PESQUISA DO CAAF ANALISA A VIOLÊNCIA DE ESTADO A PARTIR DOS CASOS DA BAIXADA SANTISTA

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Transcrição:

CRIMES DE MAIO DE 2006 COMPLETAM 11 ANOS SEM SOLUÇÃO PESQUISA DO CAAF ANALISA A VIOLÊNCIA DE ESTADO A PARTIR DOS CASOS DA BAIXADA SANTISTA Por Daniel Patini Boletim informativ Centro de Antropologia e Arqueologia Forense CAAF Unifesp ANO 2/Nº5 - MAIO/JUNHO - 2017 www.unifesp.br/reitoria/caaf - caaf@unifesp.br Apresentação parcial dos dados aos familiares das vítimas em fevereiro deste ano (Foto: Valéria Aparecida de Oliveira) A semana seria de comemorações por conta do Dia das Mães. Porém, maio de 2006 ficou marcado por episódios de grande violência nas cidades brasileiras e de grave violação aos direitos humanos. Entre os dias 12 e 21, uma onda de ataques, promovida por agentes do Estado e integrantes do PCC, resultou em 564 mortes e em mais de uma centena de feridos. Já se passaram 11 anos dos chamados Crimes de Maio, e a maioria desses casos continuam sem solução. Desde abril do ano passado, o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF/Unifesp) desenvolve um projeto com o objetivo de mostrar a existência de indícios que apontem que as pessoas assassinadas nesses episódios foram mortas como resultado da violência de Estado. Fruto de uma colaboração entre o CAAF e o Centro Latino Americano Escola de Estudos Interdisciplinares, da Universidade de Oxford, o Projeto Violência do Estado no Brasil: um estudo dos Crimes de Maio de 2006 na perspectiva da Antropologia Forense e da Justiça de Transição também visa capacitar pesquisadores e especialistas em antropologia forense, de forma a erradicar a violência institucional e fortalecer a democracia. Com previsão para ser concluído em setembro deste ano, os trabalhos do projeto já estão em fase de fechamento. A pesquisa está focada na análise de 71 casos de pessoas assassinadas por arma de fogo, durante maio de 2006, nas regiões periféricas de seis cidades da Baixada Santista. Até o momento, foram feitas a delimitação do universo de pessoas assassinadas durante esse período, a construção de um banco de dados, a coleta das narrativas dos familiares dessas vítimas, além da realização de georreferenciamento dos locais onde ocorreram os crimes, a partir dos endereços levantados pelos pesquisadores. Ainda faltam as narrativas dos familiares dos policiais também mortos naquela época e a reconstrução 3D dos crimes. Movimento Mães de Maio Um desses casos é o de Mateus Andrade de Freitas. Ele foi assassinado aos 22 anos no 1

caminho de volta para a casa ao ser dispensado da escola mais cedo devido aos episódios de violência que estava acontecendo. Morreu no dia 17 de maio de 2006, a cerca de 200 metros de casa. O pai dele, João Inocêncio Correia de Freitas, integra o Movimento Mães de Maio que reúne mães e parentes das vítimas e que hoje participa ativamente do projeto. Atualmente, eles batalham pela federalização dos casos, dentre outras demandas. Com isso, segundo ele, a investigação seria realizada por uma equipe mais centralizada, fortalecida e independente. De cara, me manifestei de forma favorável ao projeto. Não sei qual será o seu resultado, mas pode ser que ele fortaleça o pedido de federalização dos casos. Estou aguardando. Essa é uma luta que não deve parar. O segredo é perseverar. É o meu filho quem está lutando, declara. Para Aline Rocco, uma das pesquisadoras, o Movimento Mães de Maio contribuiu para trazer essa discussão sobre violência de Estado para dentro da universidade. Antes disso, era algo muito objetivo, sem aprofundamento e distante da realidade. O movimento faz o acolhimento das famílias vítimas da violência, o que o Estado não faz, relata. A equipe espera que, de alguma forma, o relatório final dessa pesquisa contribua com o objetivo e com as reivindicações desses familiares. Nos esforçamos muito para buscar elementos que contribuam com o movimento, como a reabertura de processos arquivados, por exemplo. Tenho convicção de que esse relatório vai proporcionar um direcionamento para esses familiares, diz a também pesquisadora Valéria Aparecida de Oliveira. Sobre a impunidade que impera no país, João é categórico. Costumo dizer que 2006 é o nosso presente. É como se ele estivesse acontecendo agora. Não podemos nos distanciar dele. Esses tipos de crimes continuam acontecendo porque não tem justiça. Se ela funcionasse, não teriam ocorrido, conclui. Aline Rocco (à esquerda) e Valéria Aparecida de Olivera (à direita) integram a equipe de pesquisadores do projeto sobre os crimes de maio de 2006. Completam a equipe da Unifesp: os professores Javier Amadeo, Ana Nemi, Bruno Comparato, Raiane Severino Assumpção, Claudia Plens, Elizete Kunkel e Rimarcs Ferreira; e os pesquisadores Marina Figueiredo, Rebeca Padrão, Juliana Magalhaes Carrapeiro, Edson Barbosa da Rocha, Débora Maria da Silva, Thabata Ganga, Delphine Denise Lacroix e Lorrane Rodrigues. Pela Universidade de Oxford, participam os professores e pesquisadores Leigh A. Payne, Francesca Lessa, Gabriel Pereira e Laura Bernal-Bermudez. 2

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA FORENSE EM SEU SEGUNDO MÓDULO, QUE OCORREU NO MÊS DE MAIO, O CURSO CONTOU COM AULAS NO CAMPO DE DIREITOS HUMANOS, LEGISLAÇÃO E MEDICINA FORENSE. Aula sobre Direitos Humanos e a importância das reivindicações ministrada pelo Prof. Dr. Bruno Konder Comparato, do CAAF/ UNIFESP. O curso de especialização em Antropologia Forense e Direitos Humanos do CAAF/ UNIFESP, que tem por objetivo a formação de especialistas que atuem na prática de desenvolvimento de investigações na área de Antropologia Forense, conta com alunos de diferentes formações, medicina, odontologia, direito, arqueologia, entre outros, e provenientes de diversas regiões do Brasil. Em seu segundo módulo, que ocorreu no mês de maio, o curso contou com aulas no campo de Direitos Humanos, Legislação e Medicina Forense. A base teórica nesses campos do conhecimento é essencial para que o especialista em Antropologia Forense compreenda sua área de atuação, as bases legais em que deve atuar e princípios básicos para se iniciar o reconhecimento de marcas de violência no corpo humano. Destarte, iniciada a discussão acerca da origem e desenvolvimento dos Direitos Humanos, o Prof. Dr. Bruno Konder Comparato, do CAAF/UNIFESP, relembrou que na peça de teatro Antígona, escrita por Sófocles, no século V antes da nossa era, este autor grego problematizou a relação entre a necessidade de uma sepultura e dos ritos funerários adequados como fundamentais para o apaziguamento dos familiares dos mortos. Ao enfrentar o poder do rei Creonte, a heroína desta tragédia lembra que os decretos do rei não podem ir contra as leis divinas ou naturais, que podem não ter sido escritas, mas que sabem ouvir a consciência dos homens. Como ressalta Comparato, eis aí exposta, desde a antiguidade grega, a relação fundamental entre a antropologia forense e os direitos humanos. A antropologia forense tem por objetivo a identificação dos restos mortais de corpos humanos que, uma vez identificados, recobram a sua humanidade e devem ser tratados com o respeito que merece todo ser humano ao ser levado a uma sepultura adequada. Reafirmados e consolidados a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, de 1948, os direitos humanos se fundamentam na preservação da vida e no princípio de igualdade e destacam a imensa riqueza representada pela individualidade única de todo ser humano, que é justamente um dos princípios sobre o qual se baseiam os critérios científicos que norteiam os métodos de identificação da antropologia forense. 3

Dentro do panorama do desenvolvimento de Direitos Humanos na América Latina, a Ms. Marina Figueiredo, do CAAF/UNIFESP, expôs sua pesquisa sobre as Mães da Plaza de Mayo, na Argentina, como um exemplo de caso em que Direitos Humanos pode ser pleiteado pela sociedade civil, cobrando atitudes do Estado para o cumprimento dos compromissos da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas. O curso também contou com a palestra da antropóloga forense Profa. Dra. Inmaculada Aguilera, da Universidade de Granada, Espanha (com apoio da Polícia Federal brasileira, por meio do perito Dr. Alexandre Deitos). A professora proferiu palestra acerca de seus trabalhos no campo de Antropologia Forense em sua instituição, com especial destaque para a importância de desenvolvimento de ferramentas metodológicas, para a troca de informações, capacitação de profissionais, e desenvolvimento de pesquisas integradas que levem a um maior conhecimento na área de antropologia forense. No caso, a pesquisadora mostrou o software de banco de dados desenvolvido para sistematização, armazenamento e cruzamento de dados, que facilita o desenvolvimento de investigações forenses em seu laboratório. Palestra da antropóloga forense Profa. Dra. Inmaculada Aguilera, da Universidade de Granada, Espanha (com apoio da Polícia Federal brasileira, por meio do perito Dr. Alexandre Deitos). 4

Aula sobre Legislação e Ciências Forenses ministrada pelo Prof. Samuel G. T. Ferreira, da Secretaria Nacional de Segurança Pública. O Prof. Samuel G. T. Ferreira, da Secretaria Nacional de Segurança Pública, iniciou a formação dos profissionais no campo da legislação e traumatologia com conceitos básicos para que os antropólogos forenses possam periciar violências físicas. A formação técnica será o núcleo duro de toda a especialização e será aprofundado durante os dois anos do curso. A capacitação técnica juntamente como reflexões sobre as áreas do saber é essencial para que o profissional que atenda esses casos possa produzir laudos e conhecimento que permitam com que o Estado julgue os crimes de violência contra pessoa, com justiça e expertise. Somente com o aprofundamento de pesquisas e troca de informações entre pesquisadores e investigadores é que poderemos desenvolver e refinar as metodologias de modo adequado para o campo de Antropologia Forense, comenta a Profa. Cláudia Plens, coordenadora do curso. Dada a alta procura por esse curso que superou as expectativas de vagas para a primeira turma, e interesse de um público bastante eclético e menos familiarizado com a questão de Antropologia Forense, o CAAF abriu inscrições para o módulo mais teóricos do curso, na forma de curso de extensão, para que o interessado possa começar a acompanhar as discussões e saber se realmente tem o perfil para essa especialização, podendo, futuramente, se inscrever em outras edições do curso. Nesse módulo contaremos com palestras de antropólogos forenses ligados a Associação Brasileira de Antropologia Forense Brasileira (ABRAF) e ao Grupo de Trabalho de Perus (GTP) para falar sobre as experiências nacionais e a área de atuação. Além disso, com o apoio da Prefeitura de São Paulo e da Secretaria de Direitos Humanos (SEDH), o CAAF traz o Professor Dr. John Albanese, antropólogo forense do Departamento de Sociologia, Antropologia e Criminologia (SAC) da Universidade de Windsor, no Canadá, para participar do Curso de Especialização em Antropologia Forense e Direitos Humanos promovido pela UNIFESP. O Prof. Albanese é referência mundial na área da Antropologia Forense no que se refere a métodos aplicados para as estimativas de sexo, estatura, idade e ancestralidade dos remanescentes ósseos contribuindo de forma efetiva nos processos de identificação e na resolução de casos forenses. No GTP (Grupo de Trabalho Perus) seus métodos fazem parte dos protocolos de análise do perfil biológico. Suas contribuições no GTP e no curso de especialização abrem caminhos para vínculos e parcerias internacionais para o desenvolvimento da Antropologia Forense e do Direitos Humanos no Brasil. Os interessados em conhecer um pouco do curso já podem se inscrever para o módulo de Experiências Nacionais e Internacionais em Antropologia Forense e a Experiência do Grupo de Trabalho de Perus, GTP, que ocorrerá entre os dias 18, 19 e 20 de agosto. Para maiores informações, acessar: http://www.unifesp.br/reitoria/ proex/index.php/acoes/cursos-de- -extensao-e-eventos/cursos-e-eventos 5