POPULAÇÃO DE PLANTAS, USO DE EFICIÊNCIA DA TERRA E ÍNDICE DE COMPETITIVIDADE DO CONSÓRCIO MAMONEIRA / MILHO Demóstenes Marcos Pedrosa de Azevedo 1, José Wellington dos Santos 2, Napoleão Esberard de Macedo Beltrão 3 e Armindo Bezerra Leão 4 Embrapa Algodão 1 azevedo@cnpa.embrapa.br, 2 jsantos@cnpa.embrapa.br, 3 nbeltrao@cnpa.embrapa.br, 4 armindoleao@yahoo.com.br RESUMO - Um experimento foi conduzido na Estação Experimental de Monteiro, localizada no semiárido do estado da Paraíba, Brasil, nos anos de 1994 e 1995, com o objetivo de de investigar o efeito de população de plantas da mamoneira (Ricinus communis L.) e do milho (Zea mays L.) no índice de uso de eficiência da terra e no índice de competitividade destas culturas submetidas ao regime de consórcio. Os resultados mais expressivos foram: i) a mamona teve participação mais efetiva que o milho na definição dos índices de uso de eficiência da terra do consórcio; ii) o índice de uso de eficiência da terra (UET total) cresceu apenas com o aumento de população apenas da mamoneira; iii) o índice de competitividade do milho, no consórcio mamoneira/milho, aumentou com o aumento de população apenas do milho. INTRODUÇÃO O consórcio é um sistema de cultivo amplamente praticado em pequenas propriedades em áreas tropicais. Há estimativas de que, na América Latina, mais de 50 por cento do milho seja proveniente de algum tipo de associação de culturas (FRANCIS, 1986). No Brasil, até pouco tempo, era expressiva a contribuição das pequenas propriedades na produção nacional de milho. O efeito da população de plantas no rendimento de culturas consorciadas é um aspecto pouco estudado. Em sistemas isolados de culturas, há basicamente dois tipos de relação segundo Holliday (1960), relação parabólica e relação assintótica. A primeira se aplica a rendimentos provindos de estruturas frutíferas e a segunda, de estruturas vegetativas. Há possibilidade de que estas relações se apliquem a culturas individuais no consórcio. Há evidência na literatura de que existe mais vantagem biológica no regime de culturas em consórcio do que no regime de culturas solteiras (FRANCIS et al., 1986). No Nordeste brasileiro, Rao e Morgado (1984) reportam, numa revisão de 51 experimentos, a vantagem biológica de 32 por cento do sistema consorciado sobre o sistema isolado. No Nordeste, a mamoneira é cultivada em quase sua totalidade, em regime de consórcio; apesar do uso generalizado é notória a redução de população de plantas neste tipo de sistema na região. O objetivo do presente trabalho foi investigar o efeito de
população de plantas no uso da eficiência da terra e no índice de competitividade do consórcio da mamoneira e do milho no semi-árido do Nordeste brasileiro. MATERIAL E MÉTODOS Um experimento foi conduzido nos anos de 1994 e de 1995, no Cariri paraíbano com coordenadas geográficas de 7º 53 Se, 37º 07 W, com 619m de altitude e clima BS (semi-árido). O período chuvoso na região é concentrado nos meses de dezembro a maio, sendo que as maiores precipitações pluviais ocorrem entre os meses de fevereiro e maio. Nos anos de 1994 e 1995 as precipitações pluviais anuais foram de 612,3 e 561,00mm, respectivamente, todas abaixo da média histórica que é de 631mm. O solo da área experimental foi identificado como Bruno Não-Cálcico, fase pedregosa, com vegetação caatinga hiperxerófila e relevo suave ondulado, sendo preparado com aração e gradagens. O ensaio recebeu uma adubação de fundação na fórmula 30-40-20 e utilizou-se a cultivar SIPEAL 28 para mamona e BR 106, para milho. Os espaçamentos e densidades de plantio variaram de acordo com as populações. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, completos, com 9 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos originaram-se de um fatorial 3x3, proveniente da combinação dos fatores: populações de mamona (M1 1.250 pl/ha; M2-2.500pl/ha e M3 5.000pl/ha) e três populações de milho (Mi1 5.000pl/ha; Mi2 10.000pl/ha e Mi3 20.000pl/ha). Parcelas com as culturas solteiras foram plantadas em cada bloco. A mamoneira isolada foi semeada na população de 5.000pl/ha e o milho isolado, na população de 20.000pl/ha. Para a análise conjunta dos dados não foram consideradas as testemunhas isoladas, mas foi utilizado o delineamento experimental em blocos ao acaso, com parcelas divididas no tempo, com 4 repetições, cujas parcelas principais foram consideradas pelos fatores: população de mamona e população de milho. As sub- parcelas foram constituídas pelos anos. Para análise estatística dos dados considerou-se o modelo de parcelas divididas no tempo, sendo as parcelas principais constituídas pela combinação dos níveis dos fatores e as sub parcelas constituídas pelos anos. Os rendimentos das culturas foram computados após secagem e beneficiamento. A eficiência do consórcio foi medida em termos de uso de eficiência da terra, cuja fórmula é: UET=Yab/Yaa=Yba/Ybb, sendo Yab o rendimento da mamona (a) em regime de consórcio (b), Yaa da mamona isolada, Ybb o rendimento da cultura isolada, Yba o rendimento do milho em consórcio. O índice de competitividade (IC) foi calculado pela fórmula: IC = UET parcial de milho/uet parcial mamona. UET parcial de milho = Yba/Ybb e UET parcial de mamona = Yab/Yaa. Este índice expressa
o quanto (em termos numéricos) uma cultura é mais competitiva que a outra. Desde que os ICs de uma cultura no consórcio sejam recíprocos, será suficiente considerar-se os valores de apenas um componente. No presente trabalho, os ICs do milho foram preferidos, pelo fato desta cultura ser sabidamente mais competitiva que a mamoneira. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resumo da análise da variância conjunta dos índices de uso de eficiência da terra e de competitividade encontra-se na Tabela 1. Para a primeira variável, UET total, apenas o efeito principal de população de mamoneira e de ano foram significativos (p 0,01 pelo teste F). Para esta variável, no desdobramento dos dois graus de liberdade do fator população de mamoneira, foi significativo, na análise de regressão, apenas o componente linear (p 0,01) (dados não apresentados). Os índices de UET total cresceram com o aumento dos níveis populacionais da mamoneira (Fig. 1). O UET total mais elevado (1,58) foi registrado na população de 5.000 plantas/ha. Na Figura 2, os UETs parciais da mamoneira foram alocados nos eixos dos y, os UETs parciais do milho foram inseridos nos eixos dos x e os UETs totais, representados pelas linhas diagonais que ligam os referidos eixos. Nesta Figura, percebe-se que: i) os UETs totais aumentaram com o aumento dos níveis populacionais da mamoneira; ii) a mamona teve participação mais efetiva que o milho, na definição do referido efeito e iii) os UETs totais mais elevados foram registrados nos sistemas nos quais a mamoneira esteve presente com a mais elevado população (5.000 plantas/ha) e o milho com qualquer nível populacional (5.000 plantas/ha, 10.000 plantas/ha e 20.000 plantas/ha). Com relação ao índice de competitividade (IC), só o efeito principal de população de milho foi significativo (p 0,01) (Tab. 1). Para esta variável, apenas o componente linear foi significativo no desdobramento dos dois graus de liberdade do referido fator. O índice de competitividade do milho cresceram com o aumento de sua própria população (Fig. 3). O mais elevado IC (3,97) foi registrado na população de 20.000 plantas/ha deste cereal, ressaltando-se que o componente milho foi aproximadamente 4 vezes mais competitivo que a mamoneira. A Figura 4 ilustra de modo mais amplo os efeitos acima discutidos, os índices de competitividade do milho cresceram com o aumento populacional do próprio milho. CONCLUSÕES
Os UETs totais mais elevados foram registrados nos sistemas nos quais a mamoneira esteve presente com a mais elevado população (5.000 plantas/ha) e o milho com qualquer nível populacional testados; O índice de uso de eficiência da terra (UET total) cresceu apenas com o aumento de população da mamoneira; O índice de competitividade do milho, no consórcio mamoneira/milho, aumentou com o aumento de população apenas do milho; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRANCIS, C. Introduction: distribution and importance of multiple cropping. In:FRANCIS, C. Multiple croping sistems. New York: Macmillan, 1986. p. 1-9. HOLLIDAY, R. Plant population and crop yield. Field Crop Abstracts, v.13,n.3, p. 159-167, 1960. RAO, M.S; MORGADO, L.B. A review of maize-beans and maize-cowpea intercrop in the semi_arid North-East Brazil. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília. v. 19, n. 2. p. 179-192. 1984 Tabela 1. Resumo das análises de variância (quadrados médios) dos índices uso de eficiência da terra (UET) de competitividade (IC) do milho. Fonte de Variação Gl UET total IC milho Pop/mamona (A) 2 2,33** 9,02 Pop/milho (B) 2 0,48 7,08** Interação (AxB) 4 0,12 4,55 Erro (a) 24 0,36 5,40 Ano (C) 1 2,80** 4,28 Interação (AxC) 2 0,09 6,07 Interação (BxC) 2 0,63 5,32 Interação (AxBxC) 4 0,08 3,96 Erro (b) 27 0,13 2,51 C.V. (a) - 29,95 21,12 C.V. (b) - 28,25 18,59 ** Significativo a 1% de probabilidade (p<0,01)
Figura 1. Regressão do uso de eficiência da terra total (UET total) em função da população de mamoneira. Figura 2. Diagrama dos UETs do consórcio mamoneira/milho Figura 3. Regressão do índice de competitividade (IC do milho)
Figura 4. Índice de competitividade (IC) do milho