Página1 Curso/Disciplina: Direito Constitucional Aula: Estado de Defesa e Estado de Sítio. Professor (a): Marcelo Tavares Monitor (a): Lívia Cardoso Leite Aula 21 Módulo que trata da defesa das instituições democráticas e do próprio Estado de Direito Estado de Defesa, Estado de Sítio e Organização das Forças Armadas e da Segurança Pública. A visão de que Estado de Defesa e Estado de Sítio são instituições de exceção ao Direito é equivocada. O Direito as prevê como mecanismos de proteção do Estado de Direito e da Democracia. Não são institutos à margem do Direito, mas dentro dele. Qual a natureza dos Estados de Defesa e de Sítio? Mecanismos de proteção da Democracia e do Estado de Direito em situação de crise. Durante os Estados de Defesa e de Sítio há o aumento do poder estatal sobre a liberdade individual, com restrição a direitos e suspensão de garantias constitucionais. Além disso, há o aumento do Poder Executivo. Em contrapartida, aumentam os mecanismos de controle, principalmente políticos, do Poder Executivo. Tem de haver uma compensação entre essas 2 forças para que permaneça a estrutura de Democracia e Estado de Direito. Aumentar o Poder Executivo sem aumentar os mecanismos de controle faz deslocar na direção de uma ditadura ou de um Estado de exceção ao Direito. Não se tem como enfrentar crise sem o aumento do poder do Estado sobre o indivíduo, pois senão o Estado pode sucumbir. Aumenta-se o Poder Executivo. Para que não haja um encaminhamento do Estado de Sítio para a ditadura, tem de haver o aumento correspondente do poder de controle, que é feito principalmente, politicamente, pelo CN. O Estado de Direito pode passar por um momento de legalidade ordinária e por outro de legalidade extraordinária. Na legalidade ordinária existe o pleno exercício de direitos individuais e garantias a esses direitos e o funcionamento normal de órgãos públicos. No momento de legalidade extraordinária, há uma crise e é necessário o aumento do poder do Estado. Restringem-se direitos e suspendem-se garantias, com limites. Há uso e emprego de órgãos e bens públicos em outras funções, diferentes daquelas para as quais foram afetados. Ex: devido a uma calamidade da natureza, uma escola serve de abrigo; uma delegacia serve de hospital. No momento da legalidade extraordinária há aumento do poder do Estado dentro do Estado de Direito, pois não é Estado de exceção. A restrição de direitos e a suspensão de garantias estão previstas na CF. Se estiver fora dela, é abuso.
Página2 A CF prevê as medidas que podem ser adotadas dentro do Estado de Direito, com empoderamento do Estado, para que este possa enfrentar a crise. CF, art. 136 Estado de Defesa. CF, arts. 137 a 139 Estado de Sítio. CF, arts. 140 e 141 Controle político exercido pelo CN. PARÂMETROS ESTADO DE DEFESA ESTADO DE SÍTIO Requisitos Requisito formal: Requisitos formais: - Oitiva dos Conselhos da - Oitiva dos Conselhos da República e de Defesa Nacional Sem ouvi-los, a decretação é nula. República e de Defesa Nacional E - Autorização do CN. CF, arts. 90 e 91. Pressupostos materiais O que deve ocorrer para que haja a - Grave e iminente instabilidade institucional. - Comoção grave de repercussão nacional. decretação - Calamidades de grandes - Ineficácia do Estado de Defesa. proporções na natureza. - Declaração de estado de guerra. Características do Decreto - Tempo de no máximo 30 dias, Decreto por comoção grave de prorrogável 1 vez. repercussão nacional ou de - Áreas locais restritos e ineficácia do Estado de Defesa: é determinados. - Medidas previstas em lei. Essa lei não existe. mais brando. Decreto por declaração de guerra: mais duro e de prazo maior. - Tempo Inciso I do art. 137 da CF: 30 dias, prorrogável a cada vez. Inciso II: enquanto durar a guerra. - Medidas Inciso I do art. 137 da CF: CF, art. 139. Inciso II: não há previsão constitucional. - Depois de publicado, quem é o executor. Controle político - Do Decreto: maioria absoluta, reunião em 5 dias, deliberação em 10 dias. - Prévio. - Concomitante: CF, art. 140. - Posterior: CF, art. 141. - Concomitante: CF, art. 140. - Posterior: CF, art. 141. Controle judicial Pleno. Pleno. Controle Internacional - Controle da Comunidade de Nações Não está previsto. - Tem de comunicar à OEA, que acionará a CIDH e a CIJ.
Página3 Baseado em tratados e convenções internacionais - Tem de comunicar à ONU e sua CIDH. Podem ser feitas inspeções. O Brasil não pode suspender determinadas garantias previstas na CIDCP e na CADH (Pacto de São José da Costa Rica). Ex: Habeas Corpus, vedação à tortura, penas cruéis, desumanas ou degradantes, preservação do direito à vida, preservação do acesso ao Poder Judiciário etc. CF, art. 90 - Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre: I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio; II - as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. 1º O Presidente da República poderá convocar Ministro de Estado para participar da reunião do Conselho, quando constar da pauta questão relacionada com o respectivo Ministério. 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho da República. CF, art. 91, 1º - Compete ao Conselho de Defesa Nacional: I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos termos desta Constituição; II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal; III - propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo; IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático. O Presidente da República faz uma análise com oportunidade e conveniência, analisando se é caso de decretação de Estado de Defesa. Estado de Sítio. Obs: depois da CF de 88, jamais houve um caso de decretação de Estado de Defesa ou de O Presidente da República pode não seguir as orientações dos Conselhos. Juridicamente, as opiniões não são vinculantes. Ele não é obrigado a seguir a recomendação. Politicamente, a opinião dos Conselhos é importante. As medidas para Estado de Sítio são mais fortes sobre o indivíduo, o constrangem mais, retiram mais sua liberdade, direitos e garantias. O poder do Estado é maior. Por isso o controle do CN é maior.
Página4 No Estado de Defesa, o Presidente da República ouve os Conselhos, decreta, publica e remete ao CN. Este examina um Estado de Defesa já decretado, para aprovar ou não. Já o Estado de Sítio não entra em vigor sem a autorização do CN. Cada renovação, se houver, tem de ter nova autorização do CN. CF, art. 49 - É da competência exclusiva do Congresso Nacional: IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas; CF, art. 136 - O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes: I - restrições aos direitos de: a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; b) sigilo de correspondência; c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes. 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação. 3º Na vigência do estado de defesa: I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial; II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação; III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; IV - é vedada a incomunicabilidade do preso. 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta. 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias. 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa. 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa. CF, art. 137 - O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:
Página5 I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira. Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta. haver Estado de Sítio. Obs: para repelir invasão estrangeira, pode haver intervenção. Declarando-se guerra, pode Se a crise é tamanha e abrange todo o território nacional, tem de ser enquadrada em comoção grave de repercussão nacional. Não é caso de Estado de Defesa, que não pode ser decretado em todo o território nacional. O caput do art. 136 da CF fala que este deve ser em locais restritos e determinados. Se o Governo tiver que decretar Estado de Defesa, antes de mais nada terá de editar Medida Provisória definindo a regulamentação do 3º do art. 136 da CF, eis que inexiste a lei que fala das medidas que podem ser adotadas. O 3º faz alusão a determinados mecanismos que precisam de regulamentação legal. Passados cerca de 20 anos da promulgação da CF de 88, o CN ainda não editou a lei. Essa lei deve ser debatida, discutida, em um ambiente de normalidade, sem pressão de uma crise institucional, de uma comoção grave. Não é momento para a discussão das medidas o do calor de uma crise institucional, de uma comoção grave. Restrição ao direito de reunião Ex: não poder fazer reunião com mais de 10 pessoas, mais de 100 pessoas etc. Restrição ao sigilo de correspondência: poderá ser quebrado por ordem administrativa, ou seja, sem ordem judicial. Restrição ao sigilo de comunicação telegráfica e telefônica: de acordo com a lei, a autoridade administrativa poderá decretar a interceptação telefônica sem ordem judicial. Ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública Ex: pode ser determinado o emprego de hospitais como abrigos, de escolas como delegacias etc. Prisão por crime contra o Estado: pode ser decretada sem ordem judicial, pela autoridade administrativa. CF, art. 138 - O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas. 1º O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.
Página6 2º Solicitada autorização para decretar o estado de sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato. 3º O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento até o término das medidas coercitivas. CF, art. 139 - Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: I - obrigação de permanência em localidade determinada; II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; IV - suspensão da liberdade de reunião; V - busca e apreensão em domicílio; VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; VII - requisição de bens. Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa. Na hipótese de guerra, o Presidente vai deliberar se vai designar interventor ou não. Dificilmente isso acontecerá, para que não haja disputa de poder. Obrigação de permanência em localidade determinada: o Estado pode determinar o toque de recolher. Detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns: as pessoas podem ser detidas sem que tenham cometido crime algum, sem imputação. Não há prazo. Suspensão da liberdade de reunião: não é só restrição, mas suspensão. Busca e apreensão em domicílio: a autoridade administrativa pode determinar sem ordem judicial. CF, art. 140 - A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio. CF, art. 141 - Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes. Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências adotadas, com relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas. O modelo de Estado de Sítio tem raiz histórica na França. EUA e Inglaterra adotam o modelo de lei marcial. No modelo de Estado de Sítio, as medidas são previamente adotadas e o Judiciário funciona normalmente.
Página7 Lei marcial: as medidas não são previamente estipuladas. Há a suspensão do Habeas Corpus. A autoridade administrativa pode adotar várias medidas e responde ao final perante o CN. O modelo adotado no Brasil é de Estado de Sítio temperado pelo controle político posterior, o do art. 141 da CF. Essa é uma característica do modelo americano de lei marcial. Hoje a decretação de Estado de Sítio é monitorada pelo Direito Internacional. de presos. CF, art. 140 Não pode ser negado acesso à Comissão a nenhum estabelecimento, incluindo os