Processos de produção jornalística: cobertura do caso Isabella Nardoni



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DE MARÍLIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO Processos de produção jornalística: cobertura do caso Isabella Nardoni Tiago da Costa Pettenuci Marília 2009

2 UNIVERSIDADE DE MARÍLIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO Processos de produção jornalística: cobertura do Caso Isabella Nardoni Dissertação apresentada à Universidade de Marília (Unimar), Programa de Pós-Graduação em Comunicação, para obtenção do Título de Mestre em Comunicação. Orientadora Profª Drª Maria Cecília Guirado Marília 2009

3 Universidade de Marília - UNIMAR Reitor Dr. Márcio Mesquita Serva Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação Pró-reitora Profª. Drª. Suely Fadul Villibor Flory Programa de Pós-graduação em Comunicação Área de Concentração Mídia e Cultura Linha de Pesquisa Produção e Recepção de Mídia Coordenadora Profª Drª Rosângela Marçolla

4 UNIMAR UNIVERSIDADE DE MARÍLIA Processos de produção jornalística: cobertura do caso Isabella Nardoni (Tiago da Costa Pettenuci) Banca Examinadora Profª Drª Maria Cecília Guirado (Orientadora) Avaliação: Assinatura: Profª Drª Rosângela Marçolla. Avaliação: Assinatura: Profª. Drº. Cesar Augusto de Carvalho Avaliação: Assinatura:

5 Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus que permitiu a realização desse trabalho e meu deu forças e tornou possível esse sonho, a minha esposa Ana Carolina pela compreensão e cooperação em todos os momentos, aos meus pais Antonio Carlos Pettenuci e Maria Helena da Costa Pettenuci pelo apoio, aos professores que me instruíram ao longo destes dois anos de mestrado e em especial a minha orientadora, Profª Drª Maria Cecília Guirado. Agradeço também todos os funcionários do Programa de Pós-graduação em Comunicação, especialmente os profissionais da secretaria pela prestatividade.

6 RESUMO Analisar o caso Isabella Nardoni, com base no processo de produção jornalística, é o principal objetivo desta pesquisa. Para compreender os fatores que contribuíram para o fato repercutir durante quase dois meses da imprensa brasileira, o trabalho estuda o início da cobertura jornalística feita pelo site estadao.com.br, a fim de constatar como surgiu o enredo do acontecimento e quais os recursos utilizados para conquistar os leitores. A pesquisa está amparada nos estudos das teorias da comunicação, do jornalismo e narratologia. O trabalho aborda a seleção dos fatos, a característica da notícia, pauta, hipóteses do newsmaking e do agenda-setting, tematização e caráter mercadológico da informação, o consumo da violência, a espetacularização da notícia e seus efeitos representativos na sociedade. Palavras-chave Processo de produção jornalística, Caso Isabella Nardoni, teorias da comunicação, espetacularização, narratologia

7 ABSTRACT To analyze the Case of Isabella Nardoni, base on the process of produtions journalistic, ist the main objective of this research. To understand the factors that contributed to the fact that the repercussions remained for almost two months in the Brazilian press, ther paper begins the start ofe the coverage made by the site estadao.com.br to see how the story emerged of the event ande what resources are used to hook the reader. The research is supported bay the study of communication theories of narratology journalistic and journalism. This paper addresses the selection of facts, the features of the news, the staff the news making assumptions and agenda-setting and character merchandising information, in order to use the x-ray of violence, the spectacle of that case and the effects of their repercussions within the society. Keywords Production process journalistic, Isabella Nardoni s case, communication theories, spectacle, narratology journalistic

8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...9 1 COBERTURA JORNALÍSTICA... 12 1.1- Caso Isabella Nardoni... 12 1.2- Jornal Estado de S. Paulo... 14 2 PROCESSO DE CRIAÇÃO JORNALÍSTICA... 53 2.1- Seleção dos Fatos... 53 2.2- Características da Notícia... 58 2.3- Pauta... 68 2.4- As hipóteses do Newsmaking e Agenda Setting... 75 2.5 - A informação como Mercadoria...86 3 - ESPETACULARIZAÇÃO DA NOTÍCIA... 94 3.1- Consumo da Violência... 94 3.2- Recepção da Notícia... 101 3.3- Narrativa Mítica?... 106 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 121 REFERÊNCIAS... 126 FONTES DIGITAIS... 129

9 INTRODUÇÃO Entender o processo de produção jornalística por meio da cobertura do caso Isabella Nardoni, não é uma tarefa fácil. O crime permaneceu na mídia durante quase dois meses. Muito se questionou o motivo deste fato ter se destacado nos jornais, revistas, sites e telejornais. O crime comoveu a sociedade que acompanhou a trama não apenas pela mídia. Em março de 2008, a garota foi jogada pela janela do apartamento onde moravam o pai Alexandre Nardoni e a madrasta Anna Carolina Trota Peixoto Jatobá. A princípio, a hipótese de um ladrão ter arremessado a garota foi apresentada pelo casal. Mas a versão não convenceu a polícia e as evidências periciais apontaram Alexandre e Anna Carolina como os autores do assassinato. A reviravolta do caso repercutiu na sociedade. Diversas pessoas foram protestar na frente da casa dos suspeitos e acompanhar o depoimento e a prisão dos acusados. Mas por quê esse fato repercutiu por quase dois meses na mídia? A espetacularização foi um dos recursos utilizados na cobertura jornalística? Crimes acontecem todos dos dias, entretanto, por qual motivo a mídia selecionou esse fato para dramatizar? A cobertura jornalística do caso Isabella Nardoni foi roteirizada para comover o público. Os veículos de comunicação vasculharam a vida da vítima e de sua família. A mídia apresentou Isabella como uma criança normal e feliz, que sempre adorava a companhia da mãe. Num primeiro momento, o pai Alexandre e a madrasta Anna Carolina surgiram como vítimas da tragédia. Bastaram as primeiras declarações da polícia para que a situação se revertesse. De vítimas, o casal passou a ser considerado suspeito. O enredo

10 estava pronto: vítimas (Isabela e sua mãe) e vilões (pai e madrasta). Tudo indica que a mídia se aproveitou do arquétipo da madrasta malvada presente nas histórias de tradição oral e na indústria cultural para formular a estrutura deste caso, transformando a cobertura jornalística numa trama carregada de suspense. Para compreender o por quê dessa exposição do acontecimento, o trabalho analisa a primeira semana da cobertura do caso feita pelo estadao.com.br. A internet é um dos meios de comunicação mais utilizados atualmente por causa da agilidade. O público tem a possibilidade de acompanhar ou acessar a informação em tempo real. A pesquisa está amparada nos estudos da teoria da comunicação (newsmaking e do agenda-setting, tematização), do jornalismo (gatekeeper, pauta e características da notícia) e da narratologia. O trabalho consiste numa tentativa de demonstrar, por meio da análise de conteúdo das matérias do site estadao.com.br, os mecanismos da produção jornalística impressa na cobertura do assassinato da garota Isabella Nardoni. Por meio da análise de conteúdo das matérias e pesquisa documental, o trabalho expõe as etapas do processo de produção jornalística e sensacionalismo e como o jornalismo cria personagens ou reitera arquétipos. Como procedimentos metodológicos, o trabalho foi fundamentado na pesquisa bibliográfica, documental e análise interpretativa. O estudo foi dividido em três capítulos. O primeiro consiste na apresentação do caso Isabella Nardoni na primeira semana de cobertura do fato pelo site estadao.com.br. Ao interpretar as primeiras matérias é possível notar como o caso ganhou tamanha repercussão na sociedade, como foi a abordagem do site e conhecer os personagens da trama. Já a segunda etapa da dissertação aplica o caso no processo de produção jornalística nas teorias da comunicação e do jornalismo, analisando a seleção dos fatos, a

11 característica da notícia, pauta, hipóteses do newsmaking e do agenda-setting, tematização e o caráter mercadológico da informação. Essa fase da pesquisa ajuda a entender as operações do jornalismo na elaboração das matérias do caso Isabella Nardoni. No terceiro capítulo, a pesquisa traz reflexões sobre o consumo da violência, a espetacularização da notícia e seus efeitos representativos na sociedade. O signo da dramatização dos fatos é um dos recursos utilizados pela mídia para conquistar o público. Assim como os filmes, as novelas e os seriados, o jornalismo precisa de conflitos, heróis e vilões. Dependendo da abordagem, a representação da realidade ganha formas cinematográficas, especialmente nos programas televisivos. Todos os dias acontecem crimes da mesma natureza ou piores do que o assassinato da garota Isabella Nardoni. Por qual motivo, o jornalismo deu tanto destaque a esse caso? A análise da cobertura jornalística do caso Isabella Nardoni serve de reflexão sobre o papel do jornalismo, o poder da imprensa na reconstrução de personagens e de artifícios que ampliam a espetacularização e a dramatização deste tipo de fenômeno miadiático.

12 1 -COBERTURA JORNALÍSTICA 1.1 - Caso Isabella Nardoni O caso Isabella Nardoni entrou para a história do jornalismo brasileiro. No dia 29 de março de 2008, a criança foi jogada do sexto andar de um edifício na zona norte da capital paulista, onde morava o pai Alexandre Alves Nardoni e a madrasta Anna Carolina Trota Peixoto Jatobá. A menina caiu sobre o gramado em frente ao prédio. Foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na Santa Casa de Misericórdia. Na delegacia, o casal disse que alguém entrou no prédio e jogou Isabella do sexto andar. Na noite do crime, o casal, acompanhado dos dois filhos e de Isabella, voltavam da casa da sogra de Alexandre, em Guarulhos, onde participaram de uma festa. Quando a família chegou no Edifício London, na Vila Mazzei, zona norte de São Paulo, o pai conta que subiu com Isabella até o quarto dela onde ligou o abajur. Depois trancou a porta do apartamento e voltou à garagem onde Anna Carolina e seus outros dois filhos o aguardavam. Assim que retornou ao apartamento, notou que a tela de proteção da janela estava rompida e a filha caída no jardim. Mas essa versão do casal, que passou a noite prestando depoimento no 9º Distrito Policial Carandiru, não convenceu os policiais. No dia 30 de março de 2008, o delegado Calixto Calil Filho, em entrevista coletiva, descartou a hipótese de acidente e defendeu a tese de homicídio de autoria desconhecida. Para a polícia, alguém rompeu a tela protetora e jogou Isabella do sexto andar. Naquela conversa com a imprensa, o delegado negou que Alexandre e Anna Carolina fossem os principais suspeitos do assassinato.

13 Durante as investigações, os peritos descobriram que a tela rompida é a da janela do quarto dos irmãos, não a do quarto da vítima. Eles recolheram a tela e alguns utensílios que poderiam ter sido usados para fazer o corte. Levaram as amostras do sangue encontradas em alguns pontos do apartamento e as roupas da vítima. Os médicos legistas analisaram o corpo de Isabella e encontraram ferimentos provocados antes da queda. Diante das evidências que contrariam a versão do casal, a Justiça de São Paulo decretou, no dia 2 de abril de 2008, a prisão preventiva de Alexandre Nardoni e Anna Carolina. Já no dia 11 de abril, a Justiça concedeu habeas corpus e o casal foi libertado. As investigações prosseguem com base em depoimentos e exames periciais. No dia 6 de maio, o promotor do Ministério Público de São Paulo, Francisco Cembranelli, denunciou o casal por homicídio doloso, quando há intenção de matar, triplamente qualificado. O juiz Maurício Fossen, da 2ª Vara do Tribunal do Júri da capital paulista, aceitou integralmente a denúncia do Ministério Público de São Paulo contra os acusados. O magistrado decretou a prisão preventiva do pai e da madrasta de Isabella. Alexandre e Anna Carolina se entregaram à polícia no dia 7 de maio. O casal continua preso até a presente data. Em abril de 2009, a defesa dos acusados solicitou a anulação do processo por falta de provas que incriminam o casal. Mas a Justiça negou o pedido. O pai e a madrasta nunca confessaram a autoria do crime. Eles irão a júri popular. Mesmo após um ano do acontecimento, a imprensa acompanha o desenrolar do caso. O assassinato de Isabella Nardoni comoveu a sociedade. Durante quase dois meses, o público acompanhou cada etapa da investigação policial. O fato teve maior destaque na mídia depois que a polícia passou a suspeitar que a menina foi morta pelo pai e pela madrasta. A cobertura jornalística diária perdurou até a prisão preventiva do casal.

14 Mesmo passada toda a euforia do crime e suas conseqüências, a criança e o casal acusado ainda são notícia. Alexandre e Anna Carolina aguardam julgamento e a rotina do casal na prisão desperta o interesse da imprensa brasileira. Mas como começou a cobertura desta tragédia? Para entendermos a postura da imprensa, o trabalho mostra e analisa a cobertura do jornal online do Estado de S. Paulo. Neste início de século XXI, a Internet tornou-se um dos meios de comunicação mais utilizados pela sociedade brasileira. Milhões de brasileiros acessam a rede mundial de computadores para consumirem notícias. A agilidade e a interação são as principais características desta tecnologia. Por isso, optamos por analisar o conteúdo do jornal online. Além da cobertura diária, este veículo destinou um espaço para que o público comentasse as notícias do caso Isabella Nardoni. Essa interatividade ajudou a compreender como o crime repercutiu entre os leitores. Optamos pelo jornal online do Estado de S. Paulo por ser uma dos principais veículos de comunicação do Brasil. A prática jornalística deste veículo é considerada modelo para empresas do setor e estudantes de comunicação. 1.2 Jornal Estado de S. Paulo O jornal Estado de S. Paulo é o mais antigo dos jornais da capital paulista em circulação. Surgiu em 4 de janeiro de 1875, durante o Império, quando circulou pela primeira vez com o nome A Província de S. Paulo. Em janeiro de 1890 passou a utilizar a atual nomenclatura. Manoel Ferraz de Campos Salles e Américo Brasiliense reuniram 16 pessoas para fundar o jornal com o objetivo de combater a monarquia e a escravidão. Em 1902, Júlio Mesquista, que era redator desde 1885, torna-se o único

15 proprietário. O espírito abolicionista e republicano marcou a história deste veículo de comunicação. O jornal sempre se posicionou ideologicamente perante o cenário político brasileiro. Esse engajamento resultou em perseguições, censuras e prisões durante o governo de Getúlio Vargas e regime militar. Por causa de sua participação na luta pela democratização do país, o Estado de S. Paulo é considerado um dos jornais mais importantes do Brasil que não segue a linha sensacionalista. Já o estadao.com.br é resultado da fusão dos sites da Agência Estado, Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, ambos pertencentes ao grupo de comunicação da família Mesquita. O portal tornou-se um veículo informativo em tempo real, com textos próprios e matérias da versão impressa do jornal. Ao digitar o nome Isabella Nardoni na ferramenta de busca do site estadao.com.br, no dia 24 de setembro de 2009, encontravam-se 815 registros do caso. São 787 notícias, 26 fotos e dois especiais que resumem a tragédia. Um ano depois do crime, o público pode reler as matérias e descobrir como vive atualmente o casal Nardoni. Com o objetivo de compreender o processo de produção jornalística, sem apresentar culpados ou inocentes, a análise se concentra nas notícias veiculadas pelo site no período de 30 de março de 2008 a 9 de abril de 2008. A primeira matéria no site estadao.com.br foi publicada um dia após o assassinato, no dia 30 de março de 2008, às 12h30 min. O Estado de S. Paulo online publicou o seguinte texto: Criança morre após cair de prédio; polícia suspeita de homicídio Para delegado, há fortes indícios de que menina tenha sido arremessada; enterro será na manhã de segunda

Uma menina de 5 anos morreu após cair do 6º andar de um prédio localizado na Vila Mazzei, zona norte de São Paulo, na noite deste sábado, 29. De acordo com informações preliminares do Corpo de Bombeiros, que enviou três equipes ao local, o acidente aconteceu por volta da meia-noite e a criança foi encaminhada à Santa Casa de Misericórdia, mas não resistiu aos ferimentos e chegou morta ao hospital. As causas do acidente ainda são desconhecidas. A policia vai aguardar os laudos dos exames necroscópico, de lesões corporais e toxicológicos, que ficarão prontos em cerca de 30 dias, para esclarecer as circunstâncias que causaram a morte da menor Isabella de Oliveira Nardoni. O delegado titular do 9º Distrito Policial, no Carandiru, Calixto Calil Filho, trabalha com a hipótese de homicídio, apontando que há fortes indícios de que a criança tenha sido arremessada por alguém. Filha de consultor jurídico Alexandre Alves Nardoni, 29 anos, e da bancária Ana Carolina Cunha de Oliveira, que estão separados, Isabella visitava a cada 15 dias o pai e a madrasta Anna Carolina Trotta Peixoto, 24 anos. Segundo o depoimento de Alexandre, no sábado ele levou a menina até o apartamento e deixou-a acomodada na cama, descendo em seguida para buscar sua atual mulher que aguardava no carro com outras duas crianças, de 11 meses e três anos. O pai contou que ao retornar ao apartamento ouviu um barulho, olhou pela janela e viu a criança estendida no solo. Segundo Alexandre, o apartamento havia sido invadido por um ladrão. "Esta versão não me convence, devido a ausência de sinais de arrombamento no apartamento", afirmou o delegado Calil Filho. Além disso, ele chamou a atenção para o fato de a tela da janela do quarto ter sido cortada e de ninguém ter dado queixa de desaparecimento de pertences. No entanto, Calil afirmou, em entrevista coletiva, que Alexandre e Anna Carolina não são suspeitos. "Eles são averiguados", afirmou. Entre outros depoimentos que pretende reunir no inquérito, o delegado informou que deverá ouvir um engenheiro com quem Alexandre teria brigado há dias. O porteiro do edifício também afirmou não ter notado nenhum movimento ou sinal que indicasse arrombamento; ouviu apenas o barulho do corpo da menina caindo no solo. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Peixoto deverão ser liberados ainda neste domingo. O corpo de Isabella Oliveira já foi liberado pelo Instituto Médico Legal (IML) e será sepultado na manhã desta segunda-feira, no Cemitério Parque dos Pinheiros. O avô materno da menina, Jorge Arcanjo Oliveira, disse no IML que a relação de Isabella com a madrasta "era ótima". A mãe, Ana Carolina Cunha de Oliveira, não teve condições de ir ao IML porque estava em estado de choque. (MARCHEZI, Fabiana; SILVIA, Maria Regina. Criança morre após cair de prédio; polícia suspeita de homicídio. estadao.com.br, 30 de mar. 2008. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/geral/not_ger148318,0.htm>. Acesso em: 4 mar. 2009) 16

17 (Mistério na Zona Norte de SP. estadao.com.br, 2 de abr. 2008. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/especiais/misterio-na-zonanorte-desp,15168.htm>. Acesso em: 4 mar. 2009) A princípio parece mais uma notícia do setor policial. O caso é citado como um acidente cuja circunstância será investigada. O título do texto nem menciona o nome Isabella. A matéria contém informações sobre a morte, com a versão de Alexandre. No entanto, o texto traz um personagem que será crucial na trama: o delegado titular do 9º Distrito Policial, no Carandiru, Calixto Calil Filho, que não descartou a hipótese de homicídio. Apesar de sua tese, o delegado não acusou o pai e a madrasta. Mesmo sem acusação, a madrasta chama a atenção das jornalistas Fabiana Marchezi e Maria Regina Silvia. Elas reportaram o depoimento do avô materno da menina, Jorge Arcanjo Oliveira, que classifica como ótima a relação da criança com Anna Carolina. Isso supõe que o site teve cautela e não acusou ninguém, entretanto, os profissionais que cobriram a tragédia

18 suspeitaram da participação da madrasta e inseriram essa personagem arquetípica 1 como mais um elemento que realçaria o mistério do assassinato. No mesmo dia, o site estadao.com traz a seguinte notícia: Polícia suspeita de homicídio em queda de menor em SP A policia vai aguardar os laudos dos exames periciais, que ficarão prontos em cerca de 30 dias, para esclarecer as circunstâncias que causaram a morte da menor Isabella de Oliveira Nardoni, de 5 anos, ontem à noite na zona norte de São Paulo. Ela morreu ao cair do sexto andar de um edifício localizado na Vila Isolina Mazzei. O delegado titular do 9º Distrito Policial Carandiru, Calixto Calil Filho, afirmou trabalhar com a hipótese de homicídio, apontando que há fortes indícios de que a criança tenha sido arremessada por alguém. (SILVIA, Maria Regina; MARCHEZI, Fabiana. Polícia suspeita de homicídio em queda de menor em SP. estadao.com.br, 30 de mar. 2008. Disponível em: < http://www.estadao.com.br/geral/not_ger148400,0.htm>. Acesso em: 4 mar. 2009) Mais uma vez o nome de Isabella não é mencionado no título. Nesta altura da cobertura jornalística do estadao.com.br, a garota era mais uma vítima da violência da sociedade, ou seja, um número que será contabilizado nas estatísticas da Secretaria Estadual de Segurança. A matéria traz informações do texto anterior, apenas o lead é diferente. A ênfase está na suspeita de homicídio e não no acidente. O delegado trabalha com a hipótese de que a garota foi arremessada. Alexandre e Anna Carolina ainda postulam o título de vítimas da tragédia. versão do pai. A notícia traz o depoimento do delegado que não está convencido da "Esta versão não me convence, devido à ausência de sinais de arrombamento no apartamento", afirmou o delegado Calil Filho. Além disso, ele chamou a atenção para o fato de a tela da janela do quarto ter sido cortada e de ninguém ter dado queixa de desaparecimento de pertences. No entanto, o delegado 1 Arquétipos são modelos criados pela sociedade como base em experiências. Para o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung estes modelos nascem da constante repetição de certa experiência, durante muitas gerações, portanto, os arquétipos não se desenvolveriam individualmente, mas seriam herdados, podendo se manifestar de maneira diferente de uma geração para outra.

19 afirmou que Alexandre e Anna Carolina não são suspeitos. "Eles são averiguados", frisou. (SILVIA, Maria Regina; MARCHEZI, Fabiana. Polícia suspeita de homicídio em queda de menor em SP. estadao.com.br, 30 de mar. 2008. Disponível em: < http://www.estadao.com.br/geral/not_ger148400,0.htm>. Acesso em: 4 mar. 2009) A reviravolta do caso acontece no dia 31 de março. O título da matéria do site estadao.com.br reforça a hipótese do delegado. Polícia não crê em versão de pai de garota que caiu de prédio Segundo delegado, a polícia trabalha com a hipótese de homicídio; pai e madrasta ainda não são suspeitos Apesar de ainda não tratar o pai biológico e a madrasta como suspeito da morte de Isabella de Oliveira Nardoni, de 5 anos, o delegado titular do 9º Distrito Policial (Carandiru), Calixto Calil Filho, não descarta seu envolvimento no caso. Segundo a polícia, a menina morreu depois de ser arremessada do 6º andar do edifício em que o casal mora, na zona norte de São Paulo. O corpo da menina será enterrado nesta segunda-feira, 31, no Cemitério Parque dos Pinheiros, em Guarulhos, na Grande São Paulo. A polícia pretende fazer uma reconstituição do crime. A reconstituição ainda não tem data definida. "Temos certeza de que se trata de homicídio e trabalhamos com duas hipóteses: alguém invadiu o apartamento ou o casal tem culpa." Alexandre e Anna Carolina foram à delegacia à 1 hora da manhã e até as 20 horas de ontem ainda prestavam depoimento. O delegado diz que a versão do casal não convence. "Não me convenci por causa da ausência de arrombamento, por nenhum objeto ter sido furtado e, principalmente, pela tela cortada." No quarto do apartamento, peritos da Polícia Civil encontraram gotas de sangue e constataram o corte na tela de proteção da janela. Também havia marcas de sangue em outros cômodos, como se tivessem sido espalhadas por pegadas. Vários exames foram solicitados pelo delegado: toxicológico, para o casal, necroscópico e de lesão corporal, no corpo da Isabella. "Trabalhamos com a possibilidade de a menina já estar bem machucada quando foi arremessada pela janela." (ODA, Felipe. Polícia não crê em versão de pai de garota que caiu de prédio. estadao.com.br, 31 de mar. 2008. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid148638,0.htm>. Acesso em: 4 mar. 2009) O jornal online Estado de S. Paulo mantém, inicialmente, a cobertura do caso evitando adjetivos que condenem qualquer personagem envolvido na história. Mesmo enfatizando a hipótese do delegado, o veículo de comunicação cumpre o seu papel

20 ao apurar e oferecer o desdobramento do fato. O terceiro parágrafo traz novas evidências gotas de sangue, corte na tela de proteção da janela e marcas de sangue espalhadas por pegadas. Essas informações transformam a cena do crime e reforçam a tese de homicídio. No entanto, o delegado não aponta o pai e a madrasta como suspeitos. Neste mesmo texto, o site traz versão do pai de Isabella, que suspeita de um construtor ou engenheiro com que ele teria discutido ser o autor do crime. No entanto, outra declaração que nos chama a atenção faz referência ao bom relacionamento da madrasta com a menina. Mesmo a polícia não considerando Anna Carolina suspeita, o jornalista explora a figura da madrasta ao citar informações dos parentes. Isabella morava com a mãe, a bancária Ana Carolina Cunha de Oliveira, de 23 anos, e o avô materno. Visitava o pai a cada 15 dias e gostava de ir à piscina com os dois irmãos. Ana Carolina engravidou de Isabella aos 17 anos e era muito apegada à filha. No Orkut, além de colocar várias fotos dela com a menina, definia a filha como maravilhosa e paixão de sua vida. Segundo parentes, a madrasta também tinha bom relacionamento com a enteada e costumava buscá-la para passar o fim de semana com a família. (ODA, Felipe. Polícia não crê em versão de pai de garota que caiu de prédio. estadao.com.br, 31 de mar. 2008. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid148638,0.htm>. Acesso em: 4 mar. 2009) A cobertura do site estadao.com.br traz mais dois textos no dia 31 de março com os seguintes títulos: Boletim policial diz que menina foi jogada do quarto dos irmãos e Pai da menina que caiu de prédio ficou desesperado, diz vizinho. A primeira matéria traz novas evidências que eliminam a possibilidade de acidente e reforça a tese de homicídio. As informações também divergem da versão apresentada pelo pai. O texto é construído com base no boletim de ocorrência da Polícia Militar e mantém a versão de Alexandre. O site apenas reporta os fatos com base nos depoimentos dos personagens.

21 Já a segunda matéria traz o relato de um vizinho, apesar da reportagem não divulgar o nome do morador, que presenciou o desespero de Alexandre ao ver a filha caída no jardim. O texto resume os fatos já reportados anteriormente pelo site e detalha como foi o enterro da garota, citando a presença do pai e da mãe biológica que ficam lado a lado. Por ser um jornal online, o Estado de S. Paulo trabalha as informações de forma fragmentada. Apresenta novas evidências e reforça tudo o que foi apurado até o momento. As primeiras notícias do site estadao.com.br retratam o impacto da morte e o suspense que ronda a tragédia. A versão da polícia ganha cada vez mais espaço à medida que mais evidências que divergem da versão de Alexandre são apresentadas. O acontecimento tem características de tramas policiais. O público começa a se envolver não mais pelo choque da morte, mas pelo suspense. Poderia ser mais um crime que repercutiria apenas um ou dois dias na imprensa. No entanto, o assassino não foi descoberto, novos elementos mudaram a cena do crime e o pai suspeitava de um desafeto. No dia 1º de abril, a primeira matéria sobre o caso Isabella reforça ainda mais o suspense do caso. O site traz a versão dos peritos e a citação de um vizinho que ouviu gritos de uma criança. Peritos acreditam que menina foi sufocada antes de cair Profissionais do Instituto Médico-Legal (IML) acreditam que a menina Isabella de 5 anos, que morreu ao cair do sexto andar de um prédio na zona norte de São Paulo, tenha sido sufocada antes da queda. Um morador do prédio relatou à polícia ter ouvido gritos de uma criança pouco antes do crime. Não bate em mim, teria dito a menina. O morador, no entanto, não soube dizer se a criança que implorou para não apanhar era Isabella. O depoimento da testemunha, que é conselheiro do condomínio, foi colhido anteontem no 9º DP. Os profissionais do IML que trabalham no laudo observaram características típicas de estrangulamento no corpo da menina, como a língua e a extremidade das unhas arroxeadas. O delegado Calixto Calil

22 Filho, titular do 9º DP, afirmou que exames preliminares indicaram que a queda pode não ter sido o motivo da morte de Isabella. Os legistas estranharam um ferimento na testa e outro nas coxas da menina. Inicialmente, eles acreditavam que as feridas eram mordidas. Mas, após análise, a hipótese foi descartada. A camiseta azul da menina estava rasgada nas costas. Oficialmente, o diretor do IML, Hideaki Kawata, afirma que, por ora, não tem condições de dizer se a garota foi agredida. Ela morreu em decorrência da queda, isso é fato, disse Kawata. Nesse momento, qualquer afirmação diferente dessa é especulação. Desde o início das investigações, a polícia crê em assassinato. Isabella caiu do 6º andar do edifício London na madrugada de sábado. Ela estava no apartamento do pai, o consultor jurídico Alexandre Alves Nardoni e da madrasta Anna Carolina Trotta. (AGÊNCIA ESTADO, Peritos acreditam que menina foi sufocada antes de cair. estadao.com.br; 1 de abr de 2008, Disponível em <http://www.estadao.com.br/geral/not_ger149214,0.htm>. Acesso em 14 de jul. 2009) Neste processo de apuração, o site traz novas constatações da polícia que reforçam o mistério do caso. A investigação não aponta o autor ou os autores do assassinato. Isso ajuda a despertar ainda mais a atenção do público. A segunda matéria do dia 1º de abril enfatiza a apuração do crime e desmente a versão de desentendimento com um funcionário da construtora do edifício, apresentada por Alexandre. Mesmo sem acusar, a matéria investiga as informações fornecidas pelo pai de Isabella. Vizinhos vão depor sobre morte de menina na zona norte de SP Caso da morte é considerado mistério; legistas encontraram sinais de tentativa de asfixia no corpo da garota Pelo menos cinco moradores do Edifício Residencial London - edifício de onde a polícia diz que a garota Isabella de Oliveira Nardoni, de 5 anos, foi jogada, na Parada Inglesa, zona norte de São Paulo, são esperados para depoimento na tarde desta terça-feira, 1, no 9º Distrito Policial, no Carandiru, onde o caso é investigado. O caso da morte da garota é considerado um mistério na polícia de São Paulo (veja o que se sabe até agora). Embora tenha sido deixada dormindo no quarto de hóspedes, a garota foi jogada do 6º andar, pela janela do quarto dos irmãos. A Polícia Civil também já sabe que a menina morreu em decorrência da queda de mais de 20 metros de altura. A constatação foi feita por peritos do Instituto Médico-Legal (IML) que examinaram o cadáver na madrugada de domingo. Os legistas encontraram outras escoriações e ferimentos no corpo, mas dizem ser impossível afirmar, por ora, se são resultado da queda ou se a menina teria sido agredida anteriormente. A camiseta de manga curta que Isabella vestia estava rasgada nas costas e também passará por perícia.