A AVIAÇÃO NOS CONFLITOS ENTRE O EQUADOR E O PERU 1941-1995



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Transcrição:

A AVIAÇÃO NOS CONFLITOS ENTRE O EQUADOR E O PERU 1941-1995 Roberto Portela Bertazzo, Bacharel em História pela UFJF e membro da Sociedade Latino Americana de Historiadores Aeronáuticos (LAAHS). robertobertazzo@hotmail.com As rivalidades entre o Equador e o Peru, remontam à época pré-colombiana, sendo um fato de destaque a disputa de poder no Império Inca, entre Atahualpa (Quito) e Huáscar (Cuzco) no momento da chegada dos conquistadores espanhóis. Na época republicana, houve vários conflitos entre esses dois países andinos, mas, a aviação foi empregada pela primeira vez em 1941, quando o Peru invadiu o território equatoriano de surpresa. Em 1941, o presidente do Peru era Manuel Prado e seu regime, apesar de aparentemente civil, sofria uma forte influencia dos militares que vinham se preparando já faz algum tempo para atacar o Equador. O anterior governante, Marechal Oscar Benavides havia adquirido uma grande quantidade de armamentos, muito modernos para essa época, entre aviões e carros de combate. O PLANO SECRETO PARA ATACAR O EQUADOR foi desenvolvido pela Escuela Superior de Guerra em 1935 e foi anunciado publicamente ao exército em maio de 1940 como La instrucción Preliminar para el estúdio de los elementos de bases para el Plan de Guerra contra el Ecuador. Em 11 de janeiro de 1941 foi escrito o Decreto Supremo de criação do Agrupamento Del Norte para a execução do ataque. Para o ataque ao Equador, o Exército Peruano dispunha de aproximadamente 23.500 homens, que lutaram contra 727 equatorianos. O ataque ao Equador começou no dia cinco de julho de 1941 e o Cuerpo de Aeronautica del Peru estava com seus aviões baseados em Talara e Tumbes com um total de 40 aviões agrupados no XI Esquadrón de Bombardeo, equipado com dezesseis

modernos Caproni Ca310 Libeccio, XII Esquadrón de Caza, com as equadrilhas 41, 42 e 43 equipado com sete North American NA-50 e a 105 Esquadrilha de Transporte, equipada com seis aviões Caproni CA-135 e CA 111. Caproni CA-310 Libeccio, à esquerda e Caproni CA-135, à direita do Cuerpo de Aeronáutica Del Peru. (Crédito das fotos: FAP) No ataque peruano, tropas pára-quedistas foram empregadas pela primeira vez em combate, no Continente Americano. Os pára-quedistas foram lançados desde os Caproni CA 111, que transportavam doze em cada missão. (Isso, poucos meses após o ataque alemão a Creta.) As primeiras missões de combate foram executadas pelos sete caças NA-50 da Esquadrilha 41 no dia seis de julho que apoiou a 1ª División Lijera. No dia sete de Julho, um NA-50 pilotado pelo Capitão Renan Elias foi alcançado pelo fogo equatoriano e caiu em território do Peru. Este avião de matrícula XXI - 41-2 era da Esquadrilha 41 e tinha o nº de Fábrica 952. North Amercan NA-50 do Peru em vôo e preservado hoje na Força Aérea. (Crédito das fotos: FAP) No dia 10 de Julho um CA-135 da Esquadrilha 105 de transporte fez uma aterrissagem forçada a 50 Km da cidade de Piura, no Peru. No dia 23 de Julho de 1941, um avião peruano NA-50 matrícula XXI - 41 3 foi abatido pelo fogo antiaéreo equatoriano sobre a cidade de Huaquillas. Seu piloto o Tenente José Quiñones faleceu. No mesmo dia 23, os bombardeiros Capronni CA-310 do XI Esquadrón de Bombardeo do Peru arrasaram completamente a pequena cidade equatoriana de Santa Rosa. Muitos civis morreram neste ataque.

No dia 25 de Julho, em um combate aeronaval nas águas do rio Jambelí, o grumete artilheiro Eleutério Chalá, tripulante do barco equatoriano Atahualpa abateu um bombardeiro Caproni Ca-310 da Força Aérea Peruana que caiu perto da cidade equatoriana de Balzalito. No dia 31 de julho a Aviação Peruana lançou pára-quedistas sobre a cidade equatoriana de Puerto Bolívar. Os aviões de transporte iam escoltados por caças. Ao ocupar Puerto Bolívar, que estava deserta, as tropas peruanas encontraram vários vagões de trem com armas e munições que haviam sido enviadas desde Quito. A participação da Aviação Equatoriana se limitou a apenas três Curtiss-Wright CW-19R Sparrow de matrícula 50, 51 e 53 que vieram desde Quito e realizaram missões de reconhecimento, observação, transporte de autoridades e de feridos entre Guayaquil, Cuenca, Santa Rosa, o Golfo de Guayaquil e o Arquipélago de Jambeli. Curtiss Wright CW-19 do Equador prontos para emprego. (Crédito das fotos FAE) Em janeiro de 1942, ainda com tropas peruanas ocupando o seu território, o Equador se viu obrigado a assinar um tratado de paz com o Peru, pressionado pelas nações mediadoras do conflito: Argentina, Brasil, Chile e Estados Unidos. O tratado, chamado de Paz, Amistad y Limites foi assinado no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro,durante a Terceira Conferencia de Chanceleres das Américas. Um forte argumento para a assinatura do tratado foi a necessidade de união do continente diante da guerra e o ataque japonês que atingira pouco antes aos Estados Unidos (Pearl Harbor). Como era de se esperar, tal tratado de paz nunca foi bem aceito pelos equatorianos, que o consideraram injusto e seria motivo de outros enfrentamentos no futuro. A GUERRA DE PAQUISHA EM 1981 Entre 22 de janeiro e 5 de fevereiro de 1981, os conflitos se reacenderam. Tudo começou em um destacamento fronteiriço equatoriano chamado Paquisha, que no dia 22 de janeiro foi surpreendido por um helicóptero peruano Mi-8 que tentou aterrissar mas, ao perceber que se tratava de um posto equatoriano se retirou. Depois de algumas horas, os peruanos regressaram com vários helicópteros escoltados por caças Mirage V-P e atacaram o destacamento, ferindo um tenente equatoriano.

As forças peruanas adotavam táticas e equipamentos soviéticos em suas operações, que compreendiam o assalto aerotransportado com helicópteros Mil Mi-8 e Mil Mi-26, apoiados por caças Sukhoi SU-22. Mil Mi-8, acima e Mil Mi 25 Hind, abaixo, da Aviación Del Ejercito del Peru. (Crédito das fotos: FAP) Os Sukhoi, além das atividades primárias de ataque ao solo, cumpriram também missões de reconhecimento aéreo e de inteligência eletrônica. Com pods KHR-1 e pods ELINT Virazh. O posto de Paquisha estava defendido por quatro oficiais e setenta soldados e foi atacado por ar onze vezes entre os dias 31 de janeiro e 2 de fevereiro. Nestes ataques, um helicóptero Mi-8 Matrícula EP-576 do Exército Peruano foi derrubado por fogo de fuzis Fal, no dia 20 de fevereiro, após ingressar em um estreito vale. Um helicóptero da Aviação do Exército Equatoriano, que efetuava uma missão de abastecimento a Paquisha, foi atingido e seu piloto ficou gravemente ferido. Sukhoi SU-22 do Peru. (Crédito da foto: FAP)

No dia primeiro de fevereiro, foram atacados também os destacamentos equatorianos de Mayacu y Machinaza. Entre os dias 4 e 6 de fevereiro foi mobilizada a FAE (Força Aérea Equatoriana) e toda a Frota Civil de Reserva, que contava com os aviões da TAME, Ecuatoriana de Aviación, Saeta e do consórcio CEPE-Texaco. Foram transportados até as zonas de combate 3500 homens, completamente equipados além de material, mantimentos e evacuações médicas. A Força Aérea Peruana realizou 107 missões de combate com helicópteros e aviões que incluíram o uso dos Sukhoi SU-22 e dos Bac Camberra. Com um total de 744 horas de vôo. À esquerda, Boeing 707 da Ecuatoriana usado no transporte de tropas e a direita, bombardeiro Bac Camberra da Força Aérea Peruana. (Créditos das fotos: Roberto Bertazzo e FAP) Diante do conflito, a FAE empregou os Cessna A-37 e os Mirage F-1, deixando os Jaguar dispersados em estradas, como recurso dissuasivo para o caso do agravamento do conflito e da necessidade de se atacar alvos no interior do Peru. Os Cessna A-37 e os Mirage F-1 do Equador voaram 1790 missões de combate, dando cobertura às tropas que se encontravam nos destacamentos atacados. Os Mirage F-1 voavam entre 20.000 e 40.000 pés de altitude, sobre as zonas dos destacamentos na selva amazônica. Um Mirage F-1 pilotado pelo Tenente Coronel Willian Birkett foi atacado por um míssil SAM que foi detectado e evitado com uma manobra evasiva. No dia 22 de janeiro de 1981, os Cessna A-37 equatorianos de matrícula FAE 384 e FAE 381 travaram combate com dois Cessna A-37 peruanos. O A-37 FAE 381 estava tripulado pelo Tenentes Victor Peña e Galo Chico o A-37 FAE 384 era tripulado pelo Capitão Rommel Romo e o Tenente Jorge Gabela. O Tenente Chico alertou por rádio: Boogey às 12, houve um pequeno instante de confusão entre as tripulações e o Tenente Chico falou outra vez: Boogey às 8 então foram localizados os dois A-37 peruanos que voavam um pouco mais altos. Viraram forte em direção aos aviões peruanos e um deles se dirigiu ao FAE 384 que realizava um rol lento para se colocar em posição de disparar. O Capitão Romo disparou todos os foguetes ar-terra e esgotou as munições 7,62 da minigun mas o avião peruano escapou. Enquanto isso, o

avião do Tenente Jorge Peña recebeu um impacto de bala que entrou na parte superior da sua asa esquerda, comprometendo a viga da asa. O avião regressou à base e foi reparado. A única missão de combate executada pelos Sepecat Jaguar do Equador esteve a cargo do Capitão César Naranjo, que realizou um vôo de reconhecimento eletrônico para identificar as transmissões de radar das defesas peruanas. Missão que foi bem sucedida. O cessar Fogo foi alcançado no dia 5 de fevereiro de 1981 em uma reunião da OEA. A GUERRA DO CENEPA EM 1995 No dia 9 de janeiro de 1995, uma patrulha peruana foi capturada em território equatoriano e depois libertada. Em pouco tempo as escaramuças tornaram-se mais freqüentes e os peruanos começaram a empregar helicópteros armados para atacar os postos fronteiriços equatorianos. Mil Mi-17 da companhia equatoriana Helipet, requisitado pelo exército e utilizado durante o conflito do Cenepa. (Crédito da foto: Roberto Bertazzo) No dia 29 de janeiro foi lançado um ataque contra os destacamentos equatorianos de Coangos, Teniente Hugo Ortiz, Etza e as posições da Y e Cueva de los Tayos. Neste dia foi derrubado um Mi-8T do Exército Peruano, matricula AE 587, por um míssil Blowpipe lançado por combatentes do Equador. Jaguar equatoriano no conflito, protegido por canhões antiaéreos. (Crédito da foto: FAE)

No dia primeiro de fevereiro de 1995, um Camberra Mk-68 da Força Aérea Peruana, matrícula FAP-257 caiu próximo ao destacamento equatoriano de Tiwinza ao realizar um bombardeio noturno. Se supões que esta aeronave se chocou com alguma elevação devido ao mau tempo. Os Bac Camberras peruanos atacavam sempre à noite, em grupos de quatro e lançavam cada um seis bombas inglesas MK-17 de 1000 libras. Ao todo, os Camberras peruanos realizaram oito missões de combate com 26 horas de vôo e lançaram 48.000 libras de bombas. No dia 7 de fevereiro, um MI-25 Hind D, da Força Aérea Peruana, Matrícula FAP- 695, foi derrubado por fogo de canhões anti-aéreos de 23mm e 37mm e ainda alcançado por um míssil Blowpipe. Cessna A-37 equatoriano com os tripulantes que regressaram à base após serem atingidos por um míssel. Detalhe dos tripulantes. (Crédito das fotos: Roberto Bertazzo) No dia 10 de fevereiro, a Força Aérea Peruana ordenou um ataque com aviões Sukhoi SU-22 e Cessna A-37 contra as posições equatorianas. No fim do dia, haviam sido perdidos dois Sukhoi SU-22 e um Cessna A-37. Um Cessna A-37 equatoriano foi alcançado por um míssil anti-aéreo mas conseguiu retornar à base. No dia 13 de fevereiro, em Tiwinza, o Tenente equatoriano Byron Borja abateu um Mi-8T da Exército Peruano, matrícula AE-547, com um míssil Blowpipe. No mesmo dia, um Mi-17 matrícula AE-644, foi derrubado em Coangos por outro míssil lançado pelo Tenente Alfonso Gudiño. Depois de trinta e três dias de combates na selva amazônica, as forças peruanas perderam quatro aviões (dois Sukhoi SU-22, um Cessna A-37 e um Bac Camberra Mk- 68) e cinco helicópteros (Um Mil Mi-25 Hind D, dois Mil Mi-17 e dois Mil Mi-8T) e os equatorianos tiveram um Cessna A-37 avariado. Os Sukhoi SU-22 voaram um total de mais de oitenta missões de combate, atacando os destacamentos equatorianos na selva amazônica. Incapaz de estabelecer a superioridade aérea sobre a região em conflito, as forças peruanas tiveram que deter sua ofensiva terrestre e as posições se mantiveram semelhantes a antes do inicio do conflito. Após negociações na ONU, foi estabelecido um cessar-fogo e criada uma zona desmilitarizada na área do vale do Rio Cenepa, com a observação de

militares da Argentina, Brasil, Chile e Estados Unidos. Essa força multinacional se denominou MOMEP (Missão de Observadores Militares Equador-Peru). Durante o período em que atuou a MOMEP, o Exército Brasileiro manteve um destacamento no Equador, apoiado por quatro helicópteros Sikorsky S-70 Black Hawk. Mirage F-1 do Equador à esquerda e restos do Sukhoi SU-22 peruano na selva amazônica. (Crédito das fotos: FAE) Após uma longa negociação, a paz definitiva entre o Equador e o Peru foi acertada em um encontro em Brasília, dos Presidentes do Equador, Jamil Mahuad e do Peru, Alberto Fujimori, tendo como anfitrião o presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. OS COMBATES AÉREOS DE 10 DE FEVEREIRO DE 1995 No dia 10 de Fevereiro de 1995, o objetivo da Força Aérea Equatoriana, era deter as ações da aviação peruana que nos últimos dias vinha atacando intensamente as tropas terrestres do Equador. Foi planificada uma operação conjunta entre os aviões da Ala de Combate 21, os IAI KfirC-2 e Mirage F-1CE. Com este objetivo, os IAI kfir C-2 do Esquadron 2113 e os Mirage F-1 do Equadron 2112 estiveram em alerta todo o tempo, com seus pilotos afivelados aos assentos ejetáveis dos seus aviões. Às 12:42, um alerta de radar informa que cinco aeronaves hostis se dirigem para a zona de conflito, sendo que duas à velocidade de 400 Km/h e três a 300 Km/h. Às 12:49 a Esquadrilla Conejos do Esquadrón 2112 entrou em Scranble (Saída de emergência) com a seguinte tripulação: Major Raúl Banderas (Líder) pilotando o Mirage F1 Matrícula FAE-807 e Capitão Carlos Uscátegui (Ala) pilotando o Mirage F1 Matrícula FAE-806. Às 12:50 decolou a esquadrilha Broncos do Esquadrón 2113 com a seguinte tripulação: Capitão Maurício Mata (Líder), pilotando o Kfir C-2 Matrúla FAE-905 e o Capitão Guido Moya (Ala), pilotando o Kfir C-2 Matrícula FAE-909. Às 12:53 se comunica a Patuca: Ataque aéreo em doze minutos, e se põe a dois Cessna A-37B em alerta de dois minutos. Às 12:55, o COMAC comunica a um Beech T- 34C da FAE: limpie el área. Os Mirages e Kfir recebem ordens para derrubar qualquer avião que esteja na zona.

À esquerda, o Major Banderas descreve o combate travado com os Sukhoi, ao regressar da missão. À direita, O Major Banderas na escada de seu Mirage F-1. (Crédito das fotos: FAE e Roberto Bertazzo) Detalhe da marcação de vitória no Mirage F-1 do Major Banderas, responsável por abater um Sukhoi SU-22 do Peru. (Crédito da foto: Roberto Bertazzo) Esta é a narração dos pilotos equatorianos que participaram dos combates que seguiram: Major Banderas: Às 12:47 recebemos a ordem e imediatamente acionamos os aviões e tomamos pista às 12:49 já estávamos no ar. Aceleramos a 450 nós e depois de um minuto de vôo trocamos a freqüência aciganada à Defesa Aérea. Viramos ao rumo 140 e iniciamos o Ascenso a 30.000 pés. A Defesa Aérea nos informou da presença de alvos a 170 milhas

da nossa posição, com rumo 175. Aproximadamente 4 minutos antes de chegar, recebemos a ordem de descender a 20.000 pés, interceptar e derrubar qualquer aeronave inimiga. Iniciamos a interceptação com o rumo 145 e logo viramos a 170. Ao estabelecer o rumo 140 ao SW de Gualaquiza, observei dois ecos no meu radar a umas 15 milhas com rumo 100 e mais 2000 pés de desnível; notifiquei ao meu ala, quem se abriu em formação de batalha. Tratei de fazer a interceptação de 180 porém os ecos do radar de desengancharam. Então tomei a decisão de dirigirmos para Tiwinza, avistei dois aviões às 11 da nossa posição, a umas 6 ou 7 milhas de distancia, notifiquei ao meu ala e dei a ordem de conectar a pós-combustão, além disso, confirmei a ele a posição dos Boogeys.... Capitão Uscátegui: Quando íamos aproximando à zona do conflito eu tinha uma idéia fixa: ter os botões do armamento quentes e, o outro, manter a posição com respeito ao líder para darmos proteção mútua. Porém, a cada instante, quase obsessivamente, checava mísseis, canhões e máster de armamentos. Chegou o aviso: rumo 060. No momento que tivemos contato visual entramos em formação de ataque com PC... Major Banderas: Descendemos um pouco com 0,95 Mach, enquanto fizemos contato com a esquadrilha Kfir. A umas 4 milhas de distância escutei o apito de meu míssil, indicativo de que estava travado e pronto pra ser disparado. Quando nos encontrávamos a umas 2 milhas de distancia dos alvos, observei em meu detector de radar que estava sendo travado desde às 6 por um radar que não era nem o do avião de meu ala nem dos Kfir. Informei isso ao meu ala e procedi a emitir contramedidas eletrônicas, com isso se destravou a ameaça. Nesse momento identifiquei a dois Boogeys. Tinham grandes tanques de combustível sob as asas. Subindo um pouco, pude ver claramente o naris cortado dos SU-22 e procedi a lançar o meu primeiro míssil desde uma distancia de 1 a 1,5 milhas. O míssil alcançou o avião da direita, que voava ligeiramente atrás com relação ao outro, em uma espécie de fileira de combate um pouco aberta com uma separação de uns 800 metros. Saí para a direita e meu ala ingressou contra o avião da esquerda ao que disparou um míssil, acertando em cheio. Os dois Sukhoi continuaram voando porem soltando fumaça das turbinas, pelo que eu suponho iam muito avariados. Entretanto, uma vez que o meu ala saiu do seu primeiro disparo, eu voltei a ingressar contra o avião da direita, que se encontrava tombando para esse lado em um leve ascenso. Disparei um segundo míssil que pela curva de perseguição que descreveu parecia que não ia alcançar o alvo, porém finalmente fez um impacto direto, produzindo uma grande explosão. Imediatamente saí para a direita com o propósito de abandonar a zona, ao mesmo tempo o meu ala ingressava novamente contra o avião da esquerda ao que lê disparou um segundo míssil que atingiu o alvo, porem não fez uma explosão igual ao primeiro. Enquanto o meu ala saia para a direita, pude observar como o avião que foi atingido por mim caía estolado, envolvido pelas chamas da metade para trás. Também observou que logo da segunda ou terceira volta o piloto de dito avião se ejetou; enquanto isso, o outro avião se distanciava da zona soltando fumaça. Pela noite se confirmou através do Engenheiro Fugimori, Presidente do Peru, que esse avião também não regressou à sua base...

Kfir C-2 do Capitão Mata. (Crédito da foto: Roberto Bertazzo) O Capitão Mata na escada de seu Kfir C-2 e a condecoração dos pilotos Equatorianos pelo Ministro da Defesa, no Estádio Olímpico Atahualpa, em Quito, perante mais de cinqüenta mil pessoas. (Crédito das fotos: Roberto Bertazzo).