UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO Recursos informacionais I Prof. Brasilina Passarelli São Paulo, 22 de Outubro de 2012 Leonardo Gonçalves Silva Thamyres Vieira dos Santos Controle bibliográfico e bibliografia Num mundo em que é quase impossível controlar a produção de informação pensar em Controle Bibliográfico pode soar utópico, mas nunca foi algo tão necessário. O Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia define o Controle Bibliográfico como desenvolvimento e manutenção de um sistema adequado de registros de todas as formas de material, publicadas e não publicadas, impressas, audiovisuais ou quaisquer outras que contribuem para o conhecimento humano e para a informação (2008, p. 106). Por esta definição vê-se que a ideia de Controle Bibliográfico está diretamente ligada ao objetivo de preservação da memória, através da listagem de todas as produções do conhecimento humano. O termo Controle Bibliográfico foi utilizado pela primeira vez por Egan & Shera na obra Prolegomena to Bibliographic Control de 1949 (MACHADO, 2003, p. 39), embora essa ideia seja bem mais antiga. Durante séculos, os catálogos e listas das bibliotecas constituíam a única forma de controle bibliográfico (CAMPELLO, 2006, p. 9). Uma das principais tentativas de realizar um controle sobre tudo o que era publicado no mundo foi a dos belgas Paul Otlet e Henri de La Fontaine com a criação do Repertório bibliográfico universal em 1895 no Instituto Internacional de Bibliografia. O Instituto
objetivava fazer um catálogo mundial, tendo fichas catalográficas de obras produzidas no mundo todo. Para os dois, esse projeto teria impacto direto na paz mundial e ajudaria na união das nações. A expressão foi adotada em 1950 por um documento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e definida como o domínio sobre os registros escritos e publicados, suprido pela bibliografia e para os objetivos da bibliografia (MACHADO, 2003, p. 40). Em 1974 foi oficializado o conceito de Controle Bibliográfico Universal (CBU) com a criação do International Office for Universal Bibliographical Control. Desde então, diversas instituições influenciaram no CBU, principalmente através da criação de códigos, normas, padrões e organização de eventos, dentre estas, destacam-se a Unesco, a Library of Congress (LC), a International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) e a International Federation for Information and Documentation (FID). As tentativas de estabelecimento de um CBU podem se dar através de diversas ferramentas: Bibliografias: a palavra bibliografia vem da junção de dois termos gregos: biblion= livros e graphein= descrever. Apesar de as bibliografias terem se tornado mais comuns a partir do século XIX, na antiga Biblioteca de Alexandria já haviam listas semelhantes a bibliografias. A ideia de uma bibliografia que arrolasse toda a produção do conhecimento se deu poucas décadas após a invenção da imprensa, quando Conrad Gesner publica o Bibliotheca Universalis em 1545. Esta obra objetivava o levantamento de todas as obras publicadas em latim, grego e hebraico. Com o aumento da produção de livros e periódicos, se tornou comum nos século XIX e XX a criação de publicações com o objetivo de controlar a bibliografia de uma área específica. A pioneira entre os periódicos desse tipo foi a publicação Pharmaceutisches Centralblatt (depois Chemisches Zentralblatt) editada entre 1830-1969, que contrava a literatura da área química (MACHADO, 2003, p. 44). Segundo o Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia (2008, p. 46-48), consiste
na pesquisa de textos com a finalidade de estabelecer instrumentos de busca, facilitando o trabalho intelectual. Quatro operações a dão origem: pesquisa, indicação, descrição e classificação. Segundo Maria Cristina Bello Ferreira Pinto (1957, p. 144), as primeiras bibliografias eram listas inventariais e não instrumentos bibliográficos, pois nelas a prioridade eram os autores e não as obras. E isso permaneceu pelo menos até o surgimento da imprensa, pois não havia quantidade o suficiente de material para se pensar em reunir. Só com o crescimento dos acervos de bibliotecas e surgimento de mais livrarias que as bibliografias começam a ser comercializadas em quantidade considerável. No século XVII que as bibliografias foram de fato impulsionadas, tanto devido a sua comercialização, como ao surgimento das especializadas, devido ao desenvolvimento na época da ciência experimental. Deste momento em diante que aparecem de fato as verdadeiras bibliografias, que começaram a se preocupar com o controle da informação científica. No século XIX começam a aparecer bibliografias de bibliografias, e enquanto as especializadas já são numerosas. Bibliografia Nacional: Machado define bibliografia nacional como repertório que relaciona material bibliográfico de todos os assuntos, publicados dentro do território de determinado país (MACHADO, 2003, p. 61). Esse termo foi utilizado pela primeira vez por Frank Campbell em 1896 (CAMPELLO, 2006, p. 43). Diferentemente de uma bibliografia comum, normalmente focada em uma área específica, a bibliografia nacional procura levantar toda a produção de determinado país. A primeira publicação desse tipo no Brasil foi o Boletim das acquisições mais importantes feitas pela Bibliotheca Nacional, organizada pelo bibliotecário João de Saldanha da Gama em 1886. Contudo, essa publicação não durou muito tempo. A publicação de bibliografias nacionais sempre emperrou na irregularidade de publicação e também na falta de centralização. Além da Biblioteca Nacional, por
algum tempo o Instituto Nacional do Livro (INL) publicou uma bibliografia nacional. Houve também esforços individuais na elaboração destas bibliografias, destacam-se os trabalhos de Antonio Simões dos Reis, com a sua Bibliografia Nacional de 1942 e Rubens Borba de Moraes, que em 1958 publicou a Bibliographia Brasiliana. Ambos eram bibliófilos. Catálogos: os catálogos das bibliotecas possuíam principalmente a função de inventário das obras do acervo. Um dos catálogos pioneiros no objetivo de levantar a produção de uma localidade foi o Catalogue of English Printed Books de Andrew Maunsele, publicado em 1595. Nos séculos XVIII e XIX são produzidos os primeiros códigos de catalogação. Um dos que serviram de inspiração para os modernos códigos foram as 91 regras de Anthony Panizzi, publicadas em 1839 (MACHADO, 2003, p. 47). Apesar de terem surgidos diversos códigos de catalogação no século XX (hoje o predominante é o AACR2), o objetivo sempre era o mesmo: padronização e uniformidade. Com a automação das bibliotecas que se deu a partir da década de 1960, foi possível colocar na prática muitas ideias de um CBU, principalmente depois da criação do formato MARC (Machine Readable Cataloging), que permitia o intercâmbio de registros entre bibliotecas e resultava em economia de tempo na catalogação. Depósito Legal: consiste na obrigação legal de remessa à Biblioteca Nacional de um exemplar de toda a publicação produzida em território nacional. O depósito legal é essencial para a formação da Bibliografia Nacional. A obrigação do depósito legal é utilizada por diversos países, em alguns como a França, desde o século XVI: França (1537), Grã-Bretanha (1610), Alemanha (1624), Suécia (1661), Dinamarca (1697) e Finlândia (1702) (CAMPELLO, 2006, p. 32).
No Brasil, essa preocupação existe desde o Império. O Decreto Legislativo n. 433 de 03/07/1847 determinava que todas as tipografias enviassem um exemplar de tudo o que produzissem para a Biblioteca Nacional. O Decreto n. 1283 de 26/11/1853 e o n. 1825 de 20/12/1907 ampliaram a obrigatoriedade e aperfeiçoaram o primeiro decreto. Hoje a lei em vigor para depósito legal no Brasil é a lei 10.994/2004. Sistemas de identificação numérica: a identificação de obras através de números iniciou-se na década de 1960. No Brasil a maioria deles é fornecida pela Biblioteca Nacional. São os principais: ISBN (International Standard Book Number), ISSN (International Standard Book Number), ISMN (International Standard Music Number), ISAN (International Standard Audiovisual Number) e DOI (Digital Object Identifier). Padronização da descrição bibliográfica: através de códigos de catalogação, como AACR2 (Anglo-American Cataloguing Rules) e RDA (Resource Description and Access) e formatos para descrição, como o já citado MARC. Catalogação na fonte: A catalogação na fonte, também chamada de catalogação na publicação (Cataloging-in-Publication CIP) é a produção da ficha catalográfica antes de sua publicação, ou seja, quando as obras ainda se encontram na fase de elaboração, possibilitando fazer as impressões bibliográficas no próprio livro. Essa ficha está normalmente impressa no verso da página de rosto ou no final da publicação, apresentando de forma resumida as suas características (nome do autor, editora, assunto, etc). No Brasil, a implantação da catalogação na fonte deu-se em 1970, a partir da proposta que a bibliotecária paulistana Regina Carneiro apresentou no III Encontro de Editores e Livreiros realizado em Serra Negra, São Paulo. Foram então escolhidas duas centrais de catalogação na fonte no Brasil: a Câmara Brasileira de Livro (CBL) situada em São Paulo e o Sindicato Nacional dos Editores de Livro (SNEL) situado no Rio de Janeiro, ambos iniciaram suas atividades em 1971.
Somente em 2003 com a aprovação da Lei n 10.753 que institui a Política Nacional do Livro tornou-se obrigatória por lei a inclusão da ficha catalográfica nas obras impressas: Na editoração do livro é obrigatória a adoção do Número Internacional Padronizado, bem como a ficha de catalogação para publicação (Artigo 6 ). Parágrafo único. O número referido no capítulo desde artigo constará da quarta capa do livro impresso. Regulamentando assim em definitivo a catalogação na fonte no país.