I-072- FILTRAÇÃO DIRETA DESCENDENTE, SEGUIDA DE COLUNA DE CARVÃO ATIVADO GRANULADO, NA REMOÇÃO DE FERRO EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS



Documentos relacionados
Coagulação ST 502 ST 503. Discentes: : Alyson Ribeiro Daniel Morales Denise Manfio Jenifer Silva Paula Dell Ducas Wander Zapata

TRATAMENTO DA ÁGUA PARA GERADORES DE VAPOR

TRATAMENTO DA ÁGUA. Professora: Raquel Malta Química 3ª série - Ensino Médio

UD 02: Tratamento de água

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

Tratamento de Água. Numa estação de tratamento de água, o processo ocorre em etapas:

Capítulo I Água potável, mineral e de mesa

Saneamento I Tratamento de água. Eduardo Cohim edcohim@gmail.com

Parâmetros de qualidade da água. Variáveis Físicas Variáveis Químicas Variáveis Microbiológicas Variáveis Hidrobiológicas Variáveis Ecotoxicológicas

São partículas que atravessam o filtro, mas não são dissolvidas

Reações a altas temperaturas. Diagrama de Equilíbrio

Gerenciamento e Tratamento de Águas Residuárias - GTAR

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO COAGULANTE SULFATO FÉRRICO,EM DIFERENTES TEMPERATURAS. Abner Figueiredo Neto Fernanda Posch Rios Paulo Sérgio Scalize

TÓPICOS IMPORTANTES SOBRE FILTRAÇÃO RÁPIDA DESCENDENTE APLICADA AO TRATAMENTO DE ÁGUA POTÁVEL

ESTAÇÃO TRATAMENTO DE ÁGUA - ETA

Após passar pela unidade de recepção a água bruta segue para a etapa de Coagulação/Floculação, na qual recebe a adição de um agente coagulante.

Estudo com tratamento de água para abastecimento PIBIC/

TRATAMENTO ÁGUA PEQUENAS COMUNIDADES CÂMARA TÉCNICA DE SANEAMENTO-CBHLN ABRIL-2OO9

SISTEMAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS. Engº Ricardo de Gouveia

Dutos Química Ltda Informativo eletrônico *.pdf

O que é filtragem? Técnicas de filtragem para irrigação. Porque utilizar a filtragem? Distribuição das partículas sólidas

T R A T A M E N T O D E Á G U A

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS PARA O TRATAMENTO DOS EFLUENTES DO TRANSPORTE HIDRÁULICO DAS CINZAS PESADAS DA USINA TERMELÉTRICA CHARQUEADAS

Guia Prá)co para Tratamento de Piscinas

PROVA DE QUÍMICA Segunda Etapa

Tratamento de água para indústria de refrigerantes

GLOSSÁRIO MICROBIOLÓGICOS FÍSICO-QUÍMICOS PARÂMETROS PARÂMETROS

HIDROPONIA Qualidade da água. Prof. Dr. Osmar Souza dos Santos UFSM

QUÍMICA QUESTÃO 41 QUESTÃO 42

Lista de Exercícios 4 Indústrias Químicas Resolução pelo Monitor: Rodrigo Papai de Souza

Os constituintes do solo

CORROSÃO EM ESTRUTURAS DE CONCRETO. Prof. Ruy Alexandre Generoso

Tratamento de Água para Abastecimento

MANUAL DE INSTALAÇÃO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO MS ETE RA SISTEMA DE TRATAMENTO E REÚSO DE ÁGUA DE LAVAGEM DE VEÍCULOS PESADOS.

AEROTEC SANEAMENTO BÁSICO LTDA.

ANÁLISE DE ALCALINIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE - CAMPUS CAMBORIÚ.

NOVA AMBI SERVIÇOS ANALÍTICOS LTDA.

SOCIEDADE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E SANEAMENTO S/A

PROPRIEDADES DA MATÉRIA

CET 303 Química Aplicada. Relatório: Visita técnica Estação de tratamento de água ETA 3 Capim Fino, em Piracicaba. Data da visita:

Quando juntamos duas espécies químicas diferentes e, não houver reação química entre elas, isto é, não houver formação de nova(s) espécie(s), teremos

PROCESSOS E TÉCNICAS DE TRATAMENTO DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO. Prof. Jair Casagrande UFES/CT/DEA

Saneamento Ambiental I. Aula 13 Coagulação e Floculação

ELETRO FLOCULAÇÃO Um caminho até a purificação 1. Laiza Delfino 2. Larissa Marinho das Neves 2. Sheila Caroline 2. Victor Rodrigues Coelho 2

Água e Solução Tampão

Processamento de materiais cerâmicos + H 2 O. Ivone

O interesse da Química é analisar as...

MECANISMOS DA CORROSÃO. Professor Ruy Alexandre Generoso

INSTALAÇÃO DE UNIDADES DE DESFLUORETAÇÃO PARA AS ÁGUAS DE CAPTAÇÃO SUBTERRÂNEA NAS LOCALIDADES SANTA MARIA E TIBAGÍ DAE SÃO CAETANO DO SUL

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA TURBIDEZ E COR DECLINANTES SOBRE A COAGULAÇÃO DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO NO MECANISMO DE ADSORÇÃO- NEUTRALIZAÇÃO DE CARGAS

Reacções de precipitação

SEPARAÇÃO DE MISTURAS HETEROGÊNEAS. (Processos mecânicos de separação) Sistema sólido - sólido

NÍVEIS DE TRATAMENTO DE ESGOTO

P2 - PROVA DE QUÍMICA GERAL - 11/10/08

PROCESSOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS. 1- quais os métodos mais indicados para separa os componentes das misturas abaixo:

SUBSTÂNCIAS E MISTURAS. Professor: Antonio Sorrentino

MANEJO DO CICLO DO ph PARA MANTER A SAÚDE ANIMAL SUMÁRIO:

ANO LETIVO 2013/2014 PROVAS DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PARA CANDIDATOS MAIORES DE 23 ANOS EXAME DE QUÍMICA CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

CLEARPOINT. A Qualidade do Ar Comprimido

ÁGUA REAGENTE NO LABORATÓRIO CLÍNICO

Propriedades do Concreto

REUSO DE ÁGUA A PARTIR DE EFLUENTE TRATADO TÉCNICAS E INOVAÇÕES

Petróleo e Meio Ambiente

SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto. Sistemas de Tratamento de Água

Oxidação + remoção por precipitação química

Tratamento de Água Meio Ambiente

TECNOLOGIA DOS MATERIAIS

Separação de Misturas II Parte

Reuso macroexterno: reuso de efluentes provenientes de estações de tratamento administradas por concessionárias ou de outra indústria;

- A velocidade da reação direta (V1) é igual à velocidade da reação inversa (V2) V 1 = V 2

PIROMETALURGIA. Prof. Carlos Falcão Jr.

Química SUBSTÂNCIAS, MISTURAS E PROCESSO DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DE TRÊS DIFERENTES COAGULANTES NA REMOÇÃO DA TURBIDEZ DE ÁGUA DE MANANCIAL DE ABASTECIMENTO

SISTEMA DE LODOS ATIVADOS SISTEMA DE LODOS ATIVADOS SISTEMA DE LODOS ATIVADOS SISTEMA DE LODOS ATIVADOS

SISTEMA DE TRATAMENTO DE ÁGUA DE FULIGEM

SUMARIO 1 INTRODUÇÃO, 1

a) Qual a configuração eletrônica do cátion do alumínio isoeletrônico ao gás nobre neônio?

Filtros T e ROTOFILTERS

Resolução: 0,86ºC. x = 0,5 mol etanol/kg acetona. 0,5 mol 1000 g de acetona. 200 g de acetona. y = 0,1 mol de etanol. 1 mol de etanol (C 2 H 6 O) 46 g

III ENCONTRO TÉCNICO PONTA DELGADA. 19 de Maio de 2000 TOMO II

Tecnologia EM no Tratamento de Águas e Efluentes

Universidade Federal de Ouro Preto Escola de Minas Departamento de Engenharia Civil CIV 640 Saneamento Urbano

Propriedades da matéria e mudanças de estado físico

Analisar e aplicar os princípios da extração sólido-líquido e líquido-líquido na separação e purificação de produtos.

II-109 PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTE DE EMBALAGENS METÁLICAS UTILIZANDO REATOR DE BATELADA SEQUENCIAL (RBS) PARA REMOÇÃO DA DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO

O processo de tratamento da ETE-CARIOBA é composto das seguintes unidades principais:

MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA EM CALDEIRAS

Escavadeira Hidráulica, LIEBHERR modelo 944 e/ou CATERPILLAR modelo CAT330, com motor a diesel, sobre esteira, adaptada com braço preparado para

Química. Resolução das atividades complementares. Q50 Forças intermoleculares

A limpeza de pisos de mármore normalmente é feita com solução de ácido clorídrico comercial (ácido muriático).

TÍTULO: ESTUDOS SOBRE O TRATAMENTO DA ÁGUA UTILIZANDO COMO COAGULANTES AS CASCAS ABÓBORA, BANANA, CHUCHU E MORINGA.

LODOS ATIVADOS. Profa. Margarita María Dueñas O.

Depuração das aguas residuais provenientes da plantas de tratamento das superficies. Gianfranco Verona

CATÁLOGO Aquah Cisternas Verticais PLUVIAIS E POTÁVEIS

Helena Campos (Engenharia Química)

3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL

PROPRIEDADES DOS MATERIAIS QUÍMICA GERAL

ETAPAS DE UM TRATAMENTO DE EFLUENTE

REMOÇÃO DE COR EM COLUNAS DE CARVÃO ATIVADO GRANULAR COMO POLIMENTO DE EFLUENTE DE INSTALAÇÃO FiME, EM FUNÇÃO DA TAXA DE APLICAÇÃO.

Química Geral 3º ANO

Transcrição:

I-072- FILTRAÇÃO DIRETA DESCENDENTE, SEGUIDA DE COLUNA DE CARVÃO ATIVADO GRANULADO, NA REMOÇÃO DE FERRO EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS D artagnam Gomes Nascimento Filho (1) Técnico em Saneamento pelo SENAI/PARANÁ(1989). Técnico da unidade de tratamento e controle de qualidade de água da Unidade de Negócio de Feira de Santana / EMBASA. Endereço (1) : Conjunto João Paulo II, rua L, casa 90, Mangabeira, Feira de Santana - BA, CEP 44.034-470 Brasil Tel.: (75) 623-2633 ; Cel. : (75) 9132 9130 Fax. : (75) 221 3821 e mail : dartagnam@gd.com.br / dartagnam1@hotmail.com RESUMO No Brasil muitas regiões convivem com excesso de ferro nas águas subterrâneas, particularmente aquelas captadas em terrenos antigos e aluviões, o ferro é encontrado com maior freqüência sob a forma de bicarbonato ferroso dissolvido, em águas que devido à ação de filtração lenta através das camadas permeáveis do solo, apresentam-se com baixos teores de cor e turbidez, agressivas (ph baixo), ricas em gás carbônico e com baixo oxigênio dissolvido. As águas contendo ferro dissolvido na forma de bicarbonato ferroso na ausência de oxigênio são límpidas e de aparência agradável, após contato com o ar, o bicarbonato oxida-se e precipita-se, ocasionando o mau aspecto, conferindo coloração avermelhada à água e outros inconvenientes (sabor "metálico", possibilita ainda o desenvolvimento de bactérias ferruginosas). Como na maioria das vezes o ferro esta presente junto com a matéria orgânica, as águas, em geral, não dispensam o tratamento químico e a filtração. Neste contesto a oxidação com cloro e a filtração direta descendente seguida de coluna de Carvão Ativado Granulado ( CAG ) apresenta-se como alternativa técnica e economicamente viável para adequação destas águas, com teores de ferro da ordem de 1,0 a 4,5 mg / l Fe. Os testes até então realizados demonstram a eficiência do leito misto areia e CAG para remoção dos compostos indesejáveis gerados pela oxidação com o cloro, sendo necessário o acompanhamento do processo para identificar o ponto de saturação do CAG, os residuais de ferro ( na forma de hidróxido férrico ) são removidos com eficiência da ordem de 80 a 90 % da concentração afluente. Neste trabalho são apresentados dados e resultados conclusivos que evidenciam a potencialidade do processo de remoção de ferro, fruto da experiência da implantação de 06 unidades que encontram-se em plena operação atestando a eficiência e eficácia da técnica. PALAVRAS-CHAVE: Filtração direta descendente, Remoção de ferro, Carvão Ativado Granulado. INTRODUÇÃO O caminho seguido pelas águas na natureza condiciona as impurezas que elas adquirem segundo Plínius - Tales sunt aque, qualis terra per quan fluunt ( tais são as águas, quais caminhos percola, com sentido de qualificação, ou seja, a qualidade é função de seu percurso, já que é solvente universal ). O ferro e o manganês são constituintes naturais do solo e das rochas. O ferro um dos elementos mais abundantes é encontrado com muito mais freqüência que o manganês. O ferro se encontra nos minerais de silicatos das rochas ígneas, sob forma de diversos óxidos, tais como a magnetita, a hematita e a limonita. Os minerais sulfurados e carbonatados também são fontes importantes de ferro, tais como a pirita e a siderita, o manganês se encontra em maiores proporções nas rochas metamórficas e sedimentares, os óxidos de manganês tais como a manganita e a pirolusita, se acumulam nos solos à medida que os constituintes mais solúveis se separam por lixiviação. A dissolução dos minerais de ferro e manganês é atribuída à ação do dióxido de carbono nas águas subterrâneas, a maior parte deste dióxido de carbono se forma pela decomposição bacteriana da matéria orgânica extraída do solo, a dissolução desses minerais pode ocorrer em condições anóxicas e na presença de agentes redutores ABES Trabalhos Técnicos 1

(como, substancias orgânicas e sulfeto de hidrogênio) capazes de reduzir os compostos oxidados de ferro e manganês aos estados ferroso (Fe 2+ ) e manganoso (Mn 2+ ). A maioria das águas naturais possui uma quantidade significativa de alcalinidade, isto é, possui carbonatos e bicarbonatos, o que faz com que a faixa de valores de ph varie entre 5,0 e 9,5. As concentrações de ferro e manganês solúveis contidas nessas águas são freqüentemente controladas pela solubilidade de seus carbonatos. Como a alcalinidade da maioria das águas naturais é devida, principalmente, ao sistema ácido carbônico existe uma relação inversamente proporcional entre a alcalinidade e a concentração de ferro solúvel na água. Quando expostos ao ar, as formas reduzidas de ferro e manganês (Fe 2+ e Mn 2+ respectivamente ) vagarosamente se transformam na forma insolúvel (Fe 3+ e Mn 4+ ) e visível pela oxidação, em águas com oxigênio dissolvido, Fe 3+ e Mn 4+ são os únicos estados de oxidação estáveis para o ferro e o manganês, as formas químicas associadas a essas duas espécies são altamente insolúveis. A taxa de oxidação de compostos solúveis de ferro e manganês em águas depende do valor do ph, da alcalinidade, da temperatura, do teor de matéria orgânica, do tipo e concentração do oxidante e do grau de dispersão do oxidante na água. A oxidação do Fe 2+ na ausência de matéria orgânica resulta em velocidades de oxidação extremamente altas, já quando este encontra-se complexado com carbono orgânico dissolvido (Matéria Orgânica) esta velocidade é acentuadamente diminuída, o Fe 2+ complexado por ácidos fúlvicos, pode ser oxidado pelo cloro, desde que haja tempo de contato (>1 h) e uma dosagem de oxidante (cloro) superior aquela requerida estequiometricamente. Para soluções de ferro reduzido contendo ácidos húmicos e fúlvicos, dosagens adicionais de oxidante devem ser aplicadas para satisfazer a demanda competitiva exercida pela matéria orgânica. Haja vista que a cinética das reações de oxidação sofrem influencia de inúmeros fatores de difícil parametrização, a garantia de uma dispersão eficiente do oxidante na massa liquida torna-se fundamental ( algumas dessas reações processam-se em 0,1 s). OXIDAÇÃO DO FERRO PELO CLORO Na tabela 1, são apresentados, resumidamente, dados relativos à estequiometria das reações de oxidação de ferro e manganês quando o cloro é utilizado como oxidante. Tabela 1: Quantidade de oxidante necessária, estequiometricamente, para oxidação de 1 mg de ferro ou de manganês. (fonte DI BERNARDO, 1993 adaptado) Relação estequiométrica (mg de oxidante para Tipo de reação remover 1 mg de ferro ou de manganês) Ferro Manganês Oxidação de ferro (II) ou manganês (II) com cloro Cloro requerido (Cl 2 ) Íons hidrogênio produzidos (H + ) Alcalinidade consumida ( CaCO 3 ) 0,64 0,05 2,70 1,29 0,07 3,64 O cloro foi o agente oxidante empregado no processo, na forma de hipoclorito de cálcio (Ca(OCl) 2 ). Quando o cloro é adicionado em água, tem-se : Cl 2 + H 2 O HOCl + H + + Cl - equação (1) O ácido hipocloroso dissocia se instantaneamente em função do ph do meio: HOCl H + + OCl - equação (2) 2 ABES Trabalhos Técnicos

A reação de oxidação do ferro pelo cloro pode ser expressa : 2Fe +2 + 3HOCl + 3H 2 O 2Fe(OH) 3 + 3Cl - + 3H + equação (3) O Fe(OH) 3 por sua vez se hidrolisa segundo : Fe(OH) 3 Fe +3 + 3OH - Fe 2 O 3. n. H 2 O equação (4) COAGULAÇÃO DI BERNARDO (1993) explicita que a coagulação, geralmente realizada por sais de alumínio e ferro, resulta de dois fenômenos, o primeiro, essencialmente químico, consiste nas reações do coagulante com a água e na formação de espécies hidrolisadas dotadas de cargas positivas, que depende da concentração do coagulante e ph final da mistura. O segundo fenômeno, fundamentalmente físico, consiste no mecanismo de transporte das espécies hidrolisadas para que realizem contato com as partículas presentes na água. O processo é muito rápido variando desde décimos de segundo a cerca de 100 segundos, dependendo das demais características da massa de água ( ph, temperatura, quantidade de impurezas, etc. ). No caso do processo de coagulação por adsorção-neutralização, as substâncias húmicas preferencialmente são removidas através de sua precipitação com espécies hidrolisada de ferro. O mecanismo de adsorçãoneutralização de cargas é muito importante quando o tratamento é realizado através da filtração direta, pois não há necessidade da produção de flocos para posterior sedimentação, mas, de partículas desestabilizadas que serão retidas no meio filtrante. Os hidróxidos gelatinosos de Fe(OH) 3 por serem formados de partículas muito pequenas, possuem superfícies específicas muito grandes, daí o fenômeno de adsorção ser muito forte e contribuir para o arraste de grande quantidade de impurezas. A carga elétrica das suas superfícies depende do ph do meio. O coagulante utilizado foi cloreto férrico, para elevação da eficiência do processo o ph foi mantido na faixa de 7,5 a 8,5, com aplicação de hidróxido de sódio em solução (na pré-alcalinização e correção do ph), aplicado com dosadora eletromagnética, a alcalinidade da água bruta foi acompanhada e igualmente corrigida, de modo a atender a relação de 2,5 a 3,0 mg/l CaCO 3 para cada mg/l de ferro a ser removido, polímero não iônico FLOERGER ( SNF ) na dosagem de polímero 0,01 mg / l, o tratamento vem sendo feito com dosagem de cloreto férrico de 8 a 10 mg / l. MISTURA RÁPIDA Segundo AMIRTHARAJAH (1989) as reações que precedem a coagulação pela adsorção-desestabilização são extremamente rápidas e ocorrem em frações de segundo. Para esse mecanismo de coagulação, AMIRTHARAJAH considera imperativo que o coagulante seja disperso no fluxo de água bruta tão rapidamente quanto possível, pois os produtos de hidrolise, que causam a desestabilização dos colóides, se desenvolvem num tempo de 0,01 a 1 s. De modo a elevar a eficiência do processo de oxidação e coagulação por neutralização de cargas a aplicação do oxidante (hipoclorito de cálcio) e do coagulante (cloreto férrico) foram feitas em condições satisfatórias de homogeneidade e mistura com a massa liquida, obtida com a elevação do gradiente de velocidade no ponto de aplicação mediante a Utilização de um filtro tipo vórtice, que utiliza a força centrifuga para fazer a separação sólido - líquido, alem de dispor de uma tela em 100 micra que faz a filtração grosseira. ABES Trabalhos Técnicos 3

FOTO 1 misturador hidráulico tipo filtro Vu Flow Fluxo Ventosa Misturador Ponto para amostragem Descarga UNIDADE DE FILTRAÇÃO DIRETA DESCENDENTE A retenção de partículas em meio poroso efetua-se por intermédio da conjunção dos mecanismos de transporte e aderência. A prevalência de um ou outro mecanismo é função das características do afluente e dos grãos que constituem o meio poroso. As menores dimensões dos poros de um leito de areia são da ordem de 500 µm, enquanto os flocos apresentam dimensões de 0,1 a 30 µm. Para as partículas de menores dimensões, que não são retidas pela ação de coar do leito filtrante, a sedimentação, a interceptação e a difusão constituem os principais mecanismos de transporte responsáveis pela eficiência da filtração. Nesta vertente, o emprego de auxiliares de coagulação, neste trabalho como já fora relatado utilizamos um polímero não iônico, algumas literaturas referem-se a utilização de polímeros catiônicos, concorre para a formação de flocos mais resistentes ao cisalhamento, possibilitando a sedimentação de partículas nos canalículos formados nos interstícios do leito filtrante e carreiras de filtração mais longas, decorrente da maior penetração de flocos nas camadas inferiores do leito filtrante. Aliado aos mecanismos de transporte, a remoção das partículas suspensas efetua-se também por aderência aos grãos do leito filtrante ou às próprias partículas desestabilizadas anteriormente depositadas sobre os mesmos. Uma vez que as forças de repulsão são minimizadas pela ação do coagulante, a colisão das partículas desestabilizadas com os grãos recobertos ou não pode permitir a prevalência das forças de atração de Van der Waals. Estas unidades tem apresentado eficiência na remoção de ferro da ordem de 80 a 90 % da concentração afluente. A unidade de filtração utilizada foi o filtro básico de pressão utilizado em sistemas de irrigação, com diâmetros variáveis de 16 a 25 polegadas, em aço carbono com pintura ante corrosiva, dotada de sistema de drenos de fundo tipo bocais difusores. O leito filtrante destas unidades composto de areia com tamanho efetivo 0,9 mm e coeficiente de uniformidade < 1,6, a espessura do leito variou de 0,8 a 1,10 m dependendo do tamanho do filtro. A taxa de filtração das unidades foi limitada em 400 m³. m² / dia, de modo a garantir o tempo de retenção necessário para a oxidação e coagulação, no próprio leito, do ferro contido na água bruta. A retrolavegem da unidade de filtração se faz a contra corrente, com água tratada, algumas unidades foram automatizadas com válvulas hidráulicas que através de um programador horário, atendendo a um programa pré definido executa a operação de retrolavagem sem nenhuma intervenção. 4 ABES Trabalhos Técnicos

FOTO 2 Filtro descendente em aço carbono Filtro Afluente, água coagulada Misturador hidráulico Programador automático de descargas Efluente, água filtrada COLUNA DE CARVÃO ATIVADO GRANULADO A utilização do CAG no processo de tratamento de água pode se dar na forma de sistemas pós filtrosadsorvedores ou como filtros-adsorvedores. No primeiro caso, o processo unitário de adsorção está localizado à jusante da unidade de filtração, ambas ocorrendo de forma independente. No segundo caso, ambos os processos de filtração e adsorção ocorrem em uma mesma unidade, neste trabalho utilizamos um sistema instalando um pré-filtro descendente de areia, em seguida uma unidade com leito misto de areia e CAG, caracterizando o segundo caso. ABES Trabalhos Técnicos 5

FIGURA 3 - Configuração dos métodos de utilização do CAG no processo de tratamento de água GRAESE et al. (1987). SEDIMENTAÇÃO FILTRAÇÃO ADSORÇÃO Sistema pós-filtro adsorvedor SEDIMENTAÇÃO FILTRAÇÃO/ADSORÇÃO Sistema filtros adsorvedores Em uma carcaça similar a unidade de filtração descendente, foi montado um leito misto de areia e CAG, visando o polimento do efluente do filtro de areia e remoção do hidróxido férrico particulado e remanescente do processo anterior, dos residuais de cloro, dos THM s por ventura formados pela reação do cloro com a matéria orgânica combinada ao ferro, que é igualmente oxidada no processo. As características básicas do leito desta unidade é : areia com diâmetro efetivo 0,35 mm coeficiente de uniformidade 1,4 a 1,6. O CAG utilizado, a base de casca de coco, com diâmetro efetivo de 0,80mm, Coeficiente de uniformidade < 1,6, n.º, ph 8-10, densidade 460 a 550 kg/m³. Como esta unidade trabalha em serie com a filtração direta a taxa mantida foi de 400 m³. m² / dia. RESULTADOS Como o trabalho apresentado foi desenvolvido em varias unidades e a intenção é a demonstração da metodologia, apresentamos os resultados obtidos com o tratamento de dois tipos distintos de água, uma contendo ferro solúvel e alcalinidade natural e outra com acentuado teor de ferro contudo com baixa alcalinidade natural, foram classificadas com Água A e B, respectivamente. TABELA 2 : Características das águas naturais empregadas no trabalho Parâmetro Água A B Ph 6,6 5,4 Alcalinidade ( mg/l CaCO3) 48,5 13 Cor aparente (uc) 35 20 Turbidez (ut) 3,8 2,4 Ferro II (mg/l Fe) 4,3 3,5 Ferro III (mg/l Fe) 0,5 0,3 Temperatura (ºC) 23,1 22,5 6 ABES Trabalhos Técnicos