DQA e DQEM - Sobreposição ou complementaridade? Objetivos e âmbito A Diretiva-Quadro da Água (DQA, Diretiva n.º 2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro) estabelece um quadro de ação comunitária no domínio da política da água e tem por objetivo definir um enquadramento para a proteção das águas de superfície interiores, das águas de transição, das águas costeiras e das águas subterrâneas. A DQA foi transposta para a legislação nacional pela Lei da Água (LA, Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, alterada pelo Decreto-Lei n.º 245/2009, de 22 de setembro, pelo Decreto-Lei n.º 60/2012, de 14 de março e pelo Decreto-Lei n.º 130/2012, de 22 de junho), a qual estabelece o enquadramento para a gestão das águas superficiais, e tem por objectivos: a) Evitar a continuação da degradação e proteger e melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos e também dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas diretamente dependentes dos ecossistemas aquáticos, no que respeita às suas necessidades de água; b) Promover uma utilização sustentável de água, baseada numa proteção a longo prazo dos recursos hídricos disponíveis; c) Obter uma proteção reforçada e um melhoramento do ambiente aquático, nomeadamente através de medidas específicas para a redução gradual e a cessação ou eliminação por fases das descargas, das emissões e perdas de substâncias prioritárias; d) Assegurar a redução gradual da poluição das águas subterrâneas e evitar o agravamento da sua poluição; 1/5
e) Mitigar os efeitos das inundações e das secas; f) Assegurar o fornecimento em quantidade suficiente de água de origem superficial e subterrânea de boa qualidade, conforme necessário para uma utilização sustentável, equilibrada e equitativa da água; g) Proteger as águas marinhas, incluindo as territoriais; h) Assegurar o cumprimento dos objectivos dos acordos internacionais pertinentes, incluindo os que se destinam à prevenção e eliminação da poluição no ambiente marinho. No que respeita ao seu âmbito, a LA abrange, entre outras, as águas costeiras, definidas como as águas de superfície que se encontram entre terra e uma linha cujos pontos se encontram a uma distância de uma milha náutica, na direção do mar, a partir do ponto mais próximo da linha de base de delimitação das águas territoriais, estendendo-se, quando aplicável, até ao limite exterior das águas de transição. Os programas de medidas constantes dos planos de gestão de bacia hidrográfica previstos na Lei da Água devem permitir alcançar os objetivos ambientais definidos referentes ao bom estado e bom potencial das massas de água, o mais tarde até 2015, sem prejuízo das prorrogações e derrogações previstas O objectivo final da DQA será atingir o bom estado das águas superficiais, definido como o estado global em que se encontra uma massa de águas superficiais (determinado em função do pior dos seus estados, ecológico ou químico) quando os seus estados ecológico e químico são considerados, pelo menos, bons. No caso da avaliação do estado químico, a DQA abrange, para além das águas costeiras, as águas territoriais, definidas como as águas marítimas situadas entre a linha de base e uma linha distando 12 milhas náuticas da linha de base. A Diretiva Quadro da Estratégia Marinha (DQEM, Diretiva n.º 2008/56/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de junho), transposta para a legislação nacional pelo Decreto-Lei n.º 108/2010, de 13 de outubro de 2010, alterado pelo Decreto-Lei n.º 210/2012, de 27 de agosto, determina o quadro de ação comunitária no domínio da política para o meio marinho, no âmbito do 2/5
qual os Estados-membros devem tomar as medidas necessárias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho até 2020. O presente regime prevê que devem ser desenvolvidas estratégias marinhas aplicáveis às águas marinhas sob soberania ou jurisdição nacional, as quais integram a região marinha do Atlântico Nordeste e as sub-regiões da Costa Ibérica e da Macaronésia, com vista à obtenção ou manutenção de um bom estado ambiental no meio marinho, dentro do referido prazo. Este regime legal tem por âmbito: a) As águas, os fundos e os subsolos marinhos situados entre a linha de base a partir da qual são medidas as águas territoriais e o limite exterior da zona sob soberania ou jurisdição do Estado Português, em conformidade com a Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar; b) As águas costeiras, definidas na Lei da Água, e os seus fundos e subsolos marinhos nos aspectos do estado ambiental do meio marinho não cobertos pela referida Lei da Água ou legislação complementar. As estratégias para as águas marinhas nacionais visam assim a proteção e a conservação do meio marinho, a prevenção da sua deterioração, a valorização equilibrada dos recursos e a sua utilização sustentável, a recuperação de áreas degradadas, bem como a prevenção e a progressiva redução da poluição marítima. São objectivos da DQEM contribuir para a coerência e integração das preocupações ambientais nas diferentes políticas, convenções e medidas legislativas, que têm impacto no meio marinho, tendo em vista a compatibilidade com as metas ambientais relevantes já existentes, fixadas a nível nacional, da União Europeia ou internacional para as mesmas águas, que continuam a ser aplicáveis. Entende-se por metas ambientais a condição pretendida, em termos qualitativos ou quantitativos, dos diferentes componentes das águas marinhas nacionais, assim como das pressões e dos impactos a que estão sujeitas, para cada região e sub-região marinha. As estratégias marinhas culminam na adoção de programas de medidas a partir de 2016 que possibilitem a prossecução ou a manutenção do bom estado ambiental nas águas marinhas 3/5
nacionais. Devido à natureza dinâmica dos ecossistemas marinhos, ao facto de as pressões e impactos que neles incidem poderem variar em função de diversos padrões das atividades humanas, ao impacto das alterações climáticas e a desenvolvimentos nos domínios científico e tecnológico, os programas de medidas serão flexíveis e adaptáveis, prevendo-se uma atualização periódica das estratégias marinhas. A DQEM foi complementada com a Decisão da Comissão 2010/477/EU, de 1 de Setembro, relativa aos critérios e às normas metodológicas de avaliação do bom estado ambiental das águas marinhas, a qual apoia, no que se refere aos ecossistemas marinhos, e ao contribuir para promover ainda mais o conceito de bom estado ambiental das águas marinhas, o processo de revisão da estratégia da União Europeia em matéria de biodiversidade para o período pós-2010 e o plano de ação para a biodiversidade. No quadro da implementação da DQEM, a avaliação inicial fornece uma análise do estado atual das águas marinhas, incluindo uma análise económica e social dessas águas, de preferência tendo em conta os critérios selecionados para a definição do bom estado ambiental, o qual corresponde ao estado desejado para essas águas em 2020. A verificação do bom estado ambiental é realizada por comparação das características do meio marinho, incluindo as condições de referência estabelecidas. Para a maioria dos critérios, a avaliação e as metodologias exigidas devem ter em conta e, se for caso disso, basear-se nas previstas na legislação comunitária existente, nomeadamente a DQA e a DQEM e, se pertinente, nas informações e os conhecimentos adquiridos no âmbito das convenções marinhas regionais e as abordagens desenvolvidas no mesmo âmbito. Para obter um bom estado ambiental é necessário que todas as atividades humanas pertinentes sejam exercidas de acordo com a exigência de proteção e preservação do meio marinho e com o conceito de utilização sustentável dos bens e serviços marinhos pelas gerações presentes e futuras, como indicado no artigo 1.º da DQEM. Os critérios relativos ao bom estado ambiental devem ser aplicados tendo presente a necessidade de centrar a avaliação e a monitorização e de estabelecer a prioridade das ações em função da importância dos impactos nos ecossistemas marinhos e seus componentes e das ameaças que sobre eles pesam. 4/5
Pretende-se assegurar a monitorização da qualidade ambiental das águas marinhas nacionais, recorrendo sempre que possível a informação obtida através dos programas de monitorização já estabelecidos, designadamente os previstos na Estratégia Nacional para o Mar, na Estratégia Nacional para a Gestão Integrada da Zona Costeira, nos planos de gestão de bacias hidrográficas, no Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo e em planos de ação aprovados pela Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar ou ainda em outros instrumentos, nomeadamente de gestão territorial, legalmente consagrados. Verifica-se assim existir, no que respeita ao âmbito territorial, uma certa sobreposição entre a DQA e a DQEM quer para as águas costeiras quer para as águas territoriais. O grande desafio que se coloca ao país é conseguir transformar esta sobreposição em complementaridade, de modo a atingir os seguintes resultados: (i) um trabalho de melhor qualidade (eg. articulação de programas de monitorização, programas de medidas e elaboração de relatórios); (ii) uma prestação de serviços ao cidadão e, em particular aos utilizadores, de elevada qualidade (eg. acesso a atividades); e, (iii) uma otimização e um controlo dos custos decorrente da aplicação coordenada das duas diretivas. 5/5