredo Bensaúde. Novembro de 2014

PORTAS E JANELAS: A LIGAÇÃO DA CASA COM O MUNDO

VAZAMENTOS E INFILTRAÇÕES

J. GESTÃO DOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

PRIMEIRO ANO DE TRABALHOS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DOS ACERVOS DOS NÚCLEOS MUSEOLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE ABRANTES

FBD.01TP.35. CE-CTET-GERAL AAP+AECOPS GER 00X / 01TP

PLANO DE INTERVENÇÃO DA PONTE DA VÁRZEA

REABILITAÇÃO DO PALÁCIO DA BOLSA 2ª FASE

- ÁREAS DE REABILITAÇÃO URBANA -

Prevenção de risco de queda em altura no setor da construção mediante a utilização de andaimes. Pedro Vasco AECOPS - OPWAY

Patologia em Revestimentos de Fachada

NOTA JUSTIFICATIVA. a) Revestimento de fachadas

CAMARGUE PÉRGOLA PARA TERRAÇOS COM LÂMINAS ORIENTÁVEIS E COM LATERAIS COSTUMIZÁVEIS APLICAÇÕES

Situação existente CÂMARA MUNICIPAL DA RIBEIRA GRANDE CASA - MUSEU DA FREIRA DO ARCANO PROJECTO DE EXECUÇÃO MEMÓRIA DESCRITIVA

MANUAL DO USO DE ELEVADORES ÍNDICE: I Procedimentos e Cuidados

PLANO DE PREVENÇÃO E GESTÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

A Preservação do Patrimônio Cultural na Esfera Municipal

IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA PROTECÇÃO DOS PRODUTOS TRADICIONAIS PORTUGUESES

Relatório de Estágio Curricular. Rafael Menezes Albuquerque

Acórdão nº205 /05-6.Dez-1ªS/SS

ANEXO 5 INSTALAÇÃO TELEFÔNICA

Proposta de Delimitação da Área de Reabilitação Urbana Viana do Alentejo Poente

Sistema Laminar Alto. Ecotelhado

RELATÓRIO TÉCNICO. Centro de Formação Desportiva de Alfândega da Fé

PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO PLANO DE REQUALIFICAÇÃO DOS EDIFÍCIOS DOS TRIBUNAIS (2012 / 2015)

Professora: Engª Civil Silvia Romfim

Armazém Planear a construção

Rota dos 3 Castelos. 2.ºAbrantes. 3.º Belver. 1.ºAlmourol. Monte da Várzea Almourol. 38 km. Almourol Abrantes. 20 Km. Abrantes Belver.

Edificação de uma moradia unifamiliar de traça típica portuguesa num terreno em Sesimbra.

Profª. Angela A. de Souza DESENHO DE ESTRUTURAS

CRIATIVIDADE VERSUS REGULAMENTAÇÃO DOIS PROJECTOS Adriana Floret

MANUAL DE UTILIZAÇÃO, LIMPEZA E MANUTENÇÃO SISTEMAS

CATÁLOGO DE PRODUTOS

CRITÉRIOS DE ISENÇÃO suporte publicitário. bandeiras

INTRODUÇÃO objectivo

CONSERVAÇÃO DE REVESTIMENTOS HISTÓRICOS

NORMAS DO PROGRAMA REABILITA PRIMEIRO PAGA DEPOIS

Segurança e Higiene do Trabalho

Regulamento de acesso de viaturas aos arruamentos geridos através de pilaretes retráteis automáticos no Município do Funchal Enquadramento

memmolde Norte: uma contribuição para a salvaguarda da memória colectiva da indústria de moldes do Norte de Portugal

FICHA DE INVENTÁRIO. 3.OBSERVAÇÕES Transformações/destruições previstas Fios eléctricos visíveis na fachada.

Critérios para selecção e Instalação de Equipamentos Eléctricos. Apresentado por Eng.º José Barão

Etapas e Serviços da Construção


Centro Urbano do Futuro Parcerias para a regeneração urbana

Em 1951 foi fixada a respectiva ZEP, publicada no Diário do Governo (II Série) n.º 189 de 16/08/1951, que inclui uma zona non aedificandi.

RESIDENCIAL SANTA MONICA MEMORIAL DESCRITIVO ANEXO I

DESENHO E ARQUITETURA COBERTURA E NOÇÕES DE ESTRUTURA

Termos de referência para o cadastro das infraestruturas de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais

CONHEÇA OS SEUS DIREITOS - GARANTIAS

Parede de Garrafa Pet

Relatório de Autoavaliação dos Planos de Ação

- Pisos e revestimentos Industriais (pinturas especiais, autonivelantes, uretânicas, vernizes...);

>>>>> Líder em Renovação

Manual de Instrucoes. Pass-Through Refrigerado. o futuro chegou a cozinha. refrigeracao coccao linha modular exposicao distribuicao apoio

NORMAS URBANÍSTICAS E REABILITAÇÃO URBANA

Sistema Hidromodular. Ecotelhado

Plano de Pormenor de Reabilitação Urbana de Santa Catarina TERMOS DE REFERÊNCIA

Bairro Ourives. Lotes A, B, C e D. Setembro de 2014

BENEFÍCIOS FISCAIS PARA A REABILITAÇÃO URBANA ENQUADRAMENTO LEGAL

Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Excelentíssimas Senhoras e Senhores Deputados,

Centro Histórico de Santarém: Como integrar a herança cultural nos desafios do futuro?

Enkefloor Pavimento Modular resistente às intempéries, a riscos e a fortes cargas

MORADIA RELVA NORDELA SÃO MIGUEL

Roupas e acessórios mais seguros. 1. Introdução

Em termos conceptuais, a operação de

7. Condicionantes. : Reserva Ecológica Nacional; : Reserva Agrícola Nacional; : Domínio Público Hídrico; : Património Classificado;

CE-CTET-GERAL AAP+AECOPS GER 00X / 00Y 09IS TÍTULO 09IS.--. IMPERMEABILIZAÇÕES E ISOLAMENTOS SUB.CAPº.11. PROTECÇÃO POR EMULSÃO BETUMINOSA

Corte total. Qualquer pessoa que já tenha visto um regis- A U L A

O Programa de Acção Territorial do Escarpão

Recuperação e Readaptação Funcional de um Palacete para o Arquivo Municipal de Fafe

Nota Técnica. Requisitos Gerais para a armazenagem de óleos usados:

EVOLUÇÃO DA MANUTENÇÃO

DCC - RESPONDENDO AS DÚVIDAS 14. MUROS

MEMORIAL DESCRITIVO Julho / Escola Básica Municipal Encano Central Reforma da Cobertura Indaial / SC

INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL

localizadas em ambientes agressivos Casos de estudo - Pontes localizadas em ambiente marítimo

Da produção ao consumidor

P O R T O M A R A V I L H A

Oportunidade: Condomínio Privado- MAIA

THE SAVANNAHS. Contrato-Promessa Anexo II Especificações + Planta da Fracção

pro-part Ficha técnica Aplicações recomendadas Materiais Suportes

XV COBREAP CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AVALIAÇÕES E PERÍCIAS - IBAPE/SP NATUREZA DO TRABALHO: PERÍCIA EM IMÓVEL URBANO

A CIDADELA DE CASCAIS: O MONUMENTO, A ENVOLVENTE URBANA E O VALOR SOCIAL

ENGº DANIEL GARCIA DE GARCIA LAUDO DE VISTORIA TÉCNICA - FORO DA COMARCA PELOTAS

LIGHT STEEL FRAMING. Em Portugal o sistema é vulgarmente conhecido por Estrutura em Aço Leve.

SISMO BUILDING TECHNOLOGY, TECNOLOGIA DE CONSTRUÇÃO ANTI-SISMICA: APLICAÇÕES EM PORTUGAL

TIPOS DE ESTRUTURAS. Prof. Marco Pádua

RESOLUÇÃO. Artigo 3º - O Plano de Implantação, Conteúdo Programático e demais características do referido Curso constam do respectivo Processo.

Transcrição:

5. PRINCIPAIS PATOLOGIAS DETETADAS NO CASTELO DE ALMOUROL Como já foi referido, no capítulo II, durante a execução deste trabalho, decorriam trabalhos de beneficiação das muralhas e intervenção na torre de menagem do castelo de Almourol. Estas intervenções foram constituídas por duas empreitadas designadas Intervenção na torre de menagem do castelo de Almourol e Castelo de Almourol Beneficiação das muralhas e interiores. Estas empreitadas tiveram como dono de obra o Município de Vila Nova da Barquinha e foram executadas pela empresa Lusocol, Sociedade Lusa de Construções Lda, empresa que trabalha na reabilitação de edifícios e monumentos. Durante o período de intervenção, o castelo esteve encerrado ao público. Após a conclusão das obras de beneficiação e consequente reabertura, constatam-se algumas melhorias no que diz respeito a algumas patologias que existiam e foram intervencionadas. No entanto, persistem patologias, na pedra, que serão aqui referenciadas com a indicação de propostas de intervenção com o objetivo de garantir longevidade ao material que constitui as muralhas e a torre de menagem do castelo de Almourol. Todas as intervenções executadas terão que estar enquadradas com a Portaria nº875/93 de 15 de setembro Plano de Salvaguarda da zona baixa de Tancos. Esta portaria dota a câmara municipal de Vila nova da Barquinha de um instrumento de gestão do plano de salvaguarda, o qual, mais do que condicionar ou proibir, fornecerá alternativas reabilitadoras. Este plano define a ação de restauro como conjunto de operações destinadas a restabelecer a unidade da construção do ponto de vista da sua conceção e legibilidade originais, ou relativa a uma dada época ou conjunto de épocas. Trata-se de um tipo de ação que deve ser baseado em investigações e análises históricas. De uma forma genérica, conserva-se o edifício mantendo a função e a construção. O Artigo 12º Restauros, alínea a, diz que deve haver um rigoroso levantamento desenhado do edifício existente, acompanhado de documentação fotográfica e na alínea b, deve haver um respeito integral das características exteriores do edifício. Outro facto importante, descrito na alínea d, diz respeito à reutilização dos materiais removidos suscetíveis de utilização e outros de igual qualidade. 116

5.1. Principais patologias É pertinente, nesta fase do trabalho, demonstrar as últimas intervenções feitas no castelo e verificar o resultado do trabalho efetuado. Como já foi referido anteriormente, estas obras de beneficiação incidiram nas muralhas e na torre de menagem. A figura 94 ilustra a fase de intervenção no interior das muralhas e pode verificar-se a diferença entre a parte inferior, já intervencionada, e a parte superior, ainda não intervencionada. Figura 94. Intervenção no interior das muralhas do castelo de Almourol. Esta fase de intervenção consistiu na beneficiação e drenagem das águas nas muralhas. A drenagem foi feita através do encaminhamento da água da chuva para as pingadeiras já existentes e, também, na colocação de telhas cerâmicas de canudo, invertidas (figura95). 117

Figura 95. Drenagem da água da chuva. A beneficiação dos panos de muralhas consistiu primeiro na picagem e posteriormente no enchimento das juntas com argamassa de saibro (figura 96). Figura 96. Intervenção no interior das muralhas do castelo de Almourol. 118

A outra fase dos trabalhos incidiu sobre a torre de menagem, nos seus panos de parede e no terraço. As figuras 97 e 98 ilustram o exterior da torre de menagem antes e depois da picagem e renovação das juntas, respetivamente. Figura 97. Aspeto da torre de menagem do castelo de Almourol antes da intervenção. Figura 98. Aspeto da torre de menagem do castelo de Almourol depois da intervenção. 119

As intervenções realizadas nos panos de paredes da torre de menagem consistiram na impermeabilização e drenagem das águas. Também no terraço houve necessidade de intervir, foi feita a substituição do pavimento do terraço e drenagem das águas. O terraço que existia foi removido e substituído por um pavimento acabado a resina industrial auto nivelante. O pavimento foi realizado sobre uma laje betonada sobre cofragem metálica perdida assente em vigas metálicas (figura 99). As vigas foram apoiadas sobre blocos de neoprene maciço de forma a ser garantida a sua completa independência do aparelho de pedra da torre. A nova laje foi construída com uma maior abertura para circulação de pessoas do terceiro piso para o terraço. O sistema de escoamento de águas pluviais do terraço era feito pela pingadeira original e pelas seteiras. Esta opção de escoamento teve como consequência, visto que a água escorria pela parede, a degradação dos panos de paredes subjacentes. Foi feita a instalação de uma caleira de perímetro (figura 100) que faz com que a saída das águas pluviais regresse à saída original, pela única pingadeira existente na torre. Figura 99. Intervenção no terraço da torre de menagem. 120

Depois de concluído; Figura 100. Após a intervenção no terraço da torre de menagem. Também foi colocada uma proteção no acesso à cobertura (figura 101), em aço inox e vidro, evitando-se, assim, que as águas da chuva penetrem no interior da torre de menagem. É uma estrutura transparente em forma de L com uma porta também em vidro mas que ainda não tem fechadura. Esteticamente, não será a melhor solução, mas cumpre a sua função principal, ou seja, evita a entrada da água da chuva para o interior da torre e protege o acesso das pessoas ao terraço. O vidro utilizado é laminado de 12mm de espessura, sem isolamento térmico e o aço é inoxidável. O grande inconveniente desta estrutura, é a descontextualização do material empregue naquela zona específica da torre, pois sendo uma área exterior fica visível numa vista aérea. 121

Figura 101. Colocação de proteção no terraço da torre de menagem do castelo de Almourol. No interior da torre de menagem, além da iluminação, foi colocada uma escada em estrutura metálica para circulação vertical (figura 102). A escada apresenta-se como uma estrutura metálica, uma modernidade desta intervenção afastando-se assim de qualquer imitação do existente. Os patamares e os degraus foram realizados em madeira reutilizando-se a madeira da estrutura existente. As guardas são em ferro e madeira com estrutura em alumínio e os degraus em madeira, em substituição da antiga escada, toda em madeira, que já se encontrava em más condições de segurança. Esta nova escada está apoiada no pavimento, na base, e na laje do terraço, na parte superior havendo, também, alguns apoios ao longo da parede da torre, ao contrário do que acontecia com a anterior que estava só apoiada na base e na parte superior. Além desta escada de circulação interior, também foi substituída a escada de acesso à torre de menagem, construída no mesmo sistema construtivo da escada interior (figura 103). 122

Revitalização do Castelo de Almourol Figura 102. Colocação de iluminação e uma escada de circulação interior da torre de menagem. Figura 103. Substituição da escada de acesso à torre de menagem. Também está prevista a colocação de um sistema expositivo nos pisos do interior da torre de menagem, para colocação de conteúdos referentes aos Templários. Segundo declarações do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, Fernando Freire, prevê-se que a conclusão desta intervenção ocorra em março de 2015. 123

A figura 104 ilustra um dos espaços existentes no interior da torre de menagem do castelo de Almourol. Figura 104. Espaço interior para futura colocação de sistema expositivo. As patologias que a seguir se descreve continuam presentes nas muralhas e torre de menagem do castelo de Almourol. 5.2. Localização das patologias Vários fatores contribuíram para que surgissem diferentes patologias na pedra que edifica o castelo de Almourol. Estes fatores têm diferentes origens sendo alguns endógenos, ou seja, inerentes à estrutura interna da própria rocha e outros exógenos, externos à própria rocha, como os agentes climatéricos, as chuvas constantes e os ventos dominantes. Estes agentes atuam na rocha de forma diversificada nas muralhas e na torre de menagem do castelo de Almourol dependendo da localização e consequente grau de exposição a que estas zonas estão expostas. Mas para além destes fatores endógenos e fatores exógenos, não poderão deixar de ser referidos os fatores antropológicos, ou seja, a ação do Homem nas várias intervenções feitas anteriormente que, na procura de um melhoramento, muitas vezes contribuem para acelerar o estado de degradação do edificado. 124

Convém assinalar que as patologias aqui apresentadas foram analisadas macroscopicamente. 5.2.1. Muralhas Em alguns locais do interior das muralhas pode-se encontrar alguns exemplos de arenização, muito corrente nos granitos, originando perda de coesão das rochas (figura 105); Figura 105. Evidências de arenização. Também, muito presente, é a erosão. Originando arredondamento das faces e perdas significativas do material pétreo (figura 106); 125

Figura 106. Evidências do fenómeno de erosão com o arredondamento das faces. A ação da água, como a chuva e a alternância de períodos secos com períodos húmidos provocou variações de volume gerando tensões que conduziram à fracturação da ligação entre pedras (figura 107). Do mesmo modo a ação do gelo, ou crioclastia, pode provocar fragmentação da rocha, por congelação da água que se encontra nas fraturas e nos poros. Quanto maior o número de fendas existentes, maior poderá ser a fragmentação causada pelo gelo. Figura 107. Fratura na ligação. 126

Em alguns locais surgem elementos de colonização biológica pela presença de plantas superiores, como ervas e arbustos (figura 108); Figura 108. Existência de colonização biológica. Algumas zonas apresentam manchas na pedra, sua localização mais exposta, sujeitas ao constante fenómeno de secagem-molhagem origina a formação de crostas negras (figura 109); Figura 109. Crostas negras no granito das muralhas. 127

5.2.2. Torre de menagem Na torre de menagem são poucas as patologias detetadas depois da última intervenção realizada. Ainda existem algumas zonas com queda de argamassa nas paredes interiores, resultantes da colocação de argamassas inapropriadas, em intervenções anteriores (figura 110). Figura 110. Queda de argamassas inapropriadas. São visíveis, no interior, zonas com pedra fraturada (figura 111); Figura 111. Rocha fraturada no interior da torre de menagem. 128

É também visível o aparecimento de eflorescências nas paredes provocadas pelo escorrimento de água das chuvas (figura 112); Figura 112. Aparecimento de eflorescências. 5.3. Análise de patologias no castelo de Almourol e eventuais intervenções Não tecendo comentários sobre a qualidade e eficácia de todas as intervenções realizadas no castelo de Almourol ao longo dos tempos, incluindo as últimas aqui descritas, apresenta-se neste capítulo uma proposta. Esta proposta baseada no pressuposto de que antes de qualquer tipo de intervenção, se deve ter em mente que se trata de um imóvel classificado sobre o qual recaem responsabilidades acrescidas. Poderemos observar no livro Intervenções no Património 1995-2000 o seguinte: De facto, uma intervenção num imóvel classificado não é um processo linear. Anote-se que nunca se trata de uma simples empreitada de construção civil, mas antes sim de uma 129

empreitada levada a cabo num bem sobre o qual recaem responsabilidades acrescidas, uma vez que é nosso dever preservá-lo e transmiti-lo a gerações futuras. Se chegou até nós, não poderemos desperdiçá-lo mediante uma intervenção leviana ou demasiado simplista. [26] Sendo assim, procura-se um critério e filosofia de atuação que considere prioritária a salvaguarda do castelo e que tenha como estratégia a sua consolidação, tendo como objetivo uma intervenção mínima. Numa perspetiva de respeitar o património pré-existente, qualquer tipo de intervenção terá que ter sempre como prioridade a proteção do objeto. É importante que qualquer tipo de intervenção feita se revele favorável para a valorização da estrutura do castelo de Almourol, pois não interessa apenas salvaguardar o monumento, é necessário dar-lhe condições para atrair turistas. Segundo os autores Luís Ferreira Calado, Paulo Pereira e Joaquim Passos Leite - [ ] a «intervenção» no património não é matéria que se possa reduzir à intervenção física de recuperação e restauro de um ou outro imóvel e da sua envolvente imediata. Pelo contrário, a intervenção no património abrange todas as componentes em presença, sejam as obras de restauro propriamente ditas, a classificação ou a protecção administrativa dos bens, mas também a sua gestão em termos latos do ponto de vista territorial e de usos (ou reafectação de usos) como também a gestão no sentido mais estrito, ou seja, em termos económicos e financeiros. [27] Essencialmente, as intervenções de limpeza de muralhas e paredes da torre de menagem foram já realizadas. Serão necessários trabalhos de manutenção tais como: [26] CALADO, Luís Ferreira; LEITE, Joaquim Passos; PEREIRA, Paulo As áreas de actuação do IPPAR (algumas questões concretas). In Intervenções no Património 1995-2000, 1997, p. 33. [27] CALADO, Luís Ferreira; PEREIRA, Paulo; LEITE, Joaquim Passos Falando com franqueza: a salvaguarda do Património e os seus (enormes) problemas. Património Estudos 1, p. 106. 130

- Recalcamento de alguns muros interiores (figura 113); Figura 113. Necessidade de recalcamento de muros no interior das muralhas. -Reposição de elementos perdidos em divisões no interior das muralhas (figura 114); Figura 114. Muros no interior das muralhas, parcialmente caídos. 131

-Melhoramento no sistema de drenagem no pavimento no interior das muralhas evitando, assim, a escavação do pavimento pelas águas das chuvas (figura 115); Figura 115. Pavimento interior do castelo com escavação provocada pelas águas das chuvas. -Colocação de alguns equipamentos inexistentes como, por exemplo corrimão nas escadas de acesso ao adarve (figura 116); Figura 116. Escadas de acesso ao adarve. 132

Outros trabalhos de valorização do castelo de Almourol poderão ser executados tais como: -Melhoramento dos circuitos pedonais da ilha, exteriores ao castelo de Almourol (figura 117); Figura 117. Circuitos pedonais da ilha, exteriores ao castelo de Almourol. -Melhoramento do acesso ao cais de embarque fluvial com a substituição da escada em madeira existente (figura 118), esta encontra-se em mau estado de utilização tendo já alguns degraus partidos; Figura 118. Escada de acesso ao cais de embarque fluvial. 133

Todas as propostas de intervenção aqui apresentadas têm como objetivo a conservação/beneficiação e valorização do castelo de Almourol, não excluindo a hipótese de outras eventuais intervenções serem necessárias para devolver a este monumento nacional o simbolismo que lhe é devido. Como se pode ler no livro Património. Balanço e Perspectivas (2000-2006) - [ ] os Castelos Portugueses constituem, ainda hoje, não apenas um símbolo acarinhado e reconhecido de soberania nacional, mas também, e sobretudo agora, um símbolo de identidade regional, municipal e local. Por outro lado, marcam o perfil das cidades e povoações, pelo que servem de pólo de referenciação para esses aglomerados. [ ] Ainda, o seu papel evocativo, faz de cada castelo uma peça única, capacitada como poucas para dinamizar a interacção cultural, educativa e social, a que acrescenta a dimensão turística, como parte constituinte da gestão dos recursos culturais. [28] 5.4. Conclusão Em fase de conclusão deste capítulo restará dizer que serão importantes todas as intervenções de reabilitação e de beneficiação ou de valorização necessárias ao castelo de Almourol mas, não menos importante, a forma e o conteúdo dessas intervenções. Poderá ler-se no livro Património Edificado. Pedras Angulares - O que é, em suma a interpretação de um monumento de um sítio?: nada mais nada menos do que o primeiro passo para reintegrar, sem perda de «aura», sem alienação do objecto, o monumento ou o sítio nessa ordem contemporânea: conservando o monumento, valorizando o monumento, explicando e interpretando o monumento, para lhe conferir apenas, esta pequena dose de utilidade e de interacção. Uma pequena dose de utilidade, que se esgueira em filigrana perante a inutilidade absoluta de qualquer ruína, de qualquer sítio que já foi. [29] [28] CALADO, Luís Ferreira; PEREIRA, Paulo; LEITE, Joaquim Passos Património. Balanço e Perspectivas (2000-2006), 2000, p. 258 [29] PEREIRA, Paulo Património Edificado. Pedras Angulares, 2004, p. 92. 134