Nouvelle Vague Francesa e seu Cinema Autoral



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Transcrição:

Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Instituto de Artes IA Nouvelle Vague Francesa e seu Cinema Autoral Setembro/2011 Lucas Corazzini RA: 103130 Profº Drº Elinaldo Teixeira CS 404 História do Cinema Mundial II

Introdução Considerada o berço do cinema autoral, a Nouvelle Vague, foi o movimento marcante de renascimento do cinema francês no pós-guerra após o fim da ocupação nazista. Com o fim da Segunda Guerra, a frança se vê livre para renascer, em diversos aspectos. Desde uma reestruturação politica e social até o reaparecimento da arte que durante muito tempo encontrou ali seu porto seguro. O cinema acompanha essa faze de ressurgimento. Após os anos sombrios de estagnação artística sob o comando nazista, reinventa a forma de fazer filmes com novos autores que mudam a forma como o realizador é visto frente à obra final. São lançadas as bases do cinema autoral, o ponto de força da Nouvelle Vague. O texto que se segue pretendo analisar a relação entre o contexto histórico e os preceitos que a Novelle Vague envolve. Assim como as diversas faces que este movimento tomou na sua busca pelo reconhecimento do autor na obra cinematográfica. Explorando recortes de dois dos mais importantes realizadores do movimento, Jean-Luc Godard e François Truffaut, as características estéticas, estilisticas e narrativas, serão desmembradas.

A Conjuntura histórica da França Pós-guerra Assim como quase todo o território europeu, a França passou por um período de mudanças e reestruturação, em diversos sentidos, com o fim da Segunda Guerra. Porém diferente de países como Italia e Alemanha que mantiveram um produção cinematográfica mesmo durante a guerra, produção esta fomentada pelos governos fascista e nazista respectivamente, a França passou por uma intensa repressão que resultou na quase extinção da sua produção cultural. A presença das tropas alemãs e a opressão do governos nazista impossibilitavam qualquer produção. Porém essa opressão foi ao mesmo tempo de suma importância para a formação da juventude que posteriormente seria responsável pelo movimento de reerguida do cinema francês. Uma geração gestada durante a Segunda Guerra, que cresceu frente à opressão da ocupação. Os fundadores da Nouvelle Vague trazem consigo o espirito de renovação e a paixão pelo cinema. Era tida como um movimento jovem e rebelde na questão política e madura no acumulo cultura de seus representantes. Contando com o fim da ocupação e essa bagagem cultural forte, esses autores começam a produzir de uma forma nova rompendo com o formato anterior de cinema presente na frança. É essa ruptura e os novos padrões que agora passam a ser analisados. A Ruptura e o novo formato do Cinema francês A nova frente cinematográfica dos jovens da Nouvelle Vague estabelecia aos poucos novos formatos estéticos. Tornando-se então a frente batalhadora contra o velho e degradado Studio-System francês da época.

Além também da reforma estética os membro da Nouvelle propunha um repensamento do cinema de forma a inserir mais e mais elementos significantes com cada vez mais avançados signos de representação. Chega às realizações com um olhar mais critico e autocritico dos imaginários urbanos, completamente oposto à vocação de vulgaridade e comércio do cinema e das mitologias da sociedade de consumo. Entre os elementos estéticos inseridos nas produções desses jovens era a inserção de técnicas antes usadas exclusivamente pelo documentário. Como a realização de filmagens inesperadas e até mesmo acidentais. O que favorecia para o controle do autor frente à sua mise-en-scène. Sem tempo para se preparar, tudo acaba ficando a cargo das decisões do próprio realizador. Juntamente passam a agregar em suas obras marcas de um cinema cultural, com forte representação e reflexão, ao mesmo passo que se valem de estruturas do próprio cinema hollywoodiano de massas. A Fase Crítica e a Proximidade com o Cinema Americano A Nouvelle Vague apresenta duas fases bem destintas que cronologicamente foram de extrema importância para a sua formação e realização. De 1947 à 1959 há uma formação intelectual dos nomes do movimento, é o berço da cinefilia que através do exercício da crítica adquiriu uma bagagem cultural invejável. Bagagem esta que tornou o movimento conhecido por seus jovens maduros, movimento jovem e rebelde na questão política e madura no acumulo cultura de seus representantes. Durante esta fase de maturação intelectual e crítica ocorre uma clara aproximação com o cinema americano. A formação intelectual e a aproximação do cinema americano através da critica, transformou o olhar dos franceses da NV. Muito dessa aproximação deve-se ao contexto histórico do pós-guerra. Com o fim da ocupação nazista os franceses agora eram tinham livre acesso aos filmes que vinham da América, e como tudo o que é novo, logo despertou o interesse dos mais aficionados.

Dentro do cinema americano, o fator de maior destaque dentre os cinéfilos da Nouvelle Vague é a busca pelo autor. Godard e Truffaut, dois expoentes do movimentos, buscam em seus artigos o encontro com o papel do autor na produção americana. Aqueles que passaram por cima do sistema e se destacam como artistas frente ao cinema comercial. O estilo pessoal colocado no filme torna-se extremamente importante na fase crítica, algo que será refletido com grande clareza em suas realizações. A realização autoral e a autenticidade da mise-en-scène Marcada pelo desenvolvimento de uma politica estética que, apesar de demonstrar um perfeito entendimento da narrativa clássica, variava entre os autores, dando marcas claras da característica autoral de seu cinema. Essa era a premissa da realização durante a Nouvelle Vague, dentro do modelo clássico de cinema importado da realização Norte-americana, buscar a inserção de elementos necessários e pessoais que atribuíssem a visão do realizador na obra, uma busca pelo olhar autoral. A capacidade de alguns realizadores de fugir das amarras dos estúdios americanos para inserir seus elementos pessoais na obra, foi altamente valorizada, como por exemplo o cinema de Orson Welles, no desprendimento e afastamento do diretor dos estúdios para ter seu espaço de criação autoral. Dentro da sua busca pela realização autoral a Nouvelle Vague concentrou grande parte das suas forças na interpretação. Para Tuffault a interpretação proporciona uma realidade impar para a produção além de dar espaço para a intervenção do diretor-autor no processo de desenvolvimento dramático. É o dedo do autor na própria movimentação e interpretação dos atores. A mise-en-scéne assume papel de destaque na obra autoral, sendo o espaço de autenticidade.

O Declínio do Movimento As realizações da Nouvelle Vague dão uma nova guinada no cinema francês quase extinto durante a segunda guerra. Essa nova vida atrai dezenas de jovens realizadores, Entre 1959 e 1962, cerca de 150 jovens cineastas estréiam seu primeiro longa-metragem (Baecque 1998, p. 104). A rentabilidade desse novo cinema, porém, foi momentânea. Logo em um segundo momento, as produções antes baratas e de grande difusão, tornam-se fracassos de venda, fazendo com que alguns realizadores, como Truffault, rendam-se a um cinema estritamente comercial. O último suspiro da Nouvelle Vague pode ser metaforizado no fim da amizade entre Truff aut e Godard, durante os anos 1970. Um ro mpimento pessoal qu e consagrou a dif erença entre os pro jetos estét icos e as visões de cinema de cada realizador. Truffaut não escondia o desejo de fazer filmes comerciais, e mesmo de trabalhar em Holly wood (a lgo que não chegaria a f azer). Godard a traves sou um processo de inte nsa politização, colo c ando em crise a velha política dos autores, passando por uma fase maoísta que marcaria sua posição mais radical, nos anos 1970, como cineasta moderno e radicalmente independente. (MANEVY, Alfredo. 2006) Desta forma o movimento de ressurgimento do cinema francês no pós-guerra se dissolve, com uma dissidência de seus autores e o declínio do cinema autoral. O fim da Nouvelle Vague, entretanto, não significou o fim do cinema moderno europeu nem do moderno cinema francês. Pelo contrário, boa parte da mais instigante produção francesa pós-nouvelle Vague é t r i b u t á r i a d a revolução estética colocada em curso pelos jovens turcos.

Bibliografia MASCARELLO, Fernando. História do Cinema Mundial. Campinas: Papirus, 2008. BERNARDET, Jean-Claude. O Autor no Cinema. São Paulo: Edit. Brasiliense, 1994. FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. A Vida e Morte do Autor no Cinema. Em: <http://www.ipv.pt/forumedia/5/19.htm>