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Transcrição:

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MANOEL GUEDES Escola Técnica Dr. Gualter Nunes Curso de Habilitação Profissional de Técnico em Enfermagem Saúde Coletiva e Epidemiologia MÓDULO II Tatuí-SP 2017

Sumário 1. INTRODUÇÃO... 2 2. O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA... 2 3. O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)... 3 4. EDUCAÇÃO EM SAÚDE... 18 4.1 Introdução... 18 4.2 De que trata a Educação em Saúde... 18 4.3 Tópicos Emergentes em Educação em Saúde... 19 5. O AMBIENTE E OS PROCESSOS DE RESTAURAÇÃO... 19 5.1 Introdução... 19 5.2 O processo de desajustamento do organismo e as doenças transmissíveis... 20 6. IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS... 21 6.1 Removendo Obstáculos... 23 7. NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE... 23 7.1 História Natural e Prevenção de Doenças... 24 7.2 Período Pré-Patológico... 24 7.3 Período Patológico... 24 7.4 Níveis de Prevenção... 25 8. PROGRAMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE... 26 8.1 Programa de Atenção Integral à Saúde do Adulto... 26 8.2 Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher... 27 8.3 Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança... 27 8.4 Programa de Atenção à Saúde do Adolescente... 28 8.5 Programa de Atenção à Saúde do Trabalhador... 28 8.6 Programa de Assistência Integral à Saúde do Idoso... 28 8.7 Programa Saúde da Família (PSF)... 29 8.8 Programa de Saúde Bucal... 29 8.9 Programa Nacional de Imunização... 30 9. Programa Saúde da Família... 30 10. CUIDANDO DE QUEM CUIDA: ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM... 31 10.1 Como Manter ou repor a energia perdida no trabalho... 32 11. NOÇÕES DE EPIDEMIOLOGIA... 33 11.1 História Natural da Doença... 38 12. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA... 39 12.1 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA... 41 13. VIGILÂNCIA SANITÁRIA... 42 13.1 DEFINIÇÃO... 42 13.2 AREAS DE ATUAÇÃO... 43 BIBLIOGRAFIA... 44 1

1. INTRODUÇÃO Um olhar sobre a Saúde Pública deve levar em conta o novo paradigma que pressupõe atitudes e hábitos de vida saudáveis; que considera a prevenção como a melhor maneira de garantir a saúde; que incentiva pesquisas em que a assistência à saúde se faça por meio de abordagens alternativas para atuar junto à assistência usual, medida por uma abordagem puramente biomédica e pouco preocupada com a satisfação humana pouco gratificante e bem menos desafiadora. A Saúde Pública é a ciência e a arte de prevenir as doenças, de prolongar a vida e melhorar a saúde e a eficiência mental e física dos indivíduos, por meio da intervenção técnica e política do Estado na assistência, que irá intervir no processo saúde-doença quebrando sua cadeia causal mediante o tratamento e a reabilitação do indivíduo doente, ou evitando seus riscos e danos por intermédio da prevenção e promoção da saúde, além do controle dos sadios com base no conhecimento científico, ancorado nas técnicas de investigação empíricas que voltam-se tanto para o individual (ações preventivas e de promoção à saúde com atividades de assistência médica e reabilitação) como para o coletivo (através de ações governamentais das políticas de saúde dirigidas ao coletivo). 2. O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA A saúde e doença são processos íntimos e limítrofes, que se manifestam continuamente durante a vida das pessoas, de forma individual ou coletiva, em determinado espaço físico e tempo. Observamos que, ao longo de nossa história de vida e da vida de nossos antepassados, as formas de atendimento das necessidades de saúde mudam. Essas mudanças não acontecem por acaso. A limitação ou o avanço do conhecimento, as culturas dos povos, a forma do homem se relacionar com o meio em que vive, sua visão sobre o processo de ter saúde e de adoecer, são os principais fatores que definem os caminhos para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde, que visam atender às pessoas em seus estados de saúde e de doença. A partir da década de 1970, os movimentos políticos mundiais orientam-se para uma política de saúde para todos, de forma a atender de fato às necessidades da população, considerando, saúde e doença como um processo determinado pelas condições socioeconômicas e políticas nas quais as pessoas vivem e trabalham, ampliando, assim, o conceito de saúde para além da simples ausência de doenças. Passou-se a apontar as constantes mudanças na relação do homem com o meio ambiente por causa da exploração ambiental, do crescimento demográfico, das relações com o mundo do trabalho e do avanço da tecnologia como interferências diretas no modo de viver da população e, consequentemente, no estado de saúde das pessoas e no perfil epidemiológico. A forma com que o homem evolui e sua interação com o meio em que vive, por meio do acesso à renda que possibilita o consumo de bens e serviços e do exercício da cidadania, definem os determinantes do processo saúde-doença de uma geração ou um momento histórico. Os problemas de saúde são, então, resultados de um processo complexo e dinâmico que se produz no interior da sociedade. São determinantes do processo saúde-doença os modos de viver da população, considerando o estilo de vida resultante de acesso à moradia, aos meios de transporte, à educação, à assistência à saúde, à alimentação, ao lazer, ao saneamento; o meio ambiente, 2

destacando-se a relação com a sociedade e com o trabalho; e as características particulares de cada pessoa, compreendendo os fatores genéticos, imunológicos e psicológicos. É nessa lógica que percebemos mudanças consideráveis no perfil epidemiológico, quando passamos a conviver com uma alteração no quadro de doenças da população, com a inclusão de moléstias relacionadas ao trabalho, a acidentes de trânsito, à violência urbana, ao êxodo rural desgovernado, à poluição ambiental, entre outras. É preciso compreender o que determina o processo de saúde e de doença para que as atividades/ações propostas pelas políticas de saúde/serviços de saúde venham a atender as necessidades das pessoas, com resultados voltados para a melhoria da qualidade de vida. Desenvolver o processo de trabalho em saúde é hoje um dos grandes desafios par os profissionais da área, tanto nas atividades individuais como nas coletivas. É preciso incorporar novos olhares para fora e para dentro das Unidades de Saúde, atrelando a esses olhares a noção de saúde como processo de movimento instável, de ordem biológica, de vivências, de condições de vida e de trabalho dos indivíduos, da família e da sociedade. Desenvolver ações de promoção da saúde e prevenção de agravos, nos espaços de saúde coletiva, exige da equipe de enfermagem um agir profissional dentro desse contexto, rompendo com a prática dos serviços, viciada na atuação curativa, cujas ações estão voltadas somente para a solução de queixas específicas e pontuais. Essa nova forma de atuação pressupõe um trabalho consciente, criativo, solidário, construído pelos gestores, pelo conjunto de trabalhadores das equipes de saúde e pelos usuários do serviço, promovendo, ainda, a integração da saúde com as demais áreas de gestão pública, para a consolidação das propostas e apropriação do direito à saúde e à cidadania. Conhecer os determinantes de saúde da população do município/bairro/território de atuação dos profissionais da saúde e buscar dentro das políticas públicas de saúde, estratégias ou meios para atender às demandas oriundas das necessidades das pessoas, famílias ou grupos sociais são formas de ampliar a possibilidade da atenção à saúde, cujas ações devam contemplar o atendimento ampliado de saúde, propiciando à população espaços para troca de conhecimento sobre o processo saúde-doença, passo decisório para a formulação de conceitos e mudanças no estilo de vida. 3. O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) O atendimento à saúde antes da constituição de 1988, sempre foi garantido para quem era registrado no emprego e tinha aquele desconto no salário para aposentadoria e assistência médica. A outra parte da população ficava com o que sobrava. O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para melhorar a saúde do povo e significa uma conquista de várias pessoas isoladas ou em grupos, institucionalizadas ou não que lutaram por mais de 10 anos para que isso acontecesse. O que está na Constituição e nas Leis da saúde é uma vitória da sociedade unida e organizada que lutou por seus direitos. Agora, é a mesma sociedade que deve fazer cumprir o que está definido na lei. O Sistema Único de Saúde é uma nova formulação política e organizacional para o reordena mento dos serviços e ações de saúde, estabelecida pela Constituição de 1988. O SUS não se pretende um novo serviço ou instituição, mas um sistema sob responsabilidade dos três setores autônomos de Governo federal, estadual e municipal e significa um conjunto de unidades, serviços e ações integradas para uma ação comum. Responsabiliza-se pelas atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde seguindo a mesma doutrina e princípios em todo território nacional. As premissas desse novo sistema estão dispostas na Lei nº 8080, de 19/09/90 ou Lei Orgânica da Saúde, conforme o estabelecido nos artigos 196 a 200 da Constituição Federal, que explicitamente reconhece a saúde como direito de todos e dever do Estado e determina sua implantação. 3

Doutrinas do SUS Universalidade É a garantia de atenção à saúde, por parte do sistema, a todo e qualquer cidadão em todos os níveis devendo, o poder público, proverem o pleno gozo desse direito, inclusive em serviços contratados. Equidade - É assegurar que todo cidadão é igual perante o SUS, devendo ser atendido conforme suas necessidades, de acordo com a complexidade que cada caso exija, até o limite que o sistema possa oferecer a todos. Integridade É o reconhecimento de que cada pessoa é um todo individual e integrante de uma comunidade e que, por isso, deve ser atendida integralmente por um sistema de saúde também integral, voltado a promover, proteger e recuperar a saúde. Princípios do SUS 1 Os serviços devem ser organizadas de forma REGIONALIZADA e HIERARQUIZADA em níveis crescentes e complexidade, dispostos numa área geográfica delimitada, com sua população definida para atendimento. O acesso da população à rede de saúde ocorreria através dos serviços de nível primário, qualificados para resolver as principais demandas. A partir daí, conforme a necessidade de cada caso seriam referenciados para serviços de maior complexidade tecnológica até a solução de seus problemas e, quando possível, contra-referenciados para sua unidade primária de origem. Dessa forma ter-se-ia um conhecimento maior dos problemas de saúde daquela região delimitada, possibilitando ações específicas de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores, educação em saúde, além das atenções ambulatoriais e hospitalares. 2 Os serviços, até o nível de sua competência, estariam capacitados para enfrentar com RESOLUBILIDADE o atendimento individual ou um problema de impacto coletivo sobre a saúde. 3 A responsabilidade e o comando das ações e serviços de saúde seria DESCENTRALIZADA entre os vários níveis de governo, entendendo quanto mais próximo do fato for tomada a decisão, mais chance de acerto haverá. Portanto, deverá ocorrer uma profunda redefinição das atribuições dos vários níveis do Governo, reforçado e poder municipal que teria uma responsabilidade maior na promoção das ações de saúde diretamente voltadas aos seus cidadãos. É o que denominamos MUNICIPALIZAÇÃO DA SAÚDE. 4 A garantia da PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO, através de suas entidades representativas no processo de formulação das políticas de saúde e do controle da sua execução, em todas as esferas, desde a federal até a local. Essa participação se dá nos CONSELHOS DE SAÚDE que têm representação partidária de usuários governo, profissionais de saúde e de prestadores de saúde, quando necessário. A participação deveria ocorrer ainda nas conferências de saúde, para definir prioridades e linhas de ação. Nesse processo é dever das instituições oferecerem informações e conhecimentos necessários para que a população se posicione livremente sobre as questões de saúde. 5 Como princípio geral fica estabelecido que o SETOR PRIVADO só possa participar do SUS quando for provada a insuficiência do setor público. Financiamento do SUS Antes da Constituição, os recursos para financiar a assistência médica eram provenientes da Previdência Social e os recursos para financiar as ações coletivas eram provenientes do Ministério da Saúde. Com a criação do SUS, a Constituição de 88 determinou que as ações de saúde, tanto 4

a assistência médica como as ações coletivas, deveriam ser financiadas com recursos provenientes do Orçamento da Seguridade Social, do Orçamento da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos municípios e das contribuições sociais (dos empregadores, incidentes sobre a folha de salário, o faturamento e o lucro; dos trabalhadores; sobre a receita de concursos e prognósticos Loterias, Sena, Super Sena), além de outras fontes. Controle Social do SUS O controle social e a participação da população são os pilares do SUS. Isto acontece através de dois instrumentos básicos: a) Conselho Municipal de Saúde: Reúne representantes de diferentes setores da sociedade. Ele tem caráter permanente e deliberativo, isto é, deve existir e se reunir sempre e resolver, após discussão, o que, e como, será feito na área da saúde em determinada localidade. Deve também controlar e fiscalizar a execução da política de saúde, inclusive quanto aos aspectos econômicos e financeiros, lutando junto às diferentes instâncias de poder para que mais recursos sejam garantidos. b) Conferência de Saúde (municipais, estaduais e nacionais): Onde se discute o que é importante para cada município, para cada localidade. É um momento de consulta ampliada à sociedade, a cada comunidade. Elas têm a função de avaliar a situação de saúde e propor diretrizes para a política de saúde, quer dizer, o que é decidido nas conferências deve ser seguido pelo dirigente ou secretário da saúde nas diferentes esferas do Governo. Elas devem ser convocadas a cada quatro anos, mas sempre que se achar necessário pode ser criado mecanismos como assembléias e plenários para discutir os problemas de saúde de uma localidade. Para exercer efetivamente o controle social, o cidadão, seja ele conselheiro ou não, precisa estar bem informado. A informação é uma ferramenta básica para melhorar a saúde da população. Ações do SUS Como exemplos das ações que devem ser desenvolvidas pelo SUS, no campo da promoção da saúde, citam a educação em saúde, bons padrões de nutrição e alimentação, estímulo à prática de exercícios físicos, hábitos de higiene pessoal, domiciliar e ambiental, desestímulo ao sedentarismo, ao tabagismo, ao alcoolismo, ao consumo de drogas e à promiscuidade sexual. Já no campo da proteção da saúde, as ações seriam as inerentes à vigilância epidemiológica e sanitária, vacinação, saneamento básico, exames médicos e odontológicos periódicos. Quanto às ações de recuperação da saúde temos as consultas médicas e odontológicas, o ato de vacinar, o atendimento de enfermagem, os exames, diagnósticos e tratamentos, inclusive em regime de internação e em todos os níveis de complexidade, e a reabilitação. Estas devem corresponder às necessidades básicas, transparecendo tanto pela procura aos serviços, como pelos estudos epidemiológicos e sociais de cada região. Competências 1. Ao nível Federal Formulação e condução de política nacional de saúde; Regulamentação das normas, acompanhamento e avaliação das ações de saúde e relacionamento entre os setores públicos e privados; Execução de programas emergenciais; 5

Administração do Fundo Nacional de Saúde com transferência para as unidades descentralizadas; Vigilância sanitária adequada ao controle e fiscalização da qualidade e comercialização dos insumos, equipamentos, medicamentos e alimentos; Estímulo ao desenvolvimento e controle dos imunobiológicos, do sangue e derivados e da pesquisa. 2. Ao nível Estadual Formulação e condução das atividades do Sistema Regional de Saúde; Prestação de serviços em coordenação com os sistemas municipais; Transferência dos municípios, dos serviços básicos de saúde; Administração do Fundo Regional de Saúde, com transferência para as unidades locais. 3. Ao nível municipal Planejamento, coordenação do sistema municipal ou distrital; Compatibilização das normas com as peculiaridades locais; Prestação de serviços básicos de saúde e serviços de maior complexidade quando houver recursos; Administração do Fundo Municipal de Saúde. Lei Federal 8.080, de 19 de Setembro de 1990 (Lei Orgânica da Saúde) Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: DISPOSIÇÃO PRELIMINAR Art. 1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito Público ou privado. TÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade. Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. 6

Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social. TÍTULO II DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DISPOSIÇÃO PRELIMINAR Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde. 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar. CAPÍTULO I Dos Objetivos e Atribuições Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS: I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a observância do disposto no 1º do art. 2º desta lei; III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas. Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): I - a execução de ações: a) de vigilância sanitária; b) de vigilância epidemiológica; c) de saúde do trabalhador; e d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico; III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde; IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar; V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho; VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde; VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano; IX - a participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico; XI - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados. 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo: I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde. 7

2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo: I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho; II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho; III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador; IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas; VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; e VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores. CAPÍTULO II Dos Princípios e Diretrizes Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII - participação da comunidade; IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; 8

XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. CAPÍTULO III Da Organização, da Direção e da Gestão. Art. 8º As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), seja diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa privada, serão organizados de forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade crescente. Art. 9º A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de acordo com o inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo exercida em cada esfera de governo pelos seguintes órgãos: I - no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde; II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente; e III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente. Art. 10. Os municípios poderão constituir consórcios para desenvolver em conjunto as ações e os serviços de saúde que lhes correspondam. 1º Aplica-se aos consórcios administrativos intermunicipais o princípio da direção única, e os respectivos atos constitutivos disporão sobre sua observância. 2º No nível municipal, o Sistema Único de Saúde (SUS), poderá organizar-se em distritos de forma a integrar e articular recursos, técnicas e práticas voltadas para a cobertura total das ações de saúde. Art. 11. (Vetado). Art. 12. Serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacional, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas da sociedade civil. Parágrafo único. As comissões intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e programas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 13. A articulação das políticas e programas, a cargo das comissões intersetoriais, abrangerá, em especial, as seguintes atividades: I - alimentação e nutrição; II - saneamento e meio ambiente; III - vigilância sanitária e farmacoepidemiologia; IV - recursos humanos; V - ciência e tecnologia; e VI - saúde do trabalhador. Art. 14. Deverão ser criadas Comissões Permanentes de integração entre os serviços de saúde e as instituições de ensino profissional e superior. Parágrafo único. Cada uma dessas comissões terá por finalidade propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e educação continuada dos recursos humanos do Sistema Único de Saúde (SUS), na esfera correspondente, assim como em relação à pesquisa e à cooperação técnica entre essas instituições. 9

CAPÍTULO IV Da Competência e das Atribuições Seção I Das Atribuições Comuns Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições: I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização das ações e serviços de saúde; II - administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados, em cada ano, à saúde; III - acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das condições ambientais; IV - organização e coordenação do sistema de informação de saúde; V - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade e parâmetros de custos que caracterizam a assistência à saúde; VI - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade para promoção da saúde do trabalhador; VII - participação de formulação da política e da execução das ações de saneamento básico e colaboração na proteção e recuperação do meio ambiente; VIII - elaboração e atualização periódica do plano de saúde; IX - participação na formulação e na execução da política de formação e desenvolvimento de recursos humanos para a saúde; X - elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de Saúde (SUS), de conformidade com o plano de saúde; XI - elaboração de normas para regular as atividades de serviços privados de saúde, tendo em vista a sua relevância pública; XII - realização de operações externas de natureza financeira de interesse da saúde, autorizadas pelo Senado Federal; XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa indenização; XIV - implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados; XV - propor a celebração de convênios, acordos e protocolos internacionais relativos à saúde, saneamento e meio ambiente; XVI - elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e recuperação da saúde; XVII - promover articulação com os órgãos de fiscalização do exercício profissional e outras entidades representativas da sociedade civil para a definição e controle dos padrões éticos para pesquisa, ações e serviços de saúde; XVIII - promover a articulação da política e dos planos de saúde; XIX - realizar pesquisas e estudos na área de saúde; XX - definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscalização inerentes ao poder de polícia sanitária; XXI - fomentar, coordenar e executar programas e projetos estratégicos e de atendimento emergencial. Seção II Da Competência Art. 16. A direção nacional do Sistema Único da Saúde (SUS) compete: I - formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição; 10

II - participar na formulação e na implementação das políticas: a) de controle das agressões ao meio ambiente; b) de saneamento básico; e c) relativas às condições e aos ambientes de trabalho; III - definir e coordenar os sistemas: a) de redes integradas de assistência de alta complexidade; b) de rede de laboratórios de saúde pública; c) de vigilância epidemiológica; e d) vigilância sanitária; IV - participar da definição de normas e mecanismos de controle, com órgãos afins, de agravo sobre o meio ambiente ou dele decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana; V - participar da definição de normas, critérios e padrões para o controle das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar a política de saúde do trabalhador; VI - coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica; VII - estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo a execução ser complementada pelos Estados, Distrito Federal e Municípios; VIII - estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle da qualidade sanitária de produtos, substâncias e serviços de consumo e uso humano; IX - promover articulação com os órgãos educacionais e de fiscalização do exercício profissional, bem como com entidades representativas de formação de recursos humanos na área de saúde; X - formular, avaliar, elaborar normas e participar na execução da política nacional e produção de insumos e equipamentos para a saúde, em articulação com os demais órgãos governamentais; XI - identificar os serviços estaduais e municipais de referência nacional para o estabelecimento de padrões técnicos de assistência à saúde; XII - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde; XIII - prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o aperfeiçoamento da sua atuação institucional; XIV - elaborar normas para regular as relações entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços privados contratados de assistência à saúde; XV - promover a descentralização para as Unidades Federadas e para os Municípios, dos serviços e ações de saúde, respectivamente, de abrangência estadual e municipal; XVI - normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados; XVII - acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e municipais; XVIII - elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no âmbito do SUS, em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito Federal; XIX - estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a avaliação técnica e financeira do SUS em todo o Território Nacional em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito Federal. Parágrafo único. A União poderá executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais, como na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do controle da direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou que representem risco de disseminação nacional. Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete: I - promover a descentralização para os Municípios dos serviços e das ações de saúde; II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde (SUS); III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente ações e serviços de saúde; IV - coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços: a) de vigilância epidemiológica; 11

b) de vigilância sanitária; c) de alimentação e nutrição; e d) de saúde do trabalhador; V - participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agravos do meio ambiente que tenham repercussão na saúde humana; VI - participar da formulação da política e da execução de ações de saneamento básico; VII - participar das ações de controle e avaliação das condições e dos ambientes de trabalho; VIII - em caráter suplementar, formular, executar, acompanhar e avaliar a política de insumos e equipamentos para a saúde; IX - identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemas públicos de alta complexidade, de referência estadual e regional; X - coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública e hemocentros, e gerir as unidades que permaneçam em sua organização administrativa; XI - estabelecer normas, em caráter suplementar, para o controle e avaliação das ações e serviços de saúde; XII - formular normas e estabelecer padrões, em caráter suplementar, de procedimentos de controle de qualidade para produtos e substâncias de consumo humano; XIII - colaborar com a União na execução da vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras; XIV - o acompanhamento, a avaliação e divulgação dos indicadores de morbidade e mortalidade no âmbito da unidade federada. Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete: I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde; II - participar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada e hierarquizada do Sistema Único de Saúde (SUS), em articulação com sua direção estadual; III - participar da execução, controle e avaliação das ações referentes às condições e aos ambientes de trabalho; IV - executar serviços: a) de vigilância epidemiológica; b) vigilância sanitária; c) de alimentação e nutrição; d) de saneamento básico; e e) de saúde do trabalhador; V - dar execução, no âmbito municipal, à política de insumos e equipamentos para a saúde; VI - colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente que tenham repercussão sobre a saúde humana e atuar, junto aos órgãos municipais, estaduais e federais competentes, para controlá-las; VII - formar consórcios administrativos intermunicipais; VIII - gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros; IX - colaborar com a União e os Estados na execução da vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras; X - observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, bem como controlar e avaliar sua execução; XI - controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde; XII - normatizar complementarmente as ações e serviços públicos de saúde no seu âmbito de atuação. Art. 19. Ao Distrito Federal competem as atribuições reservadas aos Estados e aos Municípios. TÍTULO III 12

DOS SERVIÇOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA à SAÚDE CAPÍTULO I Do Funcionamento Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação, por iniciativa própria, de profissionais liberais, legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de direito privado na promoção, proteção e recuperação da saúde. Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. Art. 22. Na prestação de serviços privados de assistência à saúde, serão observados os princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto às condições para seu funcionamento. Art. 23. É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou de capitais estrangeiros na assistência à saúde, salvo através de doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimos. 1 Em qualquer caso é obrigatória a autorização do órgão de direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), submetendo-se a seu controle as atividades que forem desenvolvidas e os instrumentos que forem firmados. 2 Excetuam-se do disposto neste artigo os serviços de saúde mantidos, em finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social. CAPÍTULO II Da Participação Complementar Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada. Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público. Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos terão preferência para participar do Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura assistencial serão estabelecidos pela direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovados no Conselho Nacional de Saúde. 1 Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de pagamento da remuneração aludida neste artigo, a direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá fundamentar seu ato em demonstrativo econômico-financeiro que garanta a efetiva qualidade de execução dos serviços contratados. 2 Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técnicas e administrativas e aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e financeiro do contrato. 3 (Vetado). 4 Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades ou serviços contratados é vedado exercer cargo de chefia ou função de confiança no Sistema Único de Saúde (SUS). TÍTULO IV 13

DOS RECURSOS HUMANOS Art.27. A política de recursos humanos na área da saúde será formalizada e executada, articuladamente, pelas diferentes esferas de governo, em cumprimento dos seguintes objetivos: I - organização de um sistema de formação de recursos humanos em todos os níveis de ensino, inclusive de pós-graduação, além da elaboração de programas de permanente aperfeiçoamento de pessoal; II - (Vetado) III - (Vetado) IV - valorização da dedicação exclusiva aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Parágrafo único. Os serviços públicos que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) constituem campo de prática para ensino e pesquisa, mediante normas específicas, elaboradas conjuntamente com o sistema educacional. Art. 28. Os cargos e funções de chefia, direção e assessoramento, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), só poderão ser exercidos em regime de tempo integral. 1 Os servidores que legalmente acumulam dois cargos ou empregos poderão exercer suas atividades em mais de um estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). 2 O disposto no parágrafo anterior aplica-se também aos servidores em regime de tempo integral, com exceção dos ocupantes de cargos ou função de chefia, direção ou assessoramento. Art. 29. (Vetado). Art. 30. As especializações na forma de treinamento em serviço sob supervisão serão regulamentadas por Comissão Nacional, instituída de acordo com o art. 12 desta Lei, garantida a participação das entidades profissionais correspondentes. TÍTULO V DO FINANCIAMENTO CAPÍTULO I Dos Recursos Art. 31. O orçamento da seguridade social destinará ao Sistema Único de Saúde (SUS) de acordo com a receita estimada, os recursos necessários à realização de suas finalidades, previstos em proposta elaborada pela sua direção nacional, com a participação dos órgãos da Previdência Social e da Assistência Social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Art. 32. São considerados de outras fontes os recursos provenientes de: I - (Vetado) II - Serviços que possam ser prestados sem prejuízo da assistência à saúde; III - ajuda, contribuições, doações e donativos; IV - alienações patrimoniais e rendimentos de capital; V - taxas, multas, emolumentos e preços públicos arrecadados no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS); e VI - rendas eventuais, inclusive comerciais e industriais. 1 Ao Sistema Único de Saúde (SUS) caberá metade da receita de que trata o inciso I deste artigo, apurada mensalmente, a qual será destinada à recuperação de viciados. 14

2 As receitas geradas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) serão creditadas diretamente em contas especiais, movimentadas pela sua direção, na esfera de poder onde forem arrecadadas. 3º As ações de saneamento que venham a ser executadas supletivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), serão financiadas por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e, em particular, do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). 4º (Vetado). 5º As atividades de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico em saúde serão cofinanciadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelas universidades e pelo orçamento fiscal, além de recursos de instituições de fomento e financiamento ou de origem externa e receita própria das instituições executoras. 6º (Vetado). CAPÍTULO II Da Gestão Financeira Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) serão depositados em conta especial, em cada esfera de sua atuação, e movimentados sob fiscalização dos respectivos Conselhos de Saúde. 1º Na esfera federal, os recursos financeiros, originários do Orçamento da Seguridade Social, de outros Orçamentos da União, além de outras fontes, serão administrados pelo Ministério da Saúde, através do Fundo Nacional de Saúde. 2º (Vetado). 3º (Vetado). 4º O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu sistema de auditoria, a conformidade à programação aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados e Municípios. Constatada a malversação, desvio ou não aplicação dos recursos, caberá ao Ministério da Saúde aplicar as medidas previstas em lei. Art. 34. As autoridades responsáveis pela distribuição da receita efetivamente arrecadada transferirão automaticamente ao Fundo Nacionais de Saúde (FNS), observado o critério do parágrafo único deste artigo, os recursos financeiros correspondentes às dotações consignadas no Orçamento da Seguridade Social, a projetos e atividades a serem executados no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Parágrafo único. Na distribuição dos recursos financeiros da Seguridade Social será observada a mesma proporção da despesa prevista de cada área, no Orçamento da Seguridade Social. Art. 35. Para o estabelecimento de valores a serem transferidos a Estados, Distrito Federal e Municípios, será utilizada a combinação dos seguintes critérios, segundo análise técnica de programas e projetos: I - perfil demográfico da região; II - perfil epidemiológico da população a ser coberta; III - características quantitativas e qualitativas da rede de saúde na área; IV - desempenho técnico, econômico e financeiro no período anterior; V - níveis de participação do setor saúde nos orçamentos estaduais e municipais; VI - previsão do plano qüinqüenal de investimentos da rede; VII - ressarcimento do atendimento a serviços prestados para outras esferas de governo. 1º Metade dos recursos destinados a Estados e Municípios será distribuída segundo o quociente de sua divisão pelo número de habitantes, independentemente de qualquer procedimento prévio. 2º Nos casos de Estados e Municípios sujeitos a notório processo de migração, os critérios demográficos mencionados nesta lei serão ponderados por outros indicadores de crescimento populacional, em especial o número de eleitores registrados. 15

3º (Vetado). 4º (Vetado). 5º (Vetado). 6º O disposto no parágrafo anterior não prejudica a atuação dos órgãos de controle interno e externo e nem a aplicação de penalidades previstas em lei, em caso de irregularidades verificadas na gestão dos recursos transferidos. CAPÍTULO III Do Planejamento e do Orçamento Art. 36. O processo de planejamento e orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) será ascendente, do nível local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compatibilizando-se as necessidades da política de saúde com a disponibilidade de recursos em planos de saúde dos Municípios, dos Estados, do Distrito Federal e da União. 1º Os planos de saúde serão à base das atividades e programações de cada nível de direção do Sistema Único de Saúde (SUS), e seu financiamento será previsto na respectiva proposta orçamentária. 2º É vedada a transferência de recursos para o financiamento de ações não previstas nos planos de saúde, exceto em situações emergenciais ou de calamidade pública, na área de saúde. Art. 37. O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as diretrizes a serem observadas na elaboração dos planos de saúde, em função das características epidemiológicas e da organização dos serviços em cada jurisdição administrativa. Art. 38. Não será permitida a destinação de subvenções e auxílios a instituições prestadoras de serviços de saúde com finalidade lucrativa. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS Art. 39. (Vetado). 1º (Vetado). 2º (Vetado). 3º (Vetado). 4º (Vetado). 5º A cessão de uso dos imóveis de propriedade do Inamps para órgãos integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS) será feita de modo a preservá-los como patrimônio da Seguridade Social. 6º Os imóveis de que trata o parágrafo anterior serão inventariados com todos os seus acessórios, equipamentos e outros bens móveis e ficarão disponíveis para utilização pelo órgão de direção municipal do Sistema Único de Saúde (SUS) ou, eventualmente, pelo estadual, em cuja circunscrição administrativa se encontrem, mediante simples termo de recebimento. 7º (Vetado). 8º O acesso aos serviços de informática e bases de dados, mantidos pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, será assegurado às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde ou órgãos congêneres, como suporte ao processo de gestão, de forma a permitir a gerência informatizada das contas e a disseminação de estatísticas sanitárias e epidemiológicas médico-hospitalares. Art. 40. (Vetado). Art. 41. As ações desenvolvidas pela Fundação das Pioneiras Sociais e pelo Instituto Nacional do Câncer, supervisionadas pela direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), permanecerão como referencial de prestação de serviços, formação de recursos humanos e para transferência de tecnologia. 16

Art. 42. (Vetado). Art. 43. A gratuidade das ações e serviços de saúde fica preservada nos serviços públicos contratados, ressalvando-se as cláusulas dos contratos ou convênios estabelecidos com as entidades privadas. Art. 44. (Vetado). Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia administrativa, em relação ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino, pesquisa e extensão nos limites conferidos pelas instituições a que estejam vinculados. 1º Os serviços de saúde de sistemas estaduais e municipais de previdência social deverão integrar-se à direção correspondente do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme seu âmbito de atuação, bem como quaisquer outros órgãos e serviços de saúde. 2º Em tempo de paz e havendo interesse recíproco, os serviços de saúde das Forças Armadas poderão integrar-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), conforme se dispuser em convênio que, para esse fim, for firmado. Art. 46. o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecerá mecanismos de incentivos à participação do setor privado no investimento em ciência e tecnologia e estimulará a transferência de tecnologia das universidades e institutos de pesquisa aos serviços de saúde nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e às empresas nacionais. Art. 47. O Ministério da Saúde, em articulação com os níveis estaduais e municipais do Sistema Único de Saúde (SUS), organizará, no prazo de dois anos, um sistema nacional de informações em saúde, integrado em todo o território nacional, abrangendo questões epidemiológicas e de prestação de serviços. Art. 48. (Vetado). Art. 49. (Vetado). Art. 50. Os convênios entre a União, os Estados e os Municípios, celebrados para implantação dos Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde, ficarão rescindidos à proporção que seu objeto for sendo absorvido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 51. (Vetado). Art. 52. Sem prejuízo de outras sanções cabíveis, constitui crime de emprego irregular de verbas ou rendas públicas (Código Penal, art. 315) a utilização de recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) em finalidades diversas das previstas nesta lei. Art. 53. (Vetado). Art. 54. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 55. São revogadas a Lei nº. 2.312, de 3 de setembro de 1954, a Lei nº. 6.229, de 17 de julho de 1975, e demais disposições em contrário. Brasília, 19 de setembro de 1990; 169º da Independência e 102º da República. FERNANDO COLLOR 17

Alceni Guerra 4. EDUCAÇÃO EM SAÚDE 4.1 Introdução Certamente você já estudou alguns conceitos de saúde, mas podemos lhe apresentar mais um. Saúde é o resultado das condições de vida, logo do acesso ao trabalho, à escola, à moradia e à alimentação. Com isso, ter ou não estas condições implica saúde ou adoecimento. Com base nesse conceito de saúde, podemos discutir o que é educação em saúde. Ao longo de sua vida, você certamente ouvirá: Você é um educador em potencial! Já que saúde é um direito de todos e uma conquista social chamamos atenção para o fato de a educação em saúde não ser de competência exclusiva de uma única categoria profissional; ela deve contar com uma participação multiprofissional. O papel educativo do profissional de saúde, como um dos componentes das ações básicas de saúde, é tarefa de toda a equipe na unidade de saúde. Passamos a idéia de que as pessoas não têm saúde porque não querem, porque não se esforçam, porque não tem vontade de ter saúde. As pessoas que trabalham com educação em saúde muitas vezes acham que uma grande parte da população tem problemas porque é ignorante. Faltam condições de viver e saúde para a maioria da população brasileira, não porque ela ou eu nos descuidamos, mas porque as autoridades não usam o dinheiro público de acordo com os nossos interesses. Ao realizar uma atividade educativa, devemos considerar: Para quem se destina a ação educativa; Conteúdos, objetivos e metodologia; A participação ativa, crítica e reflexiva das pessoas envolvidas no processo educativo; A atividade educativa pode acontecer individualmente ou para um grupo, e vários recursos podem ser utilizados por exemplo, dramatização, álbuns, cartazes, folders, vídeos, músicas, dinâmicas, etc. 4.2 De que trata a Educação em Saúde Trata-se de uma tarefa que depende, no caso da saúde, de profissionais com habilidade e competências para orientar as pessoas a: Promover a saúde; Evitar riscos à saúde; Restaurar a saúde; Prevenir doenças. Seus desafios são trazer o sujeito da Unidade em Saúde Pública/Coletiva para a reaproximação da natureza e das coisas naturais, afetadas pelos males da modernidade; orientar as pessoas para a tomada de decisões em suas vidas no sentido da promoção à saúde; e conseguir, por meio da educação em saúde, que as pessoas possam ter uma melhor qualidade de vida. No mundo de hoje, as pessoas vivem tensas, excessivamente preocupadas e não se sentem motivadas a cuidar devidamente de sua própria saúde. O homem e a mulher modernos têm hábitos que causam mais danos que benefícios a sua saúde: Vida sedentária; Irritação no trânsito; Perigo e inalação do ar poluído; 18

Superalimentação de carboidratos e gorduras saturadas; Automedicação, componentes de cafeína e nicotina; Falta de atividades de lazer; Aquisição de produtos anti-higiênicos e nocivos à saúde; Ansiedade provocada pela mídia, cheia de notícias desagradáveis; Falta de tempo para cuidar da saúde comer, dormir e divertir-se. E tantos outros que você mesmo é capaz de citar. Que tal o desafio? Como saúde não dói nem causa mal estar, as pessoas não se dão conta de que ela existe, de que é um bem valioso e que só será sentido quando faltar. As práticas educativas devem possibilitar aos indivíduos a aquisição de habilidades para a tomada de decisões na busca de uma melhor qualidade de vida. É dentro dessas concepções de educação, saúde e educação em saúde que acreditamos caber ao profissional de saúde (aí incluído o profissional da área da enfermagem) o papel de defensor/facilitador para os grupos sociais com os quais interagem e que necessitam de mudanças sociais. É fazer com que os indivíduos resgatem a sua cidadania, colocando-a em evidência na promoção da saúde. Educação em saúde pressupõe uma combinação de oportunidades que favoreçam a promoção e manutenção da saúde. Sendo assim, não podemos entendê-la somente como a transmissão de conteúdos, comportamentos e hábitos de higiene do corpo e do ambiente, mas também como a adoção de práticas educativas que busquem a autonomia dos sujeitos na condução da sua vida. Educação em saúde nada mais é que o exercício de construção da cidadania. 4.3 Tópicos Emergentes em Educação em Saúde Alguns assuntos, que agora consideramos emergentes, historicamente não eram tidos como questões do campo da saúde. A modernidade, com suas mudanças nos valores e nos modos de vida, fez emergir problemas sociais ainda não contemplados pela área da saúde pública: Prevenção do uso de drogas; Acidentes domésticos; Violência contra crianças e adolescentes; Violência contra a mulher; Entre outros. Nota: Sugerimos que vocês façam uma pesquisa sobre esses assuntos e outros de interesse da classe e do professor. Na apresentação, como vocês realizariam atividades educativas dos temas desenvolvidos? 5. O AMBIENTE E OS PROCESSOS DE RESTAURAÇÃO 5.1 Introdução Trataremos de uma relação especial: a relação que os seres vivos estabelecem entre si e com o meio ambiente. Por isso falar de saúde é falar da nossa vida, do nosso trabalho e das nossas relações. 19

A coexistência entre os seres vivos se dá de forma pacífica? Nem sempre. Quando os seres convivem harmonicamente, o equilíbrio pode gerar benefícios para todos; quando há desarmonia, essas relações podem gerar adoecimento, uma vez que uma das partes perde mais do que recebe. As doenças transmissíveis representam um bom exemplo de uma relação desarmônica entre homens e micro-organismos. Contato requer interação, troca. Da mesma forma que as pessoas podem ser contagiadas por sentimentos de felicidade, prazer, sofrimento, dor, alegria, também podem ser contagiadas por micro-organismos que se escondem no corpo infectado. As permutas entre seres (corpos) muitas vezes ocorrem sem que percebamos; trata-se de um processo complexo que independe do estado de saúde atual daquele que transmite. Mesmo estando saudáveis, podemos transmitir micro-organismos a outros seres/corpos. Como o próprio verbo revela, transmitir significa fazer passar de um ponto ou de um possuidor para outro. Para transmitir uma doença infecciosa, é necessário que três elementos interajam: O agente (micro-organismo causador); O receptor (se vivo sujeito ao adoecimento); O ambiente. (interno organismo humano e externo ambiente propriamente dito) Agente Ambiente Receptor 5.2 O processo de desajustamento do organismo e as doenças transmissíveis O ser humano passa por muitas situações que exigem o desenvolvimento de mecanismos de compensação e adaptação, tanto por parte do ambiente interno quanto do externo. O adoecimento de um órgão ou sistema pode ser visto como um dos mecanismos de adaptação do corpo a uma condição adversa (de agressão) que ameaça o equilíbrio do todo. Esses mecanismos, no entanto, nem sempre são capazes de conter e reverter todos os desequilíbrios presentes interna e externamente ao indivíduo. A doença infecciosa é a doença, clinicamente manifesta, do homem ou dos animais, resultante de uma infecção. A compreensão dos processos de transmissão de doenças dessa natureza requer respostas a algumas perguntas: O que é transmitido? Um agente infeccioso específico (vírus, bactéria, fungo, protozoário, etc.) ou produtos tóxicos. De onde? De uma fonte. Para onde? Para um ser vivo sujeito ao adoecimento (receptor). Por que meios? Através de alimentos, água utilizada como bebidas, ar atmosférico, fômites (refere-se aos objetos de uso que podem estar contaminados). Estas respostas fazem toda a diferença em relação às ações e aos cuidados a serem implementados. Sabemos que as doenças transmissíveis resultam da associação de múltiplos fatores, dentre eles a presença de um agente indispensável ou de produtos do seu metabolismo. Dois 20

fatores influenciam fortemente a produção de doenças de origem infecciosa: as características dos micro-organismos e as características do hospedeiro. Características dos microorganismos na produção da doença. Os micro-organismos apresentam características que dirigem sua relação com o hospedeiro e contribuem para o aparecimento de doença. Infectividade: capacidade que certos organismos apresentam de penetrar, se desenvolver ou se multiplicar no novo hospedeiro, ocasionando infecção. Patogenicidade: capacidade de um agente infeccioso de causar enfermidade em um organismo. Virulência: capacidade de um agente infeccioso de produzir casos graves ou fatais. Está associada à capacidade de multiplicação no organismo do hospedeiro e à produção de substâncias tóxicas. Poder invasor: capacidade de invadir os tecidos do organismo do hospedeiro. Características do hospedeiro de resistência à doença. Vários fatores encontram-se associados à capacidade de resistência às doenças: Fatores genéticos; Estresse; Estado nutricional; Consumo de álcool, narcóticos e fumo; Integridade da pele e mucosas; Capacidade de reação e adaptação aos estímulos do meio; Estado atual de saúde; Imunidade específica. Peculiaridades das doenças transmissíveis. Se por um lado o corpo age e reage às agressões dos agentes biopatogênicos, por outro medidas terapêuticas podem (e devem) ser implementadas, algumas delas antes mesmo do aparecimento da doença propriamente dita. Conhecendo os agentes infecciosos, sua ação patogênica, seu ciclo de vida (dentro e fora do corpo humano) e seus mecanismos de penetração (ingestão, inalação através das vias respiratórias, penetração através das mucosas e de solução de continuidade, transmissão por via placentária, etc.), podemos atuar de forma preventiva. Quando falamos de doenças de natureza infecciosa, interessa-nos conhecer não apenas seu comportamento entre os indivíduos, mas também entre as coletividades. Doenças que surgiram recentemente (emergentes) ou que já se encontravam controladas e retornaram (reemergentes) podem produzir um grande impacto negativo em determinados grupos da população, trazendo como consequência inclusive o aumento do número de complicações e mortes. Isso porque a suscetibilidade (resistência contra determinado agente patogênico) não é um atributo que depende exclusivamente de características individuais. Neste caso, o coletivo pode fazer toda a diferença, quer protegendo, quer aumentando a chance de exposição. Sabendo disso, nós, profissionais de enfermagem, precisamos conhecer mais do que os aspectos referentes às manifestações das doenças a fim de lidar com a diversidade e a adversidade. Para tanto, individualidade e coletividade devem ser tratadas como faces de uma mesma moeda. 6. IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS 21

As medidas a serem tomadas dependerão do agente, das características e condições do suscetível e do contexto. As ações necessárias só poderão ser definidas depois de saber qual é o problema, quem é afetado, onde, quando e como ele ocorre. QUAL É O PROBLEMA Conhecer o agravo e suas características é fundamental. Ainda que todas as doenças transmissíveis sejam causadas por agentes infecciosos específicos ou por seus produtos tóxicos, cada uma delas manifesta-se de maneira muito particular. É necessário ficar atento aos seguintes aspectos: Agente etiológico Modo de transmissão Período de incubação Período de transmissibilidade Suscetibilidade e resistência Diagnóstico diferencial Sinais Sintomas Complicações Tratamento Medidas de Controle Nem sempre é fácil romper os elos que compõem a cadeia de transmissão, ainda que a estrutura dessa cadeia já esteja amplamente estudada. Nesse aspecto, o ambiente desempenha papel fundamental, contribuindo ou não para a manutenção das doenças. A definição, por exemplo, de medidas de isolamento (de contato, respiratório, gotículas e aerossóis e precauções padrão) podem ser decisivas em alguns casos. Como você pode concluir, trata-se de uma tarefa complexa que requer profissionais comprometidos com a qualidade da assistência prestada em âmbito tanto individual quanto coletivo. Para isso é necessário estar sempre se atualizando, pois novas descobertas implicam novos procedimentos a serem adotados. Felizmente trabalhamos com pessoas e não com receitas de bolo. QUEM É AFETADO Quais os grupos da população mais atingidos? Quais as características desses grupos (idade, sexo, grupo étnico, classe social, ocupação, etc) É importante compreender que há um conjunto de características que interagem, tornando-nos mais ou menos vulneráveis a certos tipos de agravos à saúde. Essas características podem ser genéticas, biológicas, ambientais, socioeconômicas, culturais, etc. A faixa etária, por exemplo, é um fator que pode conferir maior gravidade ao caso. O sarampo, por exemplo, pode levar a óbito principalmente lactentes e crianças menores de dois anos. Entre as complicações mais frequentes decorrentes do sarampo estão pneumonia, otite média, laringite, encefalite e gastroenterite. ONDE Conhecendo a distribuição do agravo e as características do local (bairro, município, estado, país) onde as pessoas foram afetadas ou expostas, é possível identificar áreas de risco, realizar o acompanhamento dessas áreas e propor as melhores soluções. A letalidade do cólera, por exemplo, varia muito entre os países; enquanto na Índia trata-se de uma doença endêmica, na Europa a ação de uma epidemia pode ser devastadora. QUANDO Por meio do acompanhamento da distribuição de um evento durante um período de tempo (horas, dias, semanas, meses ou anos), podemos conhecer os riscos a que as pessoas estão sujeitas, prever acontecimentos e, principalmente, propor soluções. O tempo de observação dependerá do agravo à saúde a ser estudado. Podem ser necessários alguns anos ou dias. COMO 22

Qual a magnitude do agravo? Há associação com alguma condição específica? Que fatores encontram-se relacionados à sua ocorrência? Como se distribui o agravo? Agravos infecciosos podem assumir comportamentos normais ou anormais quanto a sua frequência e distribuição. Por isso, sempre que falamos na concentração de casos (ou de mortes) em um período de tempo e espaço, quatro conceitos são fundamentais: endemia, epidemia, surto, pandemia. Endemia é definida como uma variação no número de casos novos dentro dos padrões regulares e esperados em um determinado período de tempo. Pode representar o comportamento normal de um agravo à saúde. Epidemia define o comportamento anormal de um agravo, uma alteração além dos valores esperados. Ela não significa, necessariamente, a ocorrência de um grande número de casos. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (1992), há situações em que dois casos de uma dada doença infecciosa podem caracterizar uma epidemia, desde que representem uma elevação brusca que exceda os padrões considerados normais e estejam associados no tempo e no espaço. Surto e Pandemia constituem formas particulares de epidemia. Enquanto a pandemia destaca-se pelas suas proporções, atingindo um elevado número de pessoas em mais de um continente, o surto é mais restrito e apresenta proporções reduzidas ( uma cidade, um bairro, um colégio). 6.1 Removendo Obstáculos A compreensão do processo saúde, nos níveis individual e coletivo, e a identificação dos fatores capazes de influir positiva ou negativamente no estado de saúde nos permitem encontrar alternativas de intervenção ou controle. No passado, o alvo das ações mais tradicionais na área de saúde pública eram as doenças que se apresentavam sob forma de epidemias (cólera, peste, etc). A ênfase estava no verbo transmitir e o objetivo dos que trabalhavam com a área era romper um ou mais elos da cadeia de transmissão das doenças infecciosas. Bastaria conhecer os mecanismos de transmissão dessas doenças e os elementos nele envolvidos (agentes infecciosos, hospedeiro, ambiente) para que o problema estivesse resolvido. É bem verdade que as grandes epidemias que dizimavam populações inteiras deixaram de fazer parte do perfil de morbi-mortalidade (adoecimento e morte) das populações residentes nos países desenvolvidos. No entanto, a interação entre o homem e o ambiente mostrou-se muito mais complexa e apesar de muitas descobertas científicas (antibióticos, vacinas, compostos químicos de combate aos vetores, entre outras medidas específicas), as doenças infecciosas permanecem como um desafio. Infelizmente esses agravos, apesar de evitáveis através de medidas como imunização e saneamento básico, permanecem compondo um quadro perverso relacionado à pobreza e ao subdesenvolvimento. Diríamos que os elos mais frágeis dessa cadeia de transmissão de doenças foram rompidos. Os elos mais difíceis de contornar têm sido: a resistência de algumas bactérias aos antibióticos disponíveis, o surgimento de novas doenças infecciosas em todo o mundo ( a pandemia da AIDS, febres hemorrágicas provocadas pelo vírus Ebola e pelo antavírus) e a reemergência de algumas doenças infecciosas. Três bons exemplos desse fenômeno de recrudescimento de doenças infecciosas já conhecidas são a tuberculose, dengue e hepatite B. Em comum estas doenças só têm o fato de serem transmissíveis. 7. NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE 23

Adoecer ou não adoecer, mais uma vez eis a questão. Determinar sinais, sintomas e características de adoecimento tem sido tema constante na prática e nas pesquisas realizadas pelos vários profissionais que trabalham na área da saúde. Construir quadros clínicos capazes de agrupar semelhanças e diferenças no modo de adoecer dos indivíduos é tentar de alguma forma descrever e ordenar acontecimentos, resgatando assim a história natural da doença ou construir um discurso sobre a história natural da saúde. A expressão história natural da doença refere-se a um conjunto de relações específicas existentes entre três elementos: O agente causador de doença; O suscetível ao adoecimento (indivíduo); O meio ambiente repleto de interações. 7.1 História Natural e Prevenção de Doenças A história natural da doença compreende as interrelações do agente, do suscetível e do meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar. Passando pela resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a defeitos, invalidez, recuperação ou morte. É possível estabelecer medidas de prevenção voltadas tanto para a fase anterior ao adoecimento (período pré-patológico) como para a fase posterior (período patológico). 7.2 Período Pré-Patológico É a fase inicial, em que há apenas condições favoráveis ao aparecimento da doença. A doença ainda não existe de fato, só existe a suscetibilidade. Em outras palavras, é na fase inicial que encontramos os fatores determinantes do processo saúde doença. São característicos do período pré-patológico os primeiros estímulos ao adoecimento, presentes no meio ambiente ou em outro lugar. Por exemplo: Falta de saneamento básico; Poluição atmosférica; Contaminação de produtos diversos; Ingestão de água contaminada; Exposição a altas doses de radiação; Capacidade de resposta do organismo humano à agressão sofrida. Nessa interação entre o estímulo ao adoecimento e o indivíduo suscetível, temos algumas condições fundamentais para o surgimento da doença - fatores como idade, estado nutricional e situação vacinal. 7.3 Período Patológico Compreende o desenvolvimento do processo de adoecimento, a instalação da doença, sua evolução, as alterações provocadas no organismo afetado e os seus possíveis desfechos ( de recuperação a invalidez, cronicidade e morte). Nesse período, três fases distintas podem ser identificadas. A primeira fase, em que a doença já existe, mas o organismo ainda não manifesta seus sintomas. A segunda fase, marcada pelo aparecimento dos sinais e sintomas característicos da doença. O grau de acometimento da doença dependerá de fatores como: Características da própria doença; Condições do doente; 24

Assistência pretada. E uma terceira fase, em que o desfecho da doença não é a cura completa ou a morte; é possível que não haja reabilitação completa do doente. Nesse caso, é necessário promover medidas de reabilitação capazes de melhorar o funcionamento da parte afetada e reduzir incapacidades. 7.4 Níveis de Prevenção Prevenir significa atuar antecipadamente, impedir determinados desfechos indesejados, que seriam: o adoecimento, a invalidez, a cronicidade de uma doença ou a morte. De acordo com a situação, os níveis de prevenção podem ser três: Prevenção Primária Conjunto de ações voltadas para a prevenção da ocorrência. Engloba medidas que têm como objetivo atuar sobre o período que antecede a ocorrência da doença, destinadas a evitar o desencadeamento de fatores que podem causá-la. Visa à promoção da saúde por meio do atendimento às necessidades básicas do homem e por meio da prevenção de doenças, ou seja, da proteção específica. As ações de promoção da saúde incluem o conjunto de medidas que não se dirigem a uma doença específica, mas à manutenção do bem estar geral. Podemos citar como exemplos de medidas de promoção da saúde: Saneamento básico; Habitação em condições adequadas; Recreação e lazer; Remuneração adequada e condições de trabalho favoráveis e seguras; Educação sexual; Planejamento familiar. As ações de proteção específica incluem o conjunto de medidas voltadas para o combate de uma doença ou de um conjunto de doenças específicas. São exemplos: Acompanhamento pré-natal; Vacinação contra doenças imunopreveníveis ( poliomielite, tétano, sarampo, difteria e coqueluche); Controle de vetores; Desinfecção concorrente e terminal; Proteção contra riscos ocupacionais; Cloração da água. Prevenção Secundária Conjunto de medidas voltadas para o período em que a doença já existe, visando impedir sua evolução e suas complicações. As ações voltadas para o diagnóstico e tratamento precoce englobam medidas que têm por objetivo identificar o processo patológico antes mesmo do aparecimento dos sintomas. Enquadram-se: Descoberta de casos em levantamentos e exames seletivos por exemplo, exame de mamas (mamografia) e exame ginecológico (Papanicolau); Notificação dos casos e, se necessário, tratamento dos contatos; Emprego dos recursos laboratoriais disponíveis no diagnóstico e tratamento adequado com o objetivo de prevenir complicações e sequelas; Uso de serviço de enfermagem domiciliar ou hospitalização, se necessário. 25

Prevenção Terciária Nessa etapa a doença já se instalou e o seu desenvolvimento deixou algum tipo de sequela. As medidas relacionadas englobam ações voltadas para a limitação do dano e a reabilitação do indivíduo após a cura da doença. Destina-se também ao controle da doença e a reintegração do trabalhador e cidadão a uma nova vida. As ações voltadas para limitação do dano incluem medidas que visam prevenir ou limitar a extensão das sequelas e as complicações causadas por doenças clinicamente avançadas. Já a reabilitação engloba medidas que objetivam readaptar uma pessoa com deficiência a uma nova condição em que possa manter uma vida útil e produtiva. Entre as ações estão: Terapia ocupacional; Dietas especiais; Reintegração social; Emprego selecionado; Proporcionar à família instrução e supervisão no cuidado a doentes portadores de deficiência; Educação do público para a integração do reabilitado à comunidade e aos locais de trabalho. É importante conhecer a história natural das doenças porque, a partir do estudo dos elementos que fazem parte dessa história, é possível identificar os fatores que predispõem à ocorrência de doenças. Uma vez detectados esses fatores, é possível avaliar o grau de risco a que os grupos estão submetidos, e assim proceder o acompanhamento e planejar estratégias de intervenção. Nos dias atuais fica mais claro que a lógica que concebia a saúde como resultado de uma intervenção médica por meio de medicamentos está ultrapassada. Hoje já se pensa em saúde como um projeto não só de recuperação, mas de manutenção do bem estar físico, psíquico, social e ambiental. 8. PROGRAMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE Podemos dizer que política pública é a materialização da ação do Estado. Por exemplo, temos política econômica, política de segurança, política de educação, política de saúde e outras áreas de atuação. Obviamente essas políticas não são dissociadas umas das outras, ou não deveriam ser. No caso da saúde, temos políticas públicas que se materializam na forma de Programas de Atenção à Saúde. 8.1 Programa de Atenção Integral à Saúde do Adulto As práticas ou ações programáticas configuram-se como forma de organização do trabalho coletivo. A preocupação com a necessidade de saúde da população principalmente com agravos de grande magnitude, implicou, no decorrer da década de 1980, uma reorganização da assistência à saúde, até então voltada apenas para o prontoatendimento e a demanda espontânea. A priorização de alguns agravos específicos como hipertensão arterial, diabetes mellitus, tuberculose, hanseníase, pautada no perfil epidemiológico da população, 26

veio articular ações de caráter individual e coletivo. 8.2 Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher As proposições básicas de ação formuladas pelo Ministério da Saúde para a assistência integral à saúde da mulher devem ser situadas no contexto da política de expansão e consolidação dos serviços básicos de saúde. Esse programa específico foi oficializado na década de 1980 e configura-se como uma estratégia de destinação seletiva de recursos que permitam a operacionalização de conteúdos de grande prioridade vinculados à população feminina. O programa nasceu com o objetivo de: Aumentar a cobertura e a concentração do atendimento pré-natal, proporcionando iguais oportunidades de utilização do serviço para toda a população; Melhorar a qualidade da assistência ao parto, ampliando a cobertura do atendimento prestado por pessoal treinado e diminuindo os índices de cesáreas desnecessárias; Aumentar os índices de aleitamento materno, fornecendo as condições para implantação do alojamento conjunto; Implantar ou ampliar as atividades de identificação e controle do câncer cérvico uterino e de mamas; Implantar ou ampliar as atividades de identificação e controle de doenças sexualmente transmissíveis; Implantar ou ampliar as atividades de identificação e controle de outras patologias de maior prevalência no grupo; Desenvolver atividades de regulação da fertilidade humana, implementando métodos e técnicas de planejamento familiar, diagnosticando e corrigindo estados de infertilidade; Evitar aborto provocado, mediante prevenção da gravidez indesejada. Os conteúdos da assistência integral à saúde da mulher serão desenvolvidos através de atividades de assistência clínico ginecológica, assistência pré-natal e assistência ao parto e puerpério imediato. 8.3 Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança Este programa também da década de 1980, está voltado para a maximização do alcance da assistência à saúde infantil, o que significa tanto estender a cobertura dos serviços de saúde quanto aperfeiçoar seu poder de resolução diante dos problemas de saúde mais prevalentes e relevantes. As ações básicas na assistência integral à saúde da criança envolvem: Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; Aleitamento materno e orientação para o desmame; Controle de doenças diarreicas; Controle de infecções respiratórias agudas; Controle de doenças que se podem prevenir por imunização. 27

Considera-se prioritário o grupo de menores de cinco anos. 8.4 Programa de Atenção à Saúde do Adolescente Criado em 1988 pelo Ministério da Saúde. Seus objetivos são: Promover a saúde integral do adolescente, favorecendo o processo geral de seu crescimento e desenvolvimento, buscando reduzir a morbi-mortalidade e os desajustes individuais e sociais; Promoção da saúde, identificação de grupos de risco, detecção precoce de agravos, tratamento adequado e reabilitação nas áreas prioritárias de: crescimento e desenvolvimento, sexualidade, saúde bucal, saúde mental, saúde escolar, prevenção de acidentes, trabalho cultural, lazer e esporte. 8.5 Programa de Atenção à Saúde do Trabalhador A saúde do trabalhador é a mais moderna forma de se estudar, discutir e pensar o binômio trabalho-saúde, já que traz uma visão mais ampliada do que a estabelecida inicialmente a partir da saúde ocupacional. É uma área do conhecimento científico que tem como objeto de estudo a relação entre o trabalho e o processo saúde-doença nos grupos humanos. A saúde do trabalhador busca estabelecer vínculos e explicações acerca do adoecimento e da morte de trabalhadores a partir do estudo dos processos de trabalho. A saúde do trabalhador engloba ações destinadas à promoção, proteção, recuperação e reabilitação de todos os trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho. 8.6 Programa de Assistência Integral à Saúde do Idoso Apenas recentemente começaram a se delinear no Brasil políticas de saúde voltadas especificamente para a população idosa. As mudanças verificadas não ocorreram por acaso. Foram motivadas, de um lado, pelo visível crescimento desse grupo etário e pela mudança do perfil de adoecimento e morte da população; de outro lado, foram pautadas em avanços verificados no sistema de atenção o SUS É o Ministério da Saúde, através da Secretaria de Políticas de Saúde, em articulação com as Secretarias de Saúde dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, e em consonância com a Lei Orgânica da Saúde e com a lei 8.842 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a política nacional. Assim, a partir dessa lei são estabelecidos os objetivos e as estratégias do Programa de Atenção Integral à Saúde do Idoso, que envolve um conjunto de ações voltadas para: Promoção; - Informações sobre o idoso para o próprio idoso, sua família, seus cuidadores e a sociedade em geral. 28

Prevenção; - Protocolo de prevenção a agravos da saúde na terceira idade; vacinação para idosos (antitetânica, antipneumocóccica e antigripal) Recuperação da saúde ou manutenção de uma qualidade de vida a mais digna possível. - Assistência ambulatorial através das unidades básicas de saúde; assistência domiciliar através do Programa de Saúde da Família; política de medicamentos voltadas para o idoso, garantindo assim medicamentos adequados de uso contínuo; internação domiciliar para doentes crônicos. 8.7 Programa Saúde da Família (PSF) O Programa Saúde da Família (PSF) tem como principal objetivo contribuir para a reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso imprimiria uma nova dinâmica de atuação nas unidades básicas de saúde, com definição de responsabilidades entre os serviços de saúde e a população. O PSF visa tanto prestar assistência na unidade de saúde quanto desenvolver tradicionalmente as ações de saúde no domicílio, numa perspectiva de ação integral em que todos os membros de uma família são acompanhados. O programa intervém sobre os fatores de risco aos quais a população está exposta e ainda estimula a organização da comunidade para o efetivo exercício do controle social. A proposta do PSF nasceu em 1994, quando foi sugerida a descentralização e a municipalização dos serviços de saúde em que era um desafio a implementação efetiva do SUS. A adesão dos secretários municipais de saúde também foi expressiva e significante. O programa do Ministério da Saúde tenta valorizar os princípios de: Territorialização; Vinculação com a população; Garantia de integridade na atenção; Trabalho em equipe com o enfoque interdisciplinar; Ênfase na promoção da saúde, com fortalecimento das ações intersetoriais. A enfermagem, como categoria profissional que vida à saúde individual e coletiva, sempre buscou a interface entre a comunidade e os serviços de saúde. De imediato, incorporou as estratégias do PSF, contribuindo de forma significativa nos processos de planejamento, coordenação, implantação e avaliação dessa nova proposta. 8.8 Programa de Saúde Bucal O Brasil Sorridente é uma política do governo federal com o objetivo de ampliar o atendimento e melhorar as condições de saúde bucal da população brasileira. É a primeira vez que o governo federal desenvolve uma política nacional de saúde bucal, ou seja, um programa estruturado, não apenas incentivos isolados à saúde bucal. O Brasil Sorridente foi lançado pelo Ministério da Saúde em 17 de março de 2004 para ampliar o acesso ao tratamento odontológico. Grande parte dos brasileiros não sabe que podem receber tratamento odontológico gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nota: Pesquise os programas de saúde existentes em sua cidade, desenvolvendo um trabalho para ser apresentado e discutido em sala de aula. 29

8.9 Programa Nacional de Imunização https://souenfermagem.com.br/artigo/programa-nacional-de-imunizacoespnihttps://souenfermagem.com.br/artigo/programa-nacional-deimunizacoespni Realizar Pesquisa em: https://souenfermagem.com.br/artigo/programa-nacional-de-imunizacoes-pni http://saude.es.gov.br/media/sesa/imuniza%c3%a7%c3%a3o/calend%c3%a1rio%20nacional%20de %20Vacina%C3%A7%C3%A3o%20da%20Crian%C3%A7a%20-%20PNI%20-%202016.pdf 9. Programa Saúde da Família A Atenção Primária à Saúde (APS) está sendo desenvolvida e reconhecida no mundo, por mais de três décadas, como uma estratégia capaz de estruturar redes integradas de atenção à saúde, estas como círculos virtuosos na construção de sistemas de saúde efetivos. Ao longo desse período, as experiências, tanto em países mais desenvolvidos a exemplo da Inglaterra, Canadá, Espanha, Portugal e Cuba, quanto em países em seus cursos de desenvolvimentos evidenciam que a APS, melhora a eficiência e efetividade da Atenção à Saúde, com racionalização de custos, satisfação dos indivíduos, famílias e comunidades, vinculação e corresponsabilidade entre estas, profissionais, gestores e gerentes dos serviços e sistemas de saúde. Portanto, um sistema de saúde estruturado, segundo os valores, princípios e bases organizativas da APS, tem como objetivo superior a melhoria da qualidade de vida e saúde das famílias a ele vinculadas, onde a equidade, a integralidade e a participação social representam imperativos éticos, morais e científicos para a realização do direito à saúde e à solidariedade social. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem defendido a Atenção Primária à Saúde (APS), desde a Declaração da Alma Ata "Saúde para Todos" em 1978, como potencial estratégia para alcançar a equidade e ganhos equitativos em saúde e no desenvolvimento humano. O Brasil adotou o Programa de Agentes Comunitários de Saúde-PACS (1991) e o Programa de Saúde da Família-PSF (1994) como estratégias para contribuir na construção de um novo modelo de atenção integral à saúde das famílias. Logo, são estratégias voltadas para a reorganização das ações de ABS, que se fundamentam em uma nova ética política institucional, cujos princípios e bases organizativas revelam-se nos seguintes objetivos: Prestar, na unidade de saúde e no domicílio, assistência integral, contínua, com resolubilidade e boa qualidade às necessidades de saúde da população adstrita; Intervir sobre os fatores de risco em que a população está exposta; Eleger a família e o seu espaço social como núcleo básico de abordagem no atendimento à saúde; Humanizar as práticas de saúde através do estabelecimento de um vínculo entre os profissionais de saúde e a população; Proporcionar o estabelecimento de parcerias através do desenvolvimento de ações Inter setoriais; Contribuir para a democratização do conhecimento do processo saúde/doença, da organização dos serviços e da produção social da saúde; 30

Fazer com que a saúde seja reconhecida como um direito de cidadania e, portanto, expressão da qualidade de vida e; Estimular a organização da comunidade para o efetivo exercício social. (Brasil, 1998). Para que essa nova prática se concretize, faz-se necessária a presença de um profissional com visão sistêmica e integral do indivíduo, família e comunidade, um profissional capaz de atuar com criatividade e senso crítico, mediante uma prática humanizada, competente e resolutiva, que envolve ações de promoção, de proteção específica, assistencial e de reabilitação. Um profissional capacitado para planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que respondam às reais necessidades da comunidade, articulando os diversos setores envolvidos na promoção da saúde. Para tanto, deve realizar uma permanente interação com a comunidade, no sentido de mobilizá-la, estimular sua participação e envolvê-la nas atividades ¾ todas essas atribuições deverão ser desenvolvidas de forma dinâmica, com avaliação permanente, pelo acompanhamento de indicadores de saúde da área de abrangência. Um dos caracteres de diferenciação desse processo é que os profissionais das equipes de saúde devem residir no município onde atuam, trabalhando em regime de dedicação integral. Por sua vez, para garantir a vinculação e identidade cultural com as famílias sob sua responsabilidade, os agentes comunitários de saúde (ACS) também devem residir nas respectivas áreas de atuação. Responsabilidades da equipe do PSF As atribuições básicas de uma equipe de Saúde da Família são: conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis e identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco aos quais a população está exposta; executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os procedimentos de vigilância à saúde e de vigilância epidemiológica, nos diversos ciclos da vida; garantir a continuidade do tratamento, pela adequada referência do caso; prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda, buscando contatos com indivíduos sadios ou doentes, visando promover a saúde por meio da educação sanitária; promover ações Inter setoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas; discutir, de forma permanente, junto à equipe e à comunidade, o conceito de cidadania, enfatizando os direitos de saúde e as bases legais que os legitimam; incentivar a formação e/ou participação ativa nos conselhos locais de saúde e no Conselho Municipal de Saúde. Por seus princípios, o Programa Saúde da Família é, nos últimos anos, a mais importante mudança estrutural já realizada na saúde pública no Brasil. Junto ao Programa dos Agentes Comunitários de Saúde ¾ com o qual se identifica cada vez mais ¾ permite a inversão da lógica anterior, que sempre privilegiou o tratamento da doença nos hospitais. Ao contrário, promove a saúde da população por meio de ações básicas, para evitar que as pessoas fiquem doentes. Porém, se o programa restringir-se apenas à atenção básica, fracassará. A aposta do Brasil é no SUS, na atenção integral e em todos os níveis de complexidade. 10. CUIDANDO DE QUEM CUIDA: ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM Este capítulo abordará um assunto fundamental e imprescindível: o fato de estarmos atentos para cuidar de nós, 31

mesmos profissionais da equipe de enfermagem, antes de nos preocuparmos em cuidar do outro. Na nossa formação não aprendemos que também merecemos ser cuidados e não existe uma política que contemple os aspectos relativos aos riscos aos quais os profissionais de enfermagem estão expostos no seu exercício de cuidar de pessoas doentes: riscos de ordem emocional, física, biológica, ambiental, química. 10.1 Como Manter ou repor a energia perdida no trabalho Alimentação e Hidratação Ao sair de um plantão desgastante, especialmente o noturno, dê preferência a uma alimentação saudável, evitando frituras e embutidos. A alimentação natural preserva as vitaminas e os sais minerais que precisamos para nos recompor. Lembre-se também que a hidratação é muito importante, beba água e sucos com regularidade. Assim, eliminam-se as toxinas e hidrata-se o corpo que, normalmente, não foi hidratado durante o plantão. Um dos primeiros sinais de desidratação é a irritabilidade, e o que se percebe de profissional irritado... Beber água pode ser um grande remédio. Sono e Repouso No seu dia de folga, opte por descansar e/ou por atividades que tragam paz e quietude ao seu corpo, porque o desgaste de um dia de plantão, queima muita energia, deve ser corrigido pela reposição dessa mesma energia. Todavia, é muito comum observar-se a superposição de atividades dos profissionais da equipe de saúde de quando estão em seu dia de folga. Respiração Por vezes a ansiedade em nossa prática profissional é tanta que não temos tempo nem de respirar. Essa expressão é tão usada quanto verdadeira, pois não podemos dizer que usamos uma respiração nutritiva par o nosso organismo quando, conscientemente, não expandimos o nosso pulmão tanto quanto necessário para alimentá-lo com oxigênio, e também não o comprimimos suficiente para expelir todo o gás carbônico que poderíamos. Sendo assim, é importante que reservemos,no mínimo 20 minutos por dia só para respirarmos conscientemente, o que pode ser feito andando, dirigindo, tomando banho. O importante é a consciência do movimento, como se estivéssemos massageando o pulmão, esse órgão vital responsável por tantas atividades, e que sobrevive, e nos deixa sobreviver, em meio a uma atmosfera poluída e à agitação do dia-a-dia que superficializa a nossa respiração. Cuidando das Emoções Seja gentil consigo mesmo - Trate-se bem, não exija mais do que o seu corpo pode lhe dar. 32