O LÉXICO DA TRADUÇÃO JURAMENTADA: REFLEXÃO SOBRE OS DISTANCIAMENTOS E APROXIMACÕES ENTRE O PORTUGUÊS E O INGLÊS EM SUAS VARIANTES NORTE-AMERICANA E BRITÂNICA. DELVIZIO, Ivanir Azevedo Universidade Estadual Paulista-UNESP ivanir_ad@yahoo.com.br 1. Introdução Com o aumento do fluxo de estudantes e profissionais que desejam estudar ou trabalhar em outros países, ou validar no Brasil os estudos realizados no exterior, os documentos acadêmicos são objetos freqüentes da Tradução Juramentada. Um estudo da terminologia neles recorrente pode ser de grande utilidade para aqueles que pretendem atuar nessa promissora área da tradução. Evidentemente, ao traduzir esse tipo de documento, o tradutor público encontrará termos que se referem a realidades educacionais específicas de um país e que não possuem, em razão disso, termos equivalentes em outra língua, o que gera não apenas problemas de tradução, mas também de compreensão cultural. No entanto, esses termos, a despeito das evidentes dificuldades, [são] traduzidos de um modo ou de outro (AUBERT, 2003, s.p., apud ALVES, 2006, p. 47). A discussão sobre a comparabilidade dos sistemas educacionais, a (não-)equivalência de suas terminologias e os procedimentos tradutórios adotados ganha mais espaço em uma sociedade globalizada com oportunidades e programas de mobilidade profissional e estudantil cada vez mais numerosos. Diante disso, como parte de um projeto mais amplo, intitulado O Léxico da Tradução Juramentada-LexTraJu, desenvolvemos uma pesquisa em nível de Doutorado, orientada pela Prof. Dr. Lidia Almeida Barros e financiada pela FAPESP, tendo como foco duas questões: uma refere-se às dificuldades terminológicas que um tradutor público pode enfrentar quando os termos a traduzir são próprios a uma cultura escolar específica e não têm equivalentes diretos na cultura da língua de chegada. A outra, refere-se às diferenças terminológicas encontradas entre as variantes de uma mesma língua, no caso, o inglês. Tentamos responder, portanto, as seguintes perguntas: é possível o estabelecimento de equivalência perfeita entre os termos de documentos escolares pertencentes a dois sistemas de ensino diferentes? Qual o grau de equivalência predominante? Como podem proceder os tradutores juramentados no caso de particularidades terminológicas e culturais? Para realizar o estudo proposto e responder a essas indagações, estabelecemos os seguintes passos e objetivos. 1.1 Objetivos Gerais Analisar o conjunto terminológico recorrente em documentos acadêmicos (diplomas, históricos, atestados e outros) submetidos à Tradução Juramentada na direção português inglês; Verificar se há diferenças de uso do léxico e de terminologias próprios ao inglês em suas variantes nacionais norte-americana e britânica;
Refletir sobre os aspectos sociolinguísticos e culturais que subjazem às aproximações e aos distanciamentos lexicais e terminológicos observados. 1.2 Objetivos Específicos Identificar o conjunto lexical/terminológico presente em documentos escolares submetidos à Tradução Juramentada na direção tradutória português inglês; Compará-lo ao conjunto lexical/terminológico presente em documentos de mesma natureza originalmente redigidos em inglês; Com base nessa análise, verificar as semelhanças e diferenças existentes entre as terminologias empregadas nos documentos escolares no que se refere aos termos culturalmente marcados e variantes nacionais do inglês; Refletir sobre os aspectos sociolinguísticos e culturais que subjazem às diferenças e semelhanças encontradas; Observar o comportamento do tradutor no que concerne à homogeneidade no emprego do léxico e da terminologia próprios ao inglês; Refletir sobre o fazer tradutório quando estão em jogo diferentes organizações políticas, administrativas e jurídicas. 2. Metodologia A primeira parte da pesquisa consistiu no desenvolvimento da parte teórica do trabalho. Aprofundamos, assim, nossos conhecimentos sobre: a) Tradução Juramentada, b) Terminologia e Terminologia Bilíngue, c) Tradução Juramentada de Documentos Acadêmicos d) A estrutura e funcionamento dos sistemas escolares brasileiro, britânico e norte-americano. Em relação aos subsídios teóricos e procedimentos metodológicos adotados, guiamo-nos basicamente pelos trabalhos de Aubert (1996; 1998; 2004), Barros (2004; 2005), Cabré (1999), Mayoral (1991; 2003), Vázques y Del Arbol (2007), Santaemilia (1999) e Way (2003). Em seguida, dedicamo-nos a criação do córpus textual. O grupo de pesquisa em Tradução Juramentada-LexTraJu conta com um acervo de textos composto por documentos que foram submetidos ao processo de tradução juramentada, traduzidos para o português ou vertidos para outras quatro línguas (espanhol, francês, italiano, inglês), extraídos de dezoito Livros de Registro de Traduções pertencentes a três tradutores (identificados por Tradutor A, B e C) credenciados pela Junta Comercial do Estado de São Paulo. Desse córpus, selecionamos apenas os documentos escolares, criando uma base de dados textuais composta por traduções e versões juramentadas (português inglês) feitas pelos três tradutores públicos do estado de São Paulo. Esses arquivos foram, então, armazenados no Hyperbase, programa de gerenciamento de bases textuais, desenvolvido por Etienne Brunet, pesquisador da Universidade de Nice, França. Esse potente software encontra-se disponível na UNESP, tendo sido disponibilizado pelo criador do mesmo ao Departamento de Letras Modernas. Uma vez armazenados os textos, uma primeira lista de termos foi produzida pela ferramenta informática. Procedemos, no entanto, a um levantamento semi-automático, pois, em seguida, a lista foi submetida à análise do pesquisador e orientador. Esse procedimento é adotado em centros de pesquisa de renome internacional e, nesse sentido, acreditamos que nossa metodologia foi adequada. Seguindo a proposta de Baker (1993) e Tognini Bonelli (2001), o próximo passo foi a criação de um córpus comparável. Segundo Baker, um córpus de tradução permite verificar as 2
diferenças existentes entre a "língua" encontrada nos textos traduzidos (TTs) e a respectiva língua natural de chegada. Baker (1993) propôs um modelo inovador para as investigações científicas sobre a tradução por meio da natureza dos TTs. Dentre os diversos tipos de córpus existentes, utilizaremos em nossa pesquisa o córpus comparável que, de acordo com Baker, consiste em dois conjuntos de textos em uma mesma língua: 1) um composto de textos traduzidos para uma dada língua de chegada (TTs) a partir de uma única língua fonte (LF) ou de diversas LFs; 2) outro composto de textos originalmente escritos na mesma língua de chegada dos TTs (TOs). Esse tipo de córpus demonstra ser o mais indicado para o estudo da TJ, uma vez que é importante comparar o texto traduzido com documentos de mesma natureza originalmente escritos nas línguas de partida e de chegada. A constituição de um córpus como esse nos permite realizar diversos tipos de estudo sobre variados aspectos. Interessa-nos aqui comparar as unidades lexicais e/ou terminológicas presentes nos documentos escolares e observar as aproximações e distanciamentos (linguísticos e extralinguísticos) existentes entre elas. 3. Fundamentação teórica Toda documentação redigida em língua estrangeira, para ter validade perante as instituições brasileiras, deve vir acompanhada de uma tradução em língua portuguesa, conforme atesta o trecho abaixo e outras disposições legais 1 : Nenhum livro, documento ou papel de qualquer natureza que for exarado em idioma estrangeiro, produzirá efeito em repartições da União dos Estados e dos municípios, em qualquer instância, Juízo ou Tribunal ou entidades mantidas, fiscalizadas ou orientadas pelos poderes públicos, sem ser acompanhado da respectiva tradução. (art. 18 Decreto nº 13.609, de 21 de outubro de 1943). Além disso, de acordo com o art. 157 do Código de Processo Civil, para que essa tradução tenha valor, ela deve ser feita por um Tradutor Juramentado, ou seja, um tradutor concursado e nomeado especialmente para tal fim que, além de realizar a tradução, passa uma certidão, com firma reconhecida, atestando e garantindo sua autenticidade. Esse poder de conferir a um documento uma presunção legal de autenticidade é chamado de fé pública 2. Assim, por Tradução Juramentada (TJ) entendemos uma tradução revestida de formalidades legais, com fé pública, que é fundamentalmente uma Certidão (CAMPBELL, 1983, p.112). Vejamos também a definição de Aubert: Por tradução juramentada entende-se a tradução de textos de qualquer espécie que resulte em um texto traduzido legalmente reconhecido como uma reprodução fiel do original (com fé pública). Esta característica de fidelidade, 1 Art. 13 da Constituição de 1988: A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. ; Art. 140 do Código Civil: Os escritos de obrigação redigidos em língua estrangeira serão, para ter efeitos legais no país, vertidos em português ; Art. 156 e 157 do Código de Processo Civil: Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso do vernáculo., Só poderá ser junto aos autos documento redigido em língua estrangeira, quando acompanhado de versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado ; Código Comercial: Arts. 16, 62, 64 e 125; Código do Processo Penal: Arts. 193, 223 e 236; CLT: Art. 819. 2 Termo jurídico que denota "presunção legal de autenticidade, verdade ou legitimidade de ato emanado de autoridade ou funcionário autorizado, no exercício de suas respectivas funções" (Aurélio Buarque de H. Ferreira). 3
por sua vez, significa que, por meio de tal tradução, o texto original, expresso em um idioma estrangeiro, torna-se capaz de produzir efeitos legais no país da língua de chegada e, ainda, que tal tradução é correta, precisa, exaustiva e semanticamente invariante em relação ao original (obviamente, dentro dos limites dos meios de expressão disponíveis nas respectivas línguas/culturas que se confrontam no ato tradutório específico) (AUBERT, 1998, p.14). Essa é uma das características que opõem a Tradução Juramentada a outras formas e outros contextos de execução do ato tradutório, não-juramentado, dando-se em duas instâncias: a primeira é estritamente tradutória, a segunda é de natureza notarial (AUBERT, 1998, p. 15). Também é importante destacar outra diferença em relação à tradução convencional. O texto traduzido no modo juramentado não é um texto autônomo. Ele vem ou dever vir acompanhado de seu original (AUBERT, 1996, p. 16), consistindo, pelo menos, em duas partes: o texto de partida e o texto traduzido, além dos termos de abertura e de encerramento e outros elementos formais. No Brasil, o profissional autorizado a realizar esse tipo de tradução e a certificá-la, conferindo-lhe legitimidade e valor legal, é oficialmente chamado de Tradutor Público e Intérprete Comercial. Uma vez acompanhado de sua tradução juramentada, o texto/documento redigido em língua estrangeira passa a ser aceito e a produzir efeitos legais no Brasil. Vertido do português para uma outra língua, é reconhecido na maior parte dos países estrangeiros (ATPIESP, 2006). É relevante apontar que a tradução juramentada não envolve necessariamente um texto da área jurídica e nem está circunscrita a um campo de especialidade determinado. Aliás, conforme testemunham Campbell (1983, p. 116), Aubert (1998, p. 14) e Mayoral (2003, p. 27), qualquer tipo de texto pode ser objeto da tradução juramentada, seja ele literário, técnico, publicitário, jornalístico ou de correspondência privada. Para isso, basta que faça parte de um processo judicial ou seja requerido oficialmente. Aubert (1996, p. 14) divide-os nos seguintes grandes grupos: a) documentos pessoais: carteira de identidade, certidões de nascimento, casamento, divórcio ou óbito, documentos escolares, carteiras de habilitação de motoristas, passaportes e outros; b) documentos societários: termos de incorporação, deliberações de conselhos de empresas, atas de reuniões, contratos em geral etc.; c) documentos financeiro-comerciais: balanços de empresas, faturas, notas de débito, letras de câmbio, conhecimento de embarque, notas promissórias, correspondência comercial etc.; d) documentos legais: cartas rogatórias, atestados de antecedentes, procurações etc.; e) documentos de diferentes naturezas: patentes, transferência de tecnologia, correspondência eletrônica etc. Na classificação acima, os documentos escolares inserem-se na categoria documentos pessoais. No próximo tópico trataremos da tradução juramentada desses documentos, já que um dos objetivos de nosso trabalho é analisar o seu conjunto terminológico. 3.1 Tradução juramentada de documentos acadêmicos 4
Duro (1997, p. 42) diz que, ao ser encarregado de traduzir um documento acadêmico, o tradutor rapidamente se depara com um muro de dúvidas, pois: Os conceitos presentes nos documentos escolares não possuem equivalentes em uma boa parte dos casos com os conceitos da língua para a qual se traduz, devido às enormes diferenças existentes nos sistemas educacionais e no funcionamento da administração. (MAYORAL, 1991, s.p.) Na análise de Santaemilia (1999, p. 269), a transposição de um sistema legal, político ou administrativo a outro e, no nosso caso, de um sistema educacional a outro, é justamente uma das fontes de versões equivocadas ou de lacunas lexicais. Essas lacunas linguísticas podem se referir a nomes de autoridades, categorias dos docentes e funcionários, áreas de conhecimento, calendário, exames, graus, diplomas, sistema de notas, nota de aprovação, forma de ingresso, cursos, nomes de cursos e outros aspectos (MAYORAL, 2003, p. 91). Em Haensch et al (1982, p. 532), encontramos mais um comentário acerca da comparabilidade dos termos quando estão envolvidos dois sistemas nacionais específicos: (...) a comparabilidade dos termos em várias línguas é muito maior nas terminologias de criação recente, como a eletrônica, genética ou navegação espacial, do que nas mais antigas ou dependentes de sistemas nacionais específicos, como o direito, a administração ou o ensino. Os termos que designam cargos acadêmicos, religiosos ou políticos apresentam características tão peculiares que para sua correta interpretação seria necessário valorar suas dimensões pragmáticas, ou seja, fazer uma revisão comparativa das implicações jurídicas dos termos de partida e de chegada (SANTAEMILIA, 1999, p. 268). Nesses casos, um dos problemas recorrentes é a escolha de um termo preciso para traduzir o de partida. Alves (2006), em sua pesquisa de mestrado, ao solicitar a 12 tradutores públicos do estado de São Paulo que fizessem a versão juramentada de um histórico escolar brasileiro de segundo grau para o francês, verificou grande dispersão dos tradutores ao terem que escolher na língua de chegada uma expressão lingüística para traduzir termos exclusivos da estrutura administrativa do sistema escolar brasileiro, como Coordenadoria de Ensino, por exemplo. A esse respeito, Aubert (1994, s.p.), de sua vasta experiência, relata-nos: Na versão de um histórico escolar (...) para fins curriculares, caberá priorizar a identificação do aluno, as disciplinas que cursou, a avaliação que obteve e a qualificação que o certificado de conclusão lhe confere, enquanto que informações tais como as referências à estrutura administrativa do sistema escolar (por exemplo: delegacia de ensino que o estabelecimento escolar está subordinado) serão tidos por secundários e uma versão menos feliz para o conceito de Coordenadoria do Ensino Básico e Normal dificilmente acarretará problemas para o uso que se fará da versão de tal documento. Aubert, portanto, aconselha que o tradutor dedique maior atenção às informações essenciais sobre a escolaridade do aluno e, deduzimos, aos termos que encerram essas informações. Diante de duas realidades tão distintas, Santaemilia (1999, p. 269) parece-nos reforçar essa postura: seria irrelevante e cansativo explicar todas e cada uma de suas diferenças. 5
O tradutor deve refletir sobre o uso que se fará da versão de tal documento na comunidade da língua de chegada e avaliar a importância de cada unidade terminológica para a compreensão da situação escolar do aluno. Dependendo dessa análise, um termo poderá ser traduzido literalmente, ser substituído por um equivalente funcional ou vir acompanhado de explicações e notas, visto que nem sempre é possível estabelecer uma relação de equivalência bilíngue entre conjuntos terminológicos de diferentes sistemas educacionais. E talvez nem seja esse o objetivo no caso da Tradução Juramentada de documentos acadêmicos. Ao traduzi-los, não se deve adaptá-los à realidade do sistema escolar da língua para a qual se traduz, como costuma ocorrer em outros contextos tradutórios, não-juramentados; mas fazer entender, por meio dos recursos disponíveis (como notas explicativas, observações parentéticas e anexos), a realidade do sistema escolar do país do qual o documento provém, auxiliando a Instituição Educacional a que se destina na tarefa de estabelecer as relações de equivalência entre os dois sistemas escolares e na identificação da situação do aluno. 3.2 Variantes nacionais do inglês no âmbito acadêmico É de conhecimento geral que, de um lado, há uma grande semelhança entre o inglês dos Estados Unidos e o do Reino Unido, o do Canadá, o da Austrália e o das diversas ex-colônias inglesas, semelhanças que não nos permitem considerá-los como línguas distintas; por outro lado, existem diferenças marcantes entre eles, relacionadas a vários aspectos linguísticos, que nos permitem falar em variantes nacionais. Por isso, ao se verter um texto para o inglês, é imprescindível decidir em que país nossa tradução vai ser lida, já que teremos que ajustá-la à terminologia e fraseologia próprias desse país (MAYORAL, 1991, s.p.) Em nosso trabalho, daremos enfoque às variantes norte-americana e britânica. Como ilustra Smith (2004, s. p.), quando um falante norte-americano encontra-se com um britânico, a diferença mais marcante é o sotaque a pronúncia das palavras. A segunda refere-se ao vocabulário uso de palavras diferentes para um mesmo conceito e outros casos que detalhamos mais adiante. Um exame mais minucioso também nos revela pequenas diferenças relativas à sintaxe e à gramática a disposição de certas palavras, a inclusão ou elipse de outras e diferenças de ortografia e pontuação. É o conjunto dessas diferenças que distingue o inglês norteamericano do inglês britânico 3 (SMITH, 2004, s.p.). Ao investigar essas duas variantes, Ariza Clos (2005, p. 10) conclui que há mais diferenças de vocabulário que diferenças gramaticais entre BE e AE. Em vez de apresentar uma extensa lista de itens, a autora tenta encontrar e descrever um padrão de diferenças de vocabulário, distinguindo três tipos: a) O vocabulário comum: é o que contém o inglês como denominador comum, ou seja, vocabulário compartilhado tanto pelo AE quanto pelo BE. b) As idéias comuns e palavras distintas: contém um extenso número de itens em que a idéia ou o objeto existe tanto na cultura do BE como na do AE, mas são usadas palavras 3 Essas diferenças também são encontradas em diferentes regiões de um mesmo país. Entretanto, quando comparadas ao corpo total do Inglês, essas diferenças não são tão significativas (SMITH, 2004). 6
distintas. Ariza Clos também insere aqui os casos de palavras que existem nas duas variantes, mas cujo uso e frequência variam de uma variante nacional para outra. c) Palavras sem homólogos: palavras, idéias ou objetos que não tem homólogos correspondentes no outro país. Um grupo de palavras muito óbvio que pertence a esta categoria são as palavras que se referem a aspectos geográficos, plantas ou animais característicos de um dos países. Assim, em relação ao léxico, podemos observar a existência de palavras diferentes que se referem ao mesmo conceito (Br. flat; Am. apartment), a existência de uma mesma palavra com sentidos diferentes (Br. mad = louco, Am. mad = bravo ), diferenças relativas à frequência de uso de determinadas palavras, ou palavras ainda utilizadas no inglês britânico e que, na variante nacional norte-americana, caíram em desuso, e vice-versa. Ariza Clos (2005, p. 11), diz que podemos encontrar diferenças como essas em outros campos da vida cotidiana, como os esportes, o sistema escolar, o sistema legal e muitos outros. Essas diferenças acentuam-se quando estão sob análise textos jurídicos e outros tipos de documentos. Os termos que designam os títulos de pessoas, funções, departamentos, serviços, entre outros, podem ser muito diferentes em países anglófonos distintos, como no caso dos EUA e do Reino Unido, por exemplo. Isso decorre principalmente do fato de os textos oficiais e a terminologia neles empregada fazerem referência e refletirem as organizações sociais, administrativas e políticas ancoradas na cultura e história de cada nação. De sua vasta experiência, Mayoral (1991, s.p.) observa que: (...) (os sistemas de qualificação, os sistemas de avaliação, a organização administrativa, os tipos de centros e os nomes que recebem são muito diferentes, por exemplo, para os Estados Unidos e para Inglaterra). Também temos que nos lembrar das diferenças ortográficas (enrolment e enrollment) e da forma diferente das datas (2/3/90 é 2 de março de 1990 na Grã-Bretanha e 3 de fevereiro de 1990 nos Estados Unidos). Segundo Carvalho (2004) a tradução e a versão de termos acadêmicos, fundamental para universitários que com freqüência se correspondem em inglês, têm enorme potencial para gerar confusões. Ilustremos a questão: Faculty, no Reino Unido, corresponde, em português, à faculdade; mas no Inglês americano faculty também pode se referir ao quadro docente. Nos Estados Unidos public school refere-se à escola pública (em contraposição a private school, escola particular), ao passo que no Reino Unido public school significa escola privada (em contraposição a state school, que seria a escola pública). Um equívoco muito comum ocorre quando se traduz graduate student por estudante de graduação. O substantivo graduation e o adjetivo graduate se referem à formatura, ao fim do curso, portanto, graduate studente é um aluno de pós-graduação, ou seja, um aluno que já é graduado e continua seus estudos em outro nível. A versão indicada para aluno de graduação é undergraduate student (CARVALHO, 2004). Como conclusão, Ariza Clos (2005, p. 11) observa: Tanto o AE quanto o BE compartilham um vocabulário em comum muito extenso e um grande número de quase equivalentes. Enquanto que são poucas as palavras ou expressões que são exclusivas para algumas circunstâncias. O vocabulário a que acabamos de fazer referencia é terminologia, a denominação de coisas e idéias. 7
Em relação à língua inglesa, Aubert (1998, p. 1) levanta outra questão, dizendo ser comum a solicitação da tradução de textos que, embora apresentados em inglês, derivam de textos originalmente escritos em outras línguas. Enfim, o tradutor pode receber a tarefa de traduzir textos escritos em inglês dos Estados Unidos ou de outro país anglófono qualquer e, como apontou Aubert, até de países não anglófonos. Sendo assim, deve estar preparado para enfrentar as particularidades linguísticas da língua inglesa nas diferentes variantes nacionais estar sempre atento à procedência do documento. 5. Considerações finais Como vimos, os termos e conceitos presentes nos documentos escolares, muitas vezes, não apresentam termos e conceitos equivalentes na língua para a qual se traduz, devido às inúmeras diferenças existentes entre os sistemas educacionais de cada país. Ao buscar um termo equivalente ou uma solução tradutória alternativa, o tradutor deve orientar-se pela função que a informação encerrada por aquele termo terá na comunidade linguística de chegada. A tradução juramentada de documentos acadêmicos não visa a adaptá-los à realidade do sistema educacional da língua de chegada, como costuma ocorrer em outros contextos tradutórios, não-juramentados. O objetivo primordial é tornar compreensível a realidade do sistema escolar da língua de partida, guiando a instituição a que se destinam os documentos na tarefa de estabelecer as relações de equivalência entre os dois sistemas escolares e de identificar a situação do aluno. Dentro desse contexto, o tradutor público, por meio de suas escolhas lexicais e terminológicas, deve buscar um ponto de equilíbrio entre expressar a alteridade cultural e produzir um texto que seja ao mesmo tempo fluente e produtor de sentido na língua de chegada. Essa atividade, lembremos Santaemilia (1999, p. 268), exige dos tradutores públicos e intérpretes comerciais uma extraordinária flexibilidade e formação lingüística, [terminológica] e tradutória. Esperamos com este trabalho construir subsídios que contribuam para essa formação. REFERÊNCIAS ALVES, W. R. Tradução juramentada e marcadores culturais: uma questão de dizibilidade. 2006. Dissertação (Mestrado em Letras (Língua e Literatura Francesa)) - Universidade de São Paulo, São Paulo. ARIZA CLOS, Gemma. Inglés americano vs. Inglês britânico:?2 lenguas diferentes? Trabajo Acadêmico de 4º curso. Facultad de Traducción e Interpretación, 2005. ATPIESP (Org.). Associação Profissional dos Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais do Estado de São Paulo: Tradução Juramentada. Disponível em: <http://www.atpiesp.org.br/trad_jur.asp>. Acesso em: 05 fev. 2008. AUBERT, Francis Henrik. Tipologia da tradução: o caso da tradução juramentada. Anais do V Encontro Nacional de Tradutores. São Paulo, FFLCH/Humanitas, 1996.. Tipologia e procedimentos da tradução juramentada. Vol. 1: Teoria, legislação, modelos e exercícios práticos. São Paulo, CITRAT/FFLCH, 1998.. Traduzindo as diferenças extralinguísticas: procedimentos e condicionantes. In: Tradterm 9. São Paulo, CITRA/FFLCH, 2003. 8
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