FREITAS FILHO, AM; BRANDÃO FILHO, JUT; SANTOS, HS; MELO, AJ; SANTOS, SS. Eficiência de inseticidas no controle da lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) na cultura da alface. 2010. Horticultura Brasileira 28: S623- S628. Eficiência de inseticidas no controle da lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) na cultura da alface. Arleneo Machado de Freitas Filho 1 ; José Usan Torres Brandão Filho 1 ; Humberto Silva Santos 1 ; Anderson José de Melo 1 ; Shalene Silva Santos 1 1 UEM, Av. Colombo, 5790 Depart o de Agronomia, CEP 87.020-900, Maringá PR; jutbfilho@uem.br RESUMO O presente trabalho procurou verificar a eficiência agronômica de diferentes inseticidas aplicados na cultura da alface, visando o controle da lagarta-militar (Spodoptera frugiperda). Adotou-se delineamento em blocos ao acaso com 7 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos foram Metaflumizone 240g L -1 (19,2 e 24,0 g i.a. ha -1 ), Metaflumizone 240 g L -1 + Óleo Mineral 756 g L -1 (19,2; 24,0 e 36,0 g i.a. ha - 1 ), Beta-ciflutrina 125 g L -1 (1,25 g i.a. ha -1 ) e Testemunha (sem aplicação de inseticidas). Realizou-se no total uma pulverização. A eficiência dos inseticidas foi verificada através de 4 avaliações, sendo aos 03, 06, 10 e 14 dias após a aplicação. Nas avaliações realizadas aos três dias após a aplicação dos tratamentos (DAA) não houve diferença estatística entre os tratamentos químicos; aos 10 DAA foi possível verificar diferenças significativas do inseticida Beta-ciflutrina e da dose de 19,2 g 100 L -1 de Metaflumizone em relação aos tratamentos com as doses de 24,0 e 36,0 g 100 L -1 do inseticida Metaflumizone + Óleo Mineral. E, aos 14 DAA verificou-se que as doses de 24,0 e 36,0 g i.a. 100 L -1 do inseticida Metaflumizone + Óleo Mineral superou o desempenho dos demais tratamentos químicos. Em todas as avaliações, ainda, os valores verificados nas amostras realizadas nas parcelas tratadas foram significativamente inferiores ao ataque quantificado na testemunha não pulverizada, ou seja, todos os tratamentos químicos apresentaram expressiva redução da infestação da praga. Portanto, a eficiência agronômica do inseticida Metaflumizone nas maiores doses, mostrou-se uma boa opção dentro do manejo de controle da praga na cultura da alface, o que assegurou a integridade das plantas e, consequentemente, reduziu os riscos de perdas quantitativas e qualitativas na produção. Palavras-chave: Lactuca sativa, fitossanidade, inseticidas. ABSTRACT Efficiency of insecticides to control the caterpillar-military (Spodoptera frugiperda) on lettuce. This paper examined the agronomic effectiveness of different insecticides on lettuce, aiming to control the military caterpillar (Spodoptera frugiperda). It was adopted a randomized block design with seven treatments and four replications. The treatments were metaflumizone 240g L -1 (19.2 and 24.0 g ai ha -1 ), metaflumizone 240 g L -1 + mineral oil 756 g L -1 (19.2, 24.0 and 36.0 g ai ha -1 ), beta-cyfluthrin 125 g L -1 (1.25 g ai ha -1 ) and control (without insecticide application). It was conducted at a total spray. The efficiency of insecticides was verified by four ratings, with the 03, 06, 10 and 14 days after application. In evaluations, performed three days after application (DAA) there was no statistical difference between the chemical Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 623
treatments; 10 DAA was possible to verify significant differences in the Beta-cyfluthrin insecticide and dose of 19.2 g 100 L -1 metaflumizone compared to treatments with doses of 24.0 and 36.0 g 100 L -1 Pesticide metaflumizone + Mineral Oil. And, at 14 DAA was found that doses of 24.0 and 36.0 g ai 100 L -1 of the insecticide metaflumizone + Mineral Oil outperformed the other treatments. In all assessments, although the values observed in samples taken in the treated plots were significantly lower than the measured attack on the witness not sprayed, ie, all chemical treatments showed significant reduction of pest infestation. Therefore, the agronomic effectiveness of the insecticide metaflumizone the highest levels, proved to be a good option in the management of pest control in lettuce, which ensured the integrity of the plants and thus reduced the risk of loss in quantitative and qualitative production. Keywords: Lactuca sativa, plant protection, insecticides. A cultura da alface, devido à perecibilidade do produto e demanda contínua, exige que o cultivo seja feito durante o ano todo. Entretanto, a produção e a qualidade do produto tem sido instável, em função de condições climáticas e sanitárias adversas, o que afeta o abastecimento e a fidelidade da clientela do produtor. As lagartas desfolhadoras são consideradas pragas secundárias na cultura da alface e sua ocorrência esporádica geralmente está relacionada à proximidade com cultura hospedeiras como o milho, por exemplo, e à ausência de controle químico preventivo de pragas transmissoras de viroses. Dentre estas lagartas destaca-se a lagarta-militar, Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae), cujas mariposas apresenta coloração cinzaescura e medem 3,5 a 4,0 cm de envergadura. A oviposição é realizada nas folhas, em grupos de 50 a 300 ovos, podendo chegar a um total de 1.000 ovos por fêmea. O período de duração das fases de ovo, larva, pupa e adulta é em torno de três, 25, 11 e 12 dias, respectivamente. As lagartas possuem três pares de pernas toráxicas e cinco de falsas pernas abdominais. Inicialmente são verdes, com a cabeça escura. Quando maiores apresentam coloração geral que varia do cinza-esverdeado ao quase preto, com listras longitudinais claras e escuras. O período de desenvolvimento é de quatro a cinco semanas e o período larval, de três a quatro semanas, dependendo da temperatura. O estádio de pupa ocorre no solo ou sob restos culturais. A infestação da lagarta militar decorre de posturas feitas na própria alface, por lagartas já presentes na área por ocasião do plantio ou por lagartas migrantes. Em qualquer dos casos, o ataque se dá em focos, a partir dos quais a infestação se alastra progressivamente na lavoura. Alimentam-se durante o período noturno e, no período diurno somente em dias nublados. Passam a maior parte do tempo, escondidas sob as folhas da saia das plantas. Os maiores danos advêm de ataques às plantas ainda jovens, quando, além da destruição da área foliar, podem afetar a população de plantas. Em algumas manchas da lavoura o dano pode ser total. Quanto ao controle, o método mais utilizado é o uso de inseticidas em pulverizações sobre os focos iniciais de infestação. Os inseticidas de ação mais específica para a praga devem ser os preferidos. A eficiência do controle tem sido dependente da correta identificação da praga, do momento correto da aplicação, da eficiência do produto, do emprego de doses apropriadas e da tecnologia de aplicação. Recomenda-se que o monitoramento desta praga deve ser iniciado logo após o transplante das mudas e aplicação de inseticida deve começar quando 20% das plantas estiverem atacadas por lagartas de pequeno tamanho (GALLO et al, 2002). Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 624
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de diferentes inseticidas, visando o controle da lagarta-militar (Spodoptera frugiperda), na cultura da alface. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em área de produção de alface no município de Cianorte, Estado do Paraná, no período de fevereiro a abril de 2010. O solo da área foi classificado como Latossolo Vermelho, textura arenosa, o qual foi preparado previamente por meio de revolvimentos e encanteiramento com rotoencanteirador. Nesta ocasião, previamente ao plantio, foi realizada a adubação de plantio utilizando-se 1,0 Kg de esterco de galinha e 100 g do adubo formulado 04-14-08 por m ². Utilizou-se mudas de alface, cv. Lucy Brown, produzidas em bandejas de 200 células contendo substrato Plantmax. A semeadura foi feita em 13/02/10 e o transplante em 15/03/ 10 para os canteiros adotando-se o espaçamento de 0,35 x 0,35 m. As técnicas de condução foram as usuais em cultivos comerciais de alface, ou seja, adubação de cobertura (100 Kg de nitrogênio por hectare dividido em três aplicações com intervalo semanal), controle manual de plantas daninhas e irrigação por aspersão. Não foram feitas aplicações de outros inseticidas e fungicidas além dos tratamentos experimentais. O delineamento estatístico experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com sete tratamentos e quatro repetições. Cada parcela foi constituída por uma área de 5,88 m 2 (4,20 m de comprimento x 1,40 m de largura), ou seja, com quatro linhas de plantio de 4,2 m de comprimento. Para as avaliações foram consideradas as duas linhas centrais, desprezandose as bordaduras, ou seja, foram avaliadas 20 plantas por parcela. Os tratamentos submetidos à avaliação tiveram como alvo biológico a lagarta-militar (Spodoptera frugiperda), cujos ingredientes ativos e doses estão relacionados na Tabela 1; sendo que o tratamento testemunha correspondeu às parcelas não pulverizadas. Foi realizada uma pulverização, com cada um dos respectivos tratamentos experimentais, no dia 03/04/10, aos 19 DAT (Dias Após o Transplante), quando a cultura encontrava-se em pleno desenvolvimento vegetativo e com infestação inicial da praga. Para as aplicações foi utilizado um pulverizador costal pressurizado à base de CO, equipado 2 com bico cônico D2-13, calibrado para pressão constante de 35 PSI, o que permitiu uma vazão de 300 L de calda inseticida por hectare. Foram realizadas no total cinco avaliações, visando quantificar o nível populacional da lagarta, sendo a primeira (avaliação prévia) momentos antes da pulverização, no dia 03/ 04/10. As demais aconteceram nos dias 06/04/10, 09/04/10, 13/04/10 e 17/04/10, respectivamente, aos 03, 06, 10 e 14 dias após a aplicação (DAA). Para as avaliações, adotou-se como metodologia, a contagem do número de plantas na unidade experimental apresentando sinais de ataque e confirmação da presença de lagartas vivas. Para efeito de cálculos e de análise estatística, considerou-se a percentagem de plantas atacadas com presença de lagartas vivas. A média aritmética das quatro repetições expressou o nível de ataque em cada tratamento estudado. Os resultados foram submetidos à análise de variância. Os dados originais foram transformados de acordo com a recomendação do teste de homocedasticidade (Box & Cox, Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 625
1964) e, em seguida, as médias foram comparadas entre si por meio do teste de Tukey, em nível de 5% de probabilidade, de acordo com Canteri et al. (2001). As porcentagens de eficiência dos inseticidas testados foram calculadas pela fórmula de Abbott, de acordo com Nakano et al. (1981), sendo considerados eficazes os tratamentos que superaram os 80%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Por ocasião das avaliações não foram observados sintomas visuais de fitotoxicidade nas plantas ou qualquer anormalidade atribuível aos tratamentos experimentais, a fatores nutricionais, climáticos ou ao manejo da cultura. Os resultados quantificados no experimento estão apresentados na Tabela 1 e correspondem à percentagem de plantas atacadas com presença de lagartas vivas. O coeficiente de variação e a ausência de diferenças significativas verificadas entre o número de indivíduos quantificados na avaliação prévia mostraram que a praga encontrava-se uniformemente distribuída na área experimental. Apurou-se, ainda, uma infestação inicial, cujas médias variaram de 22,50% a 32,50% de plantas atacadas. Portanto, tal uniformidade e intensidade de ataque foram consideradas suficientes para, nas avaliações posteriores à aplicação dos tratamentos, permitirem a verificação de relação de causalidade entre os tratamentos experimentais e os níveis de ataque, ou seja, entre a ação de doses e produtos químicos (causa) e o controle proporcionado por eles (efeito). Nas avaliações realizadas aos três dias após a aplicação dos tratamentos (DAA) não houve diferença estatística entre os tratamentos químicos; aos 10 DAA foi possível verificar diferenças significativas do inseticida Beta-ciflutrina e da dose de 19,2 g 100 L -1 de Metaflumizone em relação aos tratamentos com as doses de 24,0 e 36,0 g 100 L -1 do inseticida Metaflumizone + Óleo Mineral. E, aos 14 DAA verificou-se que as doses de 24,0 e 36,0 g i.a. 100 L -1 do inseticida Metaflumizone + Óleo Mineral superou o desempenho dos demais tratamentos químicos. Em todas as avaliações, ainda, os valores verificados nas amostras realizadas nas parcelas tratadas foram significativamente inferiores ao ataque quantificado na testemunha não pulverizada, ou seja, todos os tratamentos químicos apresentaram expressiva redução da infestação da praga. Portanto, a eficiência agronômica do inseticida Metaflumizone nas maiores doses, mostrou-se uma boa opção dentro do manejo de controle da praga na cultura da alface, o que assegurou a integridade das plantas e, consequentemente, reduziu os riscos de perdas quantitativas e qualitativas na produção. REFERÊNCIAS BOX, G. E. P.; COX, D. R. An analysis of transformation. Journal of the Royal Statistical Society, B. London, v. 26, p. 211-243, 1964. CANTERI, M. G.; ALTHAUS, R. A.; VIRGENS FILHO, J. S.; GIGLIOTI, E. A.; GODOY, C. V. SASM Agri : Sistema para análise e separação de médias em experimentos agrícolas pelos métodos Scott-Knott, Tukey e Duncan. Revista Brasileira de Agrocomputação, v. 1, n. 2, p. 18-24. 2001. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 626
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R. P. L.; BAPTISTA, G. C. de; BERTI FILHO, E.; PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; ALVES, S. B.; VENDRAMIN, J. D. X.; MARCHINI, L. C.; LOPES, J. R. S.; OMOTO, C. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002, 920p. NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; ZUCCHI, R.A. Entomologia Econômica. São Paulo: Livroceres, 1981, 314p. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 627
Tabela 1. Porcentagem de plantas atacadas e com presença de lagartas vivas (M) dos tratamentos com diferentes doses e inseticidas visando o controle da lagarta-militar, Spodoptera frugiperda.[percentage of plants attacked and presence of larval (M) treatments with different doses and insecticides for the control of the military-caterpillar, Spodoptera frugiperda] Cianorte, 2010. Avaliações (dias após a aplicação) Tratamentos Doses Avaliação 2 a Av. - 3 DAA 3 a Av. - 6 DAA 4 a Av. -10 DAA 5 a Av. - 14 DAA (Ingredientes ativos) (i.a. 100 L -1 ) 2 Prévia 06/abr 09/abr 13/abr 17/abr M* M 1 % Ef. 2 M % Ef. M % Ef. M % Ef. 1- Testemunha - 25 a 42,5 a - 67,5 a - 80 a - 92,5 a - 2- Metaflumizone (240 g L -1 ) 19,2 g 22,5 a 5 b 88,2 10 bc 85,2 17,5 b 78,1 30 b 67,6 3- Metaflumizone (240 g L -1 ) 24,0 g 25 a 2,5 b 94,1 5 b 92,6 15 bc 81,3 27,5 b 70,3 4- Metaflumizone (240 g L -1 ) 19,2 g 32,5 a 2,5 b 94,1 7,5 b 88,9 15 bc 81,3 25 b 73,0 + Óleo Mineral (756 g L -1 ) 5- Metaflumizone (240 g L -1 ) 24,0 g 27,5 a 2,5 b 94,1 2,5 c 96,3 12,5 c 84,4 17,5 c 81,1 + Óleo Mineral (756 g L -1 ) 6- Metaflumizone (240 g L -1 ) 36,0 g 25 a 0 b 100,0 2,5 c 96,3 10 c 87,6 15 c 83,8 + Óleo Mineral (756 g L -1 ) 7- Beta-ciflutrina (125 g L -1 ) 1,25 g 30 a 7,5 b 82,4 12,5 bc 81,5 20 b 75,0 35 b 62,2 C.V. (%) - 27,31 18,11-16,36-20,19-23,43-1/ 2/ Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo teste de Tukey, em nível de 5% de significância.[means followed by the same letter in columns do not differ by Tukey test at 5% level of significance.] Porcentagens de eficiência, calculadas de acordo com a fórmula de Abbott. [Percentages of efficiency, calculated according to Abbott formula.] Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 628