rlas v.2, n.1 (2017) Artigo Completo: Incidência de traumatismos faciais

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Transcrição:

rlas v.2, n.1 (2017) Artigo Completo: Incidência de traumatismos faciais www.revista.uniplac.net Incidência de traumatismos faciais em adultos atendidos em um hospital da Serra Catarinense Incidence of facial traumatisms in adults attended at a hospital of Serra Catarinense Mariana Broering Viapiana 1 ; Lucas Brandt 2 ; Jefferson Viapiana Paes³; Renato Valiati 4 ; Anelise Viapiana Masiero 5. Resumo O objetivo deste estudo foi avaliar a incidência de trauma facial em pacientes atendidos pelo serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais de um hospital referência no tratamento de trauma da região na Serra Catarinense, no período de julho de 2012 a dezembro de 2013. Foram selecionados os prontuários médicos de pacientes atendidos pelo serviço e realizada a avaliação dos dados sociodemográficos, identificação das fraturas faciais e de possíveis repercussões na cavidade bucal destes pacientes. O perfil epidemiológico caracterizou-se por pacientes adultos, na maioria homens, que tiveram como principal causa do trauma os acidentes de trânsito. As injúrias ocorrem com mais frequência no verão. Em geral ocorrem múltiplas fraturas faciais, com considerável envolvimento dos tecidos de suporte. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de programas educativos com o intuito de orientar a população sobre os riscos e danos resultantes principalmente dos acidentes de trânsito e violência, que estão entre as principais causas de morte no Brasil, principalmente em adultos jovens. Palavras-chave: Traumatismos Bucomaxilofacial. Acidentes de trânsito. Saúde Bucal 1 Cirurgiã-Dentista, graduada pela Universidade do Planalto Catarinense 2 Cirurgião-Dentista, graduado pela Universidade do Planalto Catarinense 3 Doutor em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Docente do Curso de Odontologia da Universidade do Planalto Catarinense 4 Doutor em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Docente do Curso de Odontologia da Universidade do Planalto Catarinense 5 Doutora em Endodontia pela Universidade de São Paulo, Docente do Curso de Odontologia e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ambiente e Saúde da Universidade do Planalto Catarinense. 40

Abstract The aim of this study was to evaluate the incidence of facial trauma in patients treated in a Maxillofacial Surgery and Traumatology reference service located at the Serra Catarinense, during July 2012 to December 2013. The Medical records of patients attended in the service were select for the identification of facial fractures and possible repercussions in the oral cavity of these patients. The epidemiological profile was characterized by adult patients, mostly men, whose main cause of trauma was traffic accidents. Injuries occur more often in the summer. In general, multiple facial fractures occur, with considerable involvement of the supporting tissues. Thus, it is necessary to develop educational programs to guide the population about the risks and damages resulting mainly from traffic accidents and violence, which are among the main causes of death in Brazil, especially in young adult. Key words: Oral-maxillofacial trauma. Traffic accidents. Oral Health. 1. Introdução Acidentes e violências configuram um conjunto de eventos e lesões que podem ou não levar a óbito. Reconhecidos na Classificação Internacional das Doenças (CID) como causas externas, inclui homicídios, suicídios e acidentes de todas as espécies CARVALHO, 2005. Dentre os que mais vitimam a população, estão os acidentes de trânsito; que muitas vezes provocam enfermidades ou incapacidades, lesões físicas e psíquicas (CARVALHO, 2005). Segundo Minayo (2009) os acidentes de trânsito estão entre os que mais matam (cerca de 30 mil brasileiros por ano). As sequelas físicas, com lesões em diversos graus, e emocionais demandam gastos públicos, custos sociais e geram incapacitações (MINAYO, 2009). De acordo com a base do Sistema Único de Saúde, houve um aumento de 30% nas mortes entre 2000 a 2007, atingindo um pico histórico em 2007, com 66.837 mortes, que coloca o Brasil entre os países com mais mortes no trânsito no mundo (CNM, 2009). Relatório publicado pela ONU em 2015 aponta o Brasil como o quarto país em número de mortes por aciden- 41

tes de trânsito, com uma estimativa de 23,4/100 mil habitantes (WHO, 2015) A comparação entre os estados mostra que Santa Catarina tem a maior taxa média de mortes por acidentes de trânsito do país, com índice de 33,1/100.000 habitantes (BOSELLI, 2009). A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas - ONU, realizada em março de 2010, estabeleceu a década 2011-2020 como a Década de Ação para Segurança Viária, convocando todos os países signatários da Resolução, entre eles o Brasil, para desenvolver ações para a redução de 50% de mortes em 10 anos (YOUTH FOR ROAD SAFETY AC- TION KIT, 2012). Ao longo dos anos, o trauma continua se apresentando como um dos mais importantes problemas de saúde pública no mundo e as lesões bucomaxilofaciais estão entre as mais comuns nos centros de emergência, associadas ou não a lesões de diversos outros sistemas corporais (LALANI e BONANTHAYA, 1997). O entendimento da causa, severidade e distribuição temporal das lesões maxilofaciais podem contribuir para estabelecer prioridades clínicas e de pesquisa para o efetivo tratamento e prevenção destes traumatismos (GAS- SNER et al., 2004). Este requer abordagem multidisciplinar, envolvendo a atuação médica, odontológica e social (TRAEBERT, 2006). Paes et al. (2012) em estudo retrospectivo realizado entre os anos de 2003 a 2008, realizado no serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais (CTBMF) no hospital de referência em trauma da região da Serra Catarinense, identificou 492 pacientes atendidos com traumatismo maxilofacial, contabilizando ao total 988 fraturas faciais, com uma média de 197 fraturas/ano. Considerando este número significativo de lesões, o objetivo do presente estudo foi avaliar a incidência de trauma facial em pacientes atendidos neste mesmo hospital, entre os anos de 2012 a 2013, período que caracteriza cinco anos após o levantamento realizado Paes et al. (2012). 2. Material e Métodos Este estudo caracteriza-se por ser transversal quantitativo. Considerou-se como critérios de inclusão todos os pacientes atendidos no serviço de CTBMF do hospital referência para atendimento de traumatismos na Serra Catarinese, entre junho de 2012 a dezembro de 2013, com internação 42

hospitalar e diagnóstico de fratura facial. Foram excluídos os pacientes que apresentarem apenas lesões de tecidos moles. O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIPLAC, sob protocolo número 059/09. O instrumento de coleta de dados foi composto por três partes distintas: 1ª parte: contemplou dados referentes a identificação do paciente, faixa etária, gênero, procedência (Lages ou outra Região - SC), variação sazonal (outono, inverno, primavera e verão). 2ª parte: Identificação das fraturas faciais: agente etiológico da fratura facial e classificação da fratura facial em: osso mandibular, complexo zigomático, ossos maxilares e ossos próprios nasais (HOL- DERBAUM, 1997). 3ª parte: Análise radiográfica das injúrias. A classificação do traumatismo dentário foi utilizada a proposta por United Kingdom Children s Dental Health adaptada (Traebert, 2002). A coleta de dados foi realizada por dois avaliadores previamente calibrados. Os dados coletados foram analisados por meio da estatística descritiva. 3. Resultados No período analisado foram atendidos no Serviço de CTBMF 157 pacientes que sofreram trauma facial. Destes, foi possível ter acesso a 67 prontuários. Na análise dos prontuários, observou que 48 pacientes atendiam aos critérios de inclusão. Os demais apresentavam outras lesões ou tratamentos não relacionados a trauma facial, sendo assim excluídos. Dos 48 pacientes que integraram o estudo, 36 eram do gênero masculino (75%) e 12 eram do gênero feminino (25%). A faixa etária mais atingida foi o grupo de 18 a 29 anos representando (45,8%) do total da amostra, seguido pelos grupos de 30 a 39 anos (25%), 40 a 49 anos (8,3%), de 50 a 59 anos (14,5%) e acima de 59 anos (6,25%), conforme Tabela 1. Em relação ao local de origem 60% dos indivíduos eram de Lages e os demais da Região Serrana de Santa Catarina. No que se refere ao período do ano, as fratura foram mais frequentes no verão (Tabela 2). 43

Tabela 1. Distribuição da incidência de trauma facial por faixa etária e gênero em pacientes atendidos no serviço de CTBMF entre junho de 2012 a dezembro de 2013. Faixa Etária 18-29 30-39 40-49 50-59 Acima de 59 Total Masculino Feminino Total 16 11 3 5 1 36-33.30% -22.90% -6.25% -10.40% -2.10% -75% 6 1 1 2 2 12-12.50% -2.10% -2.10% -4.10% -4.10% -25% 22 12 4 7 3 48-45.80% -25% -8.30% -14.50% -6.25% -100% Tabela 2. Distribuição da incidência de trauma facial por estações do ano em pacientes atendidos no serviço de CTBMF entre junho de 2012 a dezembro de 2013. Estação do ano Outono Inverno Primavera Verão Total 13 13 6 16 48-27% -27% -12.50% -33.50% -100% (2,1%), de acordo com a Figura 1. Múltiplas fraturas foram identificadas em 30 (62,5%) pacientes. Assim, Quanto aos agentes etiológicos, esses foram classificados em acidente de trânsito (carro, moto, bicicleta, atropelamento), agressão física, quedas, acidente de trabalho e prática de esportes. O fator etiológico mais observado foi acidente de trânsito com 47,9%, seguido por agressão física (25%), queda (16,6%), acidente de trabalho (8,3%), prática de esportes optou-se por apresentar o percentual de cada fratura, independente desta caracterizar uma fratura única ou estar associada a fraturas múltiplas. A fratura mais prevalente foi a dos ossos nasais (58,3%), seguido pela maxila (52,1%), mandíbula (31,25%), alvéolo-dentária (25%), ór- 44

bita (14,5%), zigomático (12,5%). As frequências das fraturas estão distribuídas na Figura 2. Figura 1. Distribuição das fraturas por fator etiológico em pacientes atendidos no serviço de CTBMF entre junho de 2012 a dezembro de 2013. Fator etiológico Acidente de trânsito (47,9%) Agressão Física (25%) Quedas (16,6%) Acidente de trabalho (8,3%) Esporte (2,1%) Figura 2. Distribuição das fraturas considerando os ossos atingidos em pacientes atendidos no serviço de CTBMF entre junho de 2012 a dezembro de 2013. Região fraturada Ossos Nasais (58,3%) Maxila (52,1%) Mandíula (31,25%) Alvéolo Dental (25%) Órbita (14,5%) Zigomático (12,5%) 45

Em relação às injúrias dos tecidos duro e de suporte registradas nos prontuários, observou-se que 56,25% dos pacientes não apresentaram trauma dental, 29,1% perderam dentes devidos ao trauma e 31,25% tiveram outros tipos de danos ao ligamento periodontal. No exame radiográfico foi possível evidenciar que 58,3% dos pacientes tinham ausência de sinais radiográficos, 27,08% ausência de elemento dental, 2,08% fraturas radiculares e 29,1% demais danos ao ligamento periodontal. 4. Discussão O presente estudo foi desenvolvido em uma região do Sul do Brasil, com pacientes atendidos em um serviço de referência de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais. Segundo dados do IBGE a população da região incluindo zona urbana e rural é de 286.089 habitantes (IBGE 2010). Dos 48 prontuários analisados, 75 % dos pacientes que sofreram traumas faciais eram do gênero masculino, corroborando com outros estudos (LIDA et al., 2001; ADEBAYO et al,. 2003; CLARO, 2003; GASS- NER et al., 2003; THOMSON et al., 2003; MOUROUZIS e KOUMOU- RA, 2005; LEE e STEENBERG, 2008) Em estudo realizado por Paes et al. (2012) referente aos atendimentos realizados no mesmo serviço de CTBMF no período de setembro de 2003 a agosto de 2008 a faixa etária mais atingida foi o grupo de 21 a 30 anos representando 29,5% dos casos. No presente estudo, observou-se um aumento considerável das fraturas nesta faixa etária de adultos jovens atingindo um índice em torno de 45%. Em relação ao local de origem dos indivíduos atendidos os índices mantiveram-se semelhantes ao estudo anterior de Paes et al. (2012), sendo a maioria dos pacientes do próprio município. Quanto aos agentes etiológicos, o mais observado foi acidente de trânsito com 47,9% seguido por agressão física (25%), queda (16,6%), acidente de trabalho (8,3%), prática de esportes (2,1%). Os estudos de Adebayo et al. (2003); Gassner et al., (2003); De Oliveira et al. (2010); Paes et al. (2012) apresentam resultados semelhantes demonstrando que o principal fator etiológico são os acidentes de trânsito. Enquanto o estudo de Wulkan et al. (2005), realizado na cidade 46

de São Paulo, relatou maior incidência de trauma por violência pessoal seguido dos acidentes de trânsito. Entretanto há que se considerar que a causa principal pode variar de acordo com o país de desenvolvimento e hábitos locais (LIN et al.,2008). Dentre os principais ossos acometidos por fraturas destacam-se ossos nasais seguido pela maxila, mandíbula, alvéolo-dentária, órbita, zigomático, fraturas estas também relatadas como as mais prevalentes na literatura (SANTOS, 2002; BRASI- LEIRO, 2005; MACEDO et al., 2008; DE OLIVEIRA 2010, PAES et al. 2012). A maioria das hospitalizações de paciente com fraturas faciais ocorreram no verão o que está em concordância com outros estudos (GASS- NER et al. 2003; DE OLIVEIRA et al. 2010; PAES et al. 2012). Uma possível justificativa para este fato é de que no verão as pessoas tendem a se expor a situações de risco como, por exemplo, aumento das atividades físicas, da participação em reuniões sociais, aumento do consumo de álcool e drogas. Certamente estes fatores aumentam a incidência de traumas em consequência de acidentes de trânsito, quedas e agressões (PAES et al. 2012). Os dados coletados no presente estudo contribuem para verificação de que o trauma facial continua sendo um importante problema de saúde pública. Geralmente envolvem pacientes adultos jovens e a extensão do trauma está diretamente relacionada ao fator etiológico. Os acidentes de trânsito são os que causam as injúrias mais severas. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de programas educativos com o intuito de orientar a população sobre os riscos e danos resultantes principalmente dos acidentes de trânsito e violência, que estão entre as principais causas de morte no Brasil, principalmente em adultos jovens. 5. Conclusões Dentro das condições do presente estudo é possível concluir que: 1) A faixa etária mais acometida pelo trauma facial encontra-se entre 18 e 29 anos. 2) Em relação ao sexo, a incidência de trauma facial no período analisado, ocorreu mais em homens, numa proporção de 3:1. 47

3) A principal causa das fraturas faciais está relacionada a acidentes de trânsito, seguidos de agressões físicas, quedas, acidentes de trabalho e prática de esportes. 4) As hospitalizações por fraturas faciais ocorrem com maior frequência no verão. 5) Na grande maioria das vezes as fraturas são múltiplas envolvendo em ordem decrescente: ossos nasais, maxila, mandíbula, órbita, fraturas alvéolo-dentárias e zigomático. Referências ADEBAYO, E.T.; AJIKEM O.S.; ADEKEYE, E.O. Analysis of the pattern of maxillofacial fractures in Kaduna, Nigeria. British Journal of Oral and Maxillofacial Surgery. v. 4, p. 396 400, 2003. BRASILEIRO, B.F. Prevalência, tratamento e complicações dos casos de trauma facial atendidos pela FOP UNICAMP de abril de 1999 a março de 2004. [dissertação] Piracicaba, SP: Faculdade de Odontologia da UNI- CAMP, 2005. BOSELLI, G. Estudos Técnicos: Mapeamento das Mortes por Acidentes de Trânsito no Brasil. Confederação Nacional de Municípios. Brasília, 2009. CARVALHO, S.R. Saúde Coletiva e Promoção da Saúde: Sujeito e Mudança. São Paulo: Editora Hucitec; 2005. DE OLIVEIRA, M.; PAES, J. F; PA- ES F. L. V.; VALIATI R., GOMES, F. V., MASSOTTI, F. P.; MARZO- LA C. Epidemiological profile of maxillofacial traumatic injuries in southern Brazil. Italian Journal of Maxillofacial Surgery, v.2, n.2, p.77-82, 2010. CLARO, F.A. Prevalência de Fraturas Maxilo-Faciais na Cidade de Taubaté: Revisão de 125 Casos. Revista Biociências, v. 9, p. 31-37, 2008. Confederação Nacional dos Municípios - CNM, ESTUDOS TÉCNICOS: Mapeamento das Mortes por Acidentes de Trânsito no Brasil. Disponvel<portal.cnm.org.br/.../Estudos/Tra nsito/estudotransitoversaoconcurso.pdf >. Acesso em: 30 set. 2017. GASSNER, R. et al. Craniomaxillofacial trauma: a 10 year review of 9543 cases with 21067 injuries. Journal of cranio-maxillofacial surgery, v. 31, n. 1, p. 51-61, 2003. GASSNER, R. et al. Craniomaxillofacial trauma in children: a review of 3,385 cases with 6,060 injuries in 10 years. Journal of oral and maxillofacial surgery, v. 62, n. 4, p. 399-407, 2004. HOLDERBAUM, M.A. Levantamento epidemiológico das fraturas de face na comunidade atendida junto ao Grupo Hospitalar Conceição Porto Alegre, 1997. [dissertação] Porto Alegre, RS: Faculdade de Odontologia da PUCRS, 1997. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População residente, por situação de domicílio, com indicação da população urbana residente na sede municipal/unidade da federação, mesorregião, microrregião e município Santa Catarina. 2010. Disponível em https://ww2.ibge.gov.br/ 48

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